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Primeiros princípios do pensamento

INTRODUÇÃO O PROBLEMA DA NATUREZA HUMANA.

1.2. Primeiros princípios do pensamento

Ao buscarmos os primeiros indícios sobre a natureza humana, verificamos com Soloviev que o riso, a arte e a ciência são fenômenos gerais da vida humana que indicam um anseio metafísico por parte do homem; um desejo de sobrenaturalidade, de superar a natureza, aquilo que lhe é dado na origem.

Em seguida, um outro fato comumente observável é de que o animal homem usa roupas, isto é, de que sente a necessidade de revestir seu corpo com outro corpo, como uma segunda pele. Vimos que antes de se desdobrar em moda e indumentária decorativa, em sua origem este revestimento busca encobrir uma parte bastante particular do corpo, a genitália; um ato que se revelou motivado por um sentimento de pudor. Vimos ainda que a crescente complexidade da vida social – o que significa, basicamente, a elaboração do pudor em ascetismo, da simpatia ou compaixão em altruísmo e solidariedade, e da reverência em religião – leva o homem a revestir mesmo a sua própria individualidade psíquica com uma espécie de “máscara social” (persona); o indivíduo deve atuar frente a diversas pressões e forças sociais e sob esta pressão se molda a sua personalidade.

Mas ao lado do riso, da roupa e da arte, há um outro fenômeno igualmente evidente à observação exterior, seja das comunidades mais primitivas seja das mais civilizadas; e mais, um fenômeno que se manifesta no homem ao longo de todos os estágios da sua vida, da primeira infância à decrepitude: a fala.

Entre as espécies animais mais desenvolvidas, e mesmo entre as intermediárias, há sem dúvida um tipo de vocalização, que se exprime na forma do

grito ou gemido. Chega-se mesmo ao canto. Mas nunca à fala. A diferença radical

entre os sinais meramente animais e o sinal da voz humana conhecido como palavra está no fato de que aqueles são uma expressão puramente subjetiva, ao passo que a palavra designa algum tipo de objeto. Evidentemente, o animal geme ou grita quando confrontado ou afetado por um objeto que lhe causa prazer ou dor. E pode vocalizar algum sinal ao clã que chame a atenção para uma ameaça eminente. Mas estas manifestações exprimem somente um estado interior (temor, raiva, gozo etc.) ante a presença ou ausência de um objeto, e não qualquer característica deste objeto enquanto tal. O fato de que a palavra tem uma significação objetiva, isto é, que é capaz de exprimir a consciência de um objeto independentemente dos afetos ou desafetos provocados por ele, se verifica no momento mesmo em que através dela podemos exprimir uma coisa que não está presente aqui e agora. Um cão vagando só em casa pode dar com alguma coisa que lhe desperte a memória do dono. Se sentir sua falta, chorará. Mas nesse caso, o gemido de agonia, mesmo se causado pela representação involuntária da imagem do dono na mente do animal, não é uma expressão que tem por objetivo representar o dono, nem para ele nem para outrem, mas somente um sinal (igualmente involuntário) da sua nostalgia e solidão. O objeto (a imagem mental do dono) é só a causa do gemido; seu fim é exprimir um estado afetivo do sujeito.

Qual poderá ser a natureza da fala? O que está na origem da palavra, nos princípios de todo discurso verbal? Qual a razão de ser destes sinais vocais ou escritos que sugerem à mente a presença de algo que não está presente na realidade imediata, que não está nem aqui nem agora? A capacidade de exprimir tais sinais sugere uma forma especial de conhecimento característica do homem, a qual Aristóteles – provavelmente o primeiro a definir o homem como o animal que fala – relacionava como se sabe à racionalidade.

Mais uma vez, convém partir do próximo ao distante, isto é, do senso comum. Quando Soloviev investiga a gênese e o significado do conhecimento racional, parte da noção geral de que aquilo que se chama conhecimento é a concordância entre a crença na existência de um determinado objeto e sua existência de fato; entre a representação mental deste objeto e suas características reais (isto é, as que existem independentemente do sujeito).

