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O EM, por ser a etapa final da Educação Básica, tem sido foco de discussões em diferentes espaços e esferas, devido a fatores que vão da defasagem do currículo ao modo de ensinar. Tais discussões objetivam melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem e caminham na direção de uma sociedade emancipadora, ousada e possível, prevendo uma

formação mais social e produtiva ao aluno como cidadão, sujeito de sua história. Constitui- se um desafio para todos, que trabalham com educação, entender as mudanças dessa última etapa da Educação Básica e compreender como as novas tendências podem melhorá-la, de modo que os alunos cheguem efetivamente preparados e qualificados nesta fase.

Uma significativa mudança pedagógica iniciou-se no período de 2011-2012 no cenário educacional do Estado do Rio Grande do Sul - a Reestruturação Curricular do EM, denominada Ensino Médio Politécnico e Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio (EMP), proposta da Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul/RS (SEDUC/RS, 2011) implantada nas Escolas Estaduais. A reestruturação curricular do EM foi implantada de forma gradual, iniciando no ano de 2012 com os 1º anos do Ensino Médio (EM) e completando-se no ano de 2014. Segundo o regimento referência, o EMP tem como finalidade,

propiciar o desenvolvimento dos educandos assegurar-lhe a formação comum indispensável para o desenvolvimento da cidadania e fornecer meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.

Destaca-se o Ensino Médio Politécnico como aquele em que na prática pedagógica ocorre a permanente instrumentalização dos educandos quanto à compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; do processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; da língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e do exercício da cidadania. (RIO GRANDE DO SUL, 2012, p.7-8).

À escola cabe propiciar ao aluno, dentre outros objetivos, “a apropriação e construção do conhecimento, [...], a compreensão do mundo do trabalho e o entendimento da diversidade”, e assim atingir os objetivos do EMP (RIO GRANDE DO SUL, 2012, p.8). Nesse viés, as escolas também se organizaram e construíram seus regimentos escolares e projetos político pedagógicos em consonância com os princípios e pressupostos da nova proposta de reestruturação curricular, procurando adaptar suas práxis a essa nova visão de currículo, de metodologia de trabalho, permeado pela interdisciplinaridade, pesquisa como princípio pedagógico e pelo trabalho como princípio educativo.

Trata-se de uma proposta que sugere reinventar o EM, e que aponta para algo novo, ou seja, para uma nova concepção metodológica, buscando novas formas de organização curricular, com vistas à ressignificação dos saberes escolares e à produção de conhecimento pelo viés da pesquisa. Como propõe o documento da SEDUC (2011, p.20), “a pesquisa é o processo que, integrado ao cotidiano da escola, garante a apropriação adequada da realidade, assim como projeta possibilidades de intervenção”, ou seja, o grande instrumento de inovação e renovação da proposta é a pesquisa presente no processo de ensinar e aprender no EM.

Este processo de reorganização diferenciada do ensino buscou redefinir as bases para a educação, a partir de intensas reflexões e discussões nas comunidades escolares, acerca da crise educacional vivida atualmente nos espaços escolares e também sobre a nova proposta pedagógica em processo de implantação. O documento - base elaborada pela SEDUC-RS1, intitulado Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico e Ensino Profissional Integrado ao Ensino Médio – 2011-2014 (SEDUC/ RS, 2011), com respaldo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1996, e nas Diretrizes curriculares Nacionais (DCNEM) de 2012 e nos PCNs - descreve os fundamentos teóricos que orientam o EMP:

As bases teóricas e de realização do Ensino Médio Politécnico (EMP) se pautam principalmente na articulação interdisciplinar do trabalho pedagógico entre as grandes áreas do conhecimento (Ciências da Natureza e suas tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; Linguagens e suas tecnologias;), na relação teoria e prática, parte e todo, na pesquisa como principio pedagógico; na avaliação emancipatória; no reconhecimento dos saberes; no trabalho como princípio educativo; na politecnia como conceito estruturante do pensar e fazer, relacionando os estudos escolares com o mundo do trabalho; e no planejamento coletivo (AZEVEDO & REIS, 2013, p.35).

O EMP é uma proposta com uma perspectiva crítica e emancipatória que retoma o conceito de politecnia como princípio organizador e inovador na articulação entre conhecimento científico e a realidade dos educandos. A proposta traz uma série de modificações para o EM, entre elas, a divisão da carga horária em dois blocos - formação geral e parte diversificada - a serem articulados por projetos desenvolvidos no SI.

