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Perfil dos cuidadores: de que tarefas cada cuidador se ocu pa mais/menos frequentemente?

A seguir serão apresentados os resultados sobre os cuidadores mais frequentemente mencionados e as tarefas que realizam.

Os cuidadores mais frequentemente mencionados

Excetuando-se mãe e pai, mencionados por todos os entrevis- tados, apenas dois outros cuidadores receberam mais de 100 menções (no total de menções de pais e mães): avós maternas e babás. retratam a participação das mães no cuidado dos filhos pequenos

4 Conceito II: pais de filhos pequenos e pais de filhos grandes, confira capítulo 2, Metodologia, deste livro.

Gráfico 1 - Perfil da Mãe

Fonte: Pesquisa Gênero e família em mudança: participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos (UCSal-PPGFSC, 2009-2011)

A mãe é versátil, em termos de tarefas, aparecendo como a cui- dadora na maioria das vezes ou muitas vezes em praticamente todas as categorias de tarefas. A incidência de frequências baixas (às vezes e nunca) pode sinalizar condição de trabalho da mãe (por exemplo, em 6,3% das respostas, a mãe nunca coloca a criança para dormir de dia e em 21% coloca às vezes) ou uma incidência maior de compar- tilhamento da tarefa com outros cuidadores (por exemplo, às vezes ou nunca prepara alimento em 13% das respostas – provavelmente compartilhado, como se verá adiante, com uma outra cuidadora do sexo feminino: empregada, babá, avó, tia) e às vezes ou nunca compra alimento em 24,5% das respostas (compartilhado com o pai). Essas possibilidades serão mais exploradas no decorrer desta análise. É in- teressante observar, ainda, os casos em que a frequência de maioria das vezes é mais baixa, o que também sinaliza um nível maior de compartilhamento da tarefa. Comparando-se os quatro grupos de ta- refas, é em lazer/convivência, especialmente em brincar e passear, e em educação/disciplina, que essas porcentagens são mais baixas (em torno de 20% e até 30%) – embora, em todos os casos, compensadas por porcentagens relativamente altas de muitas vezes (entre 40% e mais de 60%). Pode-se sintetizar, a partir disso, que, segundo a per- cepção de pais e de mães, o perfil das mães como cuidadoras indica responsabilidade predominante quanto ao cuidado físico e às tarefas externas (exceto comprar alimento) e mais compartilhamento de ati- vidades de lazer/convivência e educação/disciplina. O Gráfico 2 apre- senta o perfil do pai.

A diferença de perfil entre mãe e pai salta à vista. Em primeiro lugar, em nenhuma tarefa o pai se destaca na maioria da vezes (sem- pre abaixo de 30%). Em segundo lugar, onde a participação do pai se destaca (muitas vezes) é, em alguns casos, onde a mãe participa menos, especialmente em brincar, passear, educar/disciplinar, e ativi- dades externas aparecem com níveis semelhantes para pai e mãe, su- gerindo revezamento ou atuação conjunta. Um terceiro ponto é que, entre as atividades de cuidado físico, o pai claramente só se envolve

Gráfico 2 – Perfil do pai

Fonte: Pesquisa Gênero e família em mudança: participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos (UCSal-PPGFSC, 2009-2011).

de forma significativa (maioria e muitas vezes) em atividades notur- nas (provavelmente devido às condições de trabalho) ou eventuais (h - atender quando doente). Em ordem decrescente de não participa- ção (nunca), estão: preparar comida, colocar para dormir de dia, dar banho, dar comida e trocar fralda – todas acima de 25%. São nessas mesmas tarefas de cuidado físico – mas em ordem inversa – em que a participação dos pais é mais eventual (às vezes): em ordem decres- cente, trocar fralda, dar comida, dar banho e colocar para dormir de dia (todas em torno ou acima de 40%). Excetuando-se atender quando doente (60% muitas vezes e alguns casos – 3% – de maioria) e tarefas noturnas (colocar para dormir de noite e atender à noite, respectiva- mente 35% e 36% muitas vezes, e 7% e 11% maioria das vezes), nas demais tarefas de cuidado físico o pai recebe entre 0,3% e 21% de menções maioria (entre 0,3% e 1,3%) e muitas vezes (entre 16,3% e 21,7%). O que se destaca no perfil dos pais, portanto, são atividades de lazer/convivência, educação/disciplina e atividades externas, prin- cipalmente comprar alimento. Nas figuras seguintes, são retratadas as participações de avós maternas e de babás. Uma vez que apenas mãe e pai foram citados como cuidadores em todas as famílias, tanto por pais como por mães, para estas figuras não foi utilizado o N=300 respostas para o cálculo de porcentagens.5 O que os gráficos descre-

vem é a porcentagem de menções em cada tarefa sobre o total de men- ções a cada cuidador, ou seja, de que tarefas cada cuidador se ocupa mais ou se ocupa menos frequentemente, em proporção ao número de menções que recebeu como cuidador nas respostas de mães e de pais. O Gráfico 3 retrata o perfil da avó materna.

