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Processo de constituição dos dados e especificidades da análise

4 O PENSAMENTO ALGÉBRICO NA PERSPECTIVA DA TEORIA DA

5.4 Processo de constituição dos dados e especificidades da análise

Para a organização da coleta de informações, adaptamos as etapas elencadas por Vergel (2016, p. 85) e adotamos as seguintes fases:

Fase 1: Gravação em vídeo de todas as sessões. Fase 2: Transcrição de todos os vídeos

Fase 3: Análise dos vídeos

Conforme já mencionado, a gravação das 10 sessões ocorreu com apenas um equipamento, com foco nas discussões acerca das tarefas que estavam sendo desenvolvidas no decorrer das sessões. Ora o profissional filmava os pequenos grupos, ora o ângulo da câmera focava o grande grupo. Contamos com apenas um profissional com seu respectivo equipamento de filmagem. Uma vez que as salas de aula do NEI/CAp – UFRN são ambientes com tamanhos limitados, sendo assim, não comportaria, por exemplo, um número maior de profissionais com seus equipamentos.

Contudo, a sala de aula é um ambiente dinâmico e complexo, por isso, ao iniciar o processo de transcrição e análise, verificamos que a presença de somente

uma câmera filmadora não contemplou diversos momentos de discussão que poderiam sinalizar estratégias de pensamento ou indícios do pensamento algébrico e os meios semióticos utilizados pelos alunos.

Constatamos que, em diferentes situações, não foi possível realizar o processo de saturação teórica, isto é, o aproveitamento de um acúmulo de informações (filmagem, registro escrito, registro oral, gestos, etc.) que, aportados no referencial teórico da TO, ganhariam significado para compor nossos dados analíticos. Assim, em nosso processo de análise, trabalhamos com dados captados através de uma única câmera filmadora.

A dificuldade na análise com apenas um instrumento de gravação se deu principalmente porque, em todas as sessões, os alunos trabalhavam em pequenos grupos. Então, em discussões específicas de um grupo, ou ao identificarmos registros escritos que poderiam sinalizar indícios de pensamento algébrico de um determinado grupo, não foi possível, em algumas ocasiões, realizar a saturação teórica dos meios semióticos utilizados pelas crianças.

Conforme explicitado anteriormente, nossa unidade de análise não é limitada ao visual ou escrito, uma vez que adotamos a atividade ou labor conjunto como unidade de análise, buscamos descrever e interpretar quais e como os meios semióticos são utilizados pelos alunos para manifestação do pensamento. Constituindo, assim, uma análise complexa, principalmente por envolver uma amálgama de elementos semânticos.

Rose (2002, p. 345) aponta que “em vez de procurar uma perfeição impossível, necessitamos ser muito explícitos sobre as técnicas que nós empregamos para selecionar, transcrever e analisar dados”. Considerando tal apontamento, organizamos nosso processo de análise, não a partir de uma técnica, e sim mediados pela compreensão de que nosso olhar investigativo acerca das informações contidas nos vídeos, notas de aula, transcrições e registros escritos dos alunos, mesmo com algumas limitações, seriam transformados em dados analíticos ao atribuirmos sentido a partir dos seguintes pontos: identificar a) a existência do indeterminado; b) a referência a indeterminação por meios semióticos; e analisar c) se as estratégias demonstradas pelas crianças apresentavam características do pensamento analítico, de acordo com a TO.

No processo de caracterizar as estratégias de pensamento demonstradas pelos alunos para investigar indícios do pensamento analítico, assistimos as gravações e realizamos as transcrições das sessões na íntegra, indicando a participação oral de cada criança com as iniciais do nome e sobrenome. Os turnos de fala são identificados após cada diálogo transcrito, pela identificação do tempo exato da fala, expressa em horas, minutos e segundos, entre colchetes.

Para a realização e organização das transcrições, adaptamos o modelo apresentado por Queiroz, Zanelato e Oliveira (2008) e Larrys (2019).

