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3 FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA

3.1 PESQUISA-AÇÃO

A metodologia da Pesquisa-Ação (doravante, PA) teve sua origem em 1946 por meio das publicações de trabalhos de Kurt Lewin quando suas pesquisas eram voltadas para a solução de problemáticas campestres. Já nessa época, o autor a caracterizava, entre outros critérios, pela participação dos sujeitos do campo envolvidos, bem como a tolerância em relação a opiniões distintas. Elencamos apenas essas duas características, pois são as que estão de acordo com o que abordamos ao longo da dissertação38.

De acordo com Franco (2005, p. 485), a PA, no contexto brasileiro, pode receber três conceituações conforme sua abordagem: pesquisa-ação colaborativa; pesquisa-ação crítica; e pesquisa-ação estratégia. Para este estudo, adotamos a segunda concepção proposta, a qual é utilizada quando a

transformação é percebida como necessária a partir dos trabalhos iniciais do pesquisador com o grupo, decorrente de um processo que valoriza a construção cognitiva da experiência, sustentada por reflexão crítica coletiva, com vistas à emancipação dos sujeitos e das condições que o coletivo considera opressivas, essa pesquisa vai assumindo o caráter de criticidade e, então, tem se utilizado a conceituação de pesquisa-ação crítica (FRANCO, 2005, p. 485).

Pelo caráter da nossa pesquisa, cujo foco está voltado para as questões argumentativas, entre outras, percebemos que essa conceituação vai ao encontro do que propusemos aos sujeitos selecionados, uma vez que buscamos, entre os nossos objetivos, contribuir para o desenvolvimento das capacidades crítica e reflexiva deles, de modo que sejam capazes de se posicionarem, perante diferentes assuntos, de forma embasada, e não apenas no senso comum. Além disso, sendo professora regente da turma, pude perceber que esse era um aspecto frágil no grupo e que, por meio da PA, poderíamos contribuir para a formação crítica deles.

38 As demais características são: reconhecimento de direitos individuais, culturais e étnicos das minorias e

consideração de que os sujeitos mudam mais facilmente quando impelidos por decisões grupais (FRANCO, 2005).

Tripp (2005, p. 447), para quem a PA é caracterizada como uma maneira de “investigação-ação”, segundo a qual técnicas de pesquisa consagradas são utilizadas para informar a ação que se decide tomar para melhorar a prática, elaborou um quadro apresentando onze características referentes à prática rotineira, à pesquisa-ação e à pesquisa científica, diferenciando-as. Dentre as apresentadas para a metodologia utilizada por nós, a PA, destacamos seu caráter inovador, contínuo, participativo e intervencionista.

Por isso, tendo em vista ser o nosso estudo de caráter inovador – por ocorrer no contexto do objeto pesquisado, é único e impossível de ser repetido, já que as respostas obtidas dos sujeitos, bem como as ações, são imprevisíveis –, contínuo – as oficinas são dependentes e interligadas –, participativo – sujeitos pesquisados ativos durante o processo – e intervencionista – professor enquanto mediador realizando intervenções, a fim de que os objetivos previamente elencados sejam atingidos –, adotamos a Pesquisa-Ação como aporte metodológico para este estudo, uma vez que essa é definida, conforme Thiollent (2011) como

[...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com uma resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2011, p. 20).

Tripp (2005) distinguiu quatro possibilidades de participação dos indivíduos em um projeto de PA: obrigação; cooptação; cooperação e colaboração. Conforme Thiollent (2011), uma das características desse tipo de pesquisa é a presença de participantes participativos, que vai ao encontro da concepção de sujeitos ativos, de acordo com Koch (2015a), adotada nesta dissertação, bem como cooperativos, terceira possibilidade apontada por Tripp. Segundo o autor, há cooperação quando:

[...] um pesquisador consegue que alguém concorde em participar de seu projeto, a pessoa que coopera trabalha como parceiro sob muitos aspectos (uma vez que é regularmente consultado), mas num projeto que sempre “pertence” ao pesquisador (o “dono” do projeto) (TRIPP, 2005, p. 454).

Entretanto, Lima e Martins (2006, p. 60) alertam para a necessidade de o pesquisador estar atento a fim de evitar o “participacionismo”, ou seja, ele é o responsável, não só pelo planejamento das ações envolvidas na pesquisa, como também pelo acompanhamento e geração dos dados. Assim, embora o pesquisador assuma essa responsabilidade durante o processo, ele precisa contar com a participação ativa dos sujeitos envolvidos, pois, somente desse modo, será possível a realização efetiva do estudo.

