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A EMOÇÃO: TEMAS E ABORDAGENS

1.8. SÍNTESE DO CAPÍTULO

 Num primeiro momento, situamos a problemática da emoção no contexto histórico da ciência psicológica, para compreender as dificuldades e

limitações inerentes à amplitude do tema, bem como a sua evolução mais recente.

 Discutimos diferentes enfoques para a caracterização e definição da emoção, também mencionando a possibilidade da sua distinção do conceito de sentimento. Destacamos as convergências quanto às implicações a nível das sensações do corpo e da relação do indivíduo integrado num contexto ambiental. Optamos por considerar as emoções enquanto processo dinâmico com base nos modelos propostos por William James e Paul Ekman, que contextualizamos relativamente à sua importância enquanto referências para a compreensão do funcionamento das emoções e suas características comunicativas e adaptativas. Estes modelos perspectivam, numa sequência temporal, o desencadear do processo emocional a partir da representação de um objecto emocional exterior, a percepção do mundo, as excitações simpática e somática e o comportamento.

 Relatamos uma retrospectiva exaustiva das emoções que têm sido definidas, por variados autores, como básicas, em virtude de serem inatas, partilhadas com outras espécies e terem expressão semelhante em diferentes culturas. Discutimos este conceito e apresentamos, a partir do modelo proposto por Ortony e Turner, a fundamentação, para aqueles autores, da inclusão dos conjuntos de emoções por eles seleccionados. A partir desta apresentação, analisamos as características positivas, neutras e negativas das emoções básicas e procedemos ao seu agrupamento, segundo esse critério, tendo também quantificado o número de citações, pelos diversos autores, de cada emoção.

 Discutimos o papel da emoção dentro de uma perspectiva da evolução da espécie humana, enquanto elemento fundamental para a comunicação e transmissão de informação essencial para a sobrevivência e preservação da espécie. Salientamos as características adaptativas e cognitivas, mencionadas pelos autores das propostas apresentadas.

 Situamos a emoção na perspectiva do desenvolvimento humano, recorrendo à teoria de Henri Wallon. Com este tópico, procuramos compreender a função da emoção e os seus determinismos, essenciais na construção da

personalidade e na relação do ser humano com o meio envolvente. Descrevemos os processos dinâmicos da progressiva diferenciação do ser do mundo que o rodeia e da sua individualização, caracterizando também as diversas fases e suas implicações rumo à posterior socialização, numa perspectiva dialéctica marcadamente emotiva. Dentro desta lógica, descrevemos a dinâmica das emoções, processo segundo o qual o "social" (ambiente) "molda" o psiquismo, por intermédio das vivências emocionais, sobre o biológico (o ser humano).

 Em virtude da sua importância nos processos emocionais, analisamos e discutimos a noção de inconsciente e as suas implicações na Psicologia, visando o seu enquadramento na perspectiva da actividade emocional.

 Partindo dos primórdios do estudo sistematizado das manifestações do inconsciente emocional, situamos o movimento "New Look" e a sua abordagem da percepção inconsciente, quando foi demonstrada a possibilidade de sujeitos reagirem, a nível do sistema nervoso autónomo a estímulos emocionais, sem terem o conhecimento destes estímulos. O "New Look" formulou o conceito de defesa perceptual, capacidade desenvolvida pelos sujeitos para ignorarem parte de um todo num campo perceptivo, que descrevemos, e o conceito da percepção subliminar, percepção que não é consciente mas é detectada e registada pelo sujeito, que devido ao seu grande desenvolvimento e aplicabilidade, analisamos, caracterizamos e discutimos em pormenor.

 Descrevemos e discutimos estudos sobre o processamento emocional inconsciente, em que são realçados elementos de fundo de um dado campo perceptual que servem de referência para a interpretação e compreensão da figura, o conteúdo das mensagens em maior evidência. Estes elementos, capazes de determinar a atitude do sujeito e posicionar valorativamente a sua percepção, podem, conforme é demonstrado, situar-se no nível inconsciente. É definido e discutido o conceito de hipermnésia, capacidade de recuperação de memórias anteriormente inacessíveis, com particular interesse na perspectiva longitudinal de um dos estudos de campo deste trabalho.

 Relatamos e discutimos a interligação entre a emoção, o inconsciente e a cognição, que têm possibilitado o surgimento de diversas pesquisas, principalmente em função de alguma polémica sobre a dependência ou não da emoção relativamente à cognição. Em sintonia com vários autores, relativizamos essa questão e pomos em evidência o potencial heurístico daí resultante, mencionando interessantes comprovações relativamente ao inconsciente emocional e sua relação com a cognição, como as reacções do tipo "like – dislike" a estímulos inconscientes, as inter relações parciais e simultâneas entre emoção e cognição, a partir de reacções psicológicas e somáticas diferentes perante um mesmo estímulo, o aprendizado de novas reacções emocionais com envolvimento cognitivo mínimo, como no caso dos sabores, a constatação da precedência evolutiva das estruturas do sistema nervoso que se relacionam mais directamente à emoção do que aquelas ligadas à cognição e ainda a capacidade de aprendizagem exercitada durante a infância, marcadamente emocional e inconsciente. Sublinhamos a característica do inconsciente inicial de muitas reacções, inserida na capacidade do organismo poder responder antes de perceber racionalmente o significado específico do estímulo. Um campo por explorar apresenta-se relativamente ao desencadear de reacções fortemente conotadas emocionalmente, como por exemplo no caso das reacções ansiógenas antecipatórias.