Mas já o fato de que o homem possa duvidar, como de fato duvida, de suas próprias sensações, de sua imaginação, de suas opiniões, que possa questionar se aquilo que vê efetivamente existe e se existe tal como vê, é já uma característica impressionante que até onde chegam as evidências não se nota nos outros animais. O animal se engana, isto é certo. Aproximando-se de um homem de braços abertos ele pode descobrir um espantalho. E com a consciência disso dá-se ato contínuo uma reorientação de atitude. Mas nada indica que em algum momento ele questione nem a primeira convicção nem a segunda; entre as duas há a simples ruptura, não a comparação. Um macaco agarra um galho e descobre que é uma serpente, mas não se pergunta por que viu um galho e não uma serpente. O conflito de convicções não é problemático; só se troca uma pela outra e segue-se adiante. Já o homem, muitas vezes por mera recreação, entra em si e compara suas imagens, convicções; testa-as, brinca de contrariá-las, nega-as por simples exercício. Em outras palavras, ele sente a possibilidade de que o que vê talvez não seja tal como ele vê; de que aquilo que crê que existe talvez não exista. Sente em si a possibilidade do desacordo entre a realidade em si e a realidade para ele, e daí surge o primeiro problema geral do conhecimento: como o acordo entre a minha representação de uma coisa e esta própria coisa é possível?, e como este acordo pode ser certificado?, ou seja, quais convicções resistem à dúvida e quais não?

O princípio desta resposta deve partir, como é natural, do próprio fim do conhecimento, que é chegar a uma certeza que pacifique a consciência, uma convicção absolutamente radical, incontornável, sólida sobre aquilo que é. Acaso temos alguma convicção deste tipo? Conhecemos alguma coisa com absoluta e inegável certeza? Existe alguma representação que não possa ser objeto de dúvida, cuja concordância com aquilo que representa seja certa, inegável, indubitável? Qualquer definição abstrata deste conhecimento já traria consigo, pelo fato mesmo de ser abstrata, o risco da dubiedade. É preciso, antes de proceder a formulações gerais, começar com uma simples descrição concreta do sentimento concreto de um tal conhecimento indisputável e, em seguida, pondo-o à prova, verificar a sua indisputabilidade.

Soloviev parte logo da experiência comum do sonho. Que acontece no sonho? Vemos um elefante voador, por exemplo, e nos apavoramos, nos maravilhamos, enfim, experimentamos emoções e desejos de toda ordem. Temos certeza de que ele esta lá. Mas na realidade era só uma ilusão que a manhã abandona

de uma vez por todas à pura memória, se tanto. Mas terá sido tudo uma ilusão? Tenho agora a certeza de que o elefante voador não existe. Mas não terei também a certeza de que o vi, de que o temi ou admirei, de que o persegui ou fui perseguido por ele? Sei com toda certeza que mesmo que ele não tenha existido na realidade, isto é, fora

de mim, ele, naquele momento, existiu para mim, tanto quanto esta janela por onde

entra a luz da manhã existe agora para mim. “O quê (was, quid) eu vi não era uma realidade, mas que (dass, quod) eu vi é um fato absolutamente real e válido”48.

Dormentes ou despertos, quando experimentamos certos estados ou movimentos interiores (sensações, ideias, agitação emocional, desejos, decisões etc.)

sabemos que os estamos experimentando. Num dado momento, posso estar convicto

de que caminho na direção de um homem. Num segundo momento posso ter dúvidas a esse respeito. A medida que me aproximo, uma nova certeza instantaneamente desperta varrendo definitivamente a certeza anterior e a dúvida: sei que vejo agora um espantalho. Mas em cada um desses três momentos – o da convicção ilusória, o da dúvida, e o da convicção real – eu sei sempre algo com toda com toda certeza: sei, no primeiro momento, que vejo um homem; assim como, sei, num segundo momento, que duvido disso; do mesmo modo como sei, no fim, que vejo um espantalho.

