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A proposta de reorganização curricular do EM no Estado do Rio Grande do Sul contempla um currículo diferenciado que prevê a inserção de SI na organização curricular desta última etapa da Educação Básica. É um espaço destinado à reflexão interdisciplinar e ao desenvolvimento de projetos de pesquisa, sobre temas escolhidos a partir do diálogo docente-discente, propostos de acordo com os interesses de pesquisa e estudo a serem desenvolvidos. Neste espaço o diálogo e a investigação de temáticas e conteúdos são privilegiados, proporcionando ao educando a complexificação de seus saberes com vistas à produção de aprendizagens significativas e duradouras no âmbito desse nível de ensino, articulando as categorias: trabalho, ciência, tecnologia e cultura (AZEVEDO & REIS, 2013).

Segundo Ferreira (2013), a reestruturação curricular do EMP utiliza o SI como estratégia para promover a mudança do ensino e da escola. O SI possibilita a partida para a organização do currículo escolar e de toda a prática pedagógica, ou seja, constitui-se em um espaço-tempo presente na organização curricular do EMP, e se operacionaliza com a implantação dos projetos de pesquisa e da avaliação emancipatória (SEDUC/RS, 2011). De acordo com as orientações que o documento base traz,

os Seminários Integrados constituem-se em espaços planejados, integrados por professores e alunos, a serem realizados desde o primeiro ano e em complexidade crescente. Organizam o planejamento, a execução e a avaliação de todo o projeto político-pedagógico, de forma coletiva, incentivando a cooperação, a solidariedade e o protagonismo do jovem adulto (SEDUC/RS, 2011, p.23).

Conforme Ferreira (2013), o SI constitui-se no elemento inovador da proposta e, ao fazer parte do currículo escolar, tem como finalidade provocar a problematização e o diálogo entre os conhecimentos sociais e os conhecimentos formais. Ou seja, é um eixo articulador e contextualizador, um espaço de produção de conhecimentos e de materialização das atividades produzidas e desenvolvidas no EMP, na direção da aprendizagem contextualizada e interdisciplinar por meio de uma atitude investigativa, pois é nessa interação e diálogo sobre conhecimentos e saberes que o aluno elabora o seu próprio pensamento, suas ideias, suas conclusões e sínteses.

Espaços privilegiados que se organizam a partir da elaboração de projetos de pesquisa - os quais podem ser individuais ou coletivos - tendo a pesquisa socioantropológica como fonte de informação para a organização de projetos vivenciais4. Tais espaços privilegiados buscam articular as quatro áreas do conhecimento (Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias) e o diálogo entre os componentes curriculares, no intuito de, por meio da pesquisa, efetivar a interdisciplinaridade. Mas, por que devemos incentivar a pesquisa na escola? Pesquisar para quê?

A escola como espaço de socialização e interação precisa oportunizar aos alunos a prática de iniciação à pesquisa como instrumento de produção e apropriação dos conhecimentos. As investigações tem o propósito de possibilitar aos jovens estudantes que eles façam as conexões entre a teoria e a prática, desenvolvam o raciocínio sobre a observação, experimentação, socialização, incentivando-os a aprendizagem e a elaboração de pré-projetos de pesquisa, pela utilização de novas mídias e tecnologias educacionais. A prática da pesquisa escolar como momento de dinamização dos ambientes de aprendizagem, mediante uma interação e um transitar entre os saberes populares e os conceitos teóricos, para que os alunos sejam protagonistas na busca de informações e na construção de novos saberes - do senso comum, escolares ou científicos.

A elaboração das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o EM, de acordo com o Conselho Nacional de Educação (CNE/CEB), traz a pesquisa como princípio pedagógico, caracterizando a sua importância e o seu potencial na concepção de investigação científica que orienta e motiva os projetos, buscando melhorias na coletividade e no bem comum. O parecer nº 5 de 2011, destaca que:

A pesquisa escolar, motivada e orientada pelos professores, implica na identificação de uma dúvida ou problema, na seleção de informações de fontes confiáveis, na interpretação e elaboração dessas informações e na organização e relato sobre o conhecimento adquirido.

A pesquisa, associada ao desenvolvimento de projetos contextualizados e interdisciplinares/articuladores de saberes, ganha maior significado para os estudantes. Se a pesquisa e os projetos objetivarem, também, conhecimentos para atuação na comunidade, terão maior relevância, além de seu forte sentido ético- social.

