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Processo de Integração no Mercosul

E DO MERCOSUL P ietro d e B iAse d d iAs

2. Processo de Integração no Mercosul

Ao contrário da União Europeia, que possui instituições dotadas de suprana- cionalidade, o Mercosul é uma organização de natureza intergovernamental, ou seja, segue a liturgia do Direito Internacional Público para a internalização de tratados, e portanto, não produz direito comunitário. Suas bases jurídicas re- pousam sobre o Tratado de Assunção, assinado por Argentina, Paraguai, Uru- guai e Brasil em 26 de março de 1991.

Este tratado fundador estabeleceu as diretrizes para a consolidação de uma união aduaneira cujas inalidades em muito se assemelham às da União Europeia, visto que ambas perseguem o desenvolvimento econômico e social pela integração regional. Para tanto, assim como no caso europeu, faz-se mis- ter uma cooperação entre os Estados de modo a consolidar a segurança jurídi- ca necessária para o empreendedorismo e o progresso.

O estágio de cooperação jurídica em matéria civil no Mercosul ainda se revela primitivo. Entretanto, desde a assinatura do Tratado de Assunção, os pa- íses-membros têm-se mostrado dispostos a estabelecer um sistema processual robusto. Já se vislumbra instrumentos jurídicos vinculantes importantes (não pela quantidade e sim pela qualidade), que em conjunto podem ser tomados como sendo o início de um Direito Processual Civil mercosulino.

Insiste-se que esse sistema de cooperação ainda precisa avançar para se alcançar o satisfatório, depreende-se, por conseguinte, alguns entraves na co- operação jurídica em matéria civil no Mercosul.

Diante do exposto e dos objetivos desse trabalho, traz-se à baila o Pro- tocolo de las Leñas sobre Cooperação e Assistência Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa.

A. Protocolo de las Leñas

Firmado no Valle de las Leñas na Argentina, em 27 de junho de 1992, já rati- icado por todos os países, esse Protocolo versa sobre a cooperação jurídica em diversas matérias, dentre elas a civil, que os Estados-membros poderiam se valer em casos de litígios transnacionais.

Assim como o Regulamento 1206/2001 da União Europeia, esse Protocolo prevê a igualdade de tratamento processual e comunicação direta entre os Esta- dos, por meio de autoridades centrais14. Estabelece, ainda, procedimentos simpli-

icados de cooperação interjurisdicional entre os membros, cartas rogatórias para atendimento de medidas de simples trâmite ou probatórias, dentre muitos outros.

14 O art. 2º dispõe que cada Estado-membro deverá indicar uma autoridade central encarre- gada de receber e dar andamento às petições de assistência jurisdicional nas matérias do referido Protocolo. No caso brasileiro, foi determinado que o Ministério da Justiça seja o responsável por intermediar a comunicação processual.

Este diploma, não obstante, embora já incorporado há oito anos pelo Bra- sil ainda não mostrou a que veio. Isso se deve em grande medida ao próprio sis- tema de integração mercosulino. Diferente do que acontece na União Europeia, o tribunal instituído para ser o intérprete do direito do Mercosul, o Tribunal Per- manente de Revisão (TPR), não emite decisões vinculantes, como acontece na Cúria Europeia por meio dos reenvios prejudiciais. Os entendimentos do TPR são em sede de opinião consultiva, sendo, assim, facultativo ao Estado cumprir.

Há de suscitar, tão logo, que o sistema de soluções de controvérsias mer- cosulino tem diicultado a maior integração regional, haja vista que os juízes nacionais, no que lhes diz respeito, atuam de maneira completamente autô- noma na aplicação do direito do Mercosul, pois se de um lado não se sentem subordinados às decisões do Tribunal do Mercosul, de outro, quase não enfren- tam matéria de direito mercosulino, visto que, raramente, ele é invocado pelas partes litigantes.

