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I — Mecanismos da Política Migratória Europeia

3. Regulamentos Dublin II e

O Regulamento Dublin II substituiu, em 2003, a Convenção de Dublin de 1990, que estabelecia os critérios que ajudam a deinir o país responsável para tratar um pedido de asilo. O regulamento é aplicado por todos os Estados-membros da UE e ainda pela Noruega, Islândia, Suíça e Liechtenstein. Partindo do princí- pio de que apenas um Estado-membro deve ser responsável por cada pedido de asilo, o Regulamento Dublin II visa facilitar o processo de concessão de asilo e evitar que uma mesma pessoa o solicite em mais de um país-membro, de modo a não sobrecarregar o sistema e evitar que os requerentes iquem transi- tando de um país para outro até a obtenção do status de refugiado.

20 Tal princípio consta na Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, artigo 33: “Ne- nhum dos Estados contratantes expulsará ou repelirá um refugiado, seja de que maneira for, para as fronteiras dos territórios onde a sua vida e a sua liberdade sejam ameaçadas em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, iliação em certo grupo social ou opiniões políticas”.

21 KUMIN, Judith. Revista Refugees. Control vc. Protection. UNHCR, n°148, 2007. Disponível em: <http://www.unhcr.org/publ/PUBL/475fb0302.pdf>

Para determinar qual o Estado-membro é responsável por cada pedido de asilo, existem critérios “objetivos e hierarquizados” 22 a serem seguidos.

São eles: 1) o princípio da unidade familiar, segundo o qual icará responsável pela análise do seu pedido de asilo o país no qual se encontre um membro da família do requerente em situação legal. Isso é válido para maiores de idade e, principalmente, para o caso de o requerente ser um menor desacompanhado. No caso de não haver parentes residentes em nenhum país-membro da UE, o Estado responsável será aquele ao qual o requerente apresentou seu pedido. Além disso, poderão ser avaliados em conjunto pedidos de asilo apresentados por vários membros de uma mesma família, desde que haja pouca distância de tempo entre os pedidos; 2) Emissão de autorizações de residência ou vistos: Será responsável pela análise do pedido de asilo o Estado-membro que tenha emitido uma autorização de residência ou visto válido ao requerente, e, no caso de haver autorizações emitidas por mais de um país-membro, deverá se ocupar da análise do pedido aquele estado que tiver emitido a autorização cuja vali- dade cesse mais tarde; 3) Entrada ou estada ilegal num Estado-membro: se o requerente do pedido de asilo tiver atravessado irregularmente as fronteiras de um Estado-membro, este será responsável pela análise do pedido de asilo. Esta responsabilidade é valida por até 12 meses após a data em que o requerente atravessou irregularmente a fronteira. 4) Entrada legal num Estado-membro: se um cidadão de um país terceiro apresentar um pedido de asilo num Estado- -membro em que está dispensado de visto, esse Estado-membro será respon- sável pela análise do pedido de asilo; 5) Pedido apresentado numa área de trânsito de um aeroporto: se um nacional de um país terceiro apresentar um pedido de asilo numa zona de trânsito de um aeroporto de um Estado-Membro, este será responsável pela análise do pedido23.

No caso de não ser possível, com base nos critérios acima mencionados, atribuir responsabilidade pela análise de um pedido de asilo a nenhum país- -membro, o primeiro ao qual o pedido de asilo foi apresentado deverá se en- carregar de sua análise. Qualquer Estado-membro pode, a pedido de outro, aceitar analisar um pedido de asilo pelo qual não é responsável, contanto que as pessoas interessadas estejam de acordo24.

Geralmente, o responsável pela análise do pedido de asilo é o país no qual o requerente entra primeiro. Isso gera uma maior pressão nos países-membros

22 Regulamento (CE) n.º 343/2003 do Conselho, de 18 de fevereiro de 2003. Disponível em: <http://europa.eu/legislation_summaries/justice_freedom_security/free_movement_of_ persons_asylum_immigration/l33153_pt.htm>

23 Regulamento (CE) n.º 343/2003 do Conselho, de 18 de fevereiro de 2003. Disponível em: <http://europa.eu/legislation_summaries/justice_freedom_security/free_movement_of_ persons_asylum_immigration/l33153_pt.htm>

cujas fronteiras coincidem com as fronteiras externas da UE, principalmente aqueles do sul e sudeste da Europa, que são geograicamente mais próximos dos países que são origem da maior parte dos requerentes de asilo e refúgio na Europa, como é o caso daqueles no norte da África e Oriente Médio. Assim, países como Itália, Grécia, Malta e Bulgária têm seus sistemas de concessão de asilo pressionados pelo grande luxo de pessoas que entra e, muito frequen- temente, esses países não têm condições econômicas e sociais de acolher e oferecer proteção e apoio aos requerentes de asilo25.

O Regulamento Dublin III, por sua vez, foi lançado em julho de 2013 para atualizar e complementar o anterior, e é baseado nos mesmos princípios dos dois anteriores, principalmente no que diz respeito ao fato de que o Estado- -membro no qual o requerente entra primeiro é que tem a responsabilidade de analisar o seu pedido de asilo. Nesse novo regulamento, regras, prazos e outras responsabilidades passaram a ser mais bem deinidos entre os Estados para evitar que as pessoas que solicitassem asilo fossem prejudicadas por uma burocracia excessiva e lenta. Enquanto espera por uma decisão no que tange à concessão do asilo, o requerente tem o direito de permanecer no país onde se encontra naquele momento26.

Uma nova cláusula foi introduzida no Regulamento Dublin III, segundo a qual é proibido a um Estado-membro transferir uma pessoa para outro Estado- -membro se ela corre o risco de sofrer tratamento desumano. Outra inovação é o novo sistema de vigilância, o chamado “early warning mechanism”. Com o monitoramento constante dos sistemas de asilo dos Estados-membros, busca- -se tornar mais fácil detectar os problemas referentes a essa questão. Para que o Sistema Europeu Comum de Asilo funcione bem, é necessário que os Estados-membros implementem eicientemente a legislação, coniem uns nos outros (princípio da coniança mútua) e tenham em mente suas obrigações no direito internacional.