5 As tabelas no Anexo A apresentam as porcentagens sobre o N 300 e as diferenças estatis- ticamente significativas (X2) em relação a nível socioeducacional, sexo do respondente e

Gráfico 3 – Perfil da avó materna (N=102 menções)

Fonte: Pesquisa Gênero e família em mudança: participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos (UCSal-PPGFSC, 2009-2011).

Observa-se um certo número de casos de avós maternas que desempenham tarefas de cuidado físico na maioria das vezes (entre 10% e 16%) e muitas vezes (em torno de 30%) – totalizando entre 40% e 50% –, particularmente quando se trata de atividades diurnas; ati- vidades noturnas e atender quando doente não ultrapassam 5%. Essa diferença entre cuidados diurnos e noturnos espelha o fato, apontado e discutido por Rabinovich e Azevedo (neste livro), de que na amostra pesquisada houve baixa incidência de corresidência com avós.6

Entre as demais tarefas, pouquíssimas avós são as cuidadoras mais frequentes (maioria das vezes), mas nas atividades de lazer e, secundariamente, em educação/disciplina há uma proporção relati- vamente alta de respostas muitas vezes (entre 25% e 50% para la- zer, e 33% para educação/disciplina) e às vezes (aproximadamente as mesmas proporções). A participação em atividades externas é a mais reduzida, com 50% a 70% de respostas nunca e em torno de 20% de respostas às vezes. O quadro descrito por esses números, portanto, retrata alguns casos de avós maternas muito participativas (com ex- ceção de atividades externas), e um perfil mais típico em que as avós maternas têm uma participação complementar ou esporádica, con- centrada em lazer/convivência, cuidado físico (diurno) e educação/ disciplina.

Entre as 102 menções a avós maternas, 41 ocorreram no NSE médio alto e 61 no NSE baixo.7 De forma a avaliar a ocorrência de par-

ticipação diferencial das avós maternas nos dois NSE, comparou-se a incidência de menções em seis atividades nas quais essa participação foi mais significativa – cinco atividades de cuidado físico potencial- mente diurnas (trocar fralda, dar banho, dar comida, preparar comi- da e colocar para dormir de dia) e brincar, considerando-se apenas a

6 Possíveis relações entre rede de cuidadores e rede de moradores são discutidas no terceiro capítulo de Carvalho, Franco, Costa e Oiwa, deste livro, intitulado Rede de cuidadores envol- vidos no cuidado cotidiano de crianças pequenas.

7 Diferença entre as porcentagens significativa a 0.05 (Limites exatos de confiança para p*, em GEIGY, 1965).

soma de respostas maioria e muitas vezes. Essa comparação é descrita no Gráfico 4.

Gráfico 4 – Incidência proporcional de menções a avós maternas em seis atividades, por NSE

Fonte: Pesquisa Gênero e família em mudança: participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos (UCSal-PPGFSC, 2009-2011)

Os dados indicam um perfil aproximadamente similar, mas uma participação proporcional mais expressiva das avós maternas no NSE baixo. Essa incidência maior espelha, pelo menos em parte, a maior incidência de avós maternas corresidentes (13 menções no NSE baixo, contra quatro no NSE alto), mas possivelmente reflete, também, a menor disponibilidade de cuidadores remunerados nesse NSE, como se verá adiante. O Gráfico 5 descreve a participação da babá.

O perfil da babá apresenta alguma semelhança com o das avós na participação mais intensiva nas cinco atividades de cuidado físico potencialmente diurnas, em comparação com as noturnas. Há uma participação expressiva, mas proporcionalmente inferior à das avós, em lazer/convivência e ainda mais reduzida em educação/disciplina (45% de respostas nunca, contra 25% para as avós). A participação de babás em atividades externas é inexpressiva (mais de 80% de respos- tas às vezes e nunca).