Ressaltamos que o principal objetivo dessa metodologia é, segundo palavras de Lima e Martins (2006, p. 58), a solução de problemáticas reais, sendo necessário para isso a inserção do pesquisador no contexto situacional em que ocorre a pesquisa. Por exemplo, um estudo que envolva uma pesquisa no âmbito educacional diretamente com alunos deve ser realizado com os estudantes, conjuntamente. Por isso,

nessa perspectiva, é necessário definir com precisão, de um lado, qual é a ação, quais são os seus agentes, seus objetivos e obstáculos e, por outro lado, qual é a exigência de conhecimento a ser produzido em função dos problemas encontrados na ação ou entre os atores da situação (THIOLLENT, 2011, p. 22).

Haja vista que a PA é realizada no próprio contexto de geração de dados, bem como é enquadrada dentro de um processo de ensino e aprendizagem, o pesquisador, diante disso, adapta suas ações/atividades em razão das respostas obtidas dos participantes da pesquisa. Destarte, a primeira etapa de uma pesquisa que siga essa perspectiva é o conhecimento acerca do ambiente em que os sujeitos estão inseridos, bem como dos próprios sujeitos.

Após esse primeiro contato, é importante investigar o que os participantes já sabem a respeito do tema a ser estudado, utilizando-se, para isso, alguma atividade “diagnóstica”, por meio da qual será possível observar as fragilidades apresentadas, sobre as quais serão planejadas ações com o intuito de minimizá-las ou, talvez, eliminá-las. Em consonância a essa ideia, Esteban e Zaccur (2002) afirmam que:

a prática é o ponto de partida. Dela emergem as questões, as necessidades e as possibilidades, ou seja, a prática esboça os caminhos a percorrer. [...]. Parte-se da prática para voltar a ela. Porém, na volta, não se encontra a mesma prática inicial, há uma nova qualidade na medida em que o movimento ação-reflexão-ação gera transformações, que permitem avançar em direção à melhor compreensão do fenômeno, relativizando o imediatamente perceptível (ESTEBAN; ZACCUR, 2002, p. 21-22).

A partir disso, percebemos que não há como programar todas as etapas da pesquisa previamente, uma vez que as ações propostas ao longo do processo são dependentes, isto é, estão interligadas de modo que uma atividade é planejada com base no que se observou na anterior. Por essa razão, após cada inserção do pesquisador no contexto dos pesquisados, há a reflexão pós-ação, momento no qual se planeja a proposta seguinte, objetivando maior conhecimento e aprofundamento no assunto em pauta.

Em vista disso, concordamos com Lima e Martins (2006, p. 53, grifos nossos) quando definem a PA como um “processo de produção de conhecimento [que] desenvolve-se com vistas às necessidades que emergem da prática social”. Ou seja, essa metodologia busca

minimizar, no contexto escolar, fragilidades apresentadas por determinada turma em relação a um conteúdo específico.

A partir das ideias expostas, entendemos que, nessa perspectiva, pesquisa e ação estão em consonância, ou seja, ocorrem ao mesmo tempo durante o período do estudo. Em virtude disso, Franco (2005, p. 496) alega que “pesquisa-ação” deveria ser escrita utilizando-se uma flecha no lugar do hífen, uma vez que, como já sinalizado, as duas são concomitantes.

Por essa razão, a PA assume um patamar distinto da pesquisa chamada convencional, uma vez que nesta “não há participação dos pesquisadores junto com os usuários ou pessoas da situação observada. [...]. Os usuários não são considerados como atores. Ao nível da pesquisa, o usuário é mero informante, e ao nível da ação ele é mero executor” (THIOLLENT, 2011, p. 25, grifos nossos).

Posto isso, entendemos que a PA está de acordo com a nossa proposta de trabalho, uma vez que, dentre os nossos objetivos, buscamos proporcionar a estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental avanços no que tange à argumentação quando inseridos em um debate público regrado e, portanto, proporcionar também conhecimento acerca das características inerentes ao gênero em questão. Não apenas por isso, mas por inserirmos, ao longo de nossa prática de pesquisa, momentos de reflexão por parte do grupo, assim como de autoavaliação realizada pelos indivíduos pesquisados, caracterizando-os como sujeitos ativos no processo.

Esses momentos práticos ocorreram no período entre os meses de agosto e dezembro de 2017, durante o qual as ações em sala de aula e a geração de dados aconteciam concomitantemente. Isso significa dizer que o planejamento das ações/atividades seguintes era dependente da resposta obtida pela pesquisadora nas oficinas anteriores, aspecto característico da PA.