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Capítulo II: Políticas de População e dimensões de análise: Fecundidade; Envelhecimento da

3. Migrações

3.3. Políticas para imigrantes

Uma outra temática central na análise das migrações é a das Políticas para imigrantes, isto é, políticas que possibilitam, ou não, a integração dos imigrantes nos países de acolhimento. Mesmo em momentos e contextos de grande fechamento nas leis de imigração, podem ocorrer políticas abertas na área da integração. A questão da integração aparece nos debates públicos sobre a imigração muito ligada à ideia de identidade nacional e em que medida a imigração pode afetar essa mesma identidade nacional. Ora, como de seguida veremos, a integração de migrantes tem de ser vista como uma das faces da cidadania.

Linda Bosniak (2006: 19-20) decompõe o conceito de cidadania em quatro elementos: (1) Estatuto jurídico;(2) Conjunto de direitos; (3) Participação política e (4) Identidade. Neste contexto, a identidade pode ser uma consequência de políticas restritivas e etnocêntricas sendo um fator dificultador da integração, ou, pelo contrário, a integração pode ser potenciadora de novas comunidades, isto é, um fator facilitador na criação de novas identidades. A integração, nesta última aceção, está próxima do «cosmopolitismo moral» de Marta Nussbaum (1996). Para esta autora, é de capital importância a aproximação dos povos através de uma maior compreensão dos «outros». Esta posição está mais perto de uma visão multiculturalista e não da posição ora dominante, a da integração dos migrantes.

Os conceitos de integração e de assimilação estão bem presentes nas políticas de imigrantes. Para J.May a integração implica a assimilação.

The notion of integration implies assimilation, e.g, learning the language of the host country, blending into the economy with minimal discrimination, adopting customs and political mores of receiving country, and eventually becoming a citizen.

Integration occurs through institutions such as schools, professional groups, as well as community and neighborhood association. If immigrants are more numerous than native populations, these institutions no longer serve as efficient tools of the melting pot. If immigrants stay isolated culturally, socially, or religiously and/or do not mingy geographically with inhabitants of the host country (ghettos), the melting pot does not work either. (2012:190-191)

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As políticas de integração são, pelas razões acima apresentadas, fulcrais pois estão no centro do debate sobre o relacionamento entre os imigrantes, as suas famílias e os habitantes locais. O modelo de multiculturalismo que foi muito visível em países como a Holanda, está a ser paulatinamente substituído por modelos integracionistas. Zimerman (1995:51) refere que esta pressão para a integração está muito mais presente na Europa do que, por exemplo, nos Estados Unidos da América onde os “nichos” étnicos e culturais coexistem sem haver grandes contactos com as populações nativas e sem grande necessidade de assimilação. Para Geddes e Scholten, o termo integração está umbilicalmente ligado aos grandes direitos de cidadania, direitos legais, políticos e sociais.

The term ‘integration’ looms large in this debate, but it needs to be borne in mind that a social expectation of integration affects everyone and the costs of failure – social exclusion- are high for the individual and society. Integration in these terms can be linked to core nation state principles and associated with the ideas of T.H.Marshall (1964) who saw modern citizenship as a vehicle for the building of a national community based on the extension of legal, political and social rights (in that order). (2016:15)

A extensão dos direitos legais, políticos e sociais é o caminho para a transição para a cidadania. Ou seja, a consequência da atribuição daqueles direitos será a naturalização (a atribuição da nacionalidade). Hiroshi Motomura (2006), define os imigrantes como «cidadãos em espera» (2006:142). Na esteira deste autor, Matias escreve:

Assim, os direitos dos migrantes devem ser considerados num formato de geometria variável. A imigração deve ser encarada como um caminho para a cidadania, em que a naturalização é o ponto de chegada de um percurso em que aos migrantes vão sendo gradualmente reconhecidos direitos. Quanto mais perto de chegar à naturalização, maior a protecção desses direitos.

(…) A cidadania é, neste sentido, a qualidade de um membro de uma determinada comunidade, facultando, consequentemente, a titularidade de um conjunto de direitos. (2014:52, 55)

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Hammar (1990) entende que a tendência para a atribuição dos direitos legais e sociais com a ausência dos direitos políticos, é uma forma de negar a cidadania. O autor utiliza o termo denizenship. As várias interpretações do conceito de cidadania têm sido centrais nas políticas de imigrantes na Europa. Na França e na Alemanha, e mesmo em Portugal, o debate tem sido muito marcado pelas questões de cidadania e da nacionalidade. Verifica-se, contudo, uma tendência (na Europa) para que a cidadania seja “mais leve”, isto é, mais fácil de conceder, mas com menos direitos.

Por fim, nalguns países, como é o caso da Holanda, a inclusão, a integração e a cidadania estão associadas ao que se tem designado por integração cívica. Este tipo de integração, exige que os candidatos passem num teste onde demonstrem conhecimentos sobre a língua, a história e a cultura do país de acolhimento. Goodman (2014) tem uma curiosa posição sobre a linguagem de inclusão que tem sido a regra na maioria dos países. Para este autor, a linguagem e as práticas utilizadas nesta integração cívica, não passam de uma forma subtil de controlo da imigração. Aliás, as diversas terminologias utilizadas em diversos países para designarem os imigrantes, revelam-se de grande importância. É muito interessante a síntese que Geddes e Scholten fazem dessas designações:

In Britain and Netherlands immigrants and their children have been referred to a ‘ethnic minorities’, in Germany immigrants have been defined mostly based on their national origin (such as ‘Turkey’) and in France, officially at least, there is a preference not to speak of immigrant minorities at all as it would conflict with the idea of ‘one and indivisible’ French Republic.

Distinctions between ‘migrants’ or ‘minorities’ and ‘us’ or ‘native’ is also becoming increasingly complex as the descendants of migrant’s blend into a society over several generations meaning that terms such as ‘majority’ and ‘minority’ can be unclear (…). (2016: 16)

Estes são os temas centrais nas políticas de imigrantes que iremos analisar em pormenor na investigação empírica. No fundo, iremos ver quais foram as posições dos vinte e um governos constitucionais sobre temas tão importantes

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como sejam os da integração, assimilação, nacionalidade e cidadania dos imigrantes em Portugal.