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Platão e Aristóteles – duas ontologias distintas

2. IGUALDADE NA “REALIDADE REALMENTE REAL”

2.2. Platão e Aristóteles – duas ontologias distintas

Platão e Aristóteles construíram seus sistemas, em boa medida, em cima de tais problemas. Isto é, eles levaram em conta o que pode ter sido o grande debate dos tempos pré-socráticos, a já anunciada polêmica entre os heraclitianos e os parmenidianos ou, em outras palavras, os da Escola Eleática (da imutabilidade do ser) e os da Escola Jônica (do fluxo contínuo).139

Platão será um dos grandes expoentes na confluência dessas duas grandes correntes de pensamento. Ele vai, de algum modo, prestigiar a construção de parmenídica, ao ponderar que os objetos do conhecer precisam ser imutáveis para serem alcançados pela ciência, mas vai também, por lado inverso, negar imprestabilidade aos dados obtidos no mundo dos sentidos, e com isso contrariar um dos motes essenciais em Parmênides, aproximando-se um tanto das fontes mais ricas de Heráclito.

Segundo Miguel Spinelli, para Platão, o sensível é fonte do saber, em que pese não se constitua em ciência:

A bem da verdade, o que Platão buscou entre o sensível e o inteligível – se se quiser, entre a alma e o corpo –, foi o seu equilíbrio, ou seja, visto que na maioria das vezes é o sensível que se impõe ao inteligível é necessário, em alguns momentos e sob certos propósitos, que o inteligível se imponha. Tendo, por exemplo, constatado que o estudo “feito por intermédio dos olhos, dos ouvidos e dos outros sentidos está inçado de ilusões”, recomendava a seus discípulos que se “livrassem” deles, ou que deles evitassem servir-se, mas com a seguinte advertência: “pelo menos quando não houver uma imperiosa necessidade”.

[...]

Platão, pois, estava plenamente ciente de que existem certas esferas do saber em que o sensível se impõe como “uma imperiosa necessidade”. Por suposto ele também sabia (afinal, não era um tolo) o que todos sabemos: que o sensível, sob certos aspectos, é fonte privilegiada de

algum saber. Por exemplo, como experimentamos que o fogo queima senão colocando o dedo no fogo?140

O sensível, aqui, não é mera ilusão como em Parmênides, mas fonte de uma informação relevante, ainda “por cientificizar” através da formatação, pelo espírito, daquilo que chamará “Ideias”, conceitos eternos e absolutos movidos pela pura intelecção, que não se deixa enganar pelas imprecisões extraídas com os sentidos. É precisamente aí que se fundamenta a conhecida divisão que Platão promove entre o mundo das ideias e o mundo sensível.

Ele promove a “redução do sensível ao nível de meio e de instrumento mediante os quais a ‘causa verdadeira’ se realiza. Portanto, as coisas belas se explicarão não pelos elementos físicos (cor, figura e coisas semelhantes), mas em função da Beleza-em-si [...]”141, com o que se quer dizer que a realidade dialoga com conceitos superiores e transcendentes, é forma de manifestação e participação de um todo maior e mais completo, a grande síntese.

Na dicção de Bergson:

O ponto de partida da teoria platônica parece ser indicado em um trecho do livro VII da República. “Entre as sensações, algumas há que não convidam ao pensamento, à reflexão, pois a sensação basta para explicá-las. Mas há outros dados dos sentidos que sempre incitam a reflexão do pensamento, espantando-o, porque a sensação não oferece aqui nada de inteligível. Eis, por exemplo, um dedo. É ele grande ou pequeno? Os dados dos sentidos são aqui contraditórios, pois ele é grande ou pequeno segundo o objeto ao qual é comparado.” Em outras palavras, em inúmeros casos os sentidos nos revelam a contradição, e a reflexão, exercendo-se sobre seus dados e apenas sobre seus dados, vê- se como que atingida pelo estupor. Há um meio de eliminar essa contradição, e Platão o indica, nesse mesmo trecho: dividir aquilo que a sensação confunde e considerar como existindo à parte o que aparentemente pertencia a um único objeto. Assim, o grande não pode ser pequeno, como tampouco o pequeno não pode ser o grande. O que se deve dizer é que o grande existe em si, e o pequeno em si, e que o objeto sensível pode participar de um e de outro.142

Paul Foulquié oferece uma construção muito parecida:

