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O conceito de resolução semântica em bases de dados, formulado por António Fidal- go (2003; 2007) é fundamental para nosso estudo, uma vez que nos permite compreender co- mo as potencialidades oferecidas pelas BDs e algoritmos podem desencadear modelos híbri- dos de operacionalização das definições de percepção de importância dos temas, predicados e

125 A perspectiva de análise que concerne as potencialidades da Web como corpus empírico é amplamente adotada nos estudos realizados pelos membros do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line (GJOL), uma vez que permite a revisão de literatura e ao mesmo tempo, descrição de novas realidades (PALACIOS e MACHADO, 2007).

agendas da Web; mais especificamente, a noção de resolução semântica nos permite estabele- cer alguns parâmetros inerentes às construções comunicativas e funcionalidades de sistemas e ambientes informativos da Web como “tradutores” em potencial da percepção de importância dos temas, predicados e agendas entre seus usuários.

Fidalgo (2003) se atém ao campo do jornalismo de fonte aberta assente em bases de dados e, num primeiro momento, busca dar substância aos campos de classificação de notícias publicadas nos jornais impressos e nos jornais on-line, com vistas a aumentar a sua resolução semântica:

[…] as notícias podem ser consideradas objetos, perfeitamente passíveis de serem classificados como outros objetos e entrarem na categoria de dados a organizar em bases de dados. […] É compreensível que a organização de um jornal impresso apenas possa orientar-se por pouco mais do que uma classi- ficação temática das notícias, embora as secções ou cadernos locais sigam uma classificação de localidade e não tanto de temática. Contudo, nada obsta a que um jornal on-line se possa dividir e organizar num muitíssimo maior número de classificações que o jornal impresso (FIDALGO, 2003, p. 1-2).

Para o autor, “quanto maior for a pluralidade e a diversidade das notícias on-line so- bre um evento, maior é sua resolução semântica” (FIDALGO, 2007, p.101). Por outro lado, as exigências de imediaticidade conferem pouca densidade informativa, ou ainda a ausência de contexto à maioria das notícias publicadas, e, portanto, uma menor resolução semântica, como ilustra o seguinte exemplo:

Uma notícia de última hora pode ter a seguinte forma: „Houve uma forte ex- plosão em Bagdad‟. É evidente que se trata de uma notícia de muito baixa resolução semântica. Não se sabe que tipo de explosão foi, se acidental ou provocada, se provocada por um carro armadilhado ou se por um ataque de aviação, se houve ou não houve vítimas, em que local da cidade, etc., etc. Porém, à medida que forem chegando notícias subsequentes a notícia do que ocorreu vai ganhando forma, ou seja, aumenta a sua resolução semântica (FIDALGO, 2007, p.102).

Fildago se baseia na concepção de algumas funções complementares associadas à prática jornalística – precisão e contextualização – para estabelecer, a partir do uso de bases de dados, campos de classificação interna e externa, respectivamente, com vistas a aumentar a resolução semântica do fenômeno reportado.

Qualquer elemento da notícia, desde a fonte e jornalista até ao destaque dado às notícias ou ao corpo de letra em que surge, pode ser uma característica da notícia, e como tal uma classificação que permite a constituição de relações

com outras notícias. [...] a pesquisa numa base de dados pode ser feita não somente quanto a conteúdos, mas também quanto às formas dadas a esses conteúdos (FIDALGO, 2003, p.3).

Em outras palavras, a capacidade de contextualização do jornalismo assente em ba- ses de dados confere um sentido complementar de resolução semântica, para além da precisão (a partir do qual se fundamentam os critérios de classificação interna). A função de contextua- lização corresponde aos critérios de classificação externa, ou seja, intervenientes derivadas de “múltiplas secções correspondentes aos elementos de uma notícia construída sobre e mediante uma base de dados” (2003, p.106), como explica Fidalgo:

[…] qualquer notícia pode ser classificada em muitíssimos mais campos, não havendo mesmo um limite ao número de campos em que uma notícia pode ser classificada. Além das classificações habituais, seja do âmbito da políti- ca, da cultura ou do desporto, pode ser também classificada por outros ele- mentos da notícia, intrínsecos e extrínsecos, nomeadamente por todos os in- tervenientes que aparecem na notícia, pelos locais, pelo tipo de acções que são noticiadas, pelas repercussões que a notícia pode vir a ter noutras áreas, por áreas afins, etc. O ideal da classificação da notícia seria aquela que esgo- tasse todas as possibilidades de classificá-la. […] As possibilidades combi- natórias fornecidas por uma base de dados noticiosa seriam, porém, muito mais ricas. A entrada classificatória por linchamento permitiria de imediato ver quantos linchamentos teria havido anteriormente, quais os locais em que se tinham verificado, quais os pretextos que os despoletaram, etc. Destas combinações variadas poderiam então surgir novos dados, que poderiam por si constituir matéria noticiosa […] Também neste aspecto, na inclusão de uma notícia em cruzamentos diversos, existe uma resolução semântica. Um linchamento é em si um fenómeno bárbaro, mas o seu valor semântico au- menta se for associado a outros linchamentos ou a outras formas de violência popular (FIDALGO, 2007, p. 107).

Aquilo que o autor designa como campos de classificação interna e externa, diz res- peito à “precisão e à contextualização já não de uma forma artesanal, mas de uma forma sis- temática, tecnologicamente avançada, e mesmo científica, à medida que é perfeitamente quan- tificada e controlada” (FIDALGO, 2007, p.110).