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UMA NOVA CLASSIFICAÇÃO SOCIOECONÔMICA PARA

Os modelos de classificações socioeconômicas utilizados no Brasil têm sido bastante questionados por estudiosos por levar em consideração somente renda e consumo. O Critério Brasil, por exemplo, é questionado por não se adequar às transformações que ocorreram, nos últimos anos, na sociedade brasileira. Santos (2011, p. 377) constata que “na sociologia brasileira não existe uma tradição de estudos voltados para a construção de ‘mapas de classe’” e, dessa forma, não atingimos o “refinamento teórico” e a “sofisticação técnica” que a tipologia de classes atingiu em outros países a partir da década de 1980. Segundo o autor, Eric Olin Wright (1985) e John Goldthorpe apresentam os esquemas de classes mais consagrados e são portanto referência na sociologia contemporânea.

Para Eric Olin Wright (WRIGHT, 1985, apud SANTOS, 2005, p. 28), classe social é uma espécie de divisão social gerada pela divisão desigual de poderes e direitos sobre os recursos produtivos. A condição de classe afeta a experiência de vida, os interesses e a capacidade de ação coletiva dos indivíduos. A posição de classe condiciona o acesso aos recursos produtivos e molda a experiência de vida no trabalho e consumo. Tendo em vista os poderes e direitos exercidos sobre os recursos produtivos, o indivíduo enfrenta

constrangimentos e pode ter oportunidades e compensações (trade offs) na busca por seu bem estar (esforço, consumo e lazer).

O maior problema de mensuração da classe social envolve a tentativa de “mensurar as dimensões relacionais subjacentes em si mesmas, ou, ao contrário, depende de sistemas convencionais de classificação e imputa propriedades relacionais a essa categorias convencionais?” (WRIGHT, 2004b, apud SANTOS, 2005, p. 37). As questões que envolvem classe social são, portanto, bastante complexas para serem medidas.

Na concepção de John Goldthorpe, (ERIKSON; GOLDTHORPE, 1992; GODTHORPE, 2000), as sociedades modernas, baseadas na propriedade privada e no mercado de trabalho, reproduzem divisões de classe originadas das condições de emprego e da natureza das relações. Goldthorpe elaborou um esquema de classes para diferenciar posições nas relações de emprego com distinções entre empregador, auto-empregado e empregado. Tanto Wright quanto Goldthorpe consideram a relação capital-trabalho fundamental para definir as relações de classe no capitalismo.

Com base nessa concepção, Santos (2005) construiu uma classificação socioeconômica para a heterogeneidade de classes da nova realidade brasileira. Na demarcação nas categorias, ele leva em conta a “posição na ocupação”, conforme terminologia da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD –, incluindo as posições de empregador, empregado, trabalhador por conta própria e empregado doméstico.

De acordo com o pesquisador:

a atual classificação beneficia-se da classificação Brasileira de Ocupações (CBO) – Domiciliar, aplicada pelo IBGE no Censo Demográfico de 2000 e na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD – de 2002 em diante, que permitiu, dessa vez, separar gerentes de supervisores (SANTOS, 2005, p.37).

Trata-se de uma Classificação Ocupacional compatível com a International Statistic

Quadro 2 – Classificação socioeconômica por categorias empíricas e critérios operacionais

Categorias Critérios Operacionais

Capitalistas e

fazendeiros Posição na ocupação de empregador; empregador não-agrícola com 11 ou mais empregados; empregador agrícola com 11 empregados permanentes; empregador agrícola que emprega 6 ou mais empregados permanentes e 11 ou mais empregados temporários; empregador agrícola com 1000 hectares ou mais de terra, independentemente do número de empregados.

Pequenos

empregadores Posição na ocupação de empregador; empregador não agrícola que ocupa de 1 a 10 empregados; empregador agrícola com 3 a 10 empregados permanentes, dede que não empregue simultaneamente de 6 a 10 empregados permanentes e 11 ou mais empregados temporários.

Conta-próprias

não agrícolas Posição na ocupação de conta própria com atividade não agrícola, cujo empreendimento ou titular possui uma ou mais das seguintes condições: estabelecimento (loja, oficina, fábrica, banca de jornal ou quiosque), veículo automotor (taxi, caminhão, van, etc.) usado para trabalhar ou ocupação qualificada no emprego principal.

Conta-próprias

agrícolas Posição na ocupação de conta própria com atividade em empreendimento do ramo que compreende a agricultura, silvicultura, pecuária, extração vegetal, pesca e piscicultura.

Especialistas auto- empregados

Posição na ocupação de conta própria ou empregador, especialista de acordo com o grupo opcional, com até 5 empregados ou sem empregados, com ou sem estabelecimento (loja, oficina, fábrica, escritório).