O Protocolo de las Leñas, apesar de imbuído de uma lógica moderna para a cooperação jurisdicional, não alcança seus ins de celeridade e desburocra- tização nos litígios transfronteiriços em matéria civil no Cone Sul. Ressalta-se, ainda, que não há consenso na doutrina sobre sua utilização e interpretação. Ademais, os países não se furtam a ignorar o tratado em detrimento de dispo- sições de direito interno.

B. Jurisprudência brasileira

No tocante ao caso brasileiro, inicialmente, o Supremo Tribunal Federal enten- deu que mesmo com a entrada em vigor de las Leñas, a análise de cartas rogató- rias era competência constitucionalmente atribuída do Superior Tribunal de Jus- tiça. É dizer que os juízes federais de 1ª Instância não se mostrariam competentes para cumprir cartas rogatórias expedidas por países do Mercosul. Atualmente, esse entendimento pode ser relativizado, embora ainda haja uma considerável parte da doutrina que considere que las Leñas viola a soberania nacional15.

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em sede de Agravo de Instru- mento, entendeu que o Protocolo de las Leñas pode ser invocado para ob- tenção de provas, in casu, inquirição de testemunha que vive em outro país-

15 “A celebração do Protocolo de las Leñas em nada alterou essa regra constitucional de com- petência, mesmo porque os atos de direito internacional público, como os tratados ou con- venções internacionais, estão rigidamente sujeitos, em nosso sistema jurídico, à supremacia e à autoridade normativa da Constituição da república. Essa compreensão do tema - que confere absoluta precedência hierárquico-normativa à Constituição Federal sobre os trata- dos e atos internacionais celebrados pelo Brasil. (...) Mais do que isso, a própria concessão do exequatur - ainda que com fundamento no Protocolo de las Leñas - não dispensa nem afasta a necessária intervenção do Presidente do Supremo Tribunal Federal, com exclusão, por efeito de expressa regra constitucional de competência, de quaisquer outros magistra- dos brasileiros” RCL 717, STF, 1998.

-membro, sem qualquer prejuízo. No julgado em tela, a testemunha morava no Chile, que por sua vez é membro associado do Mercosul. O tribunal negou provimento ao recurso, com fulcro no artigo 5º, cuja disposição16 versa sobre a

descaracterização de Estado-parte para os membros associados.

É interessante mencionar, por im, que no anteprojeto do novo Código de Processo Civil brasileiro, Projeto de lei 166/2010, em tramitação no Senado Federal, foi dedicado um capítulo à cooperação internacional de sorte a dirimir algumas dúvidas sobre seu papel no nosso ordenamento jurídico. Salienta-se, ainda, que segundo o artigo 28 desde projeto de lei, será objeto de pedido de cooperação a obtenção de provas em âmbito civil. Os juristas buscaram uma forma de sistematizar las Leñas, se inspirando em disposições mais arejadas como o Regulamento 1206/2001 da União Europeia. Outrossim, ao consagrar o auxílio direto como prioritário, sempre que possível, poderá se entrever um es- vaziamento do trabalho dos juízes do Superior Tribunal de Justiça, permitindo, dessa forma, uma melhor prestação jurisdicional.

Conclusão

A União Europeia tem-se mostrado vitoriosa e bem-sucedida em seu processo de integração regional, chegando à marca dos US$17, 35 trilhões17 de produto

interno bruto, o maior do planeta. Atribui-se a esse invejável desenvolvimento não somente à eliminação de barreiras alfandegárias e à uniicação dos mer- cados, como, principalmente, a uma ordem jurídica capaz de enfrentar todas as questões oriundas de um sistema integrado. Nesse mesmo diapasão, não se deve olvidar o caráter supranacional das instituições europeias, sendo sine qua

non para implementar todas as reformas de que o bloco precisa. Uma delas é a

temática desse trabalho, a cooperação jurídica em matéria civil. A experiência europeia com litígios transfronteiriços mostra ser factível alcançar um sistema integrado de Estados, diga-se de passagem, muito diferente, juridicamente se- guro, que assegure todas as garantias constitucionais e que não suplante as legislações nacionais. Ilustrou-se com o caso 170 de 2011 da Corte Europeia de Justiça cujo acórdão revela, ao mesmo tempo, a cogência do direito comuni- tário e seu respeito às instituições locais. Provando, inalmente, que o direito europeu não esvaziou, por completo, as competências nacionais. Pelo contrá- rio, as convalidou.