Enquanto para o comum dos pensadores e mesmo para Sócrates os seres visíveis deste mundo nos fornecem a realidade-tipo e estão na origem das ideias gerais, por meio das quais se elaboram a ciência e a filosofia, Platão professa uma teoria completamente diferente. Para ele os

140 SPINELLI, Miguel. Questões fundamentais da filosofia grega. São Paulo: Edições Loyola, 2006, p. 269-270.

141 REALE, Giovanni. História da filosofia antiga. Trad. Henrique Claudio de Lima Vaz e Marcelo Perine. Vol 2. São Paulo: Loyola, 1994, p. 56.

aspectos individuais que os sentidos nos fazem conhecer possuem apenas um ser participado e, comparados ao ser de que participam, não são mais que sombras. A única realidade digna deste nome está nas Ideias do mundo inteligível, tipos universais onde tudo o que existe tem o seu ser e donde nos vêm também as ideias gerais que permitem edificar a ciência, assim como as que nos são necessárias para emitir juízos; de valor sobre a actividade humana ou sobre a organização da sociedade.

Estas ideias não são abstraídas dos dados experimentais. A experiência apenas provoca a «reminiscência». Não é a imagem de uma flor ou de um rapaz belo que nos dá a ideia de belo. A Ideia de belo, ou o Belo, contemplou-o a minha alma quando permanecia no mundo das Ideias, antes de se unir ao corpo. Todo este período da existência da alma está enterrado no esquecimento, mas resta dela um vago resíduo, as ideias, particularmente a ideia de belo, que se apresentam ao espírito quando deve julgar objectos que participam delas: é a imagem das coisas belas que provoca em mim a reminiscência da Ideia do Belo.

Mas as ideias que nos restam são muito pálidas e confusas em comparação com as Ideias a cuja contemplação nós as devemos. Para bem compreender o mundo, para ser verdadeiramente filósofo, será preciso elevar-se até essas Ideias supremas do mundo inteligível e até à ideia do Bem donde todas elas derivam; depois descer, no sentido da participação, através dos degraus inferiores do real até às sombras que nós tomamos pela única realidade. A dialéctica platónica é a arte ou conjunto de processos pelos quais o espírito se eleva às Ideias do mundo inteligível.143

Platão – contra a corrente dos sofistas que argumentavam livremente em favor de qualquer das concepções de um dado objeto de apreciação – preocupa-se em encontrar conceitos para as coisas, identificar nelas respostas precisas, e mais que isso, sublimá-las em direção à virtude, o bem, ou seja, escapar do que é a coisa no mundo dos sentidos em direção ao que ela deve ser idealmente.

Carlos Cirne Lima assevera que:

O mundo que de fato existe, como ele está aí na frente dos nossos olhos, nem sempre coincide com aquilo que deve ser. O Dever-Ser é o ideal a ser atingido, o Dever-Ser é a Ideia. Nasce assim a ideia platônica. A condenação – injusta – e a morte de Sócrates mostraram com clareza a Platão que o Mundo-Que-De-Fato-É nem sempre coincide com o Mundo-Ideal-Que-Deve-Ser.

Os sofistas pensavam que a virtude, o Dever-Ser, era algo flutuante, algo relativo, algo que variava de situação para situação, e que não havia princípios válidos para todos os casos. Platão não aceita tal relativismo.144

143 FOULQUIÉ, Paul. A dialética. Trad. Luís A. Caeiro. Lisboa: Publicações Europa-América, 1966, p. 20- 21.

E por isso ele elaborará toda uma construção para explicar como o homem pode sublimar os sentidos e alcançar a Ideia plena, a “forma”145.

A Ideia é ontológica, estável, sempre existiu no universo, funcionando como um princípio de ordem, que arranja o mundo, formando-o (dando forma). As formas existem desde sempre, pois são as forças ordenadoras do cosmos. Do ovo de um pato sempre sairá um pato, porque lá, pré-programada, está a forma de um pato. Do ovo de uma galinha nunca nascerá um pato, porque a forma contingente é outra. E todos os patos que existem (e existirão) possuem (e possuirão) sempre a mesma forma de pato, que é absoluta e eterna, tal qual um “projeto” do pato. A forma pura condiciona a realização de todas as coisas individuais que aparecem ao mundo dos sentidos, “[...] como o desenho feito pelo projetista; uma coisa é projeto de um motor, o desenho básico, outra coisa são os milhares de motores individuais feitos de acordo com o projeto. Temos aí, de um lado, a pluralidade de indivíduos, que existem no mundo das coisas, e, de outro lado, a unidade da Forma”146.

