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CAPÍTULO 2. ESCOLA, PROFESSORES E ALUNOS

2.4 Perfil socioeconômico e escolar dos alunos

O sorteio possibilita o ingresso de alunos de diferentes bairros da capital mineira e da região metropolitana. Devido à crescente divulgação das vagas por meios distintos de comunicação (jornais impressos, internet, televisão, rádio, faixas no perímetro urbano do local onde a escola se localiza, a existência de uma creche e escola de Educação Infantil municipal em suas proximidades, familiares e amigos dos alunos) e, também, aos altos preços praticados pelas escolas privadas tem crescido a demanda da população por uma vaga nos anos iniciais de escolarização. Essa divulgação e a busca dos pais por uma escola pública de qualidade têm aumentado muito o acesso de pessoas de camadas populares, cujos filhos, ao serem sorteados, exigem da escola todo um conjunto de ações em prol de garantir a sua permanência e a qualidade da sua formação escolar e humana.

O perfil de alunos é atípico, em alguns pontos, na comparação com as escolas particulares e as públicas, porque essa escola não se situa próximo do local de residência de seus alunos e, embora não haja qualquer tipo de prova de seleção ou de restrição (exceto as relativas à idade) para os candidatos a uma vaga, a sua localização restringe o acesso de números expressivos de crianças da classe E, por exemplo. Em geral, as famílias dessas crianças, por morarem em bairros mais distantes não teriam condições financeiras de arcar com as despesas de transporte diariamente. Em alguns casos são necessárias, no mínimo, quatro passagens de ônibus diariamente para ir e vir da residência para a escola. Além disso, o tempo gasto para a locomoção da residência até a escola inviabilizaria o cumprimento dos horários de trabalho por parte dos pais e ou dos responsáveis, como também penalizaria os alunos que teriam de sair muito cedo de casa e a ela retornar bem mais tarde.

Para a caracterização do perfil socioeconômico dos alunos e seus familiares utilizaremos como referência os dados do Questionário Critério Brasil aplicado por uma comissão interna à instituição a que se vincula a CEGRO. É preciso, porém, salientar que o Critério de Classificação Econômica Brasil (doravante Critério Brasil) tem como fim “estimar o poder de compra das pessoas e famílias urbanas, abandonando a pretensão de classificar a população em termos de “classes sociais17. A divisão de mercado definida abaixo é de classes econômicas” (ABEP/IBOPE, 2009, 1). Esse documento nos fornece elementos para referenciar os dados sociais dos alunos e seus familiares.

Os dados abaixo são baseados no Critério Brasil conforme versão criada pela ABIPEME em 2003 e usados pela Comissão Permanente de Vestibular/UFMG (doravante COPEVE) em 2008 e 2009.

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Com base nos dados do Critério Brasil de 2003, são definidas as seguintes classes econômicas: Classe A1, famílias que totalizam 30 a 34 pontos, com renda familiar mensal de R$ 7.793,00; A2, famílias com 25 a 29 pontos, R$ 4.648,00; Classe B1, famílias com 21 a 24 pontos, R$ 2.804,00; Classe B2, famílias com 17 a 20 pontos, R$ 1.669,00; Classe C, famílias com 11 a 16 pontos, R$ 927,00; Classe D, famílias com 6 a 10 pontos, R$ 424,00; e Classe E, famílias com 0 a 5 pontos, R$ 207,00. A partir de 2008, por demandas do setor produtivo, foram criadas subdivisões dessas classes e novo critério de atribuição de pontos, passando a: Classe A1, famílias que totalizam 42 a 46 pontos, com renda familiar mensal no valor de R$ 14.2450,00; A2 famílias com 35 a 41 pontos e R$ 7.557,00; Classe B1, famílias com 29 a 34 pontos e R$ 3.944,00; B2, famílias com 23 a 28 pontos e R$ 2.256,00; Classe C1, famílias com 18 a 22 pontos e R$ 1.318,00; C2, famílias com 14 a 17 pontos e R$ 861,00; Classe D, famílias com 8 a 13 pontos e R$ 573,00; e Classe E, famílias com 0 a 7 pontos e R$ 329,00. Mais à frente, comentaremos os critérios para essa classificação econômica, proposta pela ABIPEME, com vistas a uma flexibilização dos dados relativos ao perfil dos alunos.

