• Nenhum resultado encontrado

4. A LEI DE GESTÃO SUSTENTÁVEL DAS FLORESTAS PÚBLICAS

4.6. O Plano Anual de Outorga Florestal

A Lei 11.284/2006 criou uma série de instrumentos para gestão das florestas públicas, dentre eles o Cadastro Nacional de Florestas Públicas e o Plano Anual de Outorga Florestal – PAOF. A elaboração do plano se faz obrigatória como instrumento preliminar da concessão florestal, conforme o disposto nos respectivos artigos da Lei 11.284/2006 de Gestão de Florestas Públicas:

Art. 9. São elegíveis para fins de concessão as unidades de manejo previstas no Plano Anual de Outorga Florestal.

Art. 10. O Plano Anual de Outorga Florestal – PAOF, proposto pelo órgão gestor e definido pelo poder concedente, conterá a descrição de todas as florestas públicas a serem submetidas a processos de concessão no ano em que vigorar.

Ressalte-se que o Decreto 6.063/2007 que regulamenta a referida lei dispõe com maior detalhamento sobre a aplicação do PAOF, conforme explicitado em seu Art. 19:

Art. 19. O PAOF, proposto pelo Serviço Florestal Brasileiro e definido pelo Ministério do Meio Ambiente, conterá a descrição de todas as florestas públicas passíveis de serem submetidas à concessão no ano em que vigorar.

Parágrafo único. Somente serão incluídas no PAOF as florestas públicas devidamente identificadas no Cadastro Geral de Florestas Públicas da União.

O PAOF 2007/2008 previu apenas as florestas públicas federais. Seus objetivos principais são:

1. Identificar florestas públicas passíveis de ter unidades de manejo licitadas para contrato de concessão florestal em 2007 e 2008, assim como áreas prioritárias para aplicação desse mecanismo;

2. Identificar as atividades a serem executadas no período de agosto de 2007 a dezembro de 2008.

O PAOF 2007/2008 contém algumas simplificações, descritas a seguir, conforme disposições transitórias do Decreto nº 6.023/2007:

- A Divisão das florestas públicas incluídas no PAOF em duas categorias: florestas passíveis de concessão e florestas com concessão prioritária (não se identificam as unidades de manejo);

- Não são feitas estimativas de receita com as concessões;

- Análise de convergência com políticas públicas setoriais realizada após a seleção das florestas prioritárias, e não previamente como parte do processo de seleção das áreas;

- Análise de convergência com políticas estaduais limitada às áreas prioritárias devido a não existência de PAOFs estaduais.

Na metodologia de seleção das áreas do PAOF, foi aplicado um conjunto de três filtros com os seguintes objetivos:

I. Identificar as florestas públicas legalmente passíveis de aplicação do instrumento da concessão florestal;

II. Identificar as florestas públicas que poderiam ter a aplicação da concessão florestal no período de 2007 a 2008;

III. Identificar as florestas públicas que seriam prioritárias para realizar as primeiras licitações para concessão florestal.

Na primeira etapa (Figura 1), para identificar as florestas legalmente aptas para concessão florestal, foram excluídas do PAOF 2007/2008 aquelas inseridas no Cadastro de Florestas Públicas da União que se enquadrassem nos seguintes casos: Unidade de Proteção Integral, Terra Indígena, Área Militar, Assentamentos, Reserva Extrativista e Reserva de Desenvolvimento Sustentável. As que não se enquadrassem nessas categorias são consideradas legalmente aptas para concessão.

Figura 1

Na segunda etapa (Figura 2), as florestas legalmente aptas para concessão seriam submetidas a um novo filtro. Se elas fossem consideradas com potencial destinação para uso comunitário ou área remota ou distante de mercados formais ou tivessem potencial destinação para uso especial, seriam excluídas do PAOF 2007/2008 e não seriam consideradas florestas públicas da União passíveis de concessão. Se elas não se enquadrassem nos casos anteriores e tivessem potencial para produtos e serviços florestais, as mesmas não seriam excluídas do PAOF 2007/2008 e seriam passíveis de concessão. No caso das Florestas Nacionais, só seriam incluídas no PAOF 2007/2008 e consideradas passíveis de concessão aquelas que tivessem Plano de Manejo pronto ou em elaboração.