Tal como no caso das avós, e de forma ainda mais acentuada e previsível, há desproporção na incidência de menções a babás nos

Gráfico 5 – Perfil da babá (N=114 menções)

Fonte: Pesquisa Gênero e família em mudança: participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos (UCSal-PPGFSC, 2009-2011).

dois NSE: 93 menções no NSE médio alto contra 21 no NSE baixo.8

A mesma comparação realizada para avós, nas seis atividades com parti- cipação mais frequente, apresenta os resultados descritos no Gráfico 6.

Gráfico 6 – Incidência proporcional de menções a babás em seis ativi- dades, por NSE:

Fonte: Pesquisa Gênero e família em mudança: participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos (UCSal-PPGFSC, 2009-2011).

As diferenças mais perceptíveis entre os dois perfis se referem a preparar comida e a brincar, com menor incidência no NSE baixo. Em termos comparativos, as babás, quando disponíveis, participam proporcionalmente mais do que as avós maternas nas atividades de cuidado físico, exceto preparar comida, no NSE baixo; em relação a brincar, há uma inversão: avós de NSE médio alto participam propor- cionalmente menos do que as babás, e o inverso ocorre no NSE baixo.

As seis atividades incluídas nessas comparações são também as que envolvem um cuidado cotidiano mais frequente e essencial, e aquelas nas quais as mães participam comparativamente menos, ou seja, compartilham mais (abaixo de 50% de respostas maioria e muitas vezes). Nos cinco casos de atividades de cuidado físico, a par- ticipação de pais é pouco expressiva por esse critério (entre 8% e 12% de respostas maioria e muitas vezes), enquanto que em brincar é com-

8 Diferença entre as porcentagens significativa a 0.05 (Limites exatos de confiança para p*, em GEIGY, 1965)

parável à das mães (respectivamente, 42% e 45%). Isso sugere que a menor participação das mães nas atividades cotidianas essenciais de cuidado físico é compensada principalmente por avós maternas e ba- bás, quando disponíveis. O que ocorre quando existe disponibilidade de outros cuidadores, familiares ou não familiares?

Outros cuidadores

O Gráfico 7 apresenta o perfil de outros cuidadores do sexo feminino, o que inclui: avó paterna (36 menções entre pai e mãe), tia (66 menções), irmã (29 menções), prima (nove menções), bisavó (uma menção), amiga (cinco menções), vizinha (quatro menções) e auxiliar doméstica (nove menções), totalizando, por fim, 159 menções.

Em nenhuma das atividades as respostas maioria ultrapassam 5%, e as respostas muitas vezes só são superiores a 20% em poucos casos de cuidado físico (dar comida e preparar comida) e em lazer/convivência (ex- ceto comprar brinquedos). A participação mais expressiva é em brincar.

A resposta mais frequente para estas cuidadoras é às vezes, o que caracteriza uma participação esporádica, concentrada em atividades diurnas de cuidado físico (entre 34% e quase 60%), em lazer/convivência e em educação/disciplina. Entre as atividades externas, as proporções variam entre 13% (levar ao médico) e 21% (comprar roupa). Este perfil se caracteriza, portanto, por colaboração esporádica em atividades diurnas de cuidado físico, lazer/convivência (especialmente brincar) e educação/ disciplina. Os picos negativos do perfil (nunca > 80%) são em atender à noite, levar ao médico e comprar alimento. A única bisavó, corresidente e indicada apenas pela mãe (NSE baixo, filhos pequenos) foi mencionada como cuidadora esporádica (às vezes) em relação a dar comida e brincar e nunca se ocupa das demais atividades.

As cuidadoras do sexo feminino constituem um grupo hetero- gênero, incluindo familiares e não familiares; a representação desses subgrupos nos dois NSE também é desproporcional, conforme indi- cado na Tabela 1.

Gráfico 7 – Perfil de outros cuidadores: Mulheres (N=159)

Fonte: Pesquisa Gênero e família em mudança: participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos (UCSal-PPGFSC, 2009-2011).

Tabela 1 – Cuidadoras Mulheres, por NSE

Cuidadoras NSE md alto NSE baixo

Tias 24 43 Avós paternas 19 17 Bisavó - 01 Irmãs 12 17 Primas 02 07 Empregadas 09 - Vizinhas - 04 Amigas 02 03

Fonte: Pesquisa Gênero e família em mudança: participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos (UCSal-PPGFSC, 2009-2011).

No NSE médio alto há 57 menções a cuidadoras familiares e 11 a não familiares, das quais nove são remuneradas; no NSE baixo, há 84 menções a cuidadoras familiares e sete a não familiares, todas não remuneradas.

