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3.3 OPERACIONALIZANDO A AGENDA DE USUÁRIOS ASSENTE

3.3.4 Percepção de importância de outras agendas

Uma outra ruptura significativa que a apropriação de sistemas e ambientes informati- vos da Web traz para a investigação dos efeitos de agenda-setting diz respeito às possibilida- des de sistematização das referências temáticas ou referências aos produtos informativos ob- servadas in loco. Tais possibilidades contribuem para a expansão do escopo de investigação do paradigma, uma vez que, nos desenhos metodológicos tradicionais de pesquisa em agenda- setting, é incomum que os respondentes retenham na memória indicações acerca da origem das referências sobre os temas aos quais se expõem (McCOMBS apud SILVA, 2008).

A despeito de terem sido tradicionalmente ignoradas ou inviabilizadas nas pesquisas sobre os efeitos de agenda-setting, as possibilidades de sistematização das referências atribuí- das às páginas Web são concomitantes ainda a outras possibilidades de classificação de tais páginas, isto é, à multiplicidade de categorias ou tipologias das quais podem derivar as pági- nas da Web, ampliando as oportunidades para observação de como certas formas e níveis de comunicação incidem sobre a configuração de processos comunicativos (SAPERAS, 1993, p.111-117), podendo, neste sentido, redefinir aspectos fundamentais ligados a esta tradição de pesquisa.

Figura 12: 2.271 ocorrências de notícias para as palavras-chave “Carnaval” + “Salvador” indexados pelo

Google Notícias, na última semana. Acesso em: 11 fev. 2010.

Figura 13: Notícias indexadas na seção de Ciência e Tecnologia do Google Notícias. Acesso em: 11 fev. 2010.

No livro organizado por Palacios e Díaz Noci (2008) que trata de metodologias de pesquisa sobre cibermeios, encontramos um capítulo dedicado à discussão sobre o estado da arte das pesquisas sobre suas tipologias153, cuja importância reside em:

[...] Mostrar taxonomias ou classificações de uma nova realidade comunica- cional (os cibermeios) que surgiram com o nascimento das TIC. Entre as pertinências de elaborar tipologias, encontramos principalmente o fato de que servem para estruturar / organizar / compreender uma realidade que, por ser incipiente, encontra-se dispersa e/ou pouco definida. O discurso atual so-

153 Na versão do livro publicada em espanhol, não existe uma referência explícita aos autores do capítulo sobre tipologia. No entanto, na primeira versão publicada em português, o capítulo “Métodos de Catalogación y tipología de cibermedios em España” é assinado por Meso, López e Alonso (2008).

bre os cibermeios requer o estudo sobre tipologias, no momento em que, de fato, enquanto alguns estão mais ou menos consolidados, outros estão em fa- se de definição ou conceituação. […] Esboçar tipos cibermeios também é a- propriado no momento em que abrange três níveis de conhecimento: em primeiro lugar, o estado inicial da questão (isto é: quais são essas estruturas de comunicação a que nos referimos como cibermedios), segundo, que ca- racterísticas eles possuem (características definidoras/identificadoras), e em terceiro lugar, a dinâmica existente, isto é: que tipo de relacionamento, influ- ência e interação predomina entre eles154. (PALACIOS, DÍAZ NOCI, org., 2008, p.17)

A pluralidade de formas e níveis comunicacionais incitam uma compreensão mais abrangente sobre níveis de influência que se estendem para além dos media informativos tra- dicionais, expandindo, portanto, o escopo de investigação das pesquisas sobre a agenda públi- ca. As possibilidades de classificação dos cibermeios sistematizada no capítulo dedicado a discutir exclusivamente a questão (PALACIOS, DÍAZ NOCI, org., 2008, p.17) é ilustrativo das potencialidades de expansão do paradigma do agenda-setting.

O cibermeios podem ser classificados de acordo com o objetivo ou finalida- de perseguida (Alonso e Martinez, 2003); com o público ao qual se dirigem; com a aplicação das normas profissionais, estruturais, textuais e éticas da a- tividade jornalística; através da utilização das possibilidades oferecidas pelo ciberespaço (Lopez, Gago e Pereira, 2002), e até mesmo através da constante renovação e atualização de conteúdo155 (2008, p.17).

Como foi dito anteriormente, a percepção da importância das agendas pode ser ope- racionalizada através da observação e codificação das referências atribuídas a outras páginas, através de links ou da simples menção à página, para além de procedimentos de análise de conteúdo realizados a partir do próprio texto produzido e/ou difundido pelos usuários, por o- casião das referências atribuídas aos produtos informativos.