O Currículo do curso do EMP com duração de três anos apresenta uma carga horária total de 3000 horas, distribuídas em no mínimo 200 dias letivos por ano, sendo que no 1º ano a carga horária é de 75% de formação geral e 25% de parte diversificada. No segundo ano, 50% para cada formação e, no terceiro ano, 75% para parte diversificada e 25% para formação geral (SEDUC/RS, 2011, p. 23). A organização curricular do EMP articula,

- uma formação geral sólida, que advém de uma integração com o nível de ensino fundamental, numa relação vertical, constituindo-se efetivamente como uma etapa da Educação Básica, a

- uma parte diversificada, vinculada a atividades da vida e do mundo do trabalho, que se traduza por uma estreita articulação com as relações do trabalho, com os setores da produção e suas repercussões na construção da cidadania, com vista à transformação social, que se concretiza nos meios de produção voltados a um desenvolvimento econômico, social e ambiental, numa sociedade que garanta qualidade de vida para todos (SEDUC/RS, 2011, p 22).

1 O documento-base foi construído apoiando-se nas proposições teóricas de Antonio Gramsci, Karel Kosik, Acácia Kuenzer, Paulo Freire, Demerval Saviani, Gaudêncio Frigotto, Carlos Rodrigues Brandão, Ivani Fazenda, Domingos Leite Lima Filho, Maria Ciavatta, Marise Ramos, Lucília Machado e Ana Maria Saul (Cf. Seduc-RS, 2011).

Esta proposta curricular tem seus alicerces enraizados nas bases epistemológicas, filosóficas, socioantropológicas e psicossociais, e constituiu a sugestão de currículo integrado e possível de ser elaborado pelas escolas estaduais (SEDUC/RS, 2011, p 15).

O Documento Referência do novo currículo do EM tem como base os argumentos de Gramsci e Saviani para esclarecer o entendimento de Politecnia (SEDUC/RS, 2011, p. 14).

[...] A politecnia se traduz por [...] pensar políticas públicas voltadas para a educação escolar integrada ao trabalho, à ciência e à cultura, que desenvolva as bases científicas, técnicas e tecnológicas necessárias à produção da existência e a consciência dos direitos políticos, sociais e culturais e a capacidade de atingi-los (GRAMSCI, 1978).

Saviani (2003, p.140) argumenta ainda que,

Politecnia diz respeito ao domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam o processo de trabalho produtivo moderno. Está relacionada aos fundamentos das diferentes modalidades de trabalho e tem como base determinados princípios, determinados fundamentos, que devem ser garantido pela formação politécnica. Por quê? Supõe-se que, dominando esses fundamentos, esses princípios, o trabalhador está em condições de desenvolver as diferentes modalidades de trabalho, com a compreensão do seu caráter, sua essência. Não se trata de um trabalhador adestrado para executar com perfeição determinada tarefa e que se encaixe no mercado de trabalho para desenvolver aquele tipo de habilidade. Diferentemente, trata-se de propiciar-lhe um desenvolvimento multilateral, um desenvolvimento que abarca todos os ângulos da prática produtiva na medida em que ele domina aqueles princípios que estão na base da organização da produção moderna.

Essa dimensão politécnica visa modificar a relação atual entre trabalho e trabalhador, superando as formas dos sistemas tayloristas-fordistas2 de organização da vida