GRÁFICO 1 - Classificação socioeconômica de inscritos em 2008 e 2009

Dados da COPEVE 2009 – Questionário Critério Brasil da ABIPEME GRÁFICO 2 - Classificação socioeconômica de matriculados em 2008 e 2009

Dados COPEVE 2009 – Questionário Critério Brasil da ABIPEME

Nos últimos 15 anos, cada vez mais pessoas de camadas C e D têm matriculado seus filhos nessa escola, contrariando o padrão vigente anteriormente (da criação do Colégio Universitário), quando o alunado era caracteristicamente composto por filhos de professores e de funcionários universitários e outros de classes mais privilegiadas economicamente. Isso prevaleceu até 1995. Pelos dados dos respondentes (pais e responsáveis) dos questionários em 2008 e 2009, confirma-se a mudança desse perfil das famílias para as classes C e D. Em 2008, 51,1% dos sorteados eram da classe C e 44,4% da classe D; já em 2008, 68,8% da classe C e 12,5% da classe D.

Atualmente, são seis as crianças com algum grau de necessidade especial: duas consideradas superdotadas, uma com grau avançado de deficiência visual, duas com deficiência física e mental, uma autista. Desde 2002, a escola participa de alguns programas de desenvolvimento e de qualidade do ensino do Ministério da Educação: Merenda Escolar, Livro Didático,

o Ministério dos Esportes no Programa de Terceiro Tempo na Escola (oferta de atividades esportivas no extra turno). Cada vez mais, buscam-se parcerias com outras instituições internas e externas à universidade para garantir a permanência dos alunos que necessitam de diferentes programas de apoio.

Essas ações têm dado condições para que crianças oriundas de famílias com baixo poder aquisitivo (em 2008, quatro sorteadas integravam o Bolsa Família e em 2009 apenas uma) que residem em locais distantes possam permanecer na escola e as portadoras de necessidades especiais tenham garantidas as condições necessárias para desenvolver seus estudos. Dos que ingressaram em 2008, 91% residem em Belo Horizonte e outros 9% na grande BH. No tocante aos ingressos em 2009, 75.6% residem em Belo Horizonte e outros 22,2% na grande BH. Apesar do baixo índice de alunos – os sorteados nesses dois anos - atendidos pelo Programa da Bolsa Escola, faz-se necessário, por parte da escola, o investimento em programas de apoio a alguns adolescentes e crianças. Eles são assistidos por um fundo de bolsas de uma fundação pertencente à universidade, garantindo-lhes apoio psicológico, psicopedagógico, almoço e recursos para o transporte até a escola, uniforme e material didático. Além disso, diversas unidades de graduação e a unidade especial da área médica prestam atendimentos especializados de ordens diversas, garantindo um acompanhamento do aluno: médicos, dentistas, psicopedagogos e psicólogos, atividades artísticas, esportivas e outras, dependendo das demandas apresentadas. Em muitos casos, o atendimento prestado pela escola e pelos parceiros institucionais se estende aos familiares de alguns alunos (assistência psicológica).

Ser aluno nessa escola significa ter acesso a bens culturais, quer os ofertados pelas unidades de ensino, através de atividades de extensão e ou de pesquisa, quer por instituições públicas e particulares. Logo, atividades de campo (excursões, feiras artísticas, científicas e tecnológicas), idas a museus, sessões de cinema, atividades de lazer, contatos com autoridades, artistas, cientistas fazem parte do universo de experiências desse aluno. No âmbito do contato com a sociedade externa ao ambiente acadêmico, os alunos participam de diferentes atividades promovidas, buscando uma interação com o convívio social como um todo, além do desenvolvimento das capacidades cognitivas. Desse modo, garante-se ao aluno experiências em diferentes aspectos de sua formação escolar e humana e oportunidades para acesso ao mundo das artes, ciências e tecnologias e à utilização de diferentes instrumentos para o exercício de uma cidadania plena. Isso são fatores que a distinguem também da escola

pública e privada em geral e se somam aos motivos para a escolha da escola por parte dos pais.