Platão cria uma ficção para explicar a origem das formas, dizendo serem provenientes de uma estrela, que é um mundo todo constituído somente das Formas – o mundo das Ideias. Nesse mesmo mundo habitam as almas libertas, que ainda não foram aprisionadas ao corpo dos homens nascidos. E justamente por serem coabitantes daquela estrela, as almas conhecem as formas todas, já tem delas o saber intrínseco à convivência, muito antes de serem aprisionadas pelos corpos e suas limitações e sentidos falíveis. A violência do aprisionamento da alma pelo corpo, por outro lado, e a mudança dos mundos de que vai padecer a alma ao ser corporificada, faz com que ela se esqueça das formas puras. Mas ao esbarar com as coisas do mundo sensível – ao ver um pato, por exemplo – um indivíduo corporificado no mundo sensível, a alma, cuja forma pura – a Ideia de pato

145 “[...] o vocábulo “Ideia” é a tradução dos termos gregos ίδέα e είδος. Infelizmente a tradução (nesse caso, transliteração) não é feliz porque, na linguagem moderna, “Ideia” assumiu um sentido estranho ao sentido platônico. A tradução exata do termo seria ‘forma’ [...]. De fato, nós, modernos, entendemos por ‘Ideia’ um conceito, um pensamento, uma representação mental, enfim, algo que nos transporta ao plano psicológico e noológico; ao contrário, Platão entendia por ‘Ideia’, em certo sentido, algo que constitui o objeto específico do pensamento, para o qual o pensamento está voltado de maneira pura, aquilo sem o qual o pensamento não pensamento: em suma, a Ideia platônica não é de modo algum um puro ser de razão e sim um ser e mesmo aquele ser que é absolutamente, o ser verdadeiro”. (REALE, Giovanni, 1993, p. 61). A tradição dos manuais consultados é que esta Ideia platônica, que deveria ser traduzida como a “forma”, é grafada com “I” maiúsculo. Tentaremos seguir essa distinção para facilitar a compreensão.

– já possuía desde sempre, relembra-as. O mundo dos sentidos oferece uma espécie de sombra do mundo das Ideias, e por isso o homem é capaz de conhecer147.

Saber é, portanto, em Platão, sempre um relembrar, uma amanesis da Ideia universal, por meio da revisitação que o corpo e seus sentidos promovem da coisa corporificada, realizadora da forma pura148.

A análise de Henri Bergson sobre essa temática é profunda e seminal:

Os jônios notaram o devir universal, a mudança universal e radical. A partir daí, concluíram que as coisas se transformam em seus contrários. Mas, se assim for, tudo é ininteligível, e cabe renunciar a conhecer as coisas, pois uma realidade fugidia que não é nunca e que incessantemente devém, que passa por estados diversos e mesmo contrários, desafia todo conhecimento. Por outro lado, os eleatas formularam as condições da ciência verdadeira quando disseram que o ser, para ser conhecido, deve ser uno e imóvel. Mas, a partir disso, concluíram pela negação da mudança, pela negação do devir; colocaram-se assim fora da realidade sensível e, por assim dizer, cortaram toda comunicação entre o objeto da percepção, a sensação, como diz Platio, e a ciência. A ideia de Platão foi a de desentranhar no mundo sensível ele próprio aquilo que pode tornar-se objeto de ciência. O mundo sensível está num perpétuo devir e, por outro lado, a ciência exige a imutabilidade de seu objeto. Trata-se, portanto, de desentranhar, naquilo que muda, o imutável. Ora, as qualidades, as coisas consideradas isoladamente, satisfazem essa condição. De fato, o que é a mudança? É uma qualidade sucedendo-se a uma qualidade, o branco ao negro, o grande ao pequeno, o quente ao frio, etc. Atribuamos a cada uma dessas qualidades uma existência [109-33] separada, façamos dela algo separável: χωριστόν149; a mudança, em vez de ser a transformação

