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A forma como a Educação é desenvolvida traduz a percepção e o conhecimento de teorias de aprendizagem implícitas e subjacentes às propostas utilizadas com sérias consequências no desencadeamento da prática pedagógica, independentemente do tipo de tecnologia intelectual utilizado. Em nosso cotidiano aprendemos que não se muda um paradigma educacional apenas colocando uma nova roupagem, camuflando velhas teorias, pintando a fachada da escola, colocando telas e telões nas salas de aula, se o aluno continua na posição de mero espectador, de simples receptor, presenciador e copiador, e se os recursos tecnológicos pouco fazem para ampliar a cognição humana. (MORAES, 1997, p. 17)

A autora Moraes apresenta novos referenciais teóricos norteadores para a construção de um novo paradigma para a Educação, assim nos propõe o Paradigma Educacional Emergente (MORAES, 1997), como forma de construir “um modelo educacional capaz de gerar novos ambientes de aprendizagem, em que o ser humano fosse compreendido em sua multidimensionalidade como ser indiviso em

uma totalidade, com seus diferentes estilos de aprendizagem e suas distintas formas de resolver problemas” (MORAES, 1997, p. 17). Destaca ser importante que este ambiente leve em consideração as várias dimensões do fenômeno educativo, como os aspectos físico, biológico, mental, psicológico, cultural, social e espiritual.

Moraes argumenta que esse paradigma deve reconhecer a interdependência entre os processos de pensamento e de construção de conhecimento e que, para tanto, criar o ambiente de aprendizagem que auxilie no resgate da visão de contexto; que não separe o indivíduo do mundo em que vive e se relaciona; que reconheça a vida humana entrelaçada com o mundo natural; que traga a percepção de mundo holística, global e sistêmica; que deixe de ver o conhecimento desde uma perspectiva fragmentada e estática; que perceba o conhecimento como construído em um contexto dinâmico. (MORAES, 1997)

A autora compreende que “o grande problema da Educação está no modelo de ciência que prevalece num certo momento histórico nas teorias de aprendizagem e que influencia a prática pedagógica” (MORAES, 1997, p. 18) e acredita na existência de uma relação, “de um diálogo interativo entre o modelo científico, as teorias de aprendizagem e a prática pedagógica desenvolvida” (MORAES, 1997, p. 18).

Para a construção de um novo paradigma educacional, Moraes investiga os princípios, critérios e as noções decorrentes do paradigma científico gerado com base “na teoria da relatividade, na teoria da física quântica e em suas implicações na filosofia da ciência e nas implicações na área educacional” (MORAES, 1997, p. 19). Para a autora, essas teorias, até o presente momento, “constituem as tentativas mais completas de desenvolvimento de uma abordagem global do funcionamento das leis do universo relacionadas à matéria e ao seu movimento” (MORAES, 1997, p. 20-21).

A partir do paradigma científico, a autora identifica as teorias do conhecimento e da aprendizagem que tenham correspondência com esses princípios, para tanto, destaca as teorias propostas por autores como Jean Piaget, Paulo Freire, Seymour Papert e Howard Gardner e compreende que este último, “com sua teoria das inteligências múltiplas, enfoca a multidimensionalidade da mente” (MORAES, 1997, p. 24). Compreende que todas essas teorias, apesar de suas especificidades, têm uma visão de totalidade, descrevem a multidimensionalidade do processo de construção do conhecimento, demonstram a não-separabilidade dos aspectos físico, biológico, mental, psicológico, cultural, social, espiritual, reconhecem a subjetividade

na construção do conhecimento, confirmam a inter-relação entre o indivíduo e seu ambiente, reconhecem o conhecimento como algo que está em processo e que pressupõe a existência de “flexibilidade, plasticidade, interatividade, adaptação, cooperação, parcerias, apoio mútuo como características importantes do processo” (MORAES, 1997, p. 24). Além disso, a autora comenta que estas teorias a auxiliaram a estabelecer novas pautas para a Educação e a definir o Paradigma Educacional Emergente.

Moraes defende que parte da problemática educacional atual decorre da “visão de mundo cartesiana, do sistema de valores que lhes está subjacente, de correntes psicológicas que muito influenciaram e que continuam influenciando a Educação” (MORAES, 1997, p. 23). Essa visão de mundo orienta a um processo de fragmentação do pensamento, a uma percepção do mundo como partes desconectadas.

Já a física quântica propõe uma “visão de totalidade, esclarece a multidimensionalidade dos processos educativos” (MORAES, 1997, p. 23) e mostra que o conhecimento decorre de aspectos inseparáveis e simultâneos, como dito antes, aspectos físico, biológico, mental, psicológico, cultura, social, espiritual. “Enfatiza a consciência da inter-relação e a interdependência essencial entre todos os fenômenos da natureza” (MORAES, 1997, p. 23).