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“Taylorismo- conjunto de medidas criadas por Frederick Taylor – engenheiro norte- americano, que viveu entre 1856 e 1915- para economizar o tempo gasto pelos trabalhadores na produção, aumentando, assim a quantidade produzida e diminuindo a autonomia dos trabalhadores no domínio das máquinas. Uma marca do sistema de produção na indústria de tecidos (têxtil) era o trabalho por oficio, realizado por um trabalhador qualificado, que tinha o domínio sobre as máquinas e sobre a produção. Para produzir na indústria têxtil, o trabalhador utilizava várias ferramentas, o que obrigava interromper os movimentos para pegar a matéria prima ou as ferramentas e deslocar-se entre os lugares onde realizava as tarefas, gastando assim, muito tempo do trabalho nesses deslocamentos. Taylor pesquisou sobre esses movimentos e o tempo gasto na realização das tarefas, propondo novas formas de organização dos trabalhadores na fábrica, de maneira que produzissem no menor tempo possível e tivessem o menor controle sobre as máquinas, evitando, possibilidades de paralização do trabalho, greve, “corpo mole” na produção, etc. Fordismo – apesar das mudanças trazidas pelo Taylorismo, os trabalhadores ainda gastavam muito tempo na produção. Em 1913, Henry Ford, industrial norte-americano, introduziu em sua fábrica de automóveis um forma de produzir que denominamos de “produção em série”. Ford dividiu o trabalho em tarefas encadeadas, para que cada trabalhador realizasse uma parte do produto, utilizando sempre os mesmos movimentos. Organizou a produção em “ linha de montagem”, definindo a posição das máquinas e equipamentos e os lugares de trabalho, de forma a diminuir o contato entre os trabalhadores e aumentar o ritmo do trabalho, pois uma parte da peça a ser montada dependia da outra a ser feita anteriormente. Na linha de montagem, cada trabalhador tinha que se adaptar à velocidade da esteira por onde passavam as peças a serem montadas. O Fordismo termina com a necessidade do trabalhador qualificado, com domínio do conjunto da produção e das máquinas, pois introduz a especialização nas máquinas. Além disso, separa as funções de planejar, pensar, e executar tarefas. “O trabalho passa a ser fragmentado e especializado, pois cada trabalhador se forma especialista em uma parte da produção, desqualificando, assim, o processo e o produto do trabalho” (Caderno Temático da Constituinte Escolar nº 3, 2000, p. 8-9).

social e profissional, muito presente ao longo da nossa história educacional. Requer a integração dos conteúdos de formação geral e de formação profissional. Embora o EMP não profissionalize, “[...] deve estar enraizado no mundo do trabalho e das relações sociais, de modo a promover formação científico-tecnológico e sócio histórico a partir dos significados derivados da cultura, tendo em vista a compreensão e a transformação da realidade” (SEDUC/RS, 2011, p.14).

O trabalho humano é uma categoria que nos diferencia dos animais, é uma condição necessária vital ao ser humano em qualquer tempo histórico na produção de todas as dimensões da vida humana. Trabalho é o meio como os seres humanos podem criar e recriar a sua existência pela ação consciente do trabalho, mediado pelo conhecimento, ciência e tecnologia em resposta ás suas múltiplas e históricas necessidades (FRIGOTTO, 2008).

Neste sentido, o trabalho se constituiu em um princípio educativo, como um direito e um dever de todo ser humano. Portanto, o trabalho na sua essência “não pode ser confundido com as formas históricas que o trabalho assume - trabalho servil, escravo e assalariado” e ainda com “propriedade privada capitalista” (FRIGOTTO, 2008, p.402). Conforme Ciavatta (2008, p. 408), o trabalho como princípio educativo nos “remete a relação entre o trabalho e a educação, no qual se afirma o caráter formativo do trabalho e da educação como ação humanizadora por meio do desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano”.

Ao se considerar o trabalho como princípio educativo, implica compreendê-lo: Como todas as formas de ação que os seres humanos desenvolvem para construir as condições que asseguram a sua sobrevivência, implica reconhecê-lo como responsável pela formação humana e pela constituição da sociedade. É pelo trabalho que os seres humanos produzem conhecimento, desenvolvem e consolidam sua concepção de mundo, conformam as consciências, viabilizando a convivência, transformam a natureza construindo a sociedade e fazem história (SEDUC/RS, 2011, p.13).

As mudanças no mundo do trabalho trazem novas demandas para a educação e um novo desafio para a escola, compreender o trabalho como princípio educativo e intelectual, ou seja, desenvolver o:

Trabalho intelectualizado e a participação na vida social atravessada pelas novas tecnologias demandam formação escolar sólida, ampliada e de qualidade, principalmente para os que vivem do trabalho, para os quais a escola é o único espaço possível de relação intencional com o conhecimento sistematizado (SEDUC/RS, 2011, p.13).

