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Primeiros estudos, localização e características da usina hidrelétrica

CAPÍTULO III – ESTUDO DE CASO: O LICENCIAMENTO DA USINA

4. Primeiros estudos, localização e características da usina hidrelétrica

A UHE de Barra Grande foi construída no vale do rio Pelotas, a 43 Km da sua confluência com o Rio Canoas, entre os municípios de Anita Garibaldi (SC), e Pinhal da Serra (RS)224. O rio Pelotas integra a bacia do rio Uruguai que, juntamente com as bacias do rio Paraná e do rio Paraguai, formam o sistema hidrográfico da bacia do Prata. O rio Uruguai nasce em território brasileiro, mede em torno de 1.600 Km de comprimento e corre 480 Km de leste para oeste, quando começa a demarcar a fronteira entre o Brasil e a Argentina. Sua bacia abrange uma área de aproximadamente 384.000 Km2, dos quais 176.000 Km2 estão em território brasileiro, sendo 46.000 Km2 no Estado de Santo Catarina e 130.000Km2 no Rio Grande do Sul225.

Os primeiros estudos sobre o potencial hidroenergético da parte nacional da Bacia do rio Uruguai foram elaborados pelo Comitê de Estudos Energéticos da Região Sul (ENERSUL), entre 1966 e 1969. Tais estudos contemplaram os três Estados do sul do país e foram patrocinados com capital estrangeiro proveniente do Consórcio Canadense-Americano- Brasileiro (CANAMBRA), que detalhou planos para orientar o desenvolvimento do setor elétrico brasileiro226.

Já em 1977, as Centrais Elétricas do Sul do Brasil (ELETROSUL), autorizadas pela ELETROBRÁS, deram início a um novo estudo que culminou com a divulgação de um relatório, publicado em 1979, que indicava vinte e dois pontos para o aproveitamento hidroenergético da bacia do rio Uruguai. Denominado de Inventário Hidroelétrico da Bacia do Rio Uruguai, elaborado em conjunto pela ELETROSUL e o Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores S.A. (CNEC), o relatório apontava onze projetos que totalizariam 90% do potencial energético aproveitável, e destacava, ainda, aqueles que considerava os melhores, sendo eles os

224 Ver: Anexo B – Empreendimentos Hidrelétricos por Etapa de Obtenção de Licença Ambiental – Região

Hidrográfica do Uruguai.

225 As informações foram extraídas dos sítios da ANEEL e da BAESA. Ver: Agência Nacional de Energia Elétrica. A

bacia do rio Uruguai. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/111.htm>. Acesso em: 18 ago. 2005.

ENERGÉTICA BARRA GRANDE S. A. A usina. Disponível em: < http://www.baesa.com.br>. Acesso em: 27 nov. 2005.

226 SOUZA, José Otávio Catafesto de. Desenvolvimento regional, hidrelétricas privatizadas e comunidades indígenas

na bacia do rio Uruguai, RS. In: SANTOS, Sílvio Coelho dos; NACKE, Aneliese (Org.). Hidrelétricas e povos

projetos de Garibaldi, Campos Novos, Barra Grande, Machadinho, Itá, Irai e Itapiranga227.

O plano da ELETROSUL, de instalação de usinas hidrelétricas na bacia do Rio Uruguai, ficou conhecido como Dilúvio do Uruguai pela população de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, e sua divulgação foi responsável pela formação de movimentos de resistência, dos quais se destaca a criação da Comissão Regional de Atingidos por Barragens (CRAB), que tomou uma amplitude nacional, sendo conhecido atualmente como Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)228.

Estão em funcionamento na bacia do rio Uruguai as UHE de Itá, no rio Uruguai, Machadinho, no rio Pelotas, e Passo Fundo, no rio Passo Fundo. Estão em construção a UHE de Foz do Chapecó, no rio Uruguai; Quebra Queixo, no rio Chapecó; e Campos Novos, no rio Canoas229.