4 Pesquisa pedagogicamente estruturada e praticada através de Projeto Vivencial- possibilita a construção de novos conhecimentos e a formação de sujeitos pesquisadores, críticos e reflexivos no cotidiano da escola, oportunizando a apropriação adequada da realidade, projetando possibilidades de intervenção potencializada pela investigação e pela responsabilidade ética. Além disso, a pesquisa oportuniza ao educando a exploração de seus interesses e o exercício da autonomia, ao formular e ensaiar projetos de vida e de sociedade. Assim, o educando para desenvolver a pesquisa desejada elaborará um Projeto Vivencial devendo explicitar uma necessidade e/ou uma situação problema dentro dos eixos temáticos transversais. Esse Projeto Vivencial será elaborado, com a mediação do educador, no Seminário Integrado, em interlocução com as áreas do conhecimento e os eixos transversais (RIO GRANDE DO SUL, 2012, p. 9-10).

A pesquisa, como princípio pedagógico, pode, assim, propiciar a participação do estudante tanto na prática pedagógica quanto colaborar para o relacionamento entre a escola e a comunidade (BRASIL, 2011, p. 22).

Cabe aos professores organizar os métodos de aprendizagem de forma dialogada, possibilitando o questionamento, a participação dos alunos para que a compreensão dos temas abordados nas pesquisas escolares aconteça de forma crítica e contribua significativamente para as aprendizagens, o exercício da cidadania, a transformação social e para a produção de saberes. Cabe aos professores buscar o reencontro do mundo do conhecimento científico com o mundo da vida no contexto da educação básica. Por isso é importante que a pesquisa como princípio pedagógico faça parte e esteja presente em toda a educação escolar. Ainda de acordo com o parecer nº 5:

A prática de pesquisa propicia o desenvolvimento da atitude científica, o que significa contribuir, entre outros aspectos, para o desenvolvimento de condições de, ao longo da vida, interpretar, analisar, criticar, refletir, rejeitar ideias fechadas, aprender, buscar soluções e propor alternativas, potencializadas pela investigação e pela responsabilidade ética assumida diante das questões políticas, sociais, culturais e econômicas (BRASIL, 2011, p. 22).

Para Demo (2007, p. 6), “a base da educação escolar é a pesquisa, não a aula, ou o ambiente de socialização, ou a ambiência física, ou o mero contato entre professor e aluno.” Portanto, a aula não pode constituir-se em apenas repasse e socialização de conhecimentos, mas deve ser o meio para conhecer e intervir, articulando a prática e a teoria na formação de sujeitos críticos, curiosos e criativos. O autor ainda argumenta que é fundamental, na prática educativa, o “questionamento reconstrutivo, alimentado pela pesquisa como princípio científico e educativo”, considerando que a pesquisa deve ser uma “atitude cotidiana” do ambiente escolar, do professor e do aluno, no sentido de contribuir para intervir, aprender e ler de forma crítica e questionadora da realidade (DEMO, 2007, p.10).

Dessa forma, a experiência da pesquisa no ambiente do SI corrobora para que o aluno se transforme num pesquisador, já que a “pesquisa significa, numa perspectiva interdisciplinar, a busca da construção coletiva de um novo conhecimento, em que este não é, em nenhuma hipótese, privilégio de alguns [...]” (FAZENDA, 2002, p.20).

O espaço da sala de aula, hoje, precisa ser repensado, assim como a organização curricular. É necessário transformar a sala de aula em espaço de trabalho conjunto, de diferentes interações e diálogos na reconstrução do conhecimento, tendo no professor alguém que orienta e que vê no aluno o sujeito do processo de aprendizagem e não objeto de ensino. Conforme Demo (2007), o professor deve estimular permanentemente em seus alunos a capacidade de “saber pensar”, de “aprender a aprender”, a pesquisar, questionar e

expressar-se de forma clara e objetivo, sendo capaz de reconstruir o conhecimento de formar competente e autônoma. Para o mesmo autor, na educação o importante “não é só ensinar, instruir, treinar, domesticar, é, sobretudo formar a autonomia crítica e criativa do sujeito histórico competente” (DEMO, 2007, p. 16).

A pesquisa em sala de aula precisa do envolvimento ativo e reflexivo permanente de seus participantes e o professor tem papel fundamental no direcionamento e no incentivo da pesquisa em sala de aula, por isso,

fazer emergir o professor pesquisador onde havia o professor dador de aulas talvez seja a forma de pensarmos a mudança da cultura escolar no sentido emancipatório. Talvez encontremos nesta prática da pesquisa, que confere dignidade e lugar específico aos educadores, uma forma de re-criarmos o sentido do conhecimento escolar no ensino médio (SILVA, 2014, p. 3).

