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Embora não seja objetivo discorrer sobre a trajetória de desenvolvimento da teoria dos ciberambientes, bem como das noções de sistema e ambiente, no campo da Sociologia e em outros campos que contribuíram para a sua delimitação, é útil recuperar alguns pressupos- tos que caracterizam os sistemas e ambientes informativos da Web, para além das perspectivas eminentemente tecnológicas e culturais relacionadas aos novos media, que também podem ser úteis para pensar a metáfora do agendamento.

Os sistemas e ambientes informativos da Web têm como base conceitual a teoria de ciberambientes, desenvolvida por Stockinger (2001a, 2001b), que, por sua vez, está relacio- nada à teoria de sistemas sociais, desenvolvida por Niklas Luhmann, além de três teorias que se desenvolveram separadamente, mas que estão interligadas e convergem em vários momen- tos, a saber: teoria de sistemas, teoria da evolução e teoria da informação e comunicação.

Ao discutir sociedades da informação contemporâneas, Stockinger (2001a; 2001b) sugere que o ciberespaço e, mais especificamente a Rede, por um lado, e as organizações so- ciais (por exemplo, empresas, equipes, departamentos, partidos políticos), por outro, formam co-sistemas, agindo mutuamente como o ambiente (2001b, p.107).

A expressão co-sistema, por sua vez, indica que um sistema se desenvolve em parale- lo com outro sistema, e estes agem mutuamente uns com outros em ambientes, aumentando, assim, seus potenciais de autorregulação. Porque um ambiente é sempre definido em relação a um sistema, o ambiente é sempre mais complexo do que o sistema. Sua complexidade em re- lação ao sistema, por sua vez, pode levar à formação de (sub-) sistemas em cada sistema (2001b).

Stockinger afirma que “como qualquer outro sistema vivo, os sistemas sociais são comunicativos, ou seja, produzem „matéria prima‟ básica do seu metabolismo com um ambi- ente selecionado” (STOCKINGER, 2001b, p.106). Ao atualizar o funcionamento dos sistemas sociais para os “ciberambientes”, Stockinger (2001b) afirma que “áreas de sentido – campos cognitivos e do imaginário – passam a constituir os principais „territórios‟ em sistemas de in- formação”. Sentido, para o autor, pode ser definido como “aquilo que tudo ocorre mais tudo

aquilo que é capaz de ocorrer. Sentido pode ser visto como um estado de percepção do siste- ma, ou se quiser, o seu observador interno” (2001b, p.106).

A base dos “cibersistemas” teria em sua gênese o princípio de autorregulação, que ocorre, segundo Stockinger, a partir de processos de informação que funcionalizam estruturas emergentes através de realimentação (feedback) de tal forma que aumentam as chances de que um coletivo autorregulado seja socialmente selecionado. Trata-se, portanto, de processos de informação que levam uma organização ao sucesso. Os cibersistemas teriam como base ainda o princípio da diferença, a autorreferência e, ao mesmo tempo, situações instáveis, críticas, caóticas, sucedidas por mudanças.

Um subsistema em desequilíbrio é caracterizado por comportamentos complexos im- previsíveis, permitindo que novas estruturas, formadas por correlações e coerências entre os elementos, emerjam (STOCKINGER, 2001b, p.107-108). Nesse sentido, os cibersistemas não se encontram plenamente “em equilíbrio, sem flutuação ou perturbação” (STOCKINGER, 2001b, p.115), uma vez que uma grande quantidade de co-sistemas surge regularmente, pro- duzindo novas formas de apropriação, novas possibilidades, sentidos e, portanto, novos “ele- mentos funcionalizáveis”.

Não há sistemas sem ambientes nem ambientes sem sistemas, e não há ele- mentos sem conexões relacionais ou relações sem elementos. Nos dois casos a diferença forma uma unidade (por isso falamos: “a” diferença), mas ela re- sulta e opera apenas como diferença. A diferença interna de sistema e ambi- ente aponta para a formação de subsistemas, que por sua vez se decompõem em unidades diferenciadas de elemento/relação (STOCKINGER, 2001a, p.24 [on-line]).