Figura 2

Na terceira etapa (Figura 3), a partir das florestas públicas passíveis de concessão selecionadas na etapa anterior, foram selecionadas as florestas públicas prioritárias para concessão. Foram priorizadas aquelas que integrassem o Distrito Florestal Sustentável ou a estratégia de desenvolvimento local, ou, ainda, aquelas que tivessem justificativa tática que a priorizasse.

Figura 3

No Cadastro Geral de Florestas Públicas da União, foram inseridos 193,8 milhões de hectares de florestas públicas federais. Apenas 43 milhões de hectares são considerados legalmente passíveis de concessão. No PAOF 2007/2008, foram consideradas passíveis de concessão as florestas públicas inseridas numa área de 11,7 milhões de hectares – 6% do total. Além disso, foram considerados prioritários para a aplicação dos mecanismos de concessão florestal o total de 3,9 milhões de hectares, todos localizados em Rondônia e Pará. Ressalte-se que a Amazônia concentra 92% das florestas públicas identificadas. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o Cadastro não é exaustivo e serão incluídas outras florestas públicas federais em processo de identificação. As florestas públicas foram cadastradas em dois tipos diferentes: com destinação definida (TIPO A) e com destinação não definida (TIPO B), conforme gráfico a seguir:

Gráfico 4

Fonte: Serviço Florestal Brasileiro/Ministério do Meio ambiente

No total, o PAOF 2007/2008 limitou as áreas de concessão florestal a um milhão de hectares, equivalente a 0,5% das florestas públicas federais já cadastradas. As Tabelas B e C estão expressas as áreas de florestas públicas federais, por bioma, inseridas no Cadastro Geral de Florestas Públicas da União e as áreas de florestas públicas com possibilidade de concessão florestal no PAOF 2007/2008, respectivamente:

Tabela B - As florestas públicas brasileiras inseridas no cadastro geral de florestas públicas da união (em 1.000 ha) Bioma/Região CO NE N SE S TOTAL AMAZÔNIA 9773 1850 166870 178468 CAATINGA 936 5 941 CERRADO 5919 2486 3330 574 12310 MATA ATLÂNTICA 117 218 404 817 1557 PAMPA 148 148 PANTANAL 412 412 TOTAL 16222 5463 170200 983 963 193836

Tabela C- A área das florestas públicas federais (FPF) quanto à possibilidade de concessão florestal (CF) no PAOF 2007-2008 em hectares

Tipo de Floresta Pública Federal (FPF) Total de Florestas Públicas Legalmente passíveis de concessão florestal Incluídas no PAOF 07/08 (CF permitida) Prioritárias para CF Área Projetada de Unidades de Manejo para CF FPF destinadas 1645390 61 14449042 8778506 3957044 1000000 FPF não destinadas 2929664 9 29296649 2890514 Total de FPF 1938357 10 43745691 11669020 3957044 1000000 % das FPF 100,00% 22,60% 6,00% 2,00% 0,50%

Fonte: Serviço Florestal Brasileiro/ Ministério do Meio ambiente

As florestas públicas incluídas no PAOF foram agrupadas em seis regiões, quatro delas na Amazônia. A região do Purus Madeira inclui quatro florestas públicas, todas em florestas Nacionais: Flona de Macauã (AC), Flona de Humaitá (AM) e Flonas de Jacundá e Jamari (RO). A Flona do Jamari foi considerada uma das áreas prioritárias para a aplicação do instrumento de concessão florestal – e foi a primeira concessão florestal do país.