GRÁFICO 3 – Motivos principais para a escolha da escola

Dados da Comissão de Permanente do Vestibular – Critério ABIPEME

Prestígio social da escola, qualidade do ensino, proximidade da residência, facilidade de acesso, influência da família, continuidade de estudos são os itens selecionados pelos pais para definirem a razão de matricularem seus filhos nessa instituição. Dentre essas opções, a preocupação com a qualidade de ensino norteia a decisão familiar, seguida muito de longe pela garantia de continuidade dos estudos no Ensino Médio (9,3%). Essa diferença entre as duas variáveis pode se explicar pelo fato de que os pais não se colocam mais a preocupação com a continuidade dos estudos no Ensino Médio e/ou Técnico, pois essa já é uma condição inerente ao ingresso dos alunos. Estar no CEGRO pode significar garantia de toda a formação na Educação Básica e/ou Profissionalizante.

Apesar de as vagas serem ofertadas para crianças não alfabetizadas, isso não impede os familiares de matricularem crianças já alfabetizadas e algumas com leitura fluente em turmas de primeiro ano. Esse quadro é uma constante na história dessa escola: crianças que cursaram o primeiro e o segundo anos são matriculadas novamente no primeiro ano, reforçando a crença das famílias na qualidade da escola e a certeza de sucesso dos filhos também em outros níveis de escolarização por terem garantido o Ensino Médio e/ou o profissionalizante com melhor formação acadêmica e facilitar o ingresso numa universidade pública também de qualidade.

GRÁFICO 4 – Escolas cursadas por alunos ingressantes em 2008 e 2009

Dados da COPEVE 2008/2009.

Esse perfil de alunos – alfabetizados e não alfabetizados – tem sido constante nas salas de aulas. Os dados apresentados no documento da COPEVE (GRAF. 4) não nos fornecem elementos para distinguir quanto tempo de escolaridade as crianças possuem e em que anos escolares estavam matriculadas. Contudo, observa-se que das 75 crianças matriculadas, grande maioria (51 em 2008 e 45 em 2009) estudavam em escolas particulares onde se sabe a alfabetização se inicia na mais tenra idade. Tal dado coaduna-se com o apresentado no

GRAF. 3 – Motivos principais para a escolha da escola – e demonstra que, desde o

período de Educação Infantil, as famílias buscam uma escola de qualidade.

Outro dado relevante sobre o ingresso de alunos é que não são abertas vagas nos outros anos escolares. Exceções são os casos de matrículas por força de liminares judiciais em que militares das Forças Armadas, transferidos de suas bases, requerem vagas para os filhos, apesar de nas proximidades do CEGRO existir uma unidade de ensino militar – também federal. As transferências de alunos ocorrem raramente, mas por motivo de mudança dos familiares e por outras razões (casos graves assistidos pelo Conselho Tutelar e juizados de menores) ou por transferência de militares. Por isso a inexistência de vagas ociosas.

Sobre a caracterização de gênero dos estudantes, consideramos que, apesar da aleatoriedade do sorteio, existe um equilíbrio entre o número de meninos e de meninas ao longo dos diversos anos.

GRÁFICO 5 - Universo de alunos: caracterização por gênero

Dados do Censo Escolar/INEP/MEC, COPEVE e Seção de Ensino da Escola

Na maioria dos anos desta década, houve uma variação entre 26 a 50 meninos a mais que a quantidade de meninas. Apenas em 2005, houve uma diferença significativa no número de meninos: eram 76 a mais que as meninas e em dois anos – 2007 e 2009, o número de meninas foi maior que o de meninos, 37 e 41, respectivamente. O sorteio possibilita uma igualdade de condições entre os candidatos no tocante à oportunidade de ingressar na escola (não há provas ou outros critérios seletivos) e, ao mesmo tempo, uma pluralidade quanto à localização das residências: bairros de diferentes áreas da capital mineira e da sua região metropolitana.