16 O artigo 5º do Protocolo de las Leñas dispõe que o Estado deverá enviar às autoridades jurisdicionais do outro Estado carta rogatória em matéria civil, comercial trabalhista ou administrativa, quando tiver por objeto diligências de simples trâmite e recebimento e ob- tenção de provas.

No caso do Mercosul, depreende-se que, depois de muito engatinhar, ele está prestes a caminhar, caso executadas algumas mudanças. A experiência eu- ropeia ensina que é possível harmonizar o direito comunitário ao direito interno. Para isso, fez-se mister abdicar um pouco da soberania nacional em prol do cole- tivo de sorte a gozar do que este tem de melhor a oferecer. Note-se que o Mer- cosul possui um PIB estimado em US$ 3 trilhões, a 5ª maior economia do mundo. Precisa, no entanto, deslanchar todo seu potencial produtivo e seu mercado con- sumidor, que andam muito represados. Se o Mercosul almeja realmente chegar a posições de relevância no cenário internacional, de política externa, é preciso que promova reformas estruturantes de modo a fazer de nossos mercados um atrativo ao investimento. Pela ordem jurídica atual, não será possível fazê-lo.

O Mercado Comum do Sul, como ora esboçado, segue os ritos clássicos do Direito Internacional Público, evidenciados pela observância da reciprocidade e do pacta sunt servanda, que se tem revelado insuicientemente lento para atender as demandas crescentes das empresas e dos nacionais. Salienta-se que, para a cooperação jurídica, faz-se necessário uma centralização regional, de forma que haja um tribunal soberano encarregado de uniformizar a juris- prudência do direito do Mercosul, cujos entendimentos sejam vinculantes. Por outro lado, uma descentralização local permitiria que juízes de 1ª e 2ª instâncias pudessem apreciar, sem qualquer prejuízo, o direito do bloco, eliminando, de- initivamente, como no caso brasileiro, a necessidade do Superior Tribunal de Justiça de examinar os pedidos de cooperação de países mercosulinos.

O vínculo associativo e seu ordenamento jurídico é a percepção de uma reciprocidade de interesses. É a certeza de que nenhum Estado sobrepor-se-á à vontade do outro, é o entendimento de que todos ganharão. Do contrário, não irmariam acordo algum. No Mercosul ainda paira a desconiança de que há Esta- dos-parte que buscam ganhar às custas de outros. É um sentimento anacrônico com a realidade. Assim como a União Europeia que se irmou como um podero- so ator no sistema internacional sob o signo da tutela da paz, os líderes mercosu- linos devem procurar o que os une, que não é pouco. Para, assim, consolidar um sistema efetivo de integração. O fortalecimento institucional é fundamental para concretizar a integração pretendida com as assinaturas de Assunção.

Referências Bibliográicas

1. Livros

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RAMOS, Rui Manoel Gens de Moura. A reforma do direito processual civil inter- nacional. Coimbra: Coimbra Ed., 1998.

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2. Documentos on line

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Conclusões da Presidência <http://www.europarl.europa.eu/summits/tam_

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à citação e à notiicação dos atos judiciais e extrajudiciais em matérias civil e comercial nos Estados-Membros Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/ legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX:32000R1348&qid=1402292550047> Aces- so em junho de 2014.

Decreto nº 2.067, de 12 de Novembro de 1996 que promulga o Protocolo de

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Projeto de Lei 166 de 2010 do Senado Federal do Brasil

3. Jurisprudência

CJCE, 6 de Setembro de 2012, Primeira Secção do Tribunal de Justiça da União Europeia, C— 170/11.

