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Capítulo II: Políticas de População e dimensões de análise: Fecundidade; Envelhecimento da

2. Envelhecimento da população

2.3. Implicações económicas do envelhecimento populacional e desafios emergentes

2.4.2. Pensões e reformas

A instauração dos sistemas de segurança social ocorreu no período que se seguiu à segunda guerra mundial, fortemente ligada à criação dos Estado- providência. De facto, assiste-se, neste período, à promoção da segurança no trabalho e a uma mobilidade social ascendente e transversal. Ana Fernandes (2016) refere que o êxito da aplicação dos sistemas de protecção social ao longo da segunda metade do século XX se ficou a dever «(…) à compatibilidade da sua estrutura organizativa com os desenvolvimentos demográfico, económico e social dos países europeus onde foram implementados» (Fernandes, 2016: 6).

É de notar que naquele período o envelhecimento populacional, embora já existente, era ténue sendo contrabalançado por uma elevada natalidade.

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Também a economia assentava no pleno emprego bem como a carreira profissional assente, em regra, num emprego para a vida.

Este tipo de modelo de protecção social adequava-se, segundo Fernandes (2008; 2016; Gaullier, 1996) ao ciclo de vida repartido por três etapas: infância e juventude; vida ativa e velhice (“terceira idade”). Para Fernandes (2016:16) «o crescimento da longevidade veio perturbar esta arrumação e organização, como se a trajectória de vida fosse uma banda elástica que ao esticar se alterasse em toda a sua estrutura».

É importante assinalar que em Portugal só com a Constituição da República de 1976 (CRP) é que se estabelece o direito universal a uma pensão de reforma com a institucionalização do Sistema de Segurança Social (Cf. artigo 63.º da CRP). Os pressupostos da criação da segurança social ficaram consignados no artigo 9.º, alínea d) da CRP:

São tarefas fundamentais do Estado promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais.

Em Portugal houve durante um longo período de tempo dois planos de pensões, um para os funcionários públicos (a Caixa Geral de Aposentações) e outro para os trabalhadores do sector privado (a Segurança Social). A unificação dos sistemas apenas para os novos pensionistas, deu-se a partir de 2006. Apesar disso, ainda continuam a pagar-se pensões originárias dos dois regimes. De notar que as pensões não são todas de reforma; de facto, há também que considerar as pensões de invalidez e de sobrevivência.

A evolução do conceito de reforma depende de fatores estruturais e de fatores individuais. António Fonseca refere sobre esta temática:

Por um lado, a um nível estrutural, o desenho de políticas públicas visando retrair a tendência para reformas mais precoces e incentivar reformas mais tardias, procurando com isso assegurar a sustentabilidade financeira do mecanismo de pensões e valorizar o papel dos trabalhadores mais velhos, cujo número aumentará em resultado das alterações demográficas. Por outro lado, ao nível individual, sabemos que as decisões tomadas pelos trabalhadores no que concerne à reforma

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não decorrem apenas da sua vontade, mas reflectem a atitude que mantêm face a múltiplas variáveis: perspectivas de evolução da carreira, satisfação profissional, regras vigentes de “passagem à reforma”, segurança financeira, estado de saúde, etc. (2016:110)

As medidas que têm sido tomadas são essencialmente técnicas, isto é, não têm questionado o sistema em si tal como está organizado e fundamentado. Só muito recentemente se tem assistido a um debate político e técnico sobre eventuais caminhos alternativos para o problema da sustentabilidade do sistema de pensões. Um dos aspetos mais discutidos tem sido o plafonamento das pensões de reforma. Esta alternativa consiste em criar um limite máximo salarial sobre o qual recaem as quotizações para o sistema, que seriam obrigatórias, e que se traduziriam num limite máximo do valor da pensão de reforma.

De seguida passaremos a analisar os principais tipos de sistemas de pensões existentes em vários países. O gráfico 3 que a seguir se apresenta é uma síntese da tipologia dos sistemas de pensões (Cf. Albuquerque, P., 2016; OCDE, 2014; Ferrara, C., 2014). Para uma melhor compreensão do gráfico apresentamos de uma forma sucinta as três principais definições.

Regime contributivo tem como receitas uma parte paga pelos trabalhadores (quotização) e parte paga pelos empregadores (contribuição);

Um sistema de repartição contemporâneo financia as prestações auferidas pelos pensionistas com base na riqueza produzida no mesmo período, isto é, são os que estão no ativo que financiam as pensões dos que já se reformaram Num sistema de benefício definido, a prestação é calculada com base numa fórmula conhecida de antemão que pode depender dos salários auferidos, dos anos de trabalho e da idade da reforma.

96 Gráfico 3: Tipologia do sistema de pensões

Fontes: OCDE (2014); Albuquerque (2016); Ferrara (2014)

As reformas que têm ocorrido na Europa têm vindo a aproximar regimes teoricamente distintos. Como essas reformas, em regra, são aplicadas de uma forma gradual, os recém-entrados no mercado de trabalho ficam sujeitos a regras diferentes dos mais antigos ou dos já reformados.

Em relação a Portugal, Paula Albuquerque caracteriza do seguinte modo o nosso sistema de pensões:

Em Portugal, a principal componente do sistema de pensões públicas é contributiva, de repartição contemporânea e de benefício definido. (…) O sistema tem ainda uma componente não contributiva para quem não preenche os critérios da elegibilidade do regime contributivo e possui rendimentos mensais muito baixos. (2016:60)

Muitos países têm incentivado a adoção de planos voluntários de poupança privada que possam complementar as pensões públicas tendo como objetivo que os futuros pensionistas possam manter o nível de vida. Isto porque segundo um relatório da Comissão Europeia (Euro pean Comission,2015) onde

Sistemas de pensões Tipo de gestão Sistemas públicos Sistemas privados Fonte de receita Regime contributivo regime não contributivo Modo de funcionamento capitalização repartição contemporânea Tipo de prestação benefício definido contribuição definida

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se comparam os valores médios da pensão média com o do salário médio se projeta uma redução do rácio dos benefícios das pensões. Segundo esse relatório, Portugal será o segundo país da União Europeia com maior redução prevista para este rácio.

Num interessante artigo, Disney (2000) analisa as crises nos sistemas de pensões nos países da OCDE propondo três diferentes tipos de reformas possíveis: (a) uma reforma paramétrica do atual sistema de repartição; (b) a criação de um sistema de repartição contemporânea de capitalização; (c) a transição para um sistema de capitalização, total ou parcial.

A reforma paramétrica, isto é, a alteração na forma de cálculo das prestações recebidas, das contribuições a pagar ou nos critérios de elegibilidade para a reforma, tem sido a mais utilizada – nomeadamente em Portugal. Efetivamente, são visíveis na maioria dos países europeus alterações nos valores das prestações, alterações na idade da reforma e alterações no financiamento das pensões, nomeadamente nas taxas de contribuição.

Ao longo dos quase 44 anos de democracia, as políticas públicas e/ou medidas tomadas sobre as pensões em Portugal foram variando com os diferentes contextos sociais e políticos. Um dos objetivos do trabalho empírico é precisamente o tentar perceber como se tem processado este tipo de evolução e quais têm sido as opções seguidas.