Para estimar se essas diferenças se refletiriam em um quadro desigual de participação de outras cuidadoras entre os dois NSE, con- siderando as seis atividades em que há menos de 50% de respostas maioria e muitas vezes para as mães,9 essas respostas foram compa- radas por NSE, separadamente, para outras cuidadoras familiares e não familiares (exceto avós maternas e babás). Devido aos números baixos, essa comparação não é expressa porcentualmente, e sim com proporções brutas. No NSE médio alto, entre as 24 menções às tias, oito se referem a dar banho e cinco a brincar; entre as 19 menções às avós paternas, pouco mais de um terço se referem a brincar (sete men- ções às avós que brincam a maioria das vezes ou muitas vezes), e, nas demais atividades, há uma apenas duas menções. Dois terços (oito das 12) menções dessas respostas às irmãs são em brincar, e entre as duas menções a prima; a atividade na qual não há nenhuma resposta maioria ou muitas vezes é preparar comida. No NSE baixo, há simi-

larmente um quinto a pouco mais de um terço das menções às tias, em cada uma das atividades (nove em dormir de dia e 15 em brincar); as menções às avós paternas e às irmãs se concentram também em brincar (7/17 e 12/17, respectivamente), mas a participação das irmãs é mais expressiva nas atividades de cuidado físico, especialmente dar banho e trocar fralda. E, no caso das primas, quatro das sete men- ções são a preparar comida, e seis a sete menções se referem a cada uma das outras atividades. Embora os números baixos restrinjam a possibilidade de estabelecer a significância dessas diferenças, em con- junto, esses resultados sugerem que, no NSE baixo, o recurso a outras cuidadoras familiares é não só mais frequente como, quando disponí- veis, sua participação em atividades cotidianas essenciais, e nas quais a mãe tem participação menor, é mais acentuada do que no NSE alto. A exceção é a avó paterna, que apresenta um perfil semelhante nos dois níveis – o que, como foi visto anteriormente, não ocorreu com a avó materna, mais presente no NSE baixo.

Quanto a outras cuidadoras não familiares, no NSE médio alto há apenas nove menções a auxiliares domésticas (cozinheira, outra

empregada) e duas a uma amiga.10 A participação das empregadas

(respostas maioria e muitas vezes) tem seis menções em preparar co- mida e brincar, cinco em trocar fralda e dar comida e quatro em dar banho e colocar para dormir de dia; a amiga só recebe menções da mãe11 em preparar comida, colocar para dormir de dia e brincar. No

NSE baixo, onde há quatro menções às vizinhas e três às amigas, a vizinha recebe quatro menções em colocar para dormir de dia, três em dar banho, duas em preparar comida e uma em brincar; entre as duas amigas citadas (uma delas apenas pela mãe), as menções mais frequentes (três) são a brincar, seguidas de uma ou duas menções às atividades de cuidado físico.

10 A referência no singular se deve ao fato de se tratar de um único caso em que uma amiga morava temporariamente com a família (NSE médio alto, filho pequeno).

11 O que significa que o pai não atribuiu respostas maioria ou muitas vezes em nenhuma des- sas atividades.

Resta descrever a participação de outros cuidadores do sexo masculino (figura 8), que totalizam 53 menções, e são todos familia- res: avô materno (14), avô paterno (10), tio (15) e irmão (14).

Gráfico 8 – Outros cuidadores: Homens (N= 53)

Fonte: Pesquisa Gênero e família em mudança: participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos (UCSal-PPGFSC, 2009-2011).

Há apenas uma resposta maioria em colocar para dormir de noite, referida a um tio, que também recebe a resposta muitas vezes, em relação às duas outras atividades de cuidado físico (trocar fralda e dar banho); há, ainda, alguns poucos casos de respostas muitas ve- zes em atividades de cuidado físico, referidas a avôs maternos, tios e irmão. A maioria das respostas em relação aos outros cuidadores do sexo masculino é às vezes ou nunca em todas as atividades exceto brincar (mais de metade das menções em muitas vezes). Os picos negativos de participação (nunca > 80%, ou mais de 44 em 53 men- ções) são em preparar comida e atender à noite, mas em todas as atividades exceto brincar e cantar/ler histórias as respostas nunca constituem mais da metade das menções. Este perfil caracteriza-se, portanto, por uma participação bastante esporádica e seletiva em relação às tarefas. Assemelha-se ao do pai, na baixa participação em atividades diurnas de cuidado físico, mas difere em termos das ati- vidades noturnas, em que o pai apresenta participação maior (35% a 60% de menções muitas vezes), e também em educação/disciplina e atividades externas.

Relações com nível socioeducacional, sexo do respondente