4.7. - O Processo de Concessão Florestal

A licitação é feita para cada unidade de manejo e a escolha é definida baseada nos critérios de melhor técnica e melhor preço. Os ganhadores da licitação, após a assinatura do contrato, devem preparar um Plano de Manejo Florestal Sustentável – PMFS, de acordo com a legislação vigente, e submeter à aprovação do órgão ambiental responsável, antes do início das operações. Portanto, os órgãos que participam do processo de aprovação dos

planos de manejo devem assegurar a qualidade técnica dos mesmos, visando, sobretudo, ao manejo florestal sustentável e à sustentabilidade local.

No que diz respeito aos recursos provenientes das receitas das concessões florestais, até 20% devem ser destinados para cobrir os custos de concessão florestal, incluindo recursos para o Serviço Florestal Brasileiro e para o IBAMA realizarem atividades de monitoramento e controle; e, no mínimo, 80% divididos para os estados e municípios onde se localizam as florestas públicas, e para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal, que deve promover o desenvolvimento tecnológico, a promoção da assistência técnica e incentivos para o desenvolvimento florestal sustentável.

O edital para o primeiro lote de concessão florestal foi publicado no dia 14 de novembro de 2007 e a primeira concessão florestal foi assinada no dia 01 de outubro de 2008. Três madeireiras receberam autorização para explorar, no período de 40 anos, 96 mil hectares da Floresta Nacional do Jamari, entre os municípios de Itapoã do Oeste e Cujubim, no Estado de Rondônia.

Como são requisitos básicos para concessão florestal a inclusão da Floresta no Cadastro Nacional de Florestas Públicas e também no Plano Anual de Outorga Florestal (PAOF), no dia 6 de julho foi publicada Resolução nº 2/07, que regulamenta o Cadastro Nacional de Florestas Públicas, e em 31 de julho de 2007 foi publicado o primeiro PAOF.

No que diz respeito ao Plano de Manejo Florestal Sustentável, elaborado pela madeireira, em geral, a área concedida à empresa é dividida em 30 partes iguais, em que cada pedaço deve ser explorado por um ano. Quando todas as partes da floresta já tiverem sido exploradas, o corte de madeira volta a ser feito no primeiro lote, que teve 30 anos para se recuperar. O prazo máximo do contrato é de 40 anos.

De acordo com a Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, em cada hectare há cerca de 1000 árvores, das quais 300 a 400 são adultas. A empresa deve retirar 4 a 5 árvores de cada hectare. Todavia, não há dados suficientes que assegurem que a floresta continuará igual, ou que haverá perdas. Após o término do contrato, deverão ser realizados estudos que avaliem a possibilidade de submeter a área novamente à exploração.

Ao assumir o uso da floresta, a empresa concessionária fica responsável por verificar se a área não está sendo invadida por madeireiras ilegais ou por grileiros. Caso isso aconteça o IBAMA deve ser acionado. Para verificar se a derrubada das árvores está seguindo o plano estabelecido, será utilizado o sistema DETEX (Detecção de Exploração Florestal Seletiva). O sistema é capaz de detectar pequenas modificações na mata, como a abertura de pátios para processar as toras e até a modificação das copas das árvores na floresta.

O financiamento para a fiscalização virá da arrecadação proveniente da concessão, em que o valor arrecadado será destinado ao IBAMA, Instituto Chico Mendes e Serviço Florestal Brasileiro, e os recursos deverão ser aplicados em ações de conservação e uso sustentável das florestas. O valor mínimo de manutenção do sistema será no máximo de 30% dos recursos arrecadados, direcionados ao Serviço Florestal Brasileiro e IBAMA. A distribuição dos recursos restantes, no mínimo 70% do valor arrecadado, no caso de concessão em Floresta Nacional, deverá respeitar a seguinte distribuição:

- 20% Estado; - 20% Municípios;

- 40% Instituto Chico Mendes

- 20% Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal. 4.7.1. O Passo a Passo da Concessão Florestal

No processo de concessão florestal, a fase preliminar, chamada de fase pré-edital, inclui todas as etapas até a publicação do edital de licitação. Após a publicação do PAOF, que define as florestas públicas que terão suas unidades de manejo licitadas e que comporão o lote de concessões, deverá ser realizado o licenciamento prévio por meio do Relatório Ambiental Preliminar – RAP, preparado pelo Serviço Florestal e avaliado e aprovado pelo IBAMA. No caso das Florestas Nacionais – FLONAS, o Plano de Manejo das Unidades de Conservação, aprovado pelo Conselho Consultivo, representa o licenciamento prévio. A

realização de licitação para concessões florestais em FLONAS deve ser apreciada pelo Conselho Consultivo.