 As emoções diferenciais configuram, segundo a perspectiva de Izard, uma base condicionante dos processos de formação da personalidade, por via da sua energia motivacional, activadora das manifestações comportamentais. Centra o desenvolvimento no exercício de emoções básicas, processadas a partir da interacção dos mecanismos neurais de excitação e inibição, das experiências de socialização e no desenvolvimento cognitivo. Tendo sido desencadeado, na dinâmica das emoções diferenciais, um equilíbrio electroquímico, este vai influir na musculatura estriada, organizadora de padrões posturais e faciais específicos, que funcionam como emissores de mensagens para o próprio sujeito e para o observador. A descodificação de mensagens ocorre nas áreas de associação do cérebro, e não é necessariamente consciente. O processamento emocional pode funcionar

independentemente de qualquer processo cognitivo, ou pode haver uma simultaneidade. São também discutidas as respostas emocionais sem a presença de estímulos, que consistiriam em reacções de carácter antecipatório e recordações de estados emocionais específicos desencadeados por vivências corporais. A associação das emoções diferenciais aos motivos, e a assimilação deste processo é fundamental no desenvolvimento humano e reflexo da complementaridade entre o biológico e o psicológico.

 O tópico da comunicação não verbal visa discutir este tema na sua especificidade, a partir de situações concretas empiricamente verificáveis e de investigações acerca do mesmo. Vem complementar as diversas abordagens já feitas e inseridas em outros contextos, por parte dos autores que estudam a comunicação e cujo trabalho tem sido objecto da nossa reflexão nos tópicos precedentes. Estabelecemos paralelos da linguagem verbal com as diversas variáveis não-verbais que constituem o seu potencial comunicativo, para em seguida enquadrarem-se algumas das muitas variáveis que possam constituir uma determinada mensagem. Discutimos e pomos em evidência a característica de orientação e de atribuição de sentidos à comunicação a partir das suas componentes não-verbais e do enquadramento da emoção neste processo. Como consequência, analisamos a importância fundamental da forma e dos conteúdos implícitos na descodificação de mensagens, que abrangem e organizam a percepção dos conteúdos explícitos.

 Com o objectivo de encontrar um suporte teórico que abranja a emoção, vista enquanto interacção dinâmica entre o indivíduo e o meio, ao mesmo tempo que forneça um instrumento passível de ser utilizado numa intervenção concreta, apresentou-se-nos deveras pertinente a teoria relacional de Nuttin. Esta teoria considera como unidade real e funcional da personalidade a unidade de interacção "indivíduo – situação" ou "organismo – mundo".

Se bem que esta teoria não considere explicitamente a problemática da emoção, acaba por fazê-lo de forma implícita, uma vez que a sua ênfase maior, quanto à condição estruturante do funcionamento psíquico, recai

sobre a motivação, conceito que, até etimologicamente, se entrelaça com o da emoção. Discutimos a teoria relacional vista no âmbito das diversas concepções que lhe dão suporte perspectivando a sua actuação, no sentido do equilíbrio entre as necessidades sociais, cognitivas e biofisiológicas, todas consideradas primárias, e precisamente determinantes dos fenómenos emocionais. Analisamos as possibilidades de activação e funcionamento da motivação, focando o seu desenvolvimento no tempo e o papel desempenhado pelos interesses. Consideramos a concepção das atitudes, enquanto tradução e concretização na acção da expressividade emocional, e caracterizamos posturas teóricas que conjugam a emoção e a motivação. Como consequência, apresentamos a "Time Attitude Scale" ("TAS") que propomos para a determinação das variáveis emocionais determinantes da percepção das mensagens e da sua intensidade. Este instrumento foi desenvolvido de acordo com os parâmetros da teoria relacional e apresentou- se adequado para os nossos objectivos.

2.1. ENQUADRAMENTO

Quem esteja familiarizado com o trabalho em imagem audiovisual (televisão, cinema) sabe o quanto é custosa a produção de uma sequência que seja, de uma história qualquer (filme, telenovela, videograma, teledisco, documentário). Normalmente, longas horas de trabalho de equipas com alargado número de profissionais são necessárias para produzir cada minuto daquilo que é apresentado no produto final.

O meio mais abrangente no audiovisual é, inquestionavelmente, a televisão, presença constante na vida de biliões de seres humanos. Em razão do seu poder de atracção, a televisão é, dentro da Comunicação Social, o meio para onde convergem os maiores investimentos feitos em publicidade, na generalidade dos países ocidentais.

Nos dias que correm, e para alargados contingentes populacionais, sobretudo em países onde os hábitos de leitura estão pouco instalados (como a generalidade dos países lusófonos, por exemplo), a afirmação "– se não deu na televisão não aconteceu" parece ser, infelizmente, bastante verdadeira. Prova disto, a mediatização, exposição na Comunicação Social, desesperadamente procurada por inúmeras entidades, e vendida a peso de ouro na sua forma mais directa, a publicidade, explicita ou não.

Um paradoxo, porém, prevalece. A verdade é que, aparentemente, o que nos é dia após dia administrado via televisão parece ser cada vez mais inócuo, propenso ao esquecimento e absolutamente efémero.

Em razão da informação, no sentido lato, que nos é massivamente debitada, tendemos a nos habituar e/ou saturar, e os conteúdos diluem-se na essência daquilo que nos é veiculado. No entanto, subsistem de maneira constante, fragmentos, retratos

coerentes da vida, evocações de sentimentos, que passam a integrar a nossa memória e são referenciados ao longo do tempo subsequente à sua emissão e consequente assimilação.

Se é credível que, como nos propõe o célebre axioma de Watzlawick (Watzlawick et al., 1967): "É impossível não comunicar", a realidade é que aquilo que é comunicado pode, ou não tornar-se parte de nossas referências e influenciar as nossas acções e pensamentos. E o grande drama do comunicador reside exactamente na sua eficiência comunicacional, isto é, fazer com que sua mensagem seja compreendida e interiorizada pelo receptor.