A título de contribuição, e para além das tipologias sugeridas no capítulo do livro ci-

154 No original: “[…] mostrar taxonomías o clasificaciones sobre una nueva realidad comunicacional (los cibermedios) que ha surgido al amparo del nacimiento de las TICs. Entre las pertinencias de elaborar tipologías nos encontramos, principalmente, el hecho de que sirven para estructurar/organizar/comprender una realidad que, por novedosa, se encuentra dispersa y/o poco definida. El discurso actual sobre los cibermedios requiere el estudio sobre tipologías, en el momento en que, efectivamente, mientras unos se encuentran más o menos consolidados, otros se hallan en una fase incluso de definición o conceptualización. […] Esbozar tipologías de cibermedios es también oportuno en el momento en que abarcan tres niveles de conocimiento: primero, el estado

inicial de la cuestión (esto es: cuáles son esas estructuras de comunicación a las que nos referimos como

cibermedios); segundo, qué características poseen (rasgos definitorios/identificativos); y, tercero, las dinámicas que se dan entre ellos; esto es: qué tipo de relación, influencia e interacción predomina entre unos y otros”. 155 No original: “Los cibermedios se pueden clasificar en función del objetivo o finalidad que persiguen (Alonso y Martínez, 2003); del público al que van dirigido; por la aplicación de los criterios profesionales, estructurales, redaccionales y éticos de la actividad periodística; por el aprovechamiento de las posibilidades que ofrece el ciberespacio (López, Gago y Pereira, 2002); e, incluso, por la constante renovación o actualización de contenidos”.

tado acima, elaboramos uma tipologia de cibermeios, com base nas primeiras duas possibili- dades de classificação sistematizadas na citação anterior, com vistas a compreender a percep- ção de importância de outros tipos de agendas assentes em bases de dados e algoritmos da Web.

Essa tipologia foi construída ainda mediante procedimentos de análise de conteúdo das referências através de links, de 1500 artigos promovidos pelos usuários à página principal do sistema de promoção de notícias espanhol Menéame, ao longo do mês de fevereiro de 2008; acreditamos, porém, que essa tipologia pode ser estendida para compreender a percep- ção de importância de outras agendas, tomando como objeto a ação de usuários de outros sis- temas e ambientes informativos da Web, a exemplo do Google Alertas ou do Twitter, dos quais trataremos adiante: 1= Portal de notícias e entretenimento, sítio de notícias nacional, indexador de notícias; 2= Sítio de notícias internacional (fora da Espanha); 3= Sítio de notí- cias regional ou local; 4= Sítio de informação e opinião ou revista eletrônica generalis- ta/alternativa; 5= Weblog ou site de autor, vinculado a sítio de notícias (como colunista de jor- nal); 6= Weblog ou sítio generalista (nacional ou internacional); 7= Weblog ou sítio temático, especializado (nacional ou internacional, noticioso ou não); 8= Agência de notícias (nacional ou internacional); 9= Sítio vinculado à companhia de radiodifusão ou emissora por Internet; 10= Sítio, weblog ou documento governamental ou institucional (partido político, universida- de, sindicato, associação científica, acadêmica etc.); 11= Sítio ou weblog de organização não governamental, de arrecadação de fundos, associação sem fins lucrativos ou vinculada a um projeto político, ideológico ou comunitário, hotsite de coleta de assinaturas; 12= Sítios de a- plicativos e entretenimento (softwares, jogos, downloads de programas, de livros, música, filmes etc.); 13= Sistema de armazenamento/compartilhamento de vídeos e de imagens; 14= Sítio de artistas, programadores, webdesigners, escritores, cientistas famosos; 15= Fórum de discussão especializado; 16= Fórum de discussão generalista; 17= Sistema de promoção de notícias (nacional e internacional); 18= Enciclopédia colaborativa, diretório, dicionário, com- pêndio; 19= Sítio, fórum ou newsletter de compras, empresa/serviços/produtos de consu- mo/promocional/classificados; 20= Outros.

A percepção de importância de outras agendas pode ser operacionalizada ainda em função de construções comunicativas que consideram não somente possibilidades e volumes de referências a outras páginas da Web, sejam elas através de links ou através de menções tex- tuais a outras páginas. Outras medidas de relevância podem ser incorporadas à operacionali- zação dessa definição, a exemplo de padrões hierárquicos que conferem autoridade, visibili- dade e popularidade às paginas da Web, como sistematizamos anteriormente.