A pesquisa socioantropológica pode ser o caminho para a organização do ensino por projetos de pesquisa articulados aos eixos temáticos transversais (Acompanhamento Pedagógico; Meio Ambiente; Esporte e Lazer; Direitos Humanos; Cultura e Artes; Cultura Digital; Prevenção e Promoção da Saúde; Comunicação e Uso de Mídias; Investigação no Campo das Ciências da Natureza) ou articulados a uma situação problema relacionada à vida do aluno ou a ao seu contexto vivencial. Conforme Ferreira (2013, p. 195):

A pesquisa socioantropológica, como uma dimensão do currículo, garante que a vida e o contexto do aluno sejam a fonte da organização dos projetos vivenciais. Por meio da apropriação da realidade, o trabalho pedagógico incentiva a participação, a cooperação, a solidariedade o protagonismo do jovem adulto. A pesquisa subsidia o planejamento geral da escola, apontando rumos ao seu trabalho e oportunizando a relação da investigação com o mundo do trabalho. Tem como objetivo, a investigação social, por meio da qual se busca plena participação da comunidade na análise de sua própria realidade. A investigação busca conhecer o modo de vida de uma determinada comunidade, determinando quais problemas ou dificuldades ela enfrenta, ou seja, busca conhecer a realidade na qual o aluno está inserido. Portanto, é uma atividade de pesquisa educacional orientada para a ação, aproximando a escola da comunidade e o professor do contexto significativo da realidade do aluno em sua comunidade.

Azevedo (2007, p. 207) complementa com a seguinte consideração, “a investigação socioantropológica é o portal de entrada na escola da experiência do senso comum. Portanto é a práxis na qual se fundamenta a possibilidade de democratização do conhecimento”. Visto que a aprendizagem acontece por meio da experiência, convivência e interação com o outro, ela gera saberes diversos e significativos para os sujeitos envolvidos, em atitudes práticas e ações pedagógicas comprometidas com o conhecimento socialmente construído para todos. A pesquisa socioantropológica é um suporte de grande valor na organização da temática que

levará às linhas de pesquisa ou aos eixos temáticos em que o estudante poderá se inserir e, quando “feita coletivamente, constrói interações e relações, compromissos, identidades e motivações intersubjetivas, que no mínimo, facilitam a integração interdisciplinar” (AZEVEDO, 2007, p. 222). Ferreira (2013) complementa e contribui para uma visão mais objetiva da operacionalização do SI, com o esquema, representado pela Figura 1, abaixo:

Figura 1: Esquema da Operacionalização do SI

DIÁLOGO -ARTICULAÇÃO - PROBLEMATIZAÇÃO

sica,

ENFOQUE CRÍTICO – INVESTIGATIVO

CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO NA REALIDADE - NOVA PROBLEMATIZAÇÃO

Fonte: (FERREIRA, 2013, p. 194)

A estrutura organizativa proposta para o SI tem como premissa a integração entre professores e alunos, possibilitando o diálogo entre os componentes curriculares, por meio da organização e planejamento coletivo de projetos vivenciais. Também tem como ferramenta básica a pesquisa, na organização interdisciplinar do ensino, para a produção de conhecimentos e desenvolvimento de protagonismo - tanto por parte dos alunos, como por parte dos professores - na resolução de problemas cotidianos, permitindo aprofundar a relação entre teoria e prática. Promover aprendizados socialmente relevantes, que de certa forma “impulsiona alunos e professores a entrarem em movimento na busca de respostas e

CONHECIMENTOS FORMAIS SEMINÁRIO INTEGRADO CONHECIMENTOS SOCIAIS Arte, educação física, língua

portuguesa, língua materna, línguas estrangeiras

Matemática Biologia, física, química Filosofia, geografia, história,

sociologia, ensino religioso Disciplinas profissionalizantes

Pesquisa Linhas de pesquisa

Eixos temáticos Ação –Reflexão –Ação Reconhecimento dos Saberes

Parte-Totalidade Interdisciplinaridade Práticas Sociais Realidade Eixos Temáticos Tranversais Eixos Pedagógicos

na formulação de novas perguntas a partir dos diferentes contextos sociais e produtivos” (ARAGONEZ, 2013, p. 179).

