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A EMOÇÃO: TEMAS E ABORDAGENS

1.6. EMOÇÃO E INCONSCIENTE

1.6.3. PROCESSAMENTO EMOCIONAL INCONSCIENTE

Com o intuito de estudar a natureza dos processos inconscientes, Erdelyi (1992), Yonescu e Erdelyi (1992) propuseram-se a estudar o "Efeito de Pöetzl". Trata-se segundo aqueles autores, da verificação da hipótese levantada por Otto Pöetzl,

Psiquiatra em Viena, no ano de 1917, quando apresentou a alguns sujeitos, de forma próxima do que é actualmente definido como subliminar, uma imagem visual rica em pormenores, pedindo depois que a desenhassem com a maior precisão possível. Feito isto, solicitou aos sujeitos que voltassem ao laboratório no dia seguinte, altura em que lhes foi pedido que contassem os sonhos que tinham tido nessa noite e desenhassem imagens relacionadas com eles. Segundo Pöetzl, os aspectos do quadro original que não foram incluídos no primeiro desenho, emergiram no desenho elaborado a partir das recordações oníricas. Calazans (1999) acrescenta que Pöetzl ainda demonstrou que as sugestões pós-hipnóticas têm o mesmo resultado prático dos estímulos subliminares para alterar o comportamento humano.

Partindo da constatação de que, quando é permitido aos sujeitos que olhem livremente para qualquer cenário complexo e depois o reproduzam, sempre existirão elementos de estímulo que serão omitidos. Entre aqueles que são reproduzidos, haverá os que são recordados posteriormente e os que não serão (Bowers, 1984; Bowers & Meichenbaum, 1984). Erdelyi (1992), Yonescu e Erdelyi (1992) apresentaram a alguns sujeitos um cenário visual complexo durante 500 milésimos de segundo. Este período de tempo permite que haja a tomada de consciência de parcelas do estímulo apresentado. O objectivo foi exactamente este – permitir que apenas parte do cenário, mas não a sua totalidade, pudesse ser apreendido conscientemente. Após a projecção, foi solicitado que os sujeitos desenhassem, o melhor possível, o que tinham visto. Terminado o desenho, um grupo de sujeitos foi jogar às setas, e outro foi induzido à livre-associação e fantasia sobre o cenário observado. Foram então elaborados novos desenhos do cenário observado, tendo os autores constatado que os sujeitos que praticaram a livre-associação e a fantasia desenhavam com maior pormenor e inseriam elementos antes ausentes, ao passo que com os que foram jogar às setas isto não acontecia. Ao "aperfeiçoamento" da memória, isto é, a recuperação de uma memória anteriormente inacessível, Erdelyi denominou "hipermnésia". Esta foi, portanto, demonstrada através da utilização do método de Pöetzl modificado e por outras técnicas. Assumiu que a recuperação da memória através dos sonhos, bem como através da fantasia e da livre-associação quando em vigília, representa a libertação de recordações suprimidas por outros factores.

Um trabalho bastante interessante no plano clínico, focando a problemática emocional inconsciente foi levado a cabo por Shevrin (1992). Nas suas sessões de

Psicanálise, identificou palavras relacionadas com a experiência consciente dos pacientes com um sintoma, ou com o conflito inconsciente subjacente ao sintoma. Tomando como exemplo um caso em que a queixa apresentada consistia no extremo desconforto do paciente em situações sociais, constatou a consciência do mesmo a respeito do seu sintoma, mas não das causas deste. No decorrer do processo analítico, Shevrin recolheu um conjunto de palavras, seleccionadas por no seu entender captarem aspectos ou de conflitos inconscientes, ou dos sintomas conscientes. As palavras foram apresentadas posteriormente, nas formas aberta e subliminar, tendo sido registadas as reacções cerebrais dos pacientes. Verificou que no tocante às palavras relacionadas com o conflito inconsciente (a causa subjacente do sintoma) as reacções cerebrais eram mais fortemente induzidas através de representações subliminares, enquanto que no caso das palavras relacionadas com o sistema consciente (o sintoma em si) as reacções cerebrais mais pronunciadas verificavam-se a partir das palavras que tinham sido transmitidas conscientemente.

Realizando uma série de investigações que colocavam em evidência a relação inconsciente das emoções com as atitudes, objectivos e intenções, e a influência destas no modo de pensar e agir socialmente, Bargh (1990, 1992) faz algumas constatações. Tendo induzido alguns sujeitos a participar naquilo que lhes foi apresentado como um teste de linguagem, forneceu-lhes cartões onde se encontravam escritas palavras, sendo- lhes solicitado que formassem frases a partir das mesmas. Parte de uma amostra foi instruída a formar frases a respeito de pessoas idosas, enquanto a outra parte recebeu temas variados. Finda esta tarefa, foram instruídos a saírem do local onde se encontravam e dirigirem-se ao átrio do edifício. Sem que os sujeitos fossem informados, foi cronometrado o tempo que cada um deles necessitou para lá chegar. Observou-se que os sujeitos que formaram frases sobre pessoas idosas levaram mais tempo para cobrir a mesma distância do que os outros sujeitos. As frases não incluíam depoimentos específicos relativos a limitações inerentes à idade, como lentidão, senilidade ou doença, mas o facto dos sujeitos concentrarem o pensamento, mesmo que de forma indirecta, na velhice, era suficiente para activar os estereótipos e influenciar o seu comportamento.

Em outro estudo semelhante do mesmo autor, um grupo de sujeitos formou frases a propósito da sua capacidade de "afirmação", e outro grupo da sua qualidade de "ser gentil". Instados a encontrarem-se noutro local com o experimentador que estava

deliberadamente à conversa com outra pessoa, foi registada a quantidade de tempo que esperaram até interromper a conversa. Como previsível os sujeitos das frases "afirmativas" interromperam mais cedo a conversa do que aqueles das frases "gentis".

Uma circunstância importante, apontada por Bargh, é aquilo que denomina de "verso e reverso da actividade inconsciente". Isto significa que, por exemplo, se formos amáveis com alguma pessoa esta poderá retribuir-nos da mesma forma. Noutro contexto, se pelo contrário, e devido a estereótipos e atitudes pré-concebidas, reagirmos a um grupo racial de forma negativa (supondo inconscientemente que os indivíduos desse grupo sejam hostis e agressivos) podemos fazer com que eles nos retribuam de forma semelhante perpetuando o estereótipo. Bargh sustenta que mais importante do que saber se os sujeitos estão conscientes do estímulo detonador é saber se estes têm consciência da maneira como os estímulos estão implícita e automaticamente classificados e interpretados. Sublinha que atitudes, estereótipos, objectivos e afins, emocionalmente conotados, são activados automaticamente, isto é, sem qualquer esforço consciente, o que significa que a sua presença na mente e a sua influência no pensamento e nos comportamentos não são postas em questão. No caso da atitude face a um grupo social, a percepção de cada um pode-lhe parecer tão válida quanto a percepção da cor da sua pele. Somente quando alguém se apercebe dos preconceitos e possui valores contrários a tê-los, é que poderá exercer controlo sobre eles. O que no entanto está dependente de se estar atento à existência de influências inconscientes.