• Nenhum resultado encontrado

A tabulação foi realizada por empresa especializada, orienta- da por uma supervisora que intermediou as interações entre a em- presa e a pesquisadora responsável por essa etapa do trabalho, para encaminhamento de sugestões e correções. A tabulação preliminar de 25 famílias foi utilizada como base para a solicitação de cruza- mentos especiais e para a criação de algumas variáveis de síntese. A segunda tabulação parcial (100 famílias) serviu de teste para essas propostas.

Após tabulação, os dados obtidos foram apresentados nos for- matos de planilhas Excel e tabelas em PDF com estatísticas (X2e testes de médias, quando cabíveis) relativas a comparações entre: NSE, sexo do respondente, as duas dimensões correspondentes aos conceitos de Geração I (idade das mães) e Geração II( Pais de pequenos/grandes), religião e raça/cor. O banco de dados em Excel e em SPSS foi dispo- nibilizado para estatísticas complementares, a critério de cada pes- quisador, para o que se contou com a colaboração de um professor- -pesquisador convidado.9

Reflexões sobre o caminho percorrido no estudo

Em nossa avaliação, duas características principais das estra- tégias metodológicas adotadas conferem a este estudo um potencial particular de contribuição ao campo de estudos sobre família e cui- dados. Em primeiro lugar, a amostra, configurada intencionalmente

de forma a contemplar temas de interesse de várias disciplinas, flexi- bilizando realizações da família segundo sistemas de codificação das relações sociais como lugar na estratificação social (NSE), gênero e geração, além de raça/cor e religião. Note-se que na literatura que re- corre a estudos empíricos sobre família tais controles são comumente destacados como os mais apropriados para a realidade brasileira, já que cada um desses sistemas traduz condicionantes sociais no fenô- meno família e, no caso da pesquisa, nos cuidados de filhos pequenos na família. Diversificam-se experiências de vida com a tessitura entre existência, estímulos contextuais e valores. Tal desenho cria possibili- dades de reflexão multidisciplinar sobre paternidade e maternidade, acessando debates sobre gênero, rede familiar e não familiar de cuida- dos e divisão sexual do trabalho no contexto doméstico. Em segundo lugar, no questionário, o cuidado é detalhado em níveis micro, de práticas cotidianas, e em níveis mais amplos, de atitudes, expectativas e valores, incluindo, ainda, informações tais como recurso a cuidado institucional, utilização de licença-maternidade/paternidade e tempo de aleitamento materno. Tal estratégia amplia o debate para questões de políticas públicas relativas à proteção à criança e à família, além de colaborar com questões de interesse para todas as áreas representa- das no programa multidisciplinar em Família na Sociedade Contem- porânea da UCSal. Consideramos, portanto, que a pesquisa, apoiada pelo CNPq, tem um possível efeito de estimular diálogos entre pares de diferentes inscrições disciplinares, contribuindo para a construção de um conhecimento interdisciplinar.

Por outro lado, essas mesmas características introduziram, também, algumas dificuldades que interferiram no processo de re- alização do trabalho e constituíram limitações às possibilidades de análise e generalização dos resultados.

Um primeiro aspecto a ser observado é que a opção pelo envol- vimento de alunos no trabalho de campo, extremamente rica em re- sultados para o Programa em termos de formação, como já foi apon- tado anteriormente, implicou, também, um processo relativamente

custoso de treinamento e supervisão, em vista da inexperiência de uma boa parte dos entrevistadores com pesquisas de corte quanti- tativo e trabalho de campo. A complexidade do questionário exigiu atenção singular ao treinamento dos entrevistadores: algumas ques- tões, por exemplo, exigiam estimativas sobre frequência e/ou tempo (número de horas) de participação dos cuidadores no cuidado em ge- ral e em tarefas específicas. Finalmente, a própria configuração da amostra introduziu alguns problemas de recrutamento: devido ao interesse na comparação entre mães de diferentes grupos etários, e à interação entre idade da mãe e NSE, houve dificuldades na obtenção de famílias de NSE médio alto com mães jovens (menos de 30 anos), o que também contribuiu para o atraso na coleta, e motivou a subdivi- são do Grupo 2 em dois subgrupos, para facilitar a obtenção de uma amostra de mães de crianças pequenas de NSE médio alto.

