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Questões ligadas ao mercado de trabalho e à compatibilização trabalho-família

Capítulo II: Políticas de População e dimensões de análise: Fecundidade; Envelhecimento da

1. Fecundidade

1.1. Questões ligadas ao mercado de trabalho e à compatibilização trabalho-família

Quando se analisa numa perspetiva comparada (em diversos os países) o mercado de trabalho, a sua flexibilização e a (in)compatibilização trabalho- família, constata-se que há diferenças muito substanciais. É expectável que políticas públicas que promovam (facilitem) o equilíbrio entre o trabalho das mulheres e homens e as suas tarefas (como mães/pais) bem como as que promovem a (re)entrada no mercado de trabalho depois do período normal para cuidar das crianças pequenas, potenciem um aumento da natalidade. R. Rindfuss e M.K.Choe referem, a este respeito, que a Noruega e o Reino Unido, embora com características diferentes, têm em comum uma grande flexibilização do mercado de trabalho e taxas de fecundidade relativamente elevadas, quando comparadas com outros países.

Norway (…) has a very low unemployment rates allowing easy re-entry into the labor market, a high share of part-time jobs, and a relatively short workdays. The UK (…) has an unregulated and fluid labor market that offers mothers easy re-entry into the labor force and widely available part-time opportunities. This is especially the case for those in low-skill jobs, and it has led to higher fertility among those with lower human capital. (2016:6)

Ao invés, a Itália que apresenta uma estrutura muito mais rígida e fortemente marcada por uma “ideologia familiar”, detém níveis de natalidade bastante baixos. Atente-se no que escreveu a este propósito Maria Letizia Tanturi:

The structure of the labor market itself, along with a pervading familist ideology and the lack of women in government institutions, makes it difficult to promote measures that facilitate work-family reconciliation. Italian working women pay a large penalty in the labor market when they become mothers, both in terms of

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wages foregone and a high drop-out rate. Significant gender inequalities in the division of labor in the home further increase the cost of motherhood, and institutions outside the home offer little support.

(…) The persistence of traditional cultural values that emphasize the family’s (and in particular, the woman’s) obligation to provide high-quality care and domestic services makes it difficult for parents (especially for mothers) to outsource childcare or domestic tasks and probably constraints the demand for public services that has led to policy change in other European countries. (2016:250)

Outros fatores estruturais importantes nesta temática, prendem-se com o número de horas de trabalho, com os níveis de desemprego (nomeadamente entre os mais jovens) e as questões ligadas com a incerteza em manter o posto de trabalho. Exemplos da importância destes fatores são bem ilustrados na citação que a seguir se apresenta relativa a países com taxas de fecundidade muito baixas.

Spain (…) has long work hours for full-time employees, and an insider-outsider labor market, high young-adult unemployment rates, and some recent restructuring leading to an increase in precarious jobs. Taiwan (…) has a long work hours for full-time workers. With the transition to capitalist systems, the Czech Republic and Hungary have considerable uncertainty in the labor market – something that did not exist under the communist regime. The Czech Republic also has a rigid work hours for full-time workers and few part-time jobs. (Rindfuss e Choe, 2016:6)

Vários estudos mostram que as condições contextuais que baixem os custos da educação das crianças e que reduzam as desigualdades de género estão associadas a maiores níveis de fecundidade (McDonald,2000); Diprete et al., 2003; Rindfuss et al., 2003).

Talvez a tendência estrutural mais consistente tenha sido o rápido aumento da participação da mão-de-obra das mulheres que estendeu o modelo de família a dois trabalhadores a tempo inteiro. Uma das consequências desse processo, foi que as condições do mundo do trabalho se tornaram cada vez mais relevantes para a natalidade já que a maioria das mulheres em idade fértil está (agora) no mercado de trabalho. A desregulação do mercado de trabalho e a

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persistente alta taxa de desemprego (nomeadamente entre os jovens) incentivam (indiretamente) à redução das taxas de fecundidade.

Num artigo sobre os casos da Áustria e da República Checa, T. Sobotka, nas conclusões do mesmo, sustenta:

What policies would make it easier for prospective parents to realize their fertility plans? Institutional adjustments are needed more than additional monetary support. An expansion of childcare provision for children below age tree should be the priority. Austria has made considerable progress, but in the Czech Republic the share of young children in a childcare center remains marginal. In addition, Czech women have only a slim chance of finding part-time work. Creating opportunities for more flexible work conditions should be a high on the government agenda. (2016:159)

Por fim, são muitos os trabalhos que mostram que uma larga percentagem de casais ou mulheres coloca como uma das principais razões para não ter filhos, ou os que gostaria de ter, precisamente a grande dificuldade em compatibilizar o trabalho e a família (Kaneko et al., 2008; Chen, 2012; Comissão Europeia, 2008; ISSP, 2012).

Apresentamos, a título de exemplo, uma figura incluída em A.Gauthier (2016:291) onde fica clara esta questão.

Figura 1: Percentagem dos que concordam que ter filhos restringe as possibilidades de emprego (dados respeitantes a 2012)

Fonte: Gauthier, A. (2016:291)

Em síntese, a reconciliação trabalho-família é hoje central e um foco de particular atenção por parte dos governos, como forma de alcançar a igualdade

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de género e como forma de promover a participação feminina na força de trabalho.