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Em quem os pais e mães confiam para o cuidado de filhos pequenos?

O item do questionário no qual se baseia este tópico tinha a seguinte formulação: “Entre todos os cuidadores que você indicou, quem você acha que realiza bem cada uma das atividades (ou em quem você confia para: (lista de atividades)?” Não se tratando de uma pergunta fechada (confia ou não confia), os entrevistados tiveram li- berdade de indicar quantos cuidadores quisessem para cada tarefa,

incluindo as opções “nenhum” e “todos igualmente”.22

Na Tabela 3 são informadas as respostas de pais e mães a res- peito de confiança em si mesmos e no parceiro em relação a cada atividade, e os números relativos à participação alta em seu desempe- nho (maioria e muitas vezes). Para explorar a existência de relações entre confiança e participação, no caso de pais e mães foi calculado o coeficiente de correlação de Pearson.

21 r de Pearson: respectivamente, 0,50 (p<0,05) e –0,67 (p< 0,01).

Tabela 3 – Confiança (C) e participação (P) Mães e Pais

Atividades

Respostas de Mães Respostas de Pais

Mãe Pai Mãe Pai

C P C P C P C P Cuidado físico a, Trocar fralda 128 138 51 28 131 141 46 31 b. Dar banho 129 135 56 30 131 139 48 34 c. Dar comida 114 133 44 29 127 139 54 37 d. Preparar comida 122 125 29 18 134 136 34 22 e. Dormir de dia 110 104 47 22 109 111 44 31 f. Dormir de noite 125 139 72 53 126 140 84 71 g. Atender à noite 126 141 78 65 128 135 79 74 h. Atender doente 130 144 79 92 134 143 88 97 Lazer/ convivência j. Brincar/ distrair 98 126 103 114 92 126 99 130 k. Cantar/ ler histórias 100 120 78 74 107 122 76 78 l. Passear 131 138 109 121 119 137 114 119 m. Comprar brinquedo 127 130 97 101 122 130 98 103 Educação/ disciplina

op. Disciplinar/ educar 125 141 107 122 114 133 113 125 Externas r. Levar ao médico 135 146 81 79 136 144 98** 95 s. Comprar alimento 111 115 105 118 114 111 113 124 t. . Comprar roupa 134 134 67 77 133 140 74 77 u. Outras externas 119 129 101 109 117 127 104 113 N 150 150

Fonte: Pesquisa Gênero e família em mudança: participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos (UCSal-PPGFSC, 2009-2011).

Há consenso entre os genitores quanto à frequência de parti- cipação alta, ou seja, pais e mães apresentam, em média, o mesmo número de menções à participação de cada parceiro, ficando as mé- dias das mães em cerca de 90% e as do pai em torno de 50%. Tam- bém há consenso nas menções de confiança: mães e pais confiam no parceiro e em si mesmos. Entretanto, a comparação das menções de confiança na mãe e no pai, por ambos os respondentes, por meio da correlação entre confiança e participação, encontra coeficientes de correlação mais baixos para a mãe do que para o pai, o que indica

relativamente menos confiança na mãe em proporção à sua partici- pação.23

Na Tabela 4 constam as respostas conjuntas de pais e mães sobre os demais cuidadores, agrupados por sexo e por por parentes- co, sobre os mesmos itens (confiança e participação alta), mas apenas para as tarefas nas quais havia um número minimamente expressivo de menções de participação alta, o que resultou na exclusão de cinco tarefas. Para explorar a existência de relações entre confiança e par- ticipação para os dados relativos aos demais cuidadores (cujo N varia em cada categoria) foram calculadas porcentagens médias e aplicado o teste t de diferença de médias.