Quadro 16 – Modelo organizador da transcrição

Símbolo Significado

( ) Incompreensão de palavras ou segmentos

(hipótese) – Hipótese do que se ouviu

/ Truncamento na fala

MAIÚSCULA Entonação enfática

sí-la-ba Silabação

... Qualquer pausa

((minúscula)) Descrição de ações e/ou gestos relevantes ao estudo -- -- Comentários que mudam a sequência temática da ideia em

exposição

[ Superposição, simultaneidade de vozes

(...) Indicação de que a fala foi tomada ou interrompida “ ” Citações literais de textos durante a gravação { } Indicação de fala de participante não identificado [conversa paralela] Diálogo não relacionado às discussões em pauta

#@!% Palavra de baixo calão

Aluno(a) e iniciais do nome e sobrenome

Identificação dos participantes da pesquisa

Professora Professora

A Assistente de gravação

Fonte: adaptado de Queiroz, Zanelato e Oliveira (2008) e Larrys (2019)

O modelo adaptado para a organização das transcrições se fundamenta na prioridade em expressar a interação e proximidade entre os participantes da situação (QUEIROZ, ZANELATO, OLIVEIRA, 2008).

Nas análises exibimos apenas trechos das transcrições que possam indicar a presença do indeterminado e a referência a ele por meio da expressão semiótica, com isso, verificamos nas tarefas xerografadas o registro escrito discutido naquele turno de fala e descrito na transcrição. Assim, tentamos verificar por meio da imagem, da fala do aluno e do registro escrito o modo que ele utilizou os meios semióticos, a fim de investigar a presença ou não da analiticidade.

Ressaltamos que nem sempre foi possível integrar filmagem (áudio, imagem) e registro escrito da tarefa, uma vez que, conforme já explicado, os turnos de fala aconteciam simultaneamente nos pequenos grupos, e a presença de apenas uma câmera prejudicou a captação e discussão de algumas estratégias das crianças.

Assim, no próximo capítulo apresentamos a análise multimodal de tarefas realizadas na atividade ocorrida com nossos alunos do NEI/CAp-UFRN.

6 ANÁLISE MULTIMODAL DE TAREFAS

A presente investigação objetiva responder ao seguinte questionamento: No

processo de introdução à álgebra, o que caracteriza, a partir da TO, as estratégias de pensamento suscitadas por crianças do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental do NEI/CAp-UFRN, em tarefas que abordam sentenças matemáticas em que um dos termos é desconhecido? Para isso, buscamos analisar indícios de pensamento

analítico na atividade de crianças do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental, no NEI/CAp- UFRN. Consideramos o pensamento como “uma forma de refletir sobre o mundo34

(D’AMORE; RADFORD; BAGNI, 2017, p. 174, tradução nossa), à vista disso, é relevante conhecer, valorizar e compreender como as crianças expressam o pensamento no processo de introdução à álgebra.

Logo, no presente capítulo, descrevemos e interpretamos situações ocorridas nas sessões, em que, por meio das filmagens, transcrições e registros escritos produzidos pelos alunos, identificamos a) a existência do indeterminado; b) a referência a indeterminação por meios semióticos; e analisamos c) se as estratégias demonstradas pelas crianças apresentavam características do pensamento analítico. Nossa análise, então, se baseia nos três vetores do pensamento algébrico indicados por Radford (2010, 2013, 2018a).

Em decorrência do volume de produções para a análise, optamos por priorizar as situações com jogos (Quadro 15) em que a presença do indeterminado se fez mais evidente, bem como dar enfoque aos registros em que as filmagens e produções escritas permitiam uma visualização relativamente detalhada das estratégias de pensamento com o indeterminado, apresentadas pelos estudantes. Optamos por não analisar os registros em que não foi possível identificar as estratégias de pensamento dos alunos, seja em decorrência da objetividade na produção escrita ou da deficiência no processo de captação dos momentos em que essas estratégias se evidenciavam. Da mesma forma, não foram analisados registros cuja a estratégia se assemelhava aquelas já analisadas.

6.1 Episódio de análise 1 - o emprego de estratégias aritméticas no processo de