Nesse viés, a proposta do EMP supõe novas formas de seleção e organização dos conteúdos escolares, a ruptura de paradigmas, a superação da lógica disciplinar, contemplando o diálogo entre as áreas do conhecimento mediante o trabalho coletivo e o

envolvimento dos diferentes atores que trabalham nos espaços escolares, ou seja, é pela formação politécnica que se daria a formação intelectual. Esse movimento de organização dos saberes por áreas do conhecimento não tem a intenção de excluir ou diluir as disciplinas (componentes curriculares), tampouco os seus saberes próprios. Mas, o que se deseja com o trabalho nas áreas do conhecimento, é a integração e contextualização desses saberes, por meio do exercício da parte e do todo. Isso implica mudanças não somente curriculares, mas, também, na forma de planejar, pensar, comunicar, elaborar e desenvolver as práticas na sala de aula, fortalecendo os vínculos e as relações entre os principais interlocutores do processo e entre os saberes e a integração e a contextualização para apreensão e intervenção na realidade.

As modificações e as alterações que ocorreram nesta etapa da Educação Básica foram decorrentes da preocupação quanto à análise diagnóstica realizada no Ensino Médio Gaúcho entre os anos de 2010 e 2011. Segundo os dados (Senso Escolar, 2009)3, constataram-se altos índices de abandono escolar (13%), especialmente no 1º ano do EM, e de reprovação (21,7%) no decorrer do curso. Além disso, 84.000 jovens entre 15 e 17 anos estão fora da escola, o que equivale a 14,7%. Os índices apontam para um grande desinteresse devido ao modo como o conhecimento é construído, muitas vezes de maneira a enfatizar mais a memorização de conceitos, fórmulas, regras, leis, do que a inserir os estudantes em situações de interação com o que é ensinado, além da desmotivação da maioria dos jovens estudantes com a escola e com a aprendizagem. (PESQUISA NACIONAL DE AMOSTRA E DOMICÍLIO PNAD/IBGE, 2009).

A descontextualização e fragmentação dos currículos, a desarticulação dos conteúdos escolares da realidade vivida, bem como o isolamento das disciplinas, também foram fatores relevantes para a proposição da reestruturação. A proposta provocou profundas reflexões nas escolas de EM do Rio Grande do Sul, transformações no espaço escolar, nas relações entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem e na dialogicidade e interação entre as áreas do conhecimento. Deste modo, convém destacar que,

Uma consistente identidade ao Ensino Médio se dará não somente por reverter o alto índice de evasão e reprovação com qualidade social, mas acima de tudo por apresentar um ensino médio que oportunize e se empenhe na construção de projetos de vida pessoais e coletivos que garantam a inserção social e produtiva com cidadania (SEDUC/RS, 2011, p.4).

Nesse período de grande movimento na educação realizaram-se intensas discussões e debates nas comunidades escolares desse nível de ensino, envolvendo professores,

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Censo Escolar 2009. Disponível em:<http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/estatisticas.jsp?ACAO=acao1 > Acesso em: 21 mar. de 2016.

funcionários, especialistas, pais, estudantes, em conferências realizadas em níveis municipais, regionais, estaduais e nas Coordenadorias Regionais de Educação (CRE) de cada região, acerca da situação educacional vivida na escola pública (SEDUC-RS, 2011). Os altos índices de reprovação e abandono escolar são premissas que justificam essa mudança curricular que tem como objetivo melhorias na qualidade de ensino, de modo a preparar os jovens para enfrentar as diferentes exigências e demandas da sociedade atual, principalmente no mundo do trabalho.

O problema do abandono escolar e da alta reprovação, contudo, precisa ser tratado com atenção especial nos espaços de discussões, pois são muitas as causas.

Observa-se que, muitas vezes, deposita-se no aluno a causa do abandono. Mas, o que dizer dos alunos que estão “abandonados” dentro das escolas, sem aprender? E aqueles outros tantos que são colocados para fora das escolas, por não se adaptarem a sua rotina, a sua organização, as suas regras e normas? Muitos são os desafios para a solução destes problemas - formação inicial e continuada de professores, ampliação dos investimentos nas escolas, reorganização pedagógica e curricular do ensino – no intuito de produzir uma relação mais significativa com o conhecimento, superando os programas abstratos e descontextualizados.