A UHE de Barra Grande já está concluída e, segundo o cronograma apresentado pela empresa230, sua primeira turbina entrou em operação em outubro de 2005. A

obra foi implementada na região denominada de Planalto Sul-Riograndense, na qual predominam rochas vulcânicas da formação Serra Geral. O rio Pelotas apresenta, nesse local, vales profundos e encostas íngremes, o que possibilitou a construção da usina com reduzida área de inundação. Essa é uma das principais justificativas técnicas para a escolha do local, segundo o EIA-RIMA231 da obra. Uma outra justificativa apresentada para a sua construção refere-se ao aumento da demanda por energia elétrica na região sul do país. Segundo previsão de consumo estabelecido pela ELETROBRÁS, o crescimento da região Sul demandará recursos energéticos e, por isso, a oferta de energia deveria ser ampliada. Além disso, as barragens projetadas para a bacia do rio Uruguai representam os últimos aproveitamentos hidrelétricos do país próximos aos grandes centros de consumo, quais sejam, os Estados da região sudeste. A proximidade com os centros de

227 BOAMAR, Paulo Fernando de Azambuja. A bacia do rio Uruguai e o setor elétrico brasileiro: as obras, os

conflitos e as estratégias. Florianópolis: Insular, 2002, p. 32. Ver também: SIGAUD, Lygia. Efeitos sociais de grandes projetos hidrelétricos: as barragens de Sobradinho e Machadinho. In: ROSA, Luiz Pinguelli; SIGAUD, Lygia; MIELNIK, Otávio (Coord.). Impactos de grandes projetos hidrelétricos e nucleares: aspectos econômicos, tecnológicos, ambientais e sociais. São Paulo: Marco Zero, 1988.

228 BOAMAR, 2002, p. 36-37.

229 CARVALHO, Orlando Albani de. Migrações compulsórias, territorialidade e lugar na implantação de

hidrelétricas na bacia hidrográfica do rio Uruguai. In: I Encontro Ciências Sociais e Barragens. Fórum de Ciência e Cultura. Anais. Rio de janeiro, 2005, p. 10-11. CD-ROM.

230 Informação disponível no sítio <www.baesa.com.br>. Acesso em: 26 nov. 2005.

231 ENGEVIX ENGENHARIA S.A. Estudo de Impacto Ambiental da UHE de Barra Grande. Florianópolis:

ENGEVIX, 1998. In: INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA). Processo n.º 02001.000201.98-46. Licenciamento Ambiental da Usina Hidrelétrica de

consumo é considerada uma vantagem do ponto de vista econômico, pois se diminuem os gastos com a transmissão da energia.

A usina tem por objetivo gerar 690 MW de energia. A barragem de concreto apresenta altura máxima de 185m e extensão de 665m, e o reservatório formado possui área de 92 Km2 e profundidade média de 100m. A sua jusante está a barragem de Machadinho e, a montante,

está prevista a construção da UHE de Pai-Querê232.

A área de influência indireta da usina abrange os seguintes municípios, que tiveram partes de suas terras inundadas pela formação do reservatório ou que foram objeto de intervenções decorrentes das obras: Anita Garibaldi (SC); Cerro Negro (SC); Campo Belo do Sul (SC); Capão Alto (SC); Lages (SC); Pinhal da Serra (RS); Esmeralda (RS); Vacaria (RS) e Bom Jesus (RS). Já a área de influência direta corresponde aos locais destinados a: reservatório, infra- estrutura, bota-fora, canteiro de obras, áreas de acesso às sedes municipais de apoio às obras, canal de adução, casa de força, canal de fuga e barragens233.

Quanto aos principais impactos sócio-ambientais, a obra atingiu em torno de 1.500 famílias e inundou uma área de 5.636 hectares de florestas primárias ou em estágio avançado e médio de regeneração, compostas por Floresta Ombrófila Mista (Floresta Atlântica com Araucária) e Floresta Estacional Decidual (Floresta da Bacia dos rios Paraná e Alto Uruguai)234.