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Prevenção

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 41-43)

2.2 Competência

2.2.4 Prevenção

Dispõe o artigo 6º, parágrafo 8º, que a distribuição do pedido de recuperação judicial torna o juízo prevento para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência relativo ao mesmo devedor.

Prevenção é critério para exclusão de demais juízes competentes, remanescendo a competência para conhecer determinada causa apenas de um juízo, o prevento81. A prevenção impõe o ajuizamento da ação diretamente ao juízo competente, sendo exceção à livre distribuição.

No processo civil comum, duas são as regras de prevenção: havendo conexão em juízos de comarcas diversas, é prevento aquele em que se der a primeira citação válida (art. 219 do CPC); se os juízos forem da mesma comarca, aquele que despachar em primeiro lugar se torna prevento (art. 106 do CPC).

Veja-se que, na recuperação judicial, o fato gerador da prevenção na recuperação judicial não é a citação (publicação do primeiro edital), nem o despacho inicial, mas o ajuizamento (art. 6º, § 8º)82. Trata-se de regra especial, que faz inaplicável o comando previsto no Código de Processo Civil.83

Isso faz com que, distribuída a recuperação judicial, posterior pedido de falência voltado contra o mesmo devedor tenha que ser ajuizado no juízo que recebeu o pedido de recuperação, independentemente de já haver sido deferido o processamento.

81“Prevenção é o fenômeno pelo qual fixa a jurisdição de um determinado juízo para julgamento de

duas ou mais demandas que guardem algum nexo de semelhança, ou seja, que sejam conexas ou continentes.” (ALVAREZ, Anselmo Prieto; SILVA, Nelson Finotti. Manual de processo civil e prática

forense. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. v. 1, p. 133).

82 A regra é idêntica à do artigo 2º da Lei n. 7.347/1985, pelo qual a propositura da ação civil pública

previne a jurisdição para demandas posteriores que tenham o mesmo pedido ou mesma causa de pedir; e à do artigo 5º, parágrafo 3º, da Lei n. 4.717/1965, quanto à ação popular.

83 Registre-se a opinião contrária de Paulo Fernando Campos Salles de Toledo, para quem a

prevenção é obtida pelo juízo em que se der o primeiro despacho (Comentários aos artigos 1º a 34 da Lei n. 11.101, de 2005, in Comentários à lei de recuperação de empresas e falência, p. 23).

A prevenção atinge somente novo pedido de recuperação judicial, ou pedido de falência, relativos ao mesmo devedor. Ação diversa, ajuizada pelo devedor em recuperação, ou contra ele, obedece à regra de livre distribuição, não sendo atingida pela prevenção.

O juízo da recuperação judicial não é universal, diferentemente do que ocorre na falência. Diz o artigo 76 que “o juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas84, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo”, por isso metaforizado por Carvalho de Mendonça como “um mar onde se precipitam todos os rios”.85

Não obstante opiniões avalizadas e numerosas em contrário86, entendemos inexistir juízo universal na recuperação judicial, no mesmo sentido da lição de Manoel Justino Bezerra Filho.87 Não há universalidade plena na recuperação judicial, ficando diversos credores e créditos excluídos do sistema recuperacional. Por isso a clareza do dispositivo ao definir apenas o juízo da falência (e não o da falência e da

recuperação) como universal. Até mesmo a localização geográfica do dispositivo na

84 Para Manoel Antonio Teixeira Filho, o juízo falimentar não é universal em termos absolutos, pois o

crédito trabalhista oriundo do decreto condenatório (sentença trabalhista) será, desde logo, executado até o final pela Justiça do Trabalho. Encontra para a sua tese arrimos de ordem normativa, lógica e social, e embora reconheça a existência de algumas dificuldades práticas, diz que tais dificuldades (e possíveis injustiças) também são susceptíveis de acontecer quando os credores trabalhistas acorrem ao juízo universal a fim de satisfazer seu crédito. Aponta que a Constituição Federal não fez qualquer ressalva quanto à falência quando tratou da competência da Justiça do Trabalho (art. 114), em contraposição ao tratamento dado à competência da Justiça Federal (art. 109, I). Tendo a competência trabalhista assento constitucional, não poderia ser solapada por norma ordinária (Lei n. 11.101/2005). Para o autor, portanto, a Justiça do Trabalho é competente para promover a execução contra a massa falida, devendo a execução lá seguir até a satisfação contra a massa (Execução no processo do trabalho. 10. ed. São Paulo: LTR, 2011. p. 225-227).

85 MENDONÇA, José Xavier de Carvalho, Tratado de direito comercial brasileiro, v. 7, p. 259.

86 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. A vis attractiva do juízo da vara empresarial: créditos trabalhistas:

sucessão da empresa em regime de recuperação. In: WALD, Arnoldo (Coord.). Doutrinas

essenciais, direito empresarial: recuperação empresarial e falência: recuperação, concordata,

falência, efeitos, instituições financeiras na falência. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. v. 6, cap. 5, p. 874-893; FAZZIO JUNIOR, Waldo, Nova lei de falência e de recuperação de empresas, p. 72; RESTIFFE, Paulo Sérgio, Recuperação de empresas, p. 86.

87 BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de recuperação de empresas e falência: comentada artigo

por artigo. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 65. Tratando da falência e da concordata na Lei n. 2.024/1908, Carvalho de Mendonça já apontava limitar-se o juízo universal à falência, cessando na concordata: “O foro em que se processou a concordata não é, como o da falência, obrigatório para todas as ações propostas pelo ou conta o concordatário.” (MENDONÇA, José Xavier de Carvalho, Tratado de direito comercial brasileiro, v. 7, p. 261-262).

Lei, no capítulo destinado à falência (V), indica a inaplicabilidade do juízo universal para a recuperação judicial.

Na recuperação, a prevenção é limitada a novos pedidos de recuperação e de falência, bem como a alguns incidentes relativos à própria recuperação. É o que ocorre com a impugnação contra a relação de credores (art. 10) que, salvo a de natureza trabalhista (art. 6º, § 2º), deve ser direcionada ao juízo da recuperação. A prevenção atinge ainda a ação rescisória especial (art. 19), excluída a hipótese de o crédito rescindendo ter sido reconhecido em outro juízo, o qual fica prevento para rescindir sua própria decisão.

Não é diferente quanto aos negócios jurídicos celebrados pelo devedor com convenção de arbitragem. Em regra, as obrigações do devedor anteriores ao pedido mantêm as condições originalmente contratadas (art. 49, § 2º), inclusive no tocante à convenção de arbitragem. Assim, a discussão de negócios jurídicos sujeitos ao procedimento arbitral a ele se submetem, independentemente da recuperação judicial88. A sentença arbitral, todavia, tem sua exigibilidade suspensa pelo deferimento do processamento da recuperação judicial, ficando a execução forçada da sentença arbitral sujeita ao período suspensivo (art. 6º).

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 41-43)