ininteligível do objeto branco em um objeto preto, não será mais que a aparição sucessiva, em um mesmo “receptáculo”, do branco e do preto, duas qualidades que, em si, são imutáveis. Essas qualidades subtraídas ao devir, à mudança, consideradas enquanto puras qualidades, serão o objeto da ciência e, então, a realidade sensível será vista apenas como o ponto de encontro, de entrecruzamento desses géneros imutáveis em si mesmos que chamamos de quente e de frio, de branco e de preto, etc. Assim, ao cindir a realidade sensível, ao separar as qualidades, pode-se compreender tanto a mudança quanto a multiplicidade, até mesmo a coexistência em um mesmo ponto de qualidades contrárias. O erro dos físicos em geral foi o de procurar um princípio material das coisas: a água, o fogo, etc. Ao fazê-lo, foram conduzidos à ideia de transformação, ideia ininteligível; pois como uma coisa poderia tomar- se outra do que ela é? Cabe retomar o problema, mas atribuindo à realidade sensível um princípio de outra natureza. Esse princípio é a Ideia.150

147 LIMA, Carlos Cirne, 2015, p. 56. 148 Ibid.

149 Em tradução livre: “separar”. 150 BERGSON, Henri, 2005, p. 106-107.

Aqui está precisamente o que se quer guardar em Platão, uma dialética conciliadora, completa, que sintetiza ao contrário de apenas opor e negar mutuamente tese e antítese (como faziam os sofistas). O brilhantismo desse pensamento está em admitir, a um só tempo, a mudança, a transformação, o devir, a contingência e a ação do tempo e da história sobre o mundo que experimentamos; enquanto também enxerga viabilidade e realidade na estática visão momentânea, perpétua e estável, que oferece a segurança de conceitos que resistem ao tempo e à efemeridade da vida sensível. Dever- Ser e Ser conjugados, sublimados em novas realidades, superiores, mas que ainda preservam suas sementes formadoras – aufheben.

O parágrafo que segue, de uma clareza insuperável, é a suma da construção de Platão para a grande dialética, a suprema explicação do mundo:

Com isso se abria o caminho para a recuperação tanto de Heráclito como de Parmênides e para uma mediação entre heraclitismo e eleatismo. O mundo do vir-a-ser é o mundo sensível, o mundo do ser e do imóvel é o mundo inteligível. Em outras palavras: o mundo das coisas sensíveis é que possui as características que Heráclito e, sobretudo, os heraclitianos, atribuíam a todo o ser; enquanto que o mundo das Ideias que possui as características que Parmênides e os eleatas atribuíam a todo o real. Platão compõe a antítese entre as duas escolas exatamente com a distinção dos dois diversos planos da

realidade: nem toda a realidade é tal como queriam os heraclítianos,

mas somente a realidade sensível; analogamente, não toda a realidade é tal como a queriam os eleatas, mas somente a realidade intelegível, as Ideias. A dimensão do ser (reinterpretado naturalmente de maneira adequada) do qual Parmênides falava é a “causa” (a “causa verdadeira”), o vir-a-ser do qual os heraclitianos falavam é, ao invés, o causado.

Platão quer entender o mundo, a realidade, e ultrapassá-la em direção ao que ela deveria ser ou tornar-se. Ele quer a grande ciência, a explicação do mundo, fazendo-a dialeticamente. É essa a verdadeira dialética, no esplendor de sua funcionalidade como ferramenta do bem pensar e de fazer filosofia.

Voltaremos a tratar dela mais adiante, com mais profundidade. Antes, porém, fundamental avançar sobre os torneios filosófico de Aristóteles.

É de todo conhecido que a obra de Aristóteles é bastante rica, e não se restringe apenas ao ramo das ciências teoréticas151. Todo modo, não se trata aqui de estudar a obra

151 “Aristóteles distinguiu as ciência em três grandes ramos: a) ciências teoréticas, que buscam o saber por si mesmo, b) ciências práticas, que buscam o saber para alcançar, através dele, a perfeição moral e c) ciências poiéticas ou produtivas, que buscam o saber em vista do fazer, isto é, com a finalidade de produzir

do mestre estagirita. O foco de nossa observação está em entender como ele desenvolve sua ontologia, como se forma o pensamento em torno de compreender o ser.

E neste ponto em especial, a passagem de Platão, mestre, para Aristóteles, discípulo, é também uma ruptura profunda no modo de pensar. Aristóteles, conquanto aluno de Platão, foi de seus mais severos críticos, e refutou em sua ontologia o juízo evolutivo, histórico e dialético, em função de construir um sistema analítico, formal e estático, que postula pelo rigor absoluto na forma do pensamento, sendo de menor importância seu conteúdo152.