Gerentes Posição na ocupação de empregado, gerente de acordo com o grupo educacional,

abarcando os diretores de empresas, dirigentes da administração pública, administradores em organizações de interesse público (sem fins lucrativos, etc.) e gerentes de produção, operações e de áreas de apoio.

Empregados

especialistas Posição na ocupação de empregado, especialista de acordo com o grupo educacional, incluindo as profissões credenciadas, as profissões de menor poder profissional e os professores do ensino médio e profissional com ensino superior.

Empregados

qualificados Posição na ocupação de empregado, empregado qualificado, de acordo com o grupo ocupacional, abarcando os técnicos de nível médio nas diversas áreas, professores de nível médio ou formação de nível superior no ensino infantil, fundamental e profissional, professores em educação física e educação especial.

Supervisores Posição na ocupação de empregado, supervisor, chefe, mestre ou contramestre de acordo com o grupo ocupacional.

Trabalhadores Posição na ocupação de empregado, trabalhador em reparação e manutenção

mecânica, ferramenteiro e operador de centro de usinagem; trabalhador de semirrotina na operação de instalações químicas, petroquímicas e de geração e distribuição de energia; trabalhador semirrotina em serviços administrativos, comercio e vendas; trabalhador de rotina na operação de máquinas e montagem na indústria; trabalhador de rotina em serviços administrativos, comércio e vendas.

Categorias Critérios Operacionais

Trabalhadores

elementares Posição na ocupação de empregado, trabalhadores com tarefas bastante elementares na indústria e nos serviços, como ajudantes de obras, trabalhadores elementares na manutenção de vias públicas, faxineiros, lixeiros e carregadores de cargas, trabalhadores manuais agrícolas e garimpeiros, exclusive trabalhadores na mecanização agrícola, florestal e drenagem.

Conta-próprias

precários Posição na ocupação de conta-própria e empreendimento ou titular sem a posse de nenhuma das seguintes condições: estabelecimento (loja, oficina, fábrica, escritório, banca de jorna ou quiosque), veículo automotor (taxi, caminhão, van), usado para o trabalho ou ocupação qualificada no emprego principal; posição na ocupação de trabalhador na produção do próprio consumo; posição na ocupação de trabalhador na construção para o próprio uso.

Empregados

domésticos Posição na ocupação de trabalhador doméstico com ou sem carteira de trabalho.

Fonte: SANTOS, 2005, com alterações.

Como podemos perceber, Santos propõe uma classificação socioeconômica bastante complexa para o Brasil de hoje, sendo treze categorias de ocupações propostas. Cada uma inclui o perfil: trabalhador, empregado elementar especializado ou qualificado, empregador agrícola ou não agrícola.

No caso dos empregados domésticos uma alteração importante, já que, a partir de 2013, a legislação trabalhista do segmento foi alterada. Esses profissionais conquistaram direitos importantes como a carteira de trabalho e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, além de horário fixo de trabalho (quarenta horas semanais).

Augusto (2013)20 ressalta que, em abril de 2013, o Reino Unido divulgou um novo estudo sobre as classes sociais britânicas. A pesquisa foi conduzida por sociólogos do Great

British Class Survey (GBCS), tendo sido desenvolvida no período de dois anos, a

investigação inovou ao utilizar, além da tradicional classificação econômica, a perspectiva cultural. Nesse estudo, as categorias tradicionais – classes alta, média e trabalhadora – foram substituídas por sete subclassificações – elite, classe média estabelecida, classe média técnica, novos trabalhadores afluentes, classe trabalhadora tradicional, trabalhadores de serviços emergentes e precários.

20 AUGUSTO, Regina. Evolução da Sociedade. Blog da Regina Augusto. ed. 1554. Seção Meio & Mensagem. 8 abr. 2013. Disponível em:

< http://www.meioemensagem.com.br/home/meio_e_mensagem/blog_regina_augusto/2013/04/08/Evolucao-da-

Argumenta-se que classe social tem sido, historicamente, definida por ocupação muito mais do que por qualquer outro atributo. Mas, a novidade dessa pesquisa é que ela leva em conta os fatores “capital social”21

– os benefícios obtidos pelos indivíduos mediante a participação em grupos ou redes sociais (família, escola, clube, etc.) – e o “capital cultural”22 e – indica acesso a informações ligadas a uma cultura legitimada como superior pela sociedade. A incorporação desses conceitos, cunhados por Pierre Bourdieu (1984, 2001) demonstram assim, uma maior abrangência de avaliação. Dessa forma, as atividades culturais passam a ter um valor fundamental na definição da classe social de um indivíduo.