Tabela 4 – Confiança (C) e participação (P) Outros cuidadores (respos- tas de pais + mães)

Atividades

Por sexo1 Por parentesco2

Feminino Masculino Familiares Não familiares

C P C P C P C P Cuidado físico a, Trocar fralda 221 176 12 2 144 73 89 105 b. Dar banho 201 176 13 5 135 86 79 95 c. Dar comida 211 183 7 2 127 80 91 105 d. Preparar comida 190 168 6 4 115 78 81 94 e. Dormir de dia 190 183 13 7 112 90 91 100 f. Dormir de noite 46 35 6 4 35 31 17 8 g. Atender à noite 37 15 5 0 28 11 8 5 h. Atender doente 69 63 10 4 64 43 15 24 Lazer/ convivência j. Brincar/ distrair 181 196 35 29 154 140 62 85 k. Cantar/ ler história 164 143 19 13 127 105 56 51

l. Passear 104 85 16 7 100 68 20 20

Educação/ disciplina

op. Disciplinar/ educar 88 83 15 9 87 70 14 22

N 375 53 296 132

Fonte: Pesquisa Gênero e família em mudança: participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos (UCSal-PPGFSC, 2009-2011).

23 r de Pearson – (p< 0,01) Auto-confiança: Pai= 0,97 ± 0,06 / Mãe= 0,69 ± 0,19; Confiança no parceiro: Mãe-Pai= 0,97 ± 0,06 / Pai-Mãe (p<0.02) = 0,55 ± 0,22.

Quanto aos demais cuidadores, há menos confiança nos cuida- dores do sexo masculino do que nas cuidadoras, o que se coaduna com sua frequência de participação. Entre familiares e não familiares, no entanto, essa relação não se mantém: não há diferença significativa entre as médias de confiança (teste t), embora a média de participação de não familiares seja mais alta do que a de familiares – o que sugeri- ria alguma independência entre participação e desempenho no caso dos familiares, tal como se verifica para o pai. Este resultado deve ser lido com cautela, porque provavelmente reflete um efeito de intera- ção entre gênero e parentesco: não há cuidadores não familiares do sexo masculino, portanto é possível que a ausência de diferença entre familiares e não familiares em termos de confiança esteja escondendo a diferença de confiança entre mulheres e homens familiares.

Apesar dessas limitações estes resultados sugerem algumas

possibilidades interessantes. Em primeiro lugar, é preciso apontar mais uma vez que eles podem estar refletindo em parte a desejabili- dade social das respostas no caso das avaliações da mãe em relação ao pai, e talvez também em relação aos cuidadores familiares: embora, como já foi visto, a pergunta não solicitasse que as mães informassem em quem não confiam – o que seria uma pergunta potencialmente

constrangedora – poderia ainda haver alguma pressão social nosen-

tido de manifestar confiança em relação a pessoas próximas; no en- tanto, isso parece se aplicar apenas (ou mais) em relação a parentes do sexo feminino (à exceção do pai), e portanto se poderia supor que a pressão social é mais forte em relação ao companheiro do que a ou- tros parentes. Por outro lado, o menor grau de confiança em relação à mãe, tanto por parte do pai quanto da própria mãe, abre outras possibilidades: um certo número de mães desempenha (por falta de alternativa, por perceber como parte de duas funções, ou por outros motivos) tarefas em relação às quais não expressa autoconfiança; ou, de forma complementar ou alternativa, a mãe é mais crítica em re- lação a seu próprio desempenho do que ao de outros cuidadores – e estapoderia também ser uma justificativa para as respostas do pai em

relação a ela. Já em sua autoavaliação, o pai não apresenta o mesmo grau de auto-crítica, sugerindo que não é por falta de auto-confian- ça que os pais apresentam participação baixa em algumas tarefas. A maior confiança em relação às cuidadoras do que aos cuidadores do sexo masculino é compatível com noções de senso comum relativas à maior confiabilidade de mulheres para o cuidado de crianças peque- nas e também à maior confiabilidade de familiares em comparação com não familiares, caso seja deslindado o possível efeito de interação

gênero-parentesco apontado anteriormente.24

A prevalência materna e feminina no cuidado de crianças