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POPULAR: O INTERESSE DO PÚBLICO SE SOBREPÕE AO

PÚBLICO26

Amaral (2006) explica que os jornais de referência são dirigidos a um leitor interessado no mundo público, ao interesse público do cidadão. Eles gozam de credibilidade e prestígio junto aos formadores de opinião. Nessas publicações, o acontecimento pode virar notícia se “os indivíduos envolvidos forem importantes, tiver impacto sobre a nação, envolver muitas pessoas, gerar importantes desdobramentos, for relacionado a políticas públicas e puder ser divulgado com exclusividade” (AMARAL, 2006, p. 63).27

Os jornais populares, por outro lado, focam no cotidiano, valorizam o individual, o subjetivo, como ressalta a pesquisadora. Ela destaca que os leitores dessas publicações estão muito distantes do poder e gostam de ver seu dia a dia impresso no jornal. Nesse caso, como mostra a autora, os valores-notícia são: entretenimento, proximidade geográfica e cultural com o leitor, ser simples, promover a identificação das personagens com os leitores, narrar dramaticamente. Barbosa (2005) observa que o popular se baseia nos dramas cotidianos, no imaginário em uma realidade “cotidianamente romanceada”.

A receita de sucesso do jornal popular, segundo Amaral (2006), é: entretenimento, proximidade com o leitor e utilidade. O entretenimento aparece nas histórias de pessoas comuns, que não remetem a lugar algum e se esgotam nelas próprias. A proximidade com o leitor aparece nos temas do cotidiano (saúde, mercado de trabalho, segurança pública, futebol

26 O jornal age de acordo com o ‘interesse público’ quando supera sua condição de empresa privada e toma as decisões editoriais não em razão do faturamento apenas (interesse privado), mas em função da coletividade. E age de acordo com o ‘interesse do privado’ quando age predominantemente em função da venda de exemplares, o que parece acontecer com a imprensa popular. Para uma discussão interessante desse tema, ver Benedeti (2009, p. 56-60).

27 Amaral (2006) chama a atenção que não só os populares, mas todos os jornais são produzidos para o mercado. A diferença é que os jornais de referência são produzidos para as classes ricas e alfabetizadas que têm as demandas próprias deste segmento, enquanto os populares são direcionados para segmentos pobres e pouco ou nada alfabetizados, que se interessam por assuntos do seu dia a dia.

e dramas da população). A autora destaca a função da mídia de dizer ao leitor como comportar-se e prestar-lhe um serviço de utilidade pública. É quando a mídia ajuda os populares a reivindicarem os seus direitos ao poder público. Cabe mencionar ainda que os jornais populares são mais vulneráveis à publicidade porque não têm assinaturas, tendo de conquistar o público a qualquer custo (AMARAL, 2006, p. 52).

As colocações do editor adjunto do Super corroboram com a análise dessa pesquisadora, sendo os temas utilizados no jornal, e que o fazem tão popular, muito próximos da vida cotidiana e familiar da comunidade. Trata-se de temas com os quais eles se identificam muito, como a cidade e os dramas diários, as histórias policiais, as oportunidades de trabalho, os interesses como o futebol e a novela. A esse respeito, Martin-Barbero (2009, p. 295) observa que o ambiente familiar é âmbito de conflito e tensões, mas “Um dos poucos lugares onde os indivíduos se confrontam como pessoas e onde encontram alguma possibilidade de manifestar suas ânsias e frustrações”.

Família e vizinhos, a quem esse autor chama de “família aumentada”, em função das dificuldades de vida, migração e desenraizamento são, segundo ele, modos de sociabilidade nos bairros populares. A família, a cotidianidade familiar, é o espaço de proximidade, de relações estreitas e muito importante para os segmentos populares, como mostra esse autor. Hoggart (1972) chega mesmo a afirmar que “os acontecimentos só são percebidos quando afetam a vida do grupo familiar”. Assim só lembramos, só ficam na nossa memória, os acontecimentos que envolvem membros da nossa família. Exemplo: a revolução que o meu avô participou, o lugar onde minha prima mora.