Aristóteles pretendia superar as noções do mundo físico, da natureza, e atingir uma pureza metafísica153, superior ao conhecimento da acidentada realidade concreta, para atingir “o porquê último”154. Precisamente por isso entendia a metafísica como “a mais grandiosa ciência” como uma ciência “divina”155. Suas próprias palavras são bastante representativas dessa ponderação:

Não há dúvida de que pertence à esfera de uma ciência especulativa descobrir se uma coisa é eterna, não submetida ao movimento e dissociável da matéria, não sendo, todavia, a física essa ciência, pois a ciência da natureza se ocupa de coisas submetidas ao movimento; também essa ciência não é a matemática, mas uma ciência anterior tanto à física quanto às matemáticas. Com efeito, a física trata de coisas que existem dissociadamente da matéria, mas que estão submetidas ao movimento, ao passo que alguns ramos das matemáticas tratam de coisas que não estão submetidas ao movimento, mas presumivelmente não são dissociáveis da matéria, mas nela presentes. Contudo, a ciência primeira ocupa-se de coisas que são tanto dissociáveis da matéria quanto não submetidas ao movimento.

Ora, todas as causas são necessariamente eternas, mas essas o são especialmente, uma vez que são as causas do que é visível das coisas divinas. Consequentemente, deve haver três filosofias especulativas: as matemáticas, a física e a teologia, uma vez que é evidente que se o

determinados objetos. As mais elevadas por dignidade e valor são as primeiras, constituídas pela metafísica, pela física (na qual está incluída a psicologia) e pela matemática”. (REALE, Giovani, 1994. p. 335). 152 Lourival Vilanova o diz peremptoriamente: “o formalismo lógico esvazia a linguagem de qualquer comprometimento com os objetos individuais. [...] logicamente, não importa a proposição determinada pelo seu conteúdo significativo [...].” (VILANOVA, Lourival, 2010, p. 21). MACHADO, Nilson José; ORTEGOZA, Mariza da. Lógica e linguagem cotidiana – verdade, coerência, comunicação, argumentação. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. p. 14-15, dizem o mesmo: “Na Lógica Aristotélica [...] há uma separação total entre a forma e o conteúdo de uma argumentação: não são considerados os conteúdos das sentenças componentes de um argumento, mas apenas a forma de articulá-las ou o modo como umas são deduzidas das outras”.

153 Empregada a expressão metafísica no sentido daquilo que supera a física, que está acima e além dela. 154 REALE, Giovanni, 1994, p. 339.

155 Convém acrescentar a explicação de Reale: “Aristóteles chamou a metafísica de ciência ‘divina’. Só Deus pode ter esse tipo de ciência que tem em si mesma o seu único fim. Deus a possui inteiramente, perfeitamente e de maneira continuada; nós, ao contrário, parcialmente, imperfeitamente e de modo descontínuo”. (Ibid., p. 339).

divino está presente em todo lugar também está presente em coisas desse tipo. E a mais grandiosa ciência tem que se ocupar do género [de assunto] mais grandioso.

As ciências especulativas, portanto, devem ser preferidas em relação às demais ciências e a [teologia] preferida em relação às outras ciências especulativas.156

Carlos Cirne Lima nos ensina, acerca dessa ruptura, que novamente aqui uma grande cisão se formará na evolução da filosofia ocidental:

Tudo o que pensamos e o que somos vem de duas vertentes: a Dialética e a Analítica. De Heráclito e Platão, temos a vertente da Dialética. De Parmênides e Aristóteles, temos a Analítica. Ambas as correntes perpassam toda a História da Filosofia e toda a nossa cultura e nos acompanham até hoje. O projeto platônico passa, de mão em mão, por Plotino, Proclo e, em parte, por Santo Agostinho na Antiguidade; por Johannes Scotus Eriúgena, pela Escola de Chartres e tantos outros pensadores neoplatônicos na Idade Média; por Nicolaus Cusanus, Ficino, Giordano Bruno na Renascença; por Espinosa, Schelling, Hegel e Karl Marx na Modernidade. Lamarck, Charles Darwin e quase todos os grandes biólogos contemporâneos, como Richard Dawkins e Stephen Jay Gould, os físicos de hoje com sua teoria do Big Bang, com