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As penas cominadas à pessoa jurídica pela prática de crime ambiental

4.2 A visão ambiental

4.2.3 As penas cominadas à pessoa jurídica pela prática de crime ambiental

Além da previsão expressa da possibilidade de se responsabilizar os entes morais pelo cometimento de delitos, a Lei nº 9.605/98 ainda traz as penas a serem aplicadas a tais entes, com nítida inspiração no legislador francês. Podemos encontrá-las nos artigos 21 e seguintes:

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são:

I - multa;

II - restritivas de direitos;

III - prestação de serviços à comunidade.

Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são: I - suspensão parcial ou total de atividades;

II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;

103

PRADO, Luiz Regis. Direito penal do ambiente: meio ambiente, patrimônio cultural, ordenação do território e biossegurança (coma a análise da lei 11.105/2005). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 179-180.

104“O fundamento da responsabilidade penal da pessoa jurídica vem a ser a efetiva proteção do direito à

vida em todas as suas formas, pois é de fácil ilação que a sistemática ambiental se comunica com a tutela do direito à vida; dessarte, nada mais razoável de que o Poder Judiciário responsabilize penalmente seus principais infratores (as pessoas jurídicas) através de penas de multa, interdição temporária de direitos, suspensão de atividades, etc., tendo em vista a importância do bem juridicamente protegido”. In: FONSECA, Edson José da, A responsabilidade penal da pessoa jurídica no direito constitucional ambiental brasileiro. In: MILARÉ, Édis; MACHADO, Paulo Affonso Leme (Org.). Doutrinas Essenciais DIREITO AMBIENTAL: Responsabilidade em matéria ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, P. 805.

III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações.

§ 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente.

§ 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar.

§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos.

Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em:

I - custeio de programas e de projetos ambientais;

II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas; III - manutenção de espaços públicos;

IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.

Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional105.

Por razões óbvias, as pessoas jurídicas não são alvo de penas privativas de liberdade, sendo aplicadas sobre elas apenas as restritivas de direito, de multa e prestação de serviços à comunidade. Vale lembrar que boa parte da doutrina considera o que é aplicado as pessoas jurídicas não como penas, devido à ausência de capacidade de culpabilidade, mas sim medidas de segurança106, baseadas na periculosidade das atividades exercidas pelas empresas.

A primeira pena a que a lei faz alusão é a de multa. Diferentemente das penas de prestações pecuniárias, as quais almejam ressarcir a vítima pelo dano, o valor pago como multa destina-se ao fundo penitenciário nacional, não contribuindo para a recuperação do meio ambiente degradado.

Além disso, o seu valor é irrisório107, insuficiente quando se trata de criminalidade de grandes empresas. A própria lei reconhece isso, sendo que em seu artigo 75 existe previsão de uma pena administrativa, a qual pode alcançar o valor de R$50.000.000,00 (Cinquenta milhões de reais).

Também são aplicadas a essas pessoas penas restritivas de direitos, como a suspensão de atividades em caso de desobediência de mandamentos legais ou regulamentares, interdição e a proibição e contratar com o poder público. Os parágrafos 1°, 2° e 3° do artigo 22 acima transcritos explicam de maneira clara no que consiste

105

BRASIL. Lei nº 9605, de 1998. Lei dos Crimes Ambientais. Brasília, DF, 12 fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em: 05 abr. 2016.

106

SHECAIRA, 1998, p. 104-105.

107

cada uma dessas penas, por isso recomendamos a sua leitura. Mister lembrar-se que a pena de suspensão pode não ser temporária, o que não ocorre com e interdição, a qual precisa ter um prazo de duração108.

A última pena prevista é a de prestação de serviços à comunidade, disciplinada no artigo 23 da lei. Em suma, ela visa a recuperação da área degradada, conjuntamente com políticas públicas e sociais de preservação do meio ambiente e de conscientização da comunidade, em clara sintonia com as disposições do Artigo 225 da Constituição Federal.

Para finalizarmos a exposição acerca das penas aplicáveis a pessoa jurídica, temos a abominável previsão do artigo 24. Basicamente, tal dispositivo diz que a pessoa jurídica sofrerá liquidação forçada se constituída ou utilizada com o intuito de cometer prática criminosa. Esse mandamento extingue a pessoa jurídica, ou seja, é uma verdadeira pena de morte aplicada aos entes morais e, por consequência, não pode ser admitida no ordenamento jurídico brasileiro.

Há tempos que o Brasil aboliu a pena de morte do direito interno, possuindo apenas uma exceção, prevista no inciso XLVII, alínea a do artigo 5° da Constituição da República, condizente com o estado de guerra declarada. Além disso, é vedado ao Brasil a adoção de qualquer pena capital, já que sendo signatário do Pacto de San José da Costa Rica , o qual possui força supralegal, se comprometeu a não mais adotar essa espécie de pena109.

Portanto, o artigo 24 é, sem resquício de dúvida, inconstitucional e contrário à postura política internacional seguida pelo Brasil. Seria mais sensato, a exemplo da lei francesa, que o legislador adotasse o critério da administração judicial110, possibilitando

ao poder público interferir diretamente na pessoa jurídica, garantindo que ela não cometa mais crimes e aja dentro das regras prevista pelo ordenamento jurídico até que seja possível a sua restituição gerencial a pessoas privadas.

108

Ibidem, p. 841.

109 Consagra o citado Pacto em seu artigo 4°, 3: “Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados

que a hajam abolido”.

110

4.2.4 Da (in) possibilidade de aplicação de penas criminais as pessoas jurídicas de