• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II: Políticas de População e dimensões de análise: Fecundidade; Envelhecimento da

1. Fecundidade

1.6. Questões relativas à Habitação

As políticas públicas conformam um campo muito vasto que, habitualmente, se divide por áreas ou setores. As políticas da habitação são um exemplo de uma área chave das políticas públicas a par de outras como a saúde, os transportes, a educação, o meio ambiente, a política social, a política económica, o planeamento urbano – entre outros.

As autoridades públicas podem, ou não, considerar algumas destas áreas como prioritárias. No que diz respeito à fecundidade, a escolha por parte dos governos dos principais fatores a implementar é central. As políticas ligadas ao mercado da habitação tiveram (têm) importância, mesmo que por vezes seja pouco percetível, nas decisões sobre a natalidade.

Na maioria dos países desenvolvidos, com a exceção de alguns do leste da Ásia, a expetativa dos jovens que casam, ou que vivem em regime de coabitação, é viverem em habitação independente. Por isso, é também expetável que quanto mais fácil for obter uma casa, comprada ou arrendada, maior probabilidade haja de os casais terem filhos.

Itália e Espanha são exemplos de países onde é difícil os jovens casais terem acesso à habitação sendo que, em ambos os casos, as taxas de fecundidade são bastante baixas. A proporção de casas disponíveis para arrendar é baixa; também a falta de habitações sociais (públicas) é francamente diminuta. Acresce, ainda, que os bancos (credores) exigem bens (que podem ser de fiadores) que garantam o valor da hipoteca da casa. Também a venda, ou mesmo arrendamento, a jovens é, em regra, muito dificultada, principalmente nos casos em que não há segurança nos empregos. Outro fator importante é o

68

do enorme aumento dos preços, nomeadamente nos grandes centros habitacionais.

Ao contrário, pode constatar-se que certas políticas governamentais possibilitam a obtenção de casa por parte dos mais jovens que querem constituir família. A título de exemplo, o valor das hipotecas é bastante baixo no Canadá e na Noruega. Em França, por seu lado, cerca de 20% das casas disponíveis são de habitação social.

Já no Reino Unido, é muito mais fácil um casal arranjar uma casa se já tiver um ou mais filhos. De novo na Noruega, são disponibilizadas residências para estudantes universitários onde é possível os mesmos terem os filhos consigo. Por sua vez na Áustria o paradigma principal é o do apoio financeiro para as famílias mais carenciadas que pretendam arrendar casa.

Os mercados de habitação exercem, assim, uma importante influência nas diversas etapas na formação de uma família. Os casais, muitas vezes,

preferem ter condições que consideram aceitáveis – nomeadamente uma

habitação com um mínimo de qualidade - antes de terem filhos.

O. Thévenon apresenta uma síntese bastante clara sobre esta problemática:

Housing quality is not the only dimension that matters, however; the structure of the housing market it also an important dimension. Countries with the highest quality of housing do not necessarily provide an environment that is conducive to having children if there is a shortage of housing that is appropriate for young people wishing to start a family. (…) Another key factor is the affordability of both home ownership and rental housing. A large, affordable rental sector can offer the opportunity for young people to have their parental home quite early and have a child in a home of their own. Policies making home ownership affordable may also increase the options for young families. In contrast, widespread home ownership combined with a strong norm that favors ownership and/or low affordability or accessibility of homes to purchase might lead couples to restrict their fertility plans significantly. (2016:54)

No entanto, o mesmo autor, refere (206:55) que não existem estudos que comprovem haver, em França, uma relação causal entre o mercado de habitação e as decisões dos casais terem filhos.

69

Também vários trabalhos feitos no Canadá mostram que, neste país, apesar de não haver uma relação causal clara, as questões da habitação aparecem muito associadas à fecundidade. Numa análise com algum detalhe feita por S.R. Brauner-Otto relativa ao Canadá o autor afirma:

No research has investigated the degree to which housing availability and ownership may lead to delayed or foregone fertility, however.

(…) There have been specific housing programs designed to expand the stock of affordable housing and improve access. Federal efforts, overseen by the Canadian Mortgage and Housing and Housing Corporation, consist largely of supports for home ownership.

(…) Additionally, each province has it own housing authority and, as of 1996, the provinces are solely responsible for public (or social) housing.

Québec did have an explicit family housing policy, the Home Ownership Program, for a few years in the late 1980s.

(…) Unfortunately, I Know of no explicit evaluations of these housing programs or their connection to fertility or even to other family behaviors. (2016:123)

A importância de certas políticas, ou medidas, sobre o mercado da habitação, está bem presente na maioria dos países que fizeram a transição de um regime socialista/comunista para um novo regime capitalista. Na totalidade desses países, além do Estado construir e fornecer habitações sociais, os mercados de habitação eram fortemente regulamentados e controlados (pelo estado). A passagem para outro tipo de regime, substituem progressivamente esta situação tendo-se, agora, um mercado privado de habitação restando apenas alguns apartamentos que são propriedade dos municípios.

Esta situação está bem ilustrada no caso dos países vizinhos, mas com situações muito distintas no que às políticas de habitação diz respeito. T. Sobotka explica da seguinte forma essas diferenças:

Austria has a long tradition of providing housing, mostly owned and maintained by municipalities, to lower-income residents. Around one-fifth of the population lives in low-rent public housing. Moreover, rents in most private rental apartments are regulated, making rental housing affordable for most people and giving young adults the opportunity to establish their own households.

70

(…) In contrast, very limited public housing exists at present in Czech Republic. Most housing is owner occupied, following massive privatization in the 1990s and 2000s, and housing costs are among the highest in OECD countries. (2016:154)

Num relatório da Comissão Europeia de 2008 (Family life and the needs of ageing population), 39% dos indivíduos dos países da União Europeia respondentes a um inquérito sobre as dificuldades que as famílias sentem no seu dia a dia e o peso que tal pode ter na decisão em ter filhos, referem que a principal razão está relacionada com o custo das habitações.

As políticas de fecundidade que têm sido implementadas nos anos mais recentes, pretendem criar condições para um ambiente mais amigo das famílias. O seu impacto, no entanto, tende a ser por vezes muito limitado e não imediato. Além dos assuntos da igualdade de género, envolvimento dos pais na educação dos filhos, segurança no emprego, também a habitação é um fator a considerar quando se desenham e implementam políticas públicas para as famílias.

1.7. Questões relativas à assistência à infância e às licenças de