Outra questão também se refere à amostra. Embora suficien- te, em princípio, para as comparações estatísticas relativas às ques- tões principais do estudo, a amostra apresentou algumas limitações. Assim, as análises de raça/cor e religião foram prejudicadas por sua distribuição na população (a alta prevalência de negros/pardos em alguns estratos socioeconômicos, em Salvador, está subrepresentada na amostra; a baixa prevalência de não católicos também sugere su- brepresentação. A interação dessas categorias com NSE e geração con- tribuiu para obscurecer relações potenciais, indicando a necessidade de amostras maiores e de cunho probabilístico.

Complementarmente, a limitação da amostra a casais estáveis e o nível de detalhamento de algumas questões também produziram insufi- ciência de dados em alguns cruzamentos: por exemplo, é possível supor que avós cuidadores e cuidado institucional, que tiveram baixa incidên- cia na amostra, fossem mais frequentes em famílias uniparentais.

Por outro lado, essas próprias limitações, além de instrutivas a respeito de questões metodológicas, apontam temas interessantes para estudos futuros, tanto por caminho qualitativo com maior apro- fundamento como quantitativo, com amostras probabilísticas.

Referências

BECKER, Howard S. Segredos e truques da pesquisa. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

BRANNEN, Julia. Childhood across the generations: stories from women in four-generation english families. CHILDHOOD, Londres, v. 11, n. 4, p. 409- 428, 2004. Disponível em: <http://chd.sagepub.com/content/11/4/409. full.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2012.

CARVALHO, Inaiá M.; PASTERNAK, Suzana; BOGUS, Lúcia M. Transformações metropolitanas: São Paulo e Salvador. Cadernos CRH, Salvador, v. 23, p. 301-321, 2010. Disponível em: <http://www.cadernocrh. ufba.br/viewarticle.php?id=757>. Acesso em: 12 jun. 2012.

CAVALCANTI, Vanessa R.; CARVALHO, Ana. M. A.; CALDEIRA, Barbara M. S. Woman the caregiver: ways of sharing childcare in two contemporary Brazilian contexts. In: BASTOS, Ana C.; URIKO, Kristiina; VALSINER, Jaab (Org.). Cultural dynamics of women’s lives. Carolina do Norte: Information Age Publishing, 2009.

DONATI, Pierpaolo. Família no século XXI: abordagem relacional. São Paulo: Paulinas, 2008.

HAVIGHURST, R; GOUVEIA, A. J. Ensino médio e desenvolvimento. São Paulo: Melhoramentos, 1969.

IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010c. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/ indicadoresminimos/sinteseindicsociais2010/SIS_2010.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2012.

IBGE. Coordenação de contas Nacionais. Produto Interno Bruto dos Municípios: 2004-2008. Rio de Janeiro: IBGE, 2010b. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-%20 RJ/pibmunic/pibmunic2004_2008.pdf >. Acesso em: 12 jun. 2012.

IBGE. Censo demográfico 2000: População residente, por religião, segundo as Grandes Regiões e as Unidades da Federação – 2000. Disponível

em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tendencia_ demografica/analise_populacao/1940_2000/tabela09.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2012.

IBGE. A família brasileira, [2001] Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ ibgeteen/pesquisas/familia.html>. Acesso em: 15 jun. 2012.

IBGE. Censo demográfico 2010. 2010a. Disponível em: <http://www.ibge. gov.br/censo2010/resultados_do_censo2010.php>. Acesso em: 15 jun. 2012.

LAVILLE, Cristian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual da

metodologia da pesquisa em ciências humanas Belo orizonte: UFMG/ ARTEMD, 1999. p. 131-164.

MANNHEIM, Karl. Sociologia do conhecimento. Portugal: Res Editora, 1928. p. 115-176.

PERCHERON, Annick. Le domestique et le politique: types de familles, modèle d’éducation et transmission des systèmes de normes et d´attitudes entre parents et enfants. Revue française de science politique, Paris, v. 5, n. 5, p. 840-891, 1985. Disponível em: <http://www.persee.fr/web/revues/ home/prescript/article/rfsp_0035-2950_1985_num_35_5_396192>. Acesso em: 12 jun. 2012.

RAY, William J. Methods. Pacific Groove, Brooks/Cole Publishing Company, 1993.

STEVENS, James P. Applied multivariate statistics for the social sciences. Mahwah: Lawrence Erlbaum, 1996.

WAGNER, Adriana et al. Compartilhar tarefas? papéis e funções de pai e mãe na família contemporânea. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v. 21, n. 2, p. 181-186, maio/ago., 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ ptp/v21n2/a08v21n2.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2012.

Capítulo 3

Rede de cuidadores envolvidos no