A este tipo de conhecimento de fato, absolutamente inseparável do próprio fato, uma vez que o fato (facto) foi “feito” em mim mesmo, Soloviev atribui a origem mesma da palavra “con-sciência” – con-sciousness, so-znaniye, con-scientia,

Bei-wusstsein –, uma dupla ciência: a ciência de que algo que acontece em mim e a

minha ciência desta ciência. Eu sei que eu vejo um elefante voador ou um espantalho. Vejo e sei que vejo. Posso duvidar de que o oásis que vejo no deserto realmente exista, mas não posso duvidar de que o vejo. Sei que o vejo. Sei algo sobre mim, um fato meu, ainda que me engane quanto ao que está fora de mim. Quando sinto, sei que sinto; quando duvido sei que duvido; quando vejo sei que vejo.

Evidentemente, como nota Soloviev, o conhecimento da imediateza psíquica, a consciência instantânea de um estado ou movimento interior, paga pela sua certeza com a extrema limitação de seu conteúdo. Tão logo desejo afirmar um fato que esteja além do meu próprio estado interior, tão logo afirmo não só que eu vejo, mas que o que eu vejo é um elefante ou um oásis, isto é, que o que eu vejo existe

tal como eu o vejo, independentemente de mim, tão logo, enfim, a consciência dá este

                                                                                                                48

salto mortal para fora de si, a certeza absoluta perde instantaneamente a sua validade, e a possibilidade do erro imediatamente se difunde por toda parte. Passa-se da esfera de um fato indisputável da consciência (porque produzido na ou pela própria consciência), para a esfera das suas suposições sobre aquilo que está, sub-postamente, fora dela.

De uma certeza sobre si, o sujeito deduz espontaneamente um certeza sobre o objeto, mas experiências como a do sonho e da alucinação revelam que todos os objetos podem ser nossa própria ilusão, uma pantomima de nós para nós mesmos. O ceticismo e a dúvida não podem obviamente surgir quando afirmo um fato da minha consciência como um fato, mas somente quando re-flito sobre este fato, isto é, quando a minha mente se flexiona sobre si mesma, atribuindo àquilo que vê ou sente

em si características que estão fora de si, que independem dela, como, por exemplo, a

existência real. Nós cremos que as coisas existem fora de nós – como por exemplo você crê na existência desta mesa à sua frente. Mas não podemos ter certeza imediata e absoluta disso. Isto é, não podemos ter absoluta certeza de que a janela que vemos existe realmente.

No momento em que vejo uma janela, posso ter certeza de que estou vendo algo, mas talvez seja só uma foto ou um espelho na parede, ou então uma janela sonhada, caso em que o que efetivamente estou vendo sou eu mesmo, isto é, eu desdobrado entre espectador e janela no meu sonho, ambos mera representação de mim para mim mesmo. Quando vejo uma janela, sei com absoluta certeza que vejo, mas não posso saber com absoluta certeza o que vejo: se de fato vejo uma janela, ou uma fotografia ou uma alucinação. Com efeito, como demonstrou suficientemente Descartes, o mundo inteiro pode ser um tal sonho ou ilusão produzido por nós ou por um Gênio maligno.

Assim, buscando uma certeza absoluta, restamos com a certeza da sensação imediata, mas todo o resto, como também demonstrou Descartes, é totalmente dubitável. Resta a certeza da sensação e a certeza da dúvida. Mas a primeira não pode ir além do aqui e agora e nem além de mim. É uma certeza absoluta que tenho, mas que só tenho sobre mim mesmo e que só eu posso ter: uma certeza puramente subjetiva. Ademais, tenho a certeza de que duvido. Como se sabe, Descartes deduziu daí outra certeza positiva, a certeza na existência do ego como uma “substância” que pensa ou uma “coisa” que duvida (res cogitans, chose qui pense). Mas, segundo Soloviev, esta é já uma conclusão precipitada. “Pode-se reprovar

