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4.1. Área 1 – Organização e gestão do ensino e da aprendizagem

4.1.2. Planeamento do processo ensino-aprendizagem

4.1.2.1. Planeamento anual

“As características, as leis, princípios e a essência do ensino não admitem a ideia de planear isoladamente as acções pedagógicas, de aula para aula, de partir e fragmentar processos de formação (…) no ensino trata-se de traçar e realizar um plano global, integral e realista da intervenção educativa para um período lato de tempo” (Bento, 2003, pp.65-66). O planeamento anual é, portanto, o primeiro nível de planeamento, de perspetiva global e, segundo o mesmo autor, “sem pormenores da actuação ao longo do ano, requerendo, no entanto, trabalhos preparatórios de análise e de balanço, assim como reflexões a longo prazo. Os detalhes e demais medidas didáctico-metodológicas são reservados para os planos das unidades temáticas ou didáticas e para o projecto de cada aula, porém, numa sequência lógica que aqui tem o seu início” (pp.59-60).

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Matos, Z. (2014). Normas orientadoras do estágio profissional do ciclo de estudos conducente ao grau de mestre em ensino de educação física nos ensinos básico e secundário da FADEUP.

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Durante a fase da conceção mencionei o uso de auxílios e materiais didáticos (os vários projetos, regulamentos, planificações e critérios) para obter um melhor entendimento e posterior planeamento, no entanto, os mesmos não “substituem o confronto intelectual com os problemas do ensino” (Bento, 2003, p.26). De facto, análise dos respetivos documentos facilitaram a elaboração dos três níveis de planeamento mas, sozinhos, não seriam suficientes para um ensino que se quer ajustado, lógico e eficaz e, por isso, “neste nível de preparação do ensino trata-se, em primeiro lugar, de cada professor adquirir clareza acerca dos resultados a alcançar, necessariamente pelos alunos das suas turmas, no ano escolar e na sua disciplina, resultados respeitantes a capacidades, habilidades, conhecimentos, atitudes e qualidades de vontade e de carácter” (Bento, 2003, p.66).

Como já referi anteriormente, o planeamento anual não foi um projeto criado e desenvolvido por mim, tendo sido apresentado pelo PC nas primeiras reuniões no âmbito do estágio. As modalidades a lecionar, os períodos em que as mesmas iam ser lecionadas e o número de aulas estipulado a cada uma foi-me apresentado, bem como a todo o NE, através de uma grelha e, por isso, decidir se uma determinada matéria é tão importante que deva ser integrada no programa, constituiu uma tarefa na qual não tive poder de decisão, apesar de ter tido, posteriormente, liberdade de escolha. A questão com a qual me deparei, face à situação, foi «mas então no que é que um professor se baseia para determinar a “valência” de uma modalidade em detrimento de outra?». “Partindo de posições educativas e pedagógicas fundamentais (…) depende sobretudo da função ou importância (…) para o nível de competência motora, de habilidades, de capacidades e conhecimentos; das suas potencialidades para a educação motora e social; do seu grau de importância subjectiva para o aluno e para a actividade extralectiva e extraescolar; do papel que desempenha no decurso real do ensino, numa dada turma, sob determinadas condições (nível inicial e capacidade de rendimento dos alunos, condições espaço-temporais e materiais, etc.)” (Bento, 2003, pp.85-86). Não conhecendo a turma, aquando a realização do planeamento anual, e sendo o primeiro contacto – significativo – com o ensino enquanto professora, acredito que as

