• Nenhum resultado encontrado

1 INTRODUÇÃO 24 1.1 JUSTIFICANDO O OBJETO DO ESTUDO

1.4 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DOS DADOS

No processo de organização e construção dos dados, procedemos com o exercício de interpretação e análise do conteúdo das falas dos sujeitos tomamos como referência, alguns princípios técnicos da Psicologia sócio-histórica fundamentada nos estudos de Vygotsky (1991) que se aporta nos princípios da dialética para a construção do conhecimento da realidade. A partir dessa base teórico-metodológica de análise, foi possível compreendermos que o pensamento resulta de experiências vividas e internalizadas mediante processos de elaboração de sentidos e de significados dos sujeitos. Esses processos são construídos em contextos histórico-sociais que definem as condições materiais em que os sujeitos se encontram, sendo as falas a materialidade dessa construção. Essa concepção se enquadra no modelo de construção do conhecimento definido por Schaff (1983), que se opõe aos modelos mecanicistas e idealistas, as quais centralizam a atividade de pesquisa respectivamente no sujeito e no objeto. O autor considera que o conhecimento é construído numa “[...] relação cognitiva na qual tanto o sujeito como o objeto mantêm a existência objetiva e real, ao mesmo tempo que atuam um sobre o outro.” (SCHAFF, 1983, p.75).

Essa reflexão metodológica abordada neste estudo, como vimos anteriormente, tem como ponto de partida o campo empírico, analisando-o além das aparências, observando as contradições que a realidade suscita mediatizada pelo discurso que os sujeitos expressam. Assim, para além da descrição dos fatos, buscamos explicação sobre o objeto de estudo em seu processo histórico, verificando as relações que o determinam. No processo desenrolar da

pesquisa, compreendemos o sujeito numa relação dialética entre o social e o histórico, o que o torna único, singular e histórico, visto que o homem é,

[...] constituído na e pela atividade, ao produzir sua forma humana de existência, revela – em todas as suas expressões – a historicidade social, a ideologia, as relações sociais e o modo de produção. Ao mesmo tempo, esse mesmo homem expressa a sua singularidade, o novo que é capaz de produzir, os significados sociais e os sentidos subjetivos. (AGUIAR; OZELLA, 2013, p.301).

Partimos da realidade em que o objeto se insere para interpretá-lo, tendo em vista que a matéria define a consciência humana, ou seja, a matéria vem primeiro e se constitui na fonte de todas as sensações e percepções. Reafirmando essa premissa, Marx e Engels (1986, p.58) concluem que “[...] os homens ao desenvolverem sua produção material e seu intercâmbio material, transformam também, com esta sua realidade, seu pensar e os produtos de seu pensar. Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência”. Assim, a consciência se torna secundária, por decorrer da matéria, mas, ao mesmo tempo, reflete nesta, transformando-a (RODRÍGUEZ, 2014). Nessa relação, o pensamento é produto da matéria, no seu mais alto grau de perfeição que interage com o cérebro (órgão do pensamento), modificando suas estruturas e originando a consciência em seus diversos níveis de significação, de modo que é impossível separar o pensamento da matéria.

Compreendidas assim, as falas dos sujeitos são expressões do pensamento, constituído de significados e sentidos que resultam das relações histórico-culturais estabelecidas entre os grupos sociais, nas quais, os indivíduos modificam a realidade e agem sobre ela transformando- a em pensamento, criando novas possibilidades de entendimento e de ação. A linguagem é um instrumento fundamental no processo de constituição do homem, no qual o processo, “[...] os signos, entendidos como instrumentos convencionais de natureza social, são os meios de contato com o mundo exterior e, também, do homem consigo mesmo e com a própria consciência.” (AGUIAR, 2001, p. 129). Eles possibilitam a interação da realidade interna do homem com a realidade externa.

Para compreender o pensamento dos sujeitos pesquisados, temos que analisar os processos em que eles se envolvem e que se expressam na palavra com significados específicos, assim como apreender o movimento do pensamento. Para Aguiar e Ozella (2013) os significados são produções históricas e sociais que permitem a comunicação e a socialização de nossas experiências, pois são resultantes da interação do homem com a realidade, por meio de suas atividades, que têm o poder de transformar o natural em cultural.