________, 27 de Setembro de 2007, Quarta Secção do Tribunal de Justiça da União Europeia, C-175/06.

STF, Reclamação no. 717, 1998 — Min. Relator: Celso de Mello. STF, CR no. 7613 AgR, STF, 1998— Min. Relator: Sepúlveda Pertence.

líviAdA silvA ferreirA1*

Resumo

O modelo de controle de constitucionalidade francês serviu por anos como exemplo do único sistema no qual o exame de compatibilidade entre normas infraconstitucionais e o texto da Constituição era realizado pelo Conselho Constitucional — órgão político — de maneira preventiva. Como resultado da falta de proteção dos direitos e liberdades constitucionais, a Constituição Fran- cesa de 1958 foi gradualmente perdendo sua supremacia. Em 2008 foi aprova- da uma Lei Constitucional que inseriu no ordenamento jurídico francês a Ques- tão Prioritária de Constitucionalidade, mecanismo que confere aos litigantes a prerrogativa de contestar a constitucionalidade de uma disposição legislativa que julguem ser violadora de seus direitos e liberdades constitucionais, criando assim um modelo de controle de constitucionalidade repressivo. Este estudo analisa as características da QPC e suas relações com o já existente controle de convencionalidade — que examina a compatibilidade entre compromissos internacionais e a lei interna — e de que maneira estes dois tipos de controle, tão parecidos, se compatibilizam e coexistem.

Palavras‑chave

Controle de Constitucionalidade; Direito Constitucional Francês; Reforma da Constituição Francesa; Direitos e Liberdades Constitucionais; Questão Prioritá- ria de Constitucionalidade; Controle de Convencionalidade; Direito Comunitá- rio; União Europeia.

1 — Introdução

O trabalho em tela é resultado do interesse em realizar uma pesquisa que en- volve o direito constitucional francês e o direito europeu, considerando que a República Francesa — que desde 1958 mantinha o controle de constitucio-

1 Mestra em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC-Rio e graduada em Direito pela FGV DIREITO RIO. Pesquisadora no projeto Supremo em Números, da FGV DIREITO RIO.

nalidade de leis exclusivamente preventivo — a partir de 2010 passou a reali- zar também o controle de constitucionalidade das leis a posteriori. A Reforma Constitucional Francesa teve início em 2008, foi inserida no ordenamento jurí- dico francês pela Lei Constitucional n° 2008-724 de 23 de julho de 2008, “Lei de modernização das instituições da Vª República”, e criou a Quéstion Prioritai-

re de Constitutionnalité (Questão Prioritária de Constitucionalidade — QPC2).

A palavra prioritária3, de acordo com o dicionário Priberam da Língua Por-

tuguesa, signiica: que goza de uma prioridade sobre os outros. No mesmo sentido vale citar o signiicado encontrado no dicionário de português online Michaelis, no qual a palavra prioritária4 é deinida como: que tem prioridade.

Segundo o dicionário online de português Houaiss, prioritária5 também é dei-

nida como: aquela que tem prioridade.

Neste sentido, vale citar ainda que “prioritaire”6 segundo o dicionário Le Petit Robert, em tradução livre, signiica: 1 — que tem prioridade, e 2 — que vem em primeiro por ordem de importância.

Esta prioridade reside na importância do questionamento de constitucio- nalidade, que, uma vez apresentado por um jurisdicionado dentro de um pro- cesso em curso, deve ser analisado de imediato e o referido processo que o originou deve ser suspenso até a decisão inal a respeito da constitucionalidade da disposição legislativa ser contestada. O referido entendimento é apoiado por Marc Guillaume, Secretário Geral do Conselho Constitucional, para quem o caráter prioritário da QPC signiica que ela “doit être regardée prioritairement

avant toute autre” 7.