De acordo com Moraes, esta visão de mundo, esta visão de totalidade nos orienta a reconhecer a conexão existente nos problemas educacionais, não podendo ser vistos isoladamente e “oferece também uma construção teórica de como ocorre a participação do sujeito na construção do conhecimento, compreendendo-o como algo que está sempre em processo de construção, uma abstração de um fluxo total e único” (MORAES, 1997, p. 23). Dessa maneira, resgata-se a visão de contexto, de interações e de relações entre os fenômenos educacionais e “traz as noções de inter e Transdisciplinaridade existentes no conhecimento humano” (MORAES, 1997, p. 23).

O Paradigma Educacional Emergente, caracterizado como construtivista, interacionista, sociocultural e transcendente, reconhece que:

 Construtivista: o pensamento não tem fronteiras, constrói, reconstrói. O centro decisório do processo de aprendizagem está no educando, que organiza suas experiências de aprendizagem, que constrói seu conhecimento na ação no mundo, de acordo com suas necessidades e situações que ocorrem, e o faz de modo diferente. Valoriza os processos. Tudo está em interdependência, conectado, interligado, que

o processo é mais importante que o produto. Criamos o mundo com base em nossa experiência, em nossa forma de observar, olhamos, apreendemos a realidade. Alunos e professores são investigadores em busca de um conhecimento mais profundo e ampliado, nas quais aprimoram suas formas de aprender e de ensinar, baseados no interesse e no prazer na produção do conhecimento e também por exigir sistematização, construção e reconstrução desse conhecimento. Não existe saber pronto e acabado e que estamos envolvidos em um processo constante de construção de conhecimento. O conhecimento científico não pode alcançar a certeza absoluta e final, cada um pode aprimorar e ampliar os saberes existentes. A ciência e o conhecimento científico sempre serão constituídas de afirmações aproximadas e de teorias provisórias.

 Interacionista: sujeito e objeto são organismos vivos, abertos, naturais em interação e interdependência entre si e o meio. Os fenômenos são multidimensionais e sujeito e objeto estão em relação, em troca de energia, matéria e informação. A aprendizagem do aluno só ocorre na medida em que ele age sobre os conteúdos específicos e altera suas próprias estruturas. Percebe que ambos professores e alunos, ensinam e aprendem. Incentiva trabalhos em equipe, espontaneamente constituídas. As salas de aula são vistas como espaços de interação, de experimentação, de movimentação, de criação e de construção de suas próprias obras.

 Sociocultural: o conhecimento é construído em interação também com o mundo físico, social e cultural, no contato com os símbolos, com os outros. O social é condição para que o sujeito desenvolva sua capacidade de individuação e seu papel como integrante de uma construção coletiva do social. Promova a integração com o seu contexto, com a sua realidade, que ele possa pensar, refletir, agir sobre essa realidade.

 Transcendente: Transcender significa ir mais além, ultrapassar, superar. Realidade interna e externa do sujeito como integrantes de uma mesma unidade, que também tem uma dimensão humana, mas também uma dimensão espiritual e que o “espírito desempenha um papel ativo e organizador, essencial para o desenvolvimento da ação e para a construção do conhecimento” (MORAES, 1997, p. 205).

Este paradigma educacional “busca o desenvolvimento da capacidade de autoconstrução, de autoconsciência baseada na compreensão de sua própria natureza humana e espiritual, que está sempre em construção, mas em interação com o outro e com o mundo da natureza” (MORAES, 1997, p. 206).

A partir desse paradigma educacional, Moraes (1997) compreende a Educação como “mediadora de um novo diálogo do homem consigo mesmo, com a sociedade e com a natureza”, que promove a criação de ambientes de aprendizagem que abram espaço de diálogo entre o mundo externo e interno de cada um, que promovam o desenvolvimento do equilíbrio pessoal, a realização de “práticas integradoras corpo-mente-cérebro-espírito” (MORAES, 1997, p. 206), a expressão da solidariedade, cooperação, compaixão entre os seres humanos, com respeito às diferenças, à diversidade de seres e culturas, “visando maior harmonia

no mundo em que vivemos” (MORAES, 1997, p. 207). A Educação deve criar espaços e instrumentos que “ajudem o aluno a aprender a aprender, aprender a pensar, a conviver e a amar” (MORAES, 1997, p. 211), também a construir caminhos e tomar decisões que levem em conta as realidades individuais e coletivas.

Em seu livro Pensamento Eco-sistêmico, Moraes (2004) acrescenta ao Paradigma Educacional Emergente a dimensão afetiva. A inclusão desta dimensão ocorreu a partir de seus estudos das teorias biológicas de Maturana e Varela, mais precisamente sobre o conceito de “mente incorporada” de Varela, em 1996. Esses estudos levaram-na a compreender que:

o conhecimento depende de processos auto-organizacionais que acontecem em nossa corporeidade, sinalizando que a cognição não se restringe a apenas ao que acontece no cérebro humano, mas integra uma totalidade da qual participa todo o organismo humano. E, nesta integração, as emoções e sentimento têm um papel fundamental. (MORAES, 2004, p. 296)