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CAPÍTULO 2. ESCOLA, PROFESSORES E ALUNOS

2.3 Uma escola pública de qualidade

O Centro Educacional Guimarães Rosa15 (doravante CEGRO) é uma escola pública, sendo considerado pelos familiares e por diversos segmentos da sociedade centro de excelência e de qualidade de ensino. Essa unidade de Ensino Fundamental vincula-se a duas outras: uma de Ensino Médio e Profissionalizante e outra profissionalizante pós-médio ou concomitante. A primeira dessas oferece o Ensino Médio e/ou a possibilidade de formação em cursos técnicos nas áreas de Eletrônica, de Instrumentação, de Patologia Clínica e de Química, com duração de três (Ensino Médio) ou quatro anos (Ensino Profissionalizante), dependendo da escolha feita pelo aluno. Como o número de vagas aos cursos técnicos é limitado, adota-se um critério classificatório de acesso a esses cursos: ao final do 1o ano, o aluno escolherá a área de sua preferência e será classificado a partir de uma média ponderada das notas finais, referentes às disciplinas consideradas de base para os estudos.

A outra unidade é de formação profissional em Artes Cênicas e exige que o aluno tenha completado, ou esteja cursando o Ensino Médio e idade mínima de 16 anos. É oferecido o curso técnico de ator, com duração de três anos. No geral, os alunos do CEGRO dão continuidade aos seus estudos na primeira dessas unidades, a de Ensino Médio e Profissionalizante, e a segunda atende à comunidade externa à universidade.

O CEGRO é formado por um conjunto de professores e de pessoal técnico e administrativo com alto nível de formação acadêmica, se comparado esse com a realidade do quadro funcional – em geral – das escolas públicas e privadas do país. Grande parte dos seus docentes trabalha em regime de Dedicação Exclusiva. O quadro docente efetivo é composto

por 23 professores, dos quais 12 são mestres, estando nove deles em qualificação de Doutorado, e oito são doutores.

Contudo, desde meados da década de 90, vem ocorrendo a redução do número de docentes do quadro efetivo e a consequente ampliação do quadro de professores com contratos temporários, que somavam 33 em 2009. Desses, dois possuem contratos de 20 horas semanais e os outros de 40 horas. Todos os contratos têm duração de um ano, e passíveis de renovação por mais 12 meses. O professor de Matemática, sujeito desta pesquisa, faz parte desse universo de substitutos de 40 horas e seu contrato iniciou em 01/02/2007 e findou em 31/12/2008. Desses professores do quadro temporário, alguns são especialistas, outros mestres. É exigida a conclusão de graduação (licenciatura plena) para ingresso no quadro temporário e para o efetivo, no mínimo, o Mestrado.

No que se refere ao pessoal técnico e administrativo, observa-se a preocupação de muitos funcionários em sua qualificação profissional: quinze deles têm graduação, sete são especialistas, um tem mestrado, quatro estão se graduando, sendo um deles em segunda habilitação, três estão em cursos pré-vestibulares. Participam todos também de cursos de capacitação e de atualização oferecidos pelo Departamento de Recursos Humanos da instituição. Faz parte dos objetivos da instituição estimular e promover a capacitação e a qualificação dos funcionários e dos docentes efetivos.

Esse aspecto do envolvimento de todos os profissionais da escola com a qualificação e a capacitação foi ponderado neste estudo, por se considerar que a qualidade dos serviços prestados por uma escola está fortemente ligada à gestão de recursos, de pessoas, de serviços e de projetos de ensino e de pesquisa, conforme postula Ribeiro et al (2007). O ingresso de todos os profissionais que atuam nessa escola se dá por concurso público e outro diferencial: exceto os professores de 20 horas, todos atuam apenas nessa escola. Segundo Ribeiro et al (2007), são os seguintes os itens que balizam o grau de qualidade dos serviços prestados e da qualidade de ensino realizados em uma escola: gestão de pessoas e serviços, qualificação profissional, espaço e instalações físicas, parque tecnológico, biblioteca, projeto politicopedagógico, interação da escola com outros espaços sociais, participação da família em diversos âmbitos da vida pedagógica (Comissão de Ensino, reuniões de pais e mestres) e administrativa (Colegiado Pedagógico e Comissão de Merenda Escolar).

1) a forma de ingresso dos alunos por sorteio público de vagas;

2) a existência de estudantes oriundos das classes sociais A, B, C e D16 (categorias apresentadas à frente);

3) o atendimento a alunos da capital e de diversas cidades da região metropolitana de Belo Horizonte;

4) a permanência dos alunos de, no mínimo, oito/nove anos na escola, cumprindo período transitório da mudança de duração do Ensino Fundamental de oito para nove anos;

5) a vocação dos docentes para a pesquisa e para a produção de conhecimentos nesse nível de ensino;

6) o envolvimento dos docentes na capacitação inicial e/ou continuada de professores;

7) a não rotatividade de professores ao longo do ano ou de todo o processo de escolarização;

8) a inserção da escola no contexto de um importante centro universitário da rede pública federal; e

9) o fato de esta pesquisadora ter sido a professora de Português dos sujeitos alunos por dois anos consecutivos, inclusive nos anos de desenvolvimento desta pesquisa.