Sua perspectiva é baseada numa concepção particular de comunicação como proces- so fundamental na constituição de sistemas sociais. Nesse sentido, qualquer sistema é com- posto por elementos que possuem unidades funcionais, sendo sistema social e “cibersistema” separados e fechados, cujos mecanismos de interação variam de acordo com o “grau de dis- ponibilidade de elementos funcionalizáveis em potencial” (STOCKINGER, 2001b, p. 107- 108). Cada co-sistema segue regras e lógicas auto-organizadas permanentemente reproduzi- das, num “plano genético” e autorreferente, sendo seus mecanismos interativos reproduzidos e acoplados estruturalmente.

Apesar de haver um consenso sobre a noção de que sistema e ambiente são estruturas complementares (ou seja, não existe sistema sem ambiente), Palacios (2003) defende que sis- tema e ambiente “[...] não deveriam ser vistos como pólos estáticos de análise, mas como e-

lementos dinâmicos e intercambiáveis, de modo que a Internet pode ser concebida tanto como sistema e/ou ambiente, dependendo do tipo de fenômeno que o indivíduo está observando103” (2003, p.95).

Considerando a fluidez dos limites entre sistema e ambiente, é possível en- tender que os diferentes (sub-)sistemas contidos em uma rede híbrida podem ser substituídos, entre eles mesmos, por um ambiente. Para exemplificar: um sistema de informação jornalística (jornal online) pode se tornar (ser usado como) um ambiente para um sistema educacional baseado na Web (universi- dade online), uma vez que oferece dados de primeira mão que podem ser u- sados como um estímulo para cursos, seminários, pesquisa; por outro lado, o sistema educacional baseado na Web (universidade online) tem o papel de ambiente para o sistema de informação jornalística (jornal online), uma vez que serve como fonte para notícias, considerando o mundo acadêmico e ci- entífico, e, portanto, „alimenta‟ o sistema jornalístico. Sistemas e ambientes não deveriam, portanto, em nenhuma hipótese, ser concebido como pólos fi- xos. Pelo contrário, como suas fronteiras estão fluindo, o que acontece, na verdade, é um movimento constante entre esses dois pólos. Sistemas ou am- bientes só podem ser referidos como „entidades auto-suficientes‟ para efeitos de análise e dependendo do ponto de observação que alguém adota ao des- crever ou analisar um fenômeno concreto104 (PALACIOS, 2003, p.101).

Compartilhamos a visão de Palacios (2003) em relação à fluidez dos limites entre sis- tema e ambiente na Internet, de modo que, para efeitos de análise, propomos que tanto as a- gendas conceituadas tradicionalmente quanto os modos pelos quais devem ser observadas, dos quais trataremos adiante, devem ser entendidos como “ambientes” informativos, no senti- do de que são estruturadas a partir da apropriação de (sub-)sistemas a eles acoplados, ou seja, dos mecanismos e das construções comunicativas inerentes ao seu funcionamento, e a partir dos quais podemos investigar uma série de variáveis relacionadas ao paradigma do agenda- mento suscitadas através de seus elementos funcionalizáveis.

Importante salientar também que, embora estejamos adotando a perspectiva relativa aos “ciberambientes” e “cibersistemas”, propostas por Stockinger (2001a, 2001b), para deli-

103

No original: “[...] should not be viewed as static analytical poles, but rather as dynamic and interchangeable elements, so that Internet can be conceived both as System and/or Environment, depending on the type of phenomenon one is observing”.

104 No original: “Considering that fluidity of borders between system and environment, it is possible to

understand that the different (sub-)systems contained in a hybrid network can be exchanged, amongst themselves, as environment. To exemplify: a system of journalistic information (online newspaper) can become (be used as) an environment for a web-based educational system (online university) as it offers first hand data that can be used as input for courses, seminars, research; on the other hand, the web-based educational system (online university) plays the role of environment for the journalistic information system (online newspaper) as it serves as a source for „news‟ concerning the academic and scientific world, and thus 'feeds' the journalistic system. Systems and environments should therefore not, under any hypothesis, be conceived as fixed poles. On the contrary, as their borders are flowing, what actually happens is a constant movement between these two poles. Systems or environments can only be referred to as „self-contained entities‟ for analytical purposes and depending on the point of observation one adopts when describing or analyzing a concrete phenomenon”.

mitar nosso objeto de estudo, a saber, os “sistemas” e “ambientes informativos da Web”, uma vez que a World Wide Web se refere a uma parte específica da Internet e do ciberespaço, sus- tentada na Interface Gráfica para o Usuário105.