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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 LINGUÍSTICA DO TEXTO

2.1.2 Progressão textual

Ao elaborarmos um texto, estamos constantemente recorrendo a estratégias que proporcionem a sua continuidade, ou seja, que possibilitem fazer com que o texto progrida. Para isso, o produtor do texto, a todo momento, utiliza recursos que permitem não somente a retomada de algum referente já mencionado, como também a introdução de um novo.

Denominamos referente18 o termo – e/ou a informação – que está sendo construído e

reconstruído ao longo do texto, promovendo, dessa forma, a continuidade textual.

Assim, a respeito do termo continuidade, Koch (2014a, p. 138) postula que “continuidade envolve progressão. E progressão textual, por sua vez, necessita garantir a continuidade de sentidos, o constante ir-e-vir entre o que foi dito e o vir-a-ser-dito responsável pela entretecimento dos fios do discurso”.

Em outras palavras, mas ainda de acordo com a autora, tal estratégia “diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto [...], diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmático-discursivas, à medida que se faz o texto progredir” (KOCH, 2015a, p. 148). Sendo assim, percebemos que essa concepção reafirma a definição de texto proposta por Weinrich, na qual o autor defende que, na produção textual, tudo está interligado.

De acordo com Koch (2014a; 2015a; 2016; 2017), há três tipos de progressão textual: referencial, temática e tópica. Ressaltamos, entretanto, que, ao elaborar um texto, o escritor/falante faz uso de todas, ou seja, um texto não é produzido com base em uma possibilidade de progressão textual somente, mas, do contrário, a partir da junção das três.

A progressão referencial é responsável pela “introdução no texto de referentes novos ou inferíveis a partir de outros elementos do cotexto” (KOCH, 2014a, p. 125-126). Para isso, podem ser utilizados elementos de ordem gramatical ou lexical – quando o referente se encontra presente no cotexto – e estratégias como as anáforas associativa e indireta – quando a identificação do referente exige um grau maior de complexidade, uma vez que tal termo não pode ser facilmente identificado, pois não está presente no cotexto. Não nos deteremos, todavia, na explanação de tais estratégias, uma vez que retomamos tal progressão na seção seguinte.

Já a progressão temática é vista a partir de duas acepções, conforme Koch (2014a). A primeira corresponde à perspectiva funcional de frase proposta pela Escola de Praga, a qual entende progressão temática a partir da articulação tema-rema. Ainda de acordo com a autora (2017), tema corresponde à informação dada, ao passo que rema constitui, geralmente, a informação nova. Para esses fins, o escritor/falante tem diversas maneiras de fazer progredir o texto em relação à temática: progressão com tema constante, progressão linear, progressão com tema derivado, progressão por subdivisão do rema e progressão com salto temático. A escolha por determinada estratégia “tem a ver com o tipo de texto, com a modalidade (oral ou

escrita), com os propósitos e atitudes do produtor” (KOCH, 2017, p. 94), porém, ressalta a autora, dificilmente haverá presença de apenas uma, visto que há uma combinação entre elas, a fim “de dar ao texto a organização desejada” (KOCH, 2017, p. 95).

A segunda acepção define a progressão temática como o “avanço do texto por meio de novas predicações sobre os elementos temáticos (dados ou inferíveis do cotexto)” (KOCH, 2014a, p. 130). A isso, Schwarz (2000)19, citado por Koch (2014a), chama de tematização remática. Além disso, esse tipo de progressão ocorre por meio dos encadeamentos, via intermédio dos articuladores textuais, entre os segmentos do texto, seja por justaposição, seja por conexão. Segundo Koch (2017, p. 98), “o emprego adequado dos articuladores é também garantia de continuidade temática, na medida em que ficam explicitadas as relações entre os segmentos textuais que interligam, quer as de tipo lógico-semântico, quer as de caráter discursivo-argumentativo”.

Por fim, a progressão tópica “compõe-se de segmentos tópicos, direta ou indiretamente relacionados com o tema geral ou tópico discursivo” (KOCH, 2015a, p. 157). A organização dos tópicos, bem como a manutenção do tema, por sua vez, é caracterizada a partir de duas propriedades: centração e organicidade. Percebemos, assim, que “a progressão tópica se realiza, portanto, pelo encadeamento dos tópicos nos diversos níveis de organização tópica” (KOCH, 2014a, p. 137).

A partir do exposto, entendemos que os três tipos de progressão textual devem ser vistos “como resultado de estratégias – cognitivo-discursivas, sociointeracionais e de formulação textual – postas em ação pelos sujeitos sociais, tendo em mira a construção textual dos sentidos”, conforme aponta Koch (2017, p. 102). Para isso, dois critérios de textualidade são fundamentais: coesão e coerência. Tais princípios de construção textual do sentido, ainda que tenham sido categorizados como correspondentes aos aspectos linguísticos, ou seja, ao âmbito do cotexto, possuem estratégias de produção textual que mobilizam o leitor/ouvinte a recorrer ao contexto, a fim de compreender inteiramente determinados segmentos do texto.

Entendemos que as três possibilidades de proporcionar que um texto progrida ocorrem simultaneamente, não obstante, tendo em vista a necessidade de mais um recorte teórico, optamos por trabalhar com a progressão referencial nesta pesquisa. Isso porque nosso propósito, já registrado, em outras palavras, em nosso objetivo, é analisar de que maneira alunos de 8º ano, quando inseridos em um debate público regrado, não somente introduzem

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novos referentes, como também de que forma eles os retomam ao decorrer da produção textual. A partir disso, buscamos avaliar os avanços relacionados a esse critério.

Além disso, o gênero selecionado – debate público regrado – pertence ao campo argumentativo, obedecendo a mais um critério para a seleção da progressão referencial, visto que, muitas vezes, a escolha por determinado termo ou expressão sinaliza o ponto de vista do escritor/falante a respeito do tema em foco. Para fins de exemplificação quanto à orientação argumentativa, apresentamos o Quadro 3:

Quadro 3 – Orientação argumentativa