Descartes, não, evidentemente, por abandonar o ceticismo preliminar de seu método, mas por fazê-lo rápido demais”49. Quando dizemos “Eu penso”, este Eu pode tanto ser o puro sujeito do pensamento quanto o sujeito empírico – o indivíduo concreto com seu corpo, suas vivências, sua memória. Mas quando a ideia do “eu” surge na consciência, ele é um fato fenomenológico, tanto quanto a visão do elefante voador. Sei que eu vejo a janela. Mas assim como a janela pode ser uma ilusão, nada garante que eu mesmo (com todos os dados de minha personalidade que guardo na memória) não seja uma ilusão; que eu, tal como creio que sou, não seja senão o personagem de um sonho de outro. Assim como posso duvidar da existência de qualquer objeto exterior – precisamente porque sou capaz de conceber a sua inexistência –, posso, exatamente do mesmo modo, duvidar de minha própria existência empírica, isto é, posso a todo momento duvidar de que eu, com todas as minhas características, seja uma substância pensante e não um fenômeno ou um pensamento produzido por outra substância pensante. Tudo que sei sobre mim mesmo pode ser apenas um sonho de um outro eu.

Soloviev cita a este respeito um experimento da época onde uma menina operária, sob sugestão hipnótica, fantasiou que era primeiro um homem bêbado e depois o Cardeal Arcebispo de Paris, exprimindo atitudes, palavras e lembranças próprias a cada um. Pois bem, a rigor, neste exato momento, você não tem nem pode ter nenhuma garantia absoluta, ou seja, uma certeza propriamente dita, de que não está em estado de hipnose ou de sonho. E assim em qualquer outro momento de sua vida consciente. Você sabe, com absoluta certeza, que está lendo uma tese de doutorado em filosofia, mas não sabe com absoluta certeza (por mais que creia que sim) que este maço de papel na sua mão, assim como a janela à sua frete, assim como tudo o que está além dela e, finalmente, assim como você mesmo, não são somente o sonho de uma menina operária ou do Cardeal Arcebispo de Paris que sonha ler uma tese de doutorado. Daí a ironia de Soloviev: a res cogitans, a coisa pensante de Descartes, é “um impostor sem passaporte filosófico”50.

Em todo caso, sonhando ou não, há sempre algo que não pode ser duvidado: a realidade imediata, o fato enquanto tal, aquilo que é dado à minha consciência e é dado nela. A minha ciência do fato de que eu vejo uma janela é um fato. Vejo e sei que vejo. Neste caso, há uma identidade absoluta: o dado e a                                                                                                                

49

EDDIE, J.; SCANLAN, J.; ZELDIN, M., 1969: 115.

50

consciência do dado são um único e mesmo fato, isto é, a evidência de um elefante voador é idêntica à minha ciência de que vejo um elefante voador: A = A.

Insistamos sobre este ponto, porque estamos penetrando na origem da consciência, a ponto de tocar um primeiro princípio de todo conhecimento; ou seja uma certeza absoluta sobre a realidade, sobre aquilo que é: a consciência, em uma palavra, de uma verdade. Quando você vê uma janela, a única certeza indubitável, ao contrário do que espontaneamente crê, não é nem a existência da janela nem a sua; nem a do sujeito que vê nem a do objeto visto. O que é absolutamente indubitável é a própria visão. A janela que você vê, cuja existência parece ser um fato indubitável para você, pode ser só o sonho de uma menina operária. Neste caso, o fato, o dado imediato da consciência, não pode ser que ela está vendo a janela (pois no momento ela não tem ciência de que existe e nem de que a janela que vê só a vê através de você), e tampouco pode ser que você está vendo a janela (pois embora você creia que exista só existe no sonho da menina para ver a janela dela), o fato indubitável é simplesmente que uma janela é vista ou está sendo vista, ou ainda, que há a visão da janela. E mesmo que no fim a janela vista pela menina operária através dos seus olhos inexistentes seja só o sonho do Cardeal Arcebispo de Paris, mesmo assim, resta sempre o fato: uma janela é sempre vista, há sempre a visão da janela. E como, segundo a presente hipótese, a janela nunca existiu de fato, tal como tudo aquilo que vemos pode não existir de fato, só o que em verdade existe com absoluta certeza, o fato indubitável é, ao fim e ao cabo, a visão: há a visão. O dado imediato surgido na consciência é idêntico ao dado imediato surgido da consciência. O dado na consciência (a janela vista) é idêntico ao que é feito na consciência (a visão da janela). A = A. A visão é idêntica à certeza absoluta da visão “Tudo possui uma certeza imediata enquanto dado psíquico ou fato da consciência”51.