2 “QPC: questão prioritária de constitucionalidade. Esta abreviação soa estranha e certamen- te carece de elegância. No entanto, vai se impor rapidamente nos aniteatros e templos, nas revistas de jurisprudência, nos currículos de ensino, nos escritórios de advogados, nas salas de audiência e, a curto prazo, em todas as proissões do direito”. Tradução livre do autor.

Versão original: QPC: question prioritaire de constitutionnalité. Ce sigle résone bizar-

rement et manque assurément d’elegance. Il va pourtant s’imposer rapidement dans les amphithéatres, les revues de jurisprudence, les programmes d’enseignement, les cabinets d’avocats, les salles d’audience, bref, dans toutes les professions du droit. (ROUSSEAU, Do-

minique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed,. Paris: Gualino, 2012, p.11).

3 Pri·o·ri·tá·ri·o (francês prioritaire). Adjetivo: Que goza de uma prioridade sobre os outros. “Prioritária”, in dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

4 Pri.o.ri.tá.ri.o adj (lat med priorit(ate)+ário). Que tem prioridade, in dicionário de português online Michaelis.

5 Prioritário - adj. Que tem prioridade, in dicionário online de português Houaiss.

6 Prioritaire: 1. Qui a la priorité. Le véhicule venant de la droite est prioritaire. Personne priori- taire. SUBST. Un, une prioritaire. Voie prioritaire, où l’on a la priorité. 2. Qui vient en premier par ordre d’importance, d’urgence. Secteur économique prioritaire.Objectif prioritaire. Adv.

prioritairement, in Le Petit Robert Dictionnaire de La Langue Française.

7 GUILLAUME Marc, « QPC: textes applicables et premières décisions », Les nouveaux cahiers du Conseil constitutionnel, n° 29, dossier : la question prioritaire de constitutionnalité, p. 2. Disponível em: http://www.conseil-constitutionnel.fr/conseil-constitutionnel/root/bank/ pdf/conseil-constitutionnel-52730.pdf

A Lei Orgânica nº 2009-1523, publicada em 11 de dezembro de 2009, re- gulamentou a Lei Constitucional e estabeleceu as condições para aplicação do artigo 61-1 da Constituição, e a QPC entrou em vigor em 1º de março de 2010 criando no sistema jurídico francês o controle de constitucionalidade a

posteriori ou repressivo. Foi determinado pela Lei Constitucional que o órgão

competente para examinar os questionamentos seria o Conselho Constitucio- nal Francês, que já realizava o controle a priori.

Ocorre que a QPC não pode ser o mecanismo utilizado para o exame de conformidade entre compromissos internacionais e a lei interna francesa, visto que a realização deste controle se dá por meio do “controle de con- vencionalidade de leis”, que é realizado pelos tribunais judiciais e adminis- trativos franceses.

Desta maneira, a importância e justiicativa do presente trabalho residem no interesse em estudar como a QPC se adéqua às regras do Bloco Europeu e como de fato ocorre a interação entre os dois sistemas. Os objetivos princi- pais deste trabalho são, por sua vez, analisar as características da QPC como mecanismo para proteger os direitos e liberdades fundamentais consagrados constitucionalmente, bem como também identiicar se o controle repressivo introduzido pela QPC de alguma maneira gera conlitos ou incompatibilidades com o já existente controle de convencionalidade.

Logo, o trabalho em tela buscará apresentar a Questão Prioritária de Constitucionalidade e explicar o seu mecanismo de funcionamento, os legi- timados para apresentá-la, os tribunais competentes para recebê-la, as nor- mas que podem ser objeto de um questionamento em sede de QPC, assim como as normas constitucionais que podem ser invocadas em sede de QPC, além de apresentar as consequências de uma decisão de QPC e seus princi- pais efeitos.

Posteriormente, o trabalho irá expor os questionamentos levantados no intuito de constatar se o controle da Questão Prioritária de Constitucionali- dade é antagônico e oferece riscos de contradição em relação ao controle de