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Resumo

A omnipresença das novas tecnologias e a necessidade desenfreada de consumir informação estão bem vincadas na idiossincrasia da sociedade contemporânea. Nesta era em que globalização e individualização andam de mãos dadas, cresce o interesse por tudo o que é local, evidenciando-se, assim, a relevância do ciberjornalismo regi- onal.

A presença na Internet passou a ser condição sine qua non para que a imprensa regional portuguesa acompanhasse as novas exigências do público e dos mercados, mas será que os ciberjornais regionais exploram plenamente as potencialidades da rede?

Entendida como uma das principais virtuosidades do meio online, a interactivi- dade confere novas dimensões ao jornalismo de proximidade. O presente artigo tem como objectivo dar a conhecer o uso que os jornais com presença online activa dos distritos de Bragança e Vila Real fazem desta potencialidade ciberjornalística da In- ternet.

Numa primeira fase, foi aplicada uma tabela de medição dos níveis de aproveita- mento da interactividade e, posteriormente, foram realizadas entrevistas aos jornalis- tas e responsáveis editoriais de cada órgão de comunicação.

Os resultados revelam ainda um baixo aproveitamento desta potencialidade pe- los ciberjornais dos distritos de Bragança e de Vila Real. O e-mail ou formulário de contacto genérico com a direcção ou redacção, a publicação de comentários aos arti- gos, os inquéritos e os fóruns de discussão são os principais vectores em que assenta esse aproveitamento. Por outro lado, os profissionais dos ciberjornais transmontanos revelam-se algo reticentes com a «interactividade comunicacional», seja pela escas- sez de tempo, pela falta de hábito ou por não estar consignado na política editorial.

Palavras-chave: Ciberjornalismo; Imprensa Regional; Proximidade; Interactivi- dade.

Abstract

The ubiquity of the new technologies and the unbridled need for consuming infor- mation are very pronounced in the idiosyncrasy of the contemporary society. In this era, in which globalization and individualization walk side by side, there is a growing interest in everything that is local, therefore, the relevance of local ciberjournalism becomes more evident.

The presence of the Internet has become an essential condition so that the portu- guese regional press could keep up to the new requirements of the public and of the markets, but do the regional online journals fully explore the potential of the web?

Perceived as one of the major virtues of the online environment, interactivity adds new dimensions to proximity journalism. This article aims to provide knowledge on the use of the Internet's cyberjournalistic potentiality by the newspapers with online activity in the districts of Bragança and Vila Real.

In a first stage, a table was used for measuring interactivity use, and, afterwards, interviews were made to journalists and editorial managers of each medium.

The results reveal a low use of this potencial by the online newspapers in the dis- tricts of Bragança and Vila Real. The main vectors for using interactivity are e- mail, generic contact forms for communicating with the management or the news- room, comments to the articles, surveys and forums. On the other hand, the staff in these newspapers are somewhat reticent towards the "communicational interactivity", either because of time restrictions, lack of habits or even a deficit in editorial policies.

Keywords: Online Journalism; Local Media; Proximity; Interactivity.

Introdução

A Internet alarga o sentimento de comunidade e as dimensões do conhecimento, redefine os processos informativos e explora as vicissitudes da sociabilidade virtual: “não vivemos numa aldeia global, apenas em pequenos chalés individuais, produzidos à escala global e distribuídos localmente (Castells)” (Camponez, 2002:85).

Os conteúdos passaram a estar permanentemente disponíveis e livres das condi- cionantes temporais e espaciais, o que possibilitou a aproximação entre pessoas de todo o mundo e o alargamento do espaço comunicativo. Contudo, Wolton (cit. in Ló- pez, 2008:13) lembra que “os homens, quanto mais ingressam na globalização, mais querem afirmar as suas raízes”. Assim, começa a registar-se um interesse revigorado pela informação de proximidade:

"O local, graças à Internet, supera os limites geográficos e a informação local alcança em estabelecer-se na agenda dos media digitais, superando largamente as fronteiras

geográficas para centrar-se em temáticas que, sendo de especial interesse para uma comunidade limitada, são perfeitamente reconhecidas e assumidas como próprias por audiências que transcendem essa comunidade mais próxima."(López, 2008:83) Já em 1964, Marshall McLuhan redimensionava o mundo à escala de uma aldeia, onde tudo se sabe e onde todos se conhecem. “Com o digital, o espaço mediático sofre alterações na sua territorialização. O global começa por ser local e o local pode tornar-se global”, sustenta Duarte (2010). Esta última premissa traduz-se em novas perspectivas para a imprensa regional: “os novos produtos na Internet abrem boas oportunidades para a informação de proximidade” (López, 2008:78). É, por isso, de crucial importância conhecer qual o grau de utilização e de exploração da Internet nas redacções dos meios de comunicação social regionais.

O objectivo desta investigação é perceber qual o aproveitamento da interactivi- dade pelos jornais com presença online activa dos distritos de Bragança e Vila Real. Para tal, foi aplicada uma tabela de mediação do aproveitamento das potencialidades da Internet a oito ciberjornais regionais e realizadas entrevistas a todos os responsá- veis editoriais e jornalistas.

Ao individualizar e democratizar o acesso, o suporte digital legitimou novas exi- gências. Hoje, quem lê tem o poder de decidir o que deseja ler, quando e como quer receber os conteúdos, mas continua a procurar “facilidade e qualidade de informação, a par de satisfação na leitura” (Bastos, 2000:53).

A par das mudanças introduzidas nas rotinas jornalísticas, a Internet favoreceu um novo perfil de leitor: mais exigente, selectivo, acostumado ao esforço de um clique, com outros hábitos de leitura. Bandeira (2007:90) sublinha a necessidade de considerar que “o leitor digital, embora possa coincidir com o leitor da edição impressa, tem atitudes, expectativas e hábitos radicalmente diferenciados que devem, obrigatoriamente, ser o princípio basilar do desenvolvimento das versões em linha”.

O actual modelo de comunicação atribui um papel activo ao “antigo” receptor, já que, através da tecnologia electrónica, se torna simultaneamente produtor. “O receptor pode agora intervir directamente na comunicação e tem possibilidades téc- nicas antes inimagináveis: pode publicar à escala global”, destacam Amaral e Sousa (2009:9). Assim, o leitor passa a ser visto como um interagente que não só reage às definições do autor quando navega pelos links, como colabora activamente para a construção da interacção quando se inscreve em relações mútuas, como nos comen- tários num blog ou quando acrescenta informações num jornal participativo (Storch, 2009).

Interactividade: impressão digital da proximidade