Para a preparação do edital de licitação, devem ser feitos estudos técnicos preliminares, que incluem o inventário florestal e o levantamento potencial das cadeias produtivas florestais na região. O edital indica os produtos e serviços, o objeto da concessão florestal, e todas as condições obrigatórias para qualificar os concorrentes da licitação. Com trinta dias de antecedência da publicação definitiva, deve ser publicado o pré-edital, juntamente com a minuta de contrato de concessão florestal. O pré-edital passa por uma consulta pública incluindo audiências públicas no local de concessão, com os municípios envolvidos. Em outros aspectos, as audiências públicas identificam e aprimoram os indicadores a serem utilizados para definir o ganhador da concessão florestal.

O Edital de Licitação54 deve conter todas as regras detalhadas de como serão pontuadas as propostas e de como será definido o vencedor para cada unidade de manejo. O critério de melhor técnica deve ter sempre o peso maior do que o preço. O critério técnica inclui quatro temas:

a. Maior benefício social; b. Menor impacto ambiental; c. Maior eficiência;

d. Maior agregação de valor local.

Para cada um dos temas é preciso existir pelo menos um indicador com parâmetros objetivos para efeito de pontuação ou bonificação de uma proposta. Os indicadores podem ter parâmetros diferentes para cada unidade de manejo de acordo com o seu tamanho e condições. A Tabela D apresenta dois exemplos de indicadores, com seus respectivos critérios, parâmetros e verificadores:

Tabela D

CRITÉRIO INDICADOR PARÂMETRO VERIFICADOR

Menor Impacto Ambiental Árvores danificadas por m3 explorado Menor número de árvores danificadas = mais pontos Relatório pós- exploratório Maior Benefício Social Número de empregos diretos Maior número de empregos diretos = mais pontos Dados de registro em carteira

Para se habilitar55, os concorrentes devem ser empresas brasileiras com sede e administração no país. Cada unidade de manejo florestal pode ter apenas um contrato de concessão florestal, que deve incluir todos os produtos e serviços autorizados. Pondere-se que não pode ser objeto de concessões florestais o uso dos recursos genéticos, fauna, recursos minerais, recursos hídricos e os créditos de carbono, exceto para florestas plantadas. Produtos de uso para subsistência das comunidades locais também são excluídos do objeto de concessão.

No que diz respeito ao monitoramento, fiscalização e auditorias, durante a execução dos PMFS, o concessionário é fiscalizado pelo IBAMA e Serviço Florestal Brasileiro, além de ser obrigatória uma auditoria independente, pelo menos uma vez a cada três anos. Para melhor compreensão do passo a passo do processo de concessão florestal, a figura 4, abaixo, demonstra as diferentes fases do respectivo processo: A fase Pré-Edital, que termina com a publicação do Edital de Licitação, a fase Seleção e Contratação, que termina com a assinatura do contrato, e, finalmente, a fase de execução, que inclui todas as atividades relacionadas à implantação do manejo florestal e seus respectivos monitoramento, fiscalização e auditoria.

55

O §1º do art. 19 prevê que somente poderão ser habilitadas nas licitações para concessão florestal empresas ou outras pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras que tenham sede e administração no país. Todavia, tal previsão não afasta o risco de exploração indevida pelo capital estrangeiro, inclusive, do patrimônio genético e dos recursos hídricos das unidades de manejo florestal concedidas, até mesmo pela conhecida deficiência na fiscalização em atividades similares.

Figura 4