2. INSTRUMENTOS PARA A SUSTENTABILIDADE DA GESTÃO E
2.2. Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos: uma perspetiva global
2.2.4. Características dos RU
2.2.4.3. Produção
O peso médio de resíduos sólidos produzidos por habitante (capitação) tem tendência a
aumentar com o decorrer do tempo e com o aumento do nível socioeconómico das
populações. Esta última situação torna-se evidente, na medida em que a elevação do nível de
vida se traduz, em geral, no desenvolvimento de hábitos mais consumistas, com a
consequente produção de maiores quantidades de resíduos.
A Figura 2.3 mostra o crescimento de resíduos a par do Produto Interno Bruto (PIB) e da
população sendo que a tendência de crescimento de resíduos se deu a uma taxa ligeiramente
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Figura 2.3: Evolução da produção de resíduos, crescimento do PIB e população nos países da OCDE para o período 1980-2020.
(Fonte: OECD, 1999, citado por OECD, 2001)
Deve, contudo, notar-se que, em termos de peso específico, a tendência é por vezes
invertida, em resultado de modificações introduzidas nos sistemas de embalagem e a
generalização do uso de novos materiais (caso de plásticos), entre outros fatores.
Note-se que a capitação é, geralmente, expressa em peso e não em volume, por razões
que se prendem com o facto deste último indicador ser facilmente alterado com as sucessivas
compactações de que os resíduos são em geral objeto, desde a recolha até ao destino final e
ainda por se constatar que o peso específico dos resíduos é extremamente variável de local
para local.
A Figura 2.4 mostra claramente três situações específicas: 1) incremento na produção de
resíduos após a Segunda Guerra Mundial; 2) uma crise petrolífera provocada pela Guerra de
Yom Kipur em 1973, que originou uma recessão económica refletida na estabilização da
produção de resíduos; 3) a crise dos anos 90, associada à Guerra do Golfo, onde houve uma
falta de investimento com recuo da economia. Em cada uma das situações reflete-se
claramente uma relação directa entre fatores socioeconómicos e produção de resíduos.
PIB
RU
População
PIB
RU
População
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Figura 2.4: Evolução da produção de resíduos por tipologia nos países ocidentais. (Fonte: adaptado de Duflon e Maystre, 1994)
A Figura 2.4 reflete ainda a importância que, a partir dos anos 80, alguns países
começaram a dar à valorização de alguns resíduos como o vidro, o papel e cartão, e os
resíduos orgânicos, estes últimos através da compostagem. De notar ainda, nos finais dos anos
90, uma tentativa débil para a reciclagem dos plásticos. Ilustra-se assim, de uma forma clara, a
importância da caracterização quantitativa e qualitativa dos resíduos na compreensão da sua
dinâmica a par de todos os fatores sociais e económicos.
De acordo com Tanaka (2007) foram realizados estudos na Universidade de Okayama no
Japão, relativos a consumo de produtos e produção de resíduos sólidos a nível global, que
demonstraram que no ano 2000, a produção total estimada de resíduos em todo o mundo foi
de 12,7 mil milhões de toneladas. A projeção para o ano de 2050 aponta para uma produção
anual estimada de 27 mil milhões de toneladas de resíduos sólidos. Já a projeção para o
consumo total de materiais em todo o mundo em 2050 é superior a 100 mil milhões de
toneladas de matéria-prima (Tanaka, 2007). A Figura 2.5 apresenta a projeção para a
produção de resíduos na OCDE para o ano de 2030 cujas projeções são baseadas nos dados da
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Figura 2.5: Produção de RU na OCDE (1980-2030). (Fonte: OCDE, 2008)
Segundo a OCDE (2008), o aumento na produção de RU entre 1980 e 2000 foi de cerca
de 58% (2,5% ao ano), e de 4,6% (0,9% ao ano) entre 2000 e 2005. Assumindo que não
existirão novas políticas, está previsto na região da OCDE, um aumento de 38% da produção
de resíduos (1,3% ao ano) ou seja, em 2030 serão produzidas 800 milhões de toneladas de
resíduos, e um aumento da população de 11%.
O Fundo de População das Nações Unidas (FPNU) (ONU, 2007) estima que a população
mundial seja de aproximadamente 6,5 mil milhões de habitantes e produza 570 milhões de
t/ano de RU, sendo que os maiores produtores são: EUA com 210 milhões t/ano, Japão 100
milhões t/ano, Inglaterra 40 milhões t/ano, França 30 milhões t/ano e Alemanha 30 milhões
t/ano. Verifica-se que os maiores produtores de resíduos são países com alta densidade
demográfica e com economias fortes.
Segundo dados da UNEP (2004), os países mais ricos consomem mais materiais e
produzem mais resíduos. Todos os países desenvolvidos juntos representam 20% da
população mundial e utilizam mais de 60% da matéria-prima industrial consumida
globalmente. Esta realidade pode ser constatada analisando-se o índice de produção per capita
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Figura 2.6: Produção per capita de resíduos sólidos urbanos de países associados à OCDE (2002 e 2007). (Fonte: adaptado de OCDE, 2005 e 2010)
Através da Figura 2.6 pode-se verificar que em 2007 o país com maior índice de
produção per capita de resíduos sólidos municipais foi a Noruega com 2,27 kg/hab.dia e o
menor índice pertence à China com 0,32 kg/hab.dia (OCDE, 2005 e 2010).
A capitação média da UE dos 15, em 2008, rondou os 600 kg/hab.ano, cerca de 1,64
kg/hab.dia, o que, comparativamente aos 1,39 kg/hab.dia verificados em Portugal em 2008,
ou 1,40 kg/hab.dia verificados em 2009 (Figura 2.7), indicia alguma margem de crescimento
da produção de resíduos urbanos (APA, 2010). A produção total de RU em Portugal
Continental, no ano 2009, foi de aproximadamente de 5.184 mil toneladas (APA, 2010). De
forma a travar este crescimento terão que ser reforçadas as medidas de sensibilização das
populações conducentes à prevenção da produção de resíduos, procedendo-se à consolidação
da implementação dos sistemas de gestão de fluxos específicos de resíduos, apostando-se na
sensibilização e na correta aplicação do princípio do poluidor-pagador, propósitos, aliás, já
consignados no regime geral da gestão de resíduos. 0 200 400 600 800 1 000 C H N M E X C A N JP N Z A F G R C P R T E U 2 7 S W E F R A IT A O E C D G B R D E U E S P N L D C H E U S A IR L N O R P ro d u çã o p er c a p it a d e R S U ( k g /h a b ) Países da OCDE 2002 2007
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Figura 2.7: Evolução da capitação de RU em Portugal Continental. (Fonte: adaptado de APA 2010)
Em 2009, a região de Portugal Continental onde se verificou maior produção de resíduos
é no Algarve com 1024 kg/hab.ano (795 kg de resíduos indiferenciados e 229 kg de
recicláveis), a que não está alheia a contribuição da população flutuante (APA, 2010). A
região Centro apresentou a menor capitação com 410 kg/hab.ano (373 kg de resíduos
indiferenciados e 37 kg de recicláveis) (Figura 2.8) (APA, 2010).
Figura 2.8: Produção de RU per capita, por região em Portugal Continental, em 2009. (Fonte: adaptado de APA 2010)
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