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opções tomadas pelos docentes responsáveis se centraram nos seus conhecimentos e experiências anteriores. Sendo assim, as modalidades que constam no PNEF para o 10º ano são 15, sendo elas o futebol, voleibol, basquetebol, andebol, ginástica no solo, ginástica de aparelhos, ginástica acrobática, atletismo, badminton, ténis, patinagem artística, hóquei em patins, corridas em patins, dança e jogos tradicionais e, as escolhidas pelos responsáveis, foram reduzidas a 9: futebol, voleibol, andebol, ginástica acrobática, atletismo, badminton, ténis, dança e tag rugby. Ainda assim, quando o PC apresentou a PA, a mesma já tinha excluído uma modalidade (tag rugby) e, durante o ano letivo, tive necessidade de excluir mais uma modalidade (ténis) para dar cumprimento aos objetivos propostos e, principalmente, por considerar necessário aprofundar determinados conhecimentos dos discentes face a algumas modalidades, tempo esse que me foi retirado em várias atividades que constavam no PAA e outras que foram surgindo – aspeto a ser refletido posteriormente. No meu ponto de vista, tendo em conta o conhecimento que possuo da minha turma e das condições espaciais e materiais da escola, das atividades extra curriculares que praticam e das suas preferências, considero que a escolha das modalidades poderia ser mais inovadora e criativa. Porque é que a escolha é sempre a mesma? Já no meu tempo, enquanto aluna, aprendi as mesmas modalidades e, sete anos depois, ensinei as mesmas. Sei que existem escolas que optam, felizmente, por escolher modalidades que ficam quase sempre esquecidas e que, a meu ver, seriam benéficas para o desenvolvimento dos alunos enquanto discentes e enquanto pessoas, entre as quais o râguebi, o judo e a orientação. Os três exemplos proferidos tratam-se de modalidades que podem cumprir vários dos objetivos propostos para este ciclo de ensino, mas que podem ser alcançados através de práticas diferentes das habituais.

Anteriormente referi que o tempo estipulado para o ensino, presente na PA, me foi retirado gradualmente devido à realização de atividades, feriados e outros constrangimentos e que, dentro do NE, fui a EE com mais aulas “roubadas”. Foi importante verificar quantos horas estavam, de facto, à minha disposição para conseguir fazer um reajuste dos objetivos e metas a alcançar e da escolha

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das melhores estratégias de ensino e de gestão. Apesar da maior parte dos pontos altos terem estado, à partida, definidos, alguns surgiram posteriormente, provocando alterações no planeamento inicial. Apesar do departamento de expressões ter elaborado a PA, a distribuição das aulas de cada uma das modalidades foi realizada por mim, ou seja: na PA constavam 20 aulas de voleibol no 1º período mas eu, consoante a análise ao roulement, é que distribui esse número de aulas pelos dias em que quis e fui realizando as alterações necessárias no decorrer do ano, o que revela que este primeiro nível de planeamento, tal como todos os outros, é flexível e passível de ser mudados, como se pode constatar através do seguinte excerto:

“As alterações realizadas, sinalizadas a cor verde, resultaram da troca de espaços de aula, das obras no pavilhão e do cancelamento do torneio de Voleibol “Duplas Românticas”. As respetivas trocas foram conseguidas através de pedidos aos professores que estavam destacados para esses espaços e justificam-se pela impossibilidade de prática de determinadas modalidades em alguns deles, ora vejamos:

 Só é possível lecionar Ginástica Acrobática nos espaços G1, G2 e G3;  Só é possível lecionar Andebol nos espaços G1, G2, G3, G4, G6 e G7;  O fecho do pavilhão para obras obrigou a que uma aula prática de

andebol não fosse realizada e, ao invés dela, fosse fornecida a um colega do NE para a aplicação dos questionários do seu estudo de investigação-ação;

 O cancelamento do torneio “Duplas Românticas” foi feito na mesma semana, ou seja: todas as avaliações já tinham sido realizadas e o espaço destinado à aula era o G5 (não havendo qualquer outro espaço de aula livre), pelo que a opção tomada foi a visualização do filme “Pursuit of happiness” e a realização da auto-avaliação.”

(Justificação das alterações ao planeamento do 2º Período. Abril 2015.) É primordial ressalvar que essa distribuição das modalidades pelos diferentes períodos não foi feita, como é habitual, no início do ano letivo, mas sim período a período, podendo quase falar em «planeamento periodal» (Anexo IV). Concluindo, este documento determina uma previsão anual e «periodal» do

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desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, sendo aberto no que concerne a alterações necessárias e pertinentes, tal como afirma Bento (2003, p.16) quando nos diz que “o ensino real tem naturalmente mais facetas do que aquelas que podem ser contempladas no seu planeamento e preparação. No processo real do ensino existe o inesperado, sendo frequentemente necessário uma rápida reacção situacional. Mas nem por isso muita coisa deixa de depender já da antecipação mental da realidade do ensino mediante o seu planeamento e preparação (…) Uma melhor qualidade de ensino pressupõe um nível mais elevado do seu planeamento e preparação.”