A reestruturação curricular possibilitou reflexões teóricas sobre o ensinar e aprender, sobre a práxis, desafiando para novas leituras e teorizações, ou seja, um novo olhar foi lançado para o ensino escolar e para os sujeitos envolvidos no processo de construção e significação dos saberes escolares. A nova proposta também desafia o professor a uma análise reflexiva do seu fazer docente, pois é com as juventudes destes novos tempos e conectados em rede que “habitam o espaço escolar, constituindo uma geração marcada por uma identidade plural, líquida, não rígida, passível de transformação”, com os quais a escola e os professores trabalham, convivem e são desafiados em seu fazer pedagógico (KUNH & ZILLI, 2014, p. 104).

Azevedo et al. (2013) faz algumas considerações em relação a este contexto, observando que esse processo de mudança, nessa etapa final da Educação Básica, desencadeou críticas, dúvidas, controvérsias, reflexões necessárias e pertinentes em qualquer movimento novo em educação, visto que, o mesmo apresentou bons resultados em seu primeiro ano de implantação, quanto à diminuição da reprovação escolar. No seu primeiro ano de implantação, a reprovação diminuiu de 22,3% para 17,9%, e a aprovação passou de 66,3% para 70,4%. Já em seu segundo ano de organização curricular a aprovação do

primeiro ano passou para 63,7% e no segundo foi de 74,1% para 76,9%,totalizando 73,6% de aprovação e 16,4% de reprovação no EM (AZEVEDO & REIS, 2013, p. 45).

Isso demonstra que a permanência e a garantia da aprendizagem começam a ser aprofundadas na busca por superar a cultura escolar tradicional e reconstruir a escola como uma instituição responsável pela aprendizagem e pela educação de todos. Ainda segundo Azevedo et al. (2013, p. 244) , “ temos de aprender e ensinar uns aos outros o caminho do novo”. Entretanto, para que se atinjam os objetivos propostos, conforme apontado pela Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul, é necessário:

Valorização profissional, diretamente relacionada à questão salarial, à carreira e à formação inicial e continuada; reestruturação física da rede estadual de ensino; e reestruturação do currículo da educação básica, em especial o ensino médio (SEDUC/RS, 2011, p.3).

E, além disso,

[...] mais do que nunca é preciso conferir outra dinâmica a essa etapa da educação básica e buscar novas formas de organização do currículo com vistas à ressignificação dos saberes escolares para que sejam capazes de conferir qualidade e ampliar a permanência dos jovens na escola (NASCIMENTO, 2013, p.19). O ensino com base nos pressupostos da politecnia requer a constituição de espaços coletivos, na escola, para o estudo sobre suas práticas e outras vivências que desafiam o professor para a discussão, para o planejamento e para o trabalho em equipe. O trabalho em equipe deve realizar-se de maneira interdisciplinar, com professores reflexivos, pesquisadores, que buscam novos saberes e novos desafios para que a educação aconteça com qualidade. Nesse contexto, a escola precisa ser um espaço de criatividade, iniciativa, espírito inovador; deve atuar para a autonomia e compartilhamento e socialização de saberes e experiências pedagógicas vivenciadas no cotidiano das salas de aula, legitimando os docentes como protagonistas do seu fazer pedagógico e do debate educativo. Essas são transformações necessárias, embora difíceis. Nesse sentido, Boff (2011, p.41) argumenta que:

As transformações em sala de aula não são simples na sua execução, os espaços coletivos precisam ser construídos e reconstruídos num permanente processo de abertura para o diálogo e num movimento que inicia pela inquietação dos sujeitos e pelo desejo de melhoria nas práticas educativas.

Uma educação contemporânea, como a que se propõe no EMP, não pode se limitar a formar alunos para dominar certos conteúdos, mas precisa educar para que os discentes sejam capazes de propor soluções sobre determinados problemas atuais, que saibam pensar, refletir, trabalhando e cooperando uns com os outros. Nas palavras de Chassot, o Ensino Médio “é abarrotado de conteúdos” e é por isso “que temos de selecionar uns poucos conteúdos e construir saberes com os mesmos” (CHASSOT, 2014, p.116-117). Pois, quando

pensamos em nosso trabalho profissional, e em uma educação de qualidade, direcionada aos interesses da comunidade local e regional, há a necessidade de se repensar as estratégias de ensino, relacionar os conhecimentos construídos ao contexto do mundo do trabalho, contextualizar conteúdos e significar conhecimentos. Deste modo,

(...) há a necessidade da construção de uma nova proposta político pedagógica em