As histórias policiais e os chamados crimes de proximidade estão muito destacados no

Super, fazendo parte do cotidiano dos leitores, de suas famílias, dos vizinhos e amigos.

Aparecem em todas as edições do jornal. Leal (2012) aponta que a morte como acontecimento-limite, limite intransponível do saber, da vida, da experiência humana. Ressalta que as notícias que tratam de morte falam de outros temas como aspectos histórico- sociais que envolvem o acontecimento, as circunstâncias do morrer, a biografia dos que falecem, a investigação policial. Assim, tratam, na verdade de outra coisa, outro acontecimento, muito mais relacionado com a vida que com a morte. Ainda segundo o autor a narrativa tem oscilações, elementos de tensão que são: certeza e dúvida, esquecimento e lembrança. Certeza e lembrança da morte, dúvida de como morreremos e esquecimento de que um dia morremos para continuar a narrar a vida.

Foi o futebol que juntou hino e povo, que consorciou camisa e bandeira, que popularizou a ideia de pátria e nação como algo ao alcance do homem comum e não apenas do doutor ou do homem mandão (...) Em todo grupo de nações que escapam e destoam do padrão de desenvolvimento modelado pelo ocidente, tem sido o futebol o promotor dessa notável aproximação dos símbolos da sociedade (e da cultura) e do Estado Nacional.

Dessa forma, o futebol cumpre o papel democrático por ser acessível a todas as pessoas, seja homem ou mulher, trabalhador ou patrão, pobre ou rico, branco, pardo ou preto. O sentimento de pátria, nação é comum a todos. Em todas as capas do Super Notícia aparece o futebol e as disputas entre os rivais Atlético e Cruzeiro.

A coluna “Panelaço” tem a função de utilidade pública, de proximidade com o leitor, abrindo espaço para reclamação, a denúncia e o protesto, geralmente inacessíveis aos mais pobres, aos excluídos. Amaral (2006) pontua que, quando concedem espaço para a fala dos populares, “os jornais inovam porque no mercado simbólico do campo jornalístico a manifestação popular tem uma tímida história de inclusão nos jornais impressos, nos quais os lugares disponíveis para as falas se relacionam à importância social, econômica e cultural das fontes” (AMARAL, 2006, p. 67).

Novelas e vidas de celebridades, dirigidas, sobretudo, ao público feminino, fazem sucesso no segmento popular e fazem parte da receita de todas as publicações destinadas a esse público. Nas novelas as pessoas se identificam, refletem e sonham com um mundo distante do seu. A esse respeito, Almeida (2013, p. 293) observa que:

Os espectadores entram em contato com uma gama variada de valores (como de um indivíduo moderno, autônomo e sujeito de escolhas) e formas de viver, familiarizam-se com as mais variadas atitudes diante da vida amorosa, familiar, dos relacionamentos íntimos e de amizade. Nesse processo de educação sentimental, efetuam constantemente reflexões acerca dos temas presentes nas novelas, discutem os personagens, suas situações e atitudes, identificando-se com os sentimentos em questão e ao comparar-se com as situações da narrativa, reveem suas próprias vidas e escolhas.

Portanto, é nesse mundo da novela que as pessoas refletem sobre personagens, sentimentos, a vida, valores. A coluna Menina nem te conto! do Super Notícia é o espaço dedicado aos assuntos de novela e as fofocas sobre autores e celebridades. Às quintas-feiras, um suplemento dentro do jornal, chamado Super TV, fala com mais detalhes sobre as telenovelas, celebridades e os bastidores da televisão.

Além dessas notícias, a opinião, os assuntos gerais, os classificados e o horóscopo são partes integrantes da publicação de interesse do público do jornal popular. Nos classificados,

os anúncios de vagas de emprego e concursos públicos, que atraem o público jovem que constitui a maioria de leitores do Super, como vimos.