Tautologia evidente. Mas, fato curioso, o que não é evidente é justamente que uma tautologia seja evidente, que seja ela mesma um fato da consciência – com efeito, ela nunca o é para a consciência animal. A tautologia é essa: um fato da consciência é um fato; um fato na consciência é um fato para a consciência. Isto é certo e indubitável. Se vejo algo (ainda que seja uma janela inexistente) há uma visão (mesmo que seja através de meus olhos por uma menina operária sonhada pelo Cardeal Arcebispo de Paris). Mas quando constato o fato de que quando vejo algo há                                                                                                                

51

uma visão, na verdade estou constatando que sempre que vejo algo há uma visão. Do mesmo modo, posso inverter a constatação óbvia e dizer: se vejo algo, algo é visto. O que na verdade estou constatando é que tudo aquilo que vejo é visto. Constato, em outras palavras, que sempre que se vê algo, seja lá onde for, algo é visto, e que tudo o que é visto, seja lá quando for, é uma visão – ou vice-versa.

Pois bem, o dado extraordinário é que através da consciência de que um fato acontece aqui e agora na minha consciência – através da certeza absoluta disso – passo a constatar uma série de fatos absolutamente certos em qualquer outro tempo e lugar concebíveis ou imagináveis. Constato o fato de que não só aquilo que vejo aqui e agora é uma visão, mas de que tudo aquilo que é visto em qualquer tempo e lugar será, com certeza absoluta, sempre uma visão; de que não só a janela que vejo é uma visão, mas de que toda janela vista é uma visão; de que pouco importa quem veja uma janela, se eu, você, uma menina ou um Cardeal Arcebispo, e de que pouco importa

quando é vista, se agora ou no século XIX, e de que pouco importa onde é vista, se

aqui, em Paris ou num sonho, sempre haverá uma visão. A capacidade, ou que seja, a mera intenção do homem de fazer juízos absolutos (“sempre”, “nunca”, “todo”, “nada”, “qualquer”) é já uma característica completamente única, que não se verifica na consciência animal, a qual só faz juízos relativos, isto é, relativos àquilo que se apresenta aqui e agora, e nunca sobre algo presente em qualquer outro tempo e lugar. Assim, temos duas certezas absolutas. Tenho primeiro a certeza evidente de que aquilo que vejo é visto, ou melhor, de que há uma visão, e, em segundo, de que

tudo aquilo que alguém vê sempre é visto, ou melhor, de que onde quer que alguma

coisa for vista, haverá uma visão. A primeira é sobre mim e sobre algo que me acontece aqui e agora, e é uma certeza que só eu posso ter. A segunda é sobre

qualquer pessoa e sobre algo que pode acontecer em qualquer tempo e lugar, e que,

dadas as devidas condições, com toda certeza acontecerá: basta que eu ou qualquer outra pessoa veja algo, não importa onde não importa quando, para que eu tenha a certeza de que há uma visão.

É assim que a consciência, ao refletir sobre a certeza que tem do dado imediato, isto é, ao flexionar-se sobre este micro-ponto que é o seu “ponto de vista”, ao inserir-se nele rumo a raiz de sua certeza absoluta, vê, como num Big-Bang mental, esta certeza explodir e se expandir para qualquer tempo e lugar, reais ou imaginários, próximos ou distantes. Do juízo que constata um fato óbvio, minúsculo e passageiro, isto é, o fato da minha própria sensação, chego a um juízo universal e

absoluto, uma certeza sobre qualquer tempo e lugar: tudo aquilo que alguém vê, seja onde for, seja quando for, será visto. Se “A”, então necessariamente “B”. Partindo da