GRÁFICO 6 – Residência de alunos novatos

Dados COPEVE 2008/2009

Hoje o número de estudantes moradores na Grande Belo Horizonte tem sido pequeno, mas ainda assim há os que residem em bairros mais distantes da região onde se situa a escola. Acredita-se que os altos preços das passagens de ônibus ou a inexistência da oferta de transporte escolar (serviço alternativo) para atender a região onde se localiza a escola

contribuem para inibir a demanda de alunos que residem na região metropolitana da capital mineira, principalmente em Vespasiano, Nova Lima, Sabará, Santa Luzia, Contagem e Betim (algumas cidades da Grande BH), que são cidades mais próximas. Como se observa na

GRAF. 6, entre os 75 alunos ingressantes em cada um dos dois últimos anos - 2008 e 2009 -,

65 e 68 deles, respectivamente, residem em Belo Horizonte e há vários que se utilizam de dois ônibus para chegar à escola e outros dois para retornar aos seus lares.

A escola trabalha desde 1996 no sistema de Ciclos de Formação Humana e, por essa opção, busca criar alternativas para que os alunos sejam acompanhados ao longo do ano letivo e possam dar continuidade aos estudos, sem possibilidade de retenção em algum ano de escolarização. Em tese, o sistema de ciclos garante a manutenção dos alunos junto com os grupos de interesse e de idade próximos. Há, pois, três ciclos: o I Ciclo que atende os alunos do primeiro ano (alfabetização) até o terceiro ano; o II Ciclo, do quarto ao sexto ano; o III ciclo, do sétimo ao nono ano. Contudo, apesar dos esforços, há retenções em algumas situações extremas: infrequência às aulas e produção muito aquém da que se espera (segundo LDB) ao fim de determinado período.

Dentre as alternativas para promover a aprovação estão: duas aulas semanais com Grupo de Trabalho Diferenciado (GTD), sistema de plantões realizados por monitores (alunos de cursos de licenciatura da graduação) e orientados pelos professores, outras atividades realizadas pelo setor de atendimento pedagógico. No GTD são formados pequenos agrupamentos com alunos que demandam alguma estratégia especial de ensino, principalmente nas disciplinas Português e Matemática. Os professores dessas áreas determinam os grupos de alunos do Ciclo, ou seja, não importando o ano em que esses alunos estavam matriculados. Essa nova enturmação considerará o tipo de demanda apresentada por eles. Para os outros alunos são ofertadas outras possibilidades de aprendizado, segundo interesse deles ou mesmo dos professores: jogo de xadrez, dança, jogos de quadra, fotografia (uso de câmeras e de celulares), cinema, trabalhos manuais e artísticos e outros.

O sistema de avaliação é processual, ocorre ao longo de todo o semestre e, ao fim desse, são sistematizadas fichas individuais e coletivas dos alunos em todas as áreas do currículo e no ciclo como um todo. Esse material é produzido pelo conjunto de professores que atua com cada turma/ciclo e pelo professor da turma no que diz respeito ao específico de cada área. Além desse olhar dos professores, há espaços para os pais e os próprios alunos registrarem a sua avaliação do conteúdo de avaliação realizado pelos professores e a sua percepção sobre o

processo vivido no âmbito familiar (como os pais perceberam o envolvimento dos filhos em relação às atividades realizadas em casa e as avaliações de conteúdo realizadas na escola) e pessoal (como o aluno se percebe no próprio processo de aprendizagem). São atribuídos conceitos aos alunos, os quais pretendem demonstrar os aprendizados reais, os que estão em construção, os que ainda necessitam ser aprimorados e uma caracterização dos alunos em termos de suas atitudes e comportamentos no espaço escolar e no envolvimento com seu processo de aprendizagem.