Para que esta ação educativa se efetive na sua plenitude é necessário priorizar, no currículo escolar, uma nova organização dos espaços e tempos na carga horária dos professores para a organização e planejamento do trabalho coletivo, colaborativo e, também, de estudo e aprofundamento da prática pedagógica e profissional do professor. Embora a reflexão na e sobre a ação não seja sinônimo de pesquisa, ela constitui um primeiro passo para o exercício do educar pela pesquisa (DEMO, 2007). Com isso, alunos e professores envolvem-se na elaboração de projetos, tecendo uma rede de conhecimentos que podem ficar somente na elaboração de uma pesquisa teórica ou podem criar possibilidade de intervenção e aplicação dos conhecimentos construídos na realidade em que o aluno está inserido.

A elaboração, planejamento e sistematização da pesquisa como princípio pedagógico é de responsabilidade de todos os professores das áreas e componentes curriculares do EMP. Este é o grande diferencial da reestruturação curricular, que tem na pesquisa a sua base epistemológica e metodológica, cabendo ao aluno ser o sujeito do seu conhecimento e investigação da sua própria realidade.

A pesquisa propicia o desenvolvimento da atitude científica, a criatividade, instiga a curiosidade, gera inquietude nos jovens e adolescentes e, também, contribui, ao longo do tempo, para o desenvolvimento de outros aspectos importantes, como saber analisar, criticar, refletir, interpretar, propor soluções e alternativas para fatos e fenômenos, relacionar e questionar - aspectos potencializadas pelo fortalecimento da pesquisa e da investigação propiciadas nos espaços escolares (JÉLVEZ, 2014).

Desta forma, para que o trabalho pedagógico na escola tenha sentido para aqueles que aprendem, as atividades dos projetos de pesquisa devem proporcionar interação e trocas de experiências entre alunos, comunidade escolar e local, devem contribuir para a geração de alternativas na resolução de problemas presentes na comunidade na qual os alunos estão inseridos. Além disso, o SI possibilita ao alunado ter contato com as novidades trazidas pela pesquisa, compreender e responder as inúmeras perguntas que constantemente surgem e aperfeiçoar ainda mais o que já se sabe. A pesquisa, pensada como princípio pedagógico e orientador da aprendizagem, oportuniza aos estudantes tornarem-se sujeitos da aprendizagem, desperta o prazer e gosto pela investigação, pelo novo, pelo acesso ao conhecimento. Neste sentido, Frison (2012) colabora com o entendimento da importância da pesquisa desenvolvida nos SI, quando afirma que:

Pesquisar transforma-se no grande mecanismo de uma nova proposta educacional, envolvendo professores e alunos num processo de questionamento, construção e reconstrução. Dessa forma, a pesquisa passa a ser fonte de um novo saber, revê a maneira de agir do profissional da educação, estimula o educando a aprender, a pensar e produzir autonomamente (FRISON, 2012, p.114).

Segundo Azevedo & Reis (2013), o SI não pode ser pensado como mais uma disciplina no currículo do EMP e nem compreendida como uma ferramenta para ligar as disciplinas afins e construir de forma pontual e isolada do restante alguns projetos escolares ao longo do ano letivo, mas precisa ser o espaço dinamizador e privilegiado, para o desenvolvimento da atitude crítico- reflexiva dos estudantes, aproximando-os do mundo a ser conhecido e desvelado por meio da investigação e da pesquisa escolar.

Apresento no capítulo a seguir a descrição do contexto da pesquisa, a escola como espaço de organização curricular e os pressupostos metodológicos.

CAPÍTULO 2.

CONTEXTO DA PESQUISA

A pesquisa em sala de aula pode ser compreendida como um movimento dialético, em espiral, que se inicia com o questionar dos estados de ser, fazer e conhecer dos participantes, construindo-se a partir disso novos argumentos que possibilitam atingir novos patamares desse ser, fazer e conhecer, estágios esses então comunicados a todos os participantes do processo (MORAES et al., 2012, p. 12).

Neste capítulo busco explicitar e descrever o contexto da pesquisa. Trata-se de uma investigação sobre a escola em seu meio sociocultural, o Instituto Estadual de Educação Professor Osmar Poppe, localizado na região noroeste do estado, em São Luiz Gonzaga, na região das Missões. Apresento reflexões quanto à forma de organização do SI nos documentos oficiais e na escola. Discuto os pressupostos metodológicos da pesquisa, e a seguir contextualizo a prática docente em relação à minha formação inicial e continuada de professora e pesquisadora.

Pensar e socializar as reflexões da prática educativa deve ser um processo contínuo de desenvolvimento profissional, que precisa acontecer em todo percurso de vida do professor. O encontro com a docência foi marcado pelas inquietudes que o fazer docente provocou e tem provocado, e que vem transformando meu modo de ensinar e aprender. A reflexão contempla a experiência vivenciada por mim em relação ao sentido e finalidade do SI.