Em relação às demandas da comunidade da capital e de sua região metropolitana, é relevante o alto número de candidatos inscritos anualmente nos processos de ingresso de alunos na escola e que conflui para validar uma avaliação positiva dessa escola em dois aspectos: as expectativas relacionadas à educação pretendida pelos familiares para os filhos e à caracterização socioeconômica dos alunos. Salienta-se que essa escola é regida pelo estatuto geral da universidade a que se vincula – embora possua ela própria o seu regimento interno - e não está obrigada ao cumprimento de demandas de ofertas de vagas como as que regem as escolas da rede estadual e municipal, isto é, o atendimento ao critério de zoneamento (ofertar vagas aos alunos que residem no seu entorno). Isso porque na região metropolitana onde ela se situa não existe carência de escolas nesse nível de ensino, além de o CEGRO pertencer à rede federal de educação, nos moldes dos Colégios Militares, dos Colégios de Aplicação (CAps) e dos colégios Pedro II, ela se insere no contexto de uma instituição, cujo fim principal não é o ensino em nível de Educação Básica e Profissional.

Nesse sentido, a oferta de vagas, o provimento dessas, a redução no número de alunos ingressantes – principalmente o que se observa a partir de 2006, se explicam pela especificidade dessa escola como um locus de pesquisa, de produção de conhecimento e de formação inicial e continuada de docentes, não sendo, pois, o seu foco unicamente o ensino. Justifica-se, por essa razão também, o ingresso de alunos somente em séries iniciais do Ensino Fundamental e não nas séries intermediárias. O gráfico a seguir ilustra a alta demanda da comunidade em relação às possibilidades de inserção dos filhos no universo de alunos da escola.

TABELA 1 - Processo de seleção de alunos

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Vagas 90 90 80 90 90 80 75 75 75 75

Vagas seis anos 0 0 50 0 0 50 88* 75 75 75

Vagas sete anos 90 90 30 90 90 30 0 0 0 0

Inscritos seleção 1002 1135 1099 1220 1305 1928 1232** 1149 1354 1331

Relação candidato vaga

11,1 12,6 12,2 13,5 14,5 24,1 14,0 15,3 18,0 17,7

- Dados extraídos de Editais de Seleção, Atas do Colegiado Pedagógico Administrativo da escola. * Acréscimo de 13 novas vagas em decorrência de ordem judicial.

** Total de inscritos em abertura de dois períodos de seleção (um por ordem judicial).

Observa-se, no período recortado, que a média é de 14,3 candidatos por vaga, exceto para o ano de 2006, em que essa média atingiu 24,1 candidatos. A explicação para esse fato: o edital de seleção, equivocadamente, possibilitou uma abertura em relação à idade mínima e foram aceitas inscrições de crianças com cinco anos. Para os anos letivos de 2009 e 2010, essa média passou a 17, 8 candidatos por vaga. O percentual de candidatos por vagas aumentou quatro pontos percentuais no período de quatro anos.

Até 2005, eram ofertadas 90 novas vagas para o primeiro ano de escolarização – 1a série do Ensino Fundamental – e o público eram crianças de seis anos e meio a sete anos completos, as quais eram distribuídas em três turmas de 30 alunos cada. Em cada turma eram agrupadas crianças oriundas das classes A, B, e C, segundo classificação econômica das famílias e de cujos dados nunca foi solicitada a comprovação. Essas informações eram fornecidas pelos pais ou responsáveis legais pelas crianças no ato da inscrição às provas de seleção (vestibulinho). A seleção dos candidatos regia-se pelos seguintes princípios: aprovação nas provas, as 90 notas mais altas (consideradas as 30 melhores notas de cada faixa econômica A, B e C). Em um teste de leitura feito no dia da matrícula, as crianças eram finalmente

enturmadas pelos níveis de proficiência em leitura oral. A distribuição dos alunos por turma buscava uma equidade no número de meninos e meninas e o nível de alfabetismo deles.

De 1996, quando foi instituído o sorteio público como mecanismo de ingresso de alunos, até os dias atuais, o número de meninas e meninos nas turmas é equacionado levando-se em conta uma divisão igualitária (quando é possível) dentro do universo de sujeitos sorteados. Testes de leitura não são mais aplicados às crianças para a enturmação.

Em 2006, foram instituídos dois sistemas de ensino: um com nove anos de escolarização e outro com oito que se extinguirá ao final de 2013 com a conclusão do Ensino Fundamental pelos alunos que ingressaram aos sete anos de idade. Em 2007, foram 75 as vagas ofertadas para crianças com idades a partir de cinco anos e meio e definitivamente o ensino de nove anos foi implantado.

A redução do número de vagas ofertadas (de 90 para 75) nos últimos anos deve-se também aos seguintes fatores: cuidados de diferentes ordens que as crianças menores demandam, aumento do período de escolarização que implicou o aumento de turmas a partir de 2007, reconfiguração estrutural/pedagógica/física – espaços, mobiliários, recursos pedagógicos e biblioteca, número de professores por turma nesse primeiro ano escolar - de toda a escola para a implementação progressiva da escola de tempo integral e de adaptação para alunos menores, o número real de professores atualmente em exercício (efetivos e substitutos).