Aguiar e Ozella (2013, p. 308) recomendam a organização de núcleos de significação como procedimento de análise nas investigações que se inscrevem na abordagem histórico- cultural e dialética, tendo em vista que eles “[...] expressam o movimento de abstração que, sem dúvida, contém o empírico, mas pela sua negação, permite o caminho em direção ao concreto.” Com base nesse referencial, a partir do que foi dito pelos sujeitos nas entrevistas, procuramos entender aquilo que não foi dito: apreender na fala de cada entrevistado, como se construiu seu pensamento concreto (e as contradições que suscita) sobre o objeto investigado, acenando para os sentidos e os significados atribuídos ao PAR, especificamente quanto às ações da dimensão formação de professores.

A construção dos núcleos de significação resulta da percepção de pré-indicadores, que se aglutinam em indicadores. Os pré-indicadores se apresentam nos termos ou nas palavras que se repetem nos discursos dos sujeitos. A partir deles, organizamos os indicadores de significados e de conteúdo. Entendemos que um indicador tem potencialidades diferentes em condições diversas: fases ou etapas da vida, tipos de relações com outros, experiências profissionais, etc. Realizamos o recorte das falas pela sinalização de indicadores, contemplando, principalmente, as experiências e as concepções dos sujeitos sobre o objeto de conhecimento, o que confluiu para a apreensão da totalidade, mediante a integração das partes ao todo, no movimento histórico de sua constituição (AGUIAR; OZELLA, 2013, p. 308).

No processo de construção dos indicadores, delimitamos nosso foco investigativo em dois conceitos teóricos que se constituem em categorias básicas da pesquisa: a regulação, o planejamento e a formação de professores.

A regulação que é uma característica do Estado brasileiro que ganhou maior destaque com o déficit de legitimidade ocasionado pela falência das expectativas do Estado Social que não foram mantidas pela estrutura capitalista a partir dos anos 1970. Assumindo o papel de executor direto, o Estado cria normas para gestão – entende-se aqui privatização e desestatização – atuando como regulador e provedor ou produtor dos serviços (CADEMARTORI, 2006). O Estado Regulador caracteriza-se principalmente pela utilização de competência normativa e outras providências para regular a atuação dos particulares. Na educação se utiliza do planejamento e da avaliação dos resultados para controlar os investimentos e a evolução dos indicadores quantitativos, tendo em vista a melhoria da qualidade de ensino exigidos pelas negociações internacionais (BARROSO; VISEU, 2003; BARROSO, 2004, 2005; MATTOS, 2006).

O planejamento constitui-se em um ato de intervenção técnica e política (CALAZANS, 1990) do Estado na educação que se relaciona a outras formas de intervenção

(leis, educação pública), na implantação de determinada política educacional. Seu objetivo é contribuir para o cumprimento das funções atribuídas (HORTA, 1991). Direciona-se aos sistemas e redes de ensino, requerendo reflexão sobre a realidade, com repercussão sobre a prática concreta, porque visa ao aperfeiçoamento das ações políticas e pedagógicas. Deve, por isso, realizar-se de forma democrática e participativa, portanto na contramão do planejamento estratégico.

A formação de professores é uma política direcionada aos docentes da rede básica de ensino como direito social, visando ao desenvolvimento da profissionalidade e da profissionalização associadas aos processos de aprendizagem e à melhoria do trabalho docente. Nesse aspecto, a formação, como uma prática social e política, precisa ser repensada a partir das necessidades formativas dos professores e das demandas das escolas e dos sistemas de ensino (FREITAS, 2002; GHEDIN, 2008; PIMENTA, 2008).

Após construirmos o conjunto de indicadores e seus respectivos conteúdos, a partir da seleção dos trechos que se repetiam nas falas dos sujeitos sobre um mesmo aspecto, procedemos à análise buscando os significados dessas falas e aglutinando-os com os conteúdos temáticos contidos nas expressões dos sujeitos entrevistados. A partir desse processo, organizamos os núcleos de significação conforme o esquema a seguir:

Quadro 2 – Núcleos de significação

INDICADORES E CONTEÚDOS NÚCLEOS DE SIGNIFICAÇÃO

Outline

Documentos relacionados