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3. A TERRA DE MAKUNAIMA

4.3 Profissionais da Educação Especial no Território

Clotilde, Carlota, Célia e Clarice compõem um time de profissionais por todos referidos como de pioneirismo na educação especial em Roraima. Quando iniciam a trajetória de construção de sua carreira como profissionais da educação especial e a própria construção da área no então Território Federal de Roraima, apenas Célia e Carlota, vindas respectivamente do Pará e do Ceará possuíam alguma formação especializada. A este ‘quarteto’, vários outros profissionais, em sua maioria mulheres, foram se agregando ao longo dos anos.

O processo de formação de um conjunto de profissionais identificados como especialistas, como professores da educação especial, é uma parte da estruturação da área em Roraima que entendemos merecer uma análise peculiar, também por ser esta, uma ação que contou com o protagonismo da máquina governamental, na definição de quais cursos seriam oferecidos a quais profissionais e, utilizando integralmente recursos públicos para esta formação.

Logo após a primeira experiência de abertura de classe especial na Escola São José, que não teve continuidade pela inexistência de profissionais capacitados na Secretaria de Educação, as próximas iniciativas de constituição de um setor de educação especial no Território Federal, vieram acompanhadas da preocupação com esta formação. Como salienta a professora Carlota Figueiredo:

“Mais ou menos em 1975 começaram a ver os currículos no setor de pessoal da secretaria e então encontraram o meu, e que eu já havia trabalhado com educação especial no Estado do Ceará. Aí foram procurar a escola em que eu estava trabalhando e me chamaram para perguntar como era aquele procedimento e se eu topava fazer parte da educação especial como professora. Eu disse que sim. Que gostava, gostava muito daquele tipo de trabalho que já tinha feito no Ceará. Então criaram uma coordenação. Na época essa coordenação foi dirigida por essa parenta do professor Aldo, a professora Yvanete que já tinha experiência com esse trabalho no Amazonas.”

Outra profissional selecionada para este trabalho foi a professora Clotilde Rodrigues que tendo tido sua primeira participação na classe especial aberta na escola São José por alguns meses, é alçada ao status de “experiente”. Além disso, se inicia o incentivo e apoio ao

processo de capacitação de equipes em que as professoras com maior identificação com as diferentes áreas são gradativamente enviadas para cursos de formação especializada fora de Roraima. A professora Clotilde Rodrigues destaca como primeira atividade desta natureza, sua participação em um estágio na Sociedade Pestallozzi de Belém:

“Eles arrumaram para a gente ir. Nós fomos para Belém. Já tinham recrutado mais alunos e ficou a professora Carlota, que parece que já tinha experiência com esses alunos, tinha uns doze, treze alunos e ficou só numa sala, ela sozinha. [...] Ficou a Carlota sozinha com esses meninos. E nós fomos, eu e uma outra professora e passamos um mês lá.”

No questionamento sobre quem era esse “eles” a que se refere, como eram custeadas as atividades e que tipos de atividades foram desenvolvidas, assim nos conta a professora Clotilde Rodrigues:

“ Foi o governo que financiou. Ele deu as passagens, deu a estadia. E a gente ficou na casa de

parentes. E de lá a gente pegava o ônibus, ia para a Pestalozzi... e os professores botavam a gente

nas salas, para a gente ver como que eles faziam lá e a gente ajudava também com uns alunos. Não foi curso nada, foi um estágio mesmo. Quando a gente voltou para cá eles já dividiram as turmas, eu fiquei com a Carlota numa sala com os alunos e a Célia foi com os alunos auditivos. Ela ficou com os auditivos e a gente com os de deficiência mental.”

Em muitos casos, esses profissionais a quem se oportuniza a participação em cursos de capacitação de maior profundidade tornam-se, no retorno, multiplicadores de seus saberes, conduzindo em alguns casos inclusive formalmente, cursos de curta duração, oficinas ou estágios para a capacitação em serviço de outros colegas, em face da impossibilidade de se assegurar a capacitação integral de todos os envolvidos no trabalho.

“A gente começou a fazer curso fora. O governo mandava fazer cursos em Belém, no Rio de Janeiro, e a gente foi formando gente, formando as pessoas. Quando chegava uma que tinha feito curso fora, já transmitia ali para outras e assim foi crescendo o número de pessoas e de crianças.”

[Carlota Figueiredo]

Uma das questões que chama a atenção no processo de formação das equipes de professores especializados em Roraima é o empenho dos profissionais em terem acesso a estas formações mesmo diante do impacto que esta busca implica no tocante à vida pessoal e familiar. Embora os cursos fossem financiados com verbas públicas, tanto no custeio de matrículas, quanto de transporte, tratava-se de meados dos anos setenta, no extremo da Amazônia. O sistema de transporte aéreo era precário e a comunicação extremamente limitada.

“Aqui não tinha telefone, não tinha televisão, não tinha nada, então nós(eu e meu marido) combinamos só Carta. Correio, Correio Correio. Era só esperar a resposta. Toda semana dar noticia. Eles [os 3 filhos] adoeciam, tinha gripe, de noite escutava chorar, ele [o marido] de manhã dizia para

a minha mãe: “não, era só gripe”. Ele já sabia como fazer. Então nunca que me chamou. Graças a Deus que também nunca teve nada grave. E eu fiquei dez meses. Meu contrato com a formação era por dez meses e eu fiquei. Teve gente que voltou. Mas eu e as outras casadas, nós ficamos. Eram cursos muito bons, com uma visão mesmo de te dar abertura para tudo”.[Maria Mirna]

Evidentemente a possibilidade de uma formação fora de Roraima, financiada com recursos públicos representava também uma perspectiva de formação que individualmente dificilmente seria viabilizada e de ascensão profissional na rede de ensino, que necessitava de profissionais aptos ao desenvolvimento de determinadas atividades. Era, entretanto, sem sombra de dúvida, processo que envolvia alterações significativas na vida pessoal destas educadoras.

“Olha eu dei conta, porque quando eu vi, foi assim...eu estava dando aula no São José, achei que não iriam me selecionar. Quando eu estava dando aula no São José, chega que o Secretário mandou o mensageiro, para eu tomar ciência. Eu tinha que me apresentar dentro de uma semana. Eu coloquei embaixo “não vou”. E continuei dando aula. Ai quando eu cheguei em casa tinha toda uma coisa. A Maria das Neves 68 já tinha ido lá com meu marido, com a minha mãe, o Secretário também,

a Dra. Inês que era quem representava a Amazônia. Ela morava em Manaus, tinha vindo também para cá. Então foi aquela pressão... Eu já tinha vontade, não vou dizer que eu não tinha essa vontade. Mas dada a minha situação de três filhos....eu nem... . Mas aí a pressão. E quando você vê você já está lá e quando você chega lá você encontra outros colegas na mesma situação. Aí compensa a convivência. Eram 32 professores, só um homem, não dois homens. Era Amazônia, Roraima, Rondônia, Amapá, Acre, Paraíba, Alagoas e Sergipe. Quando a gente voltava recebia uma gratificação, que era esse grupo que dava treinamento para esses professores não titulados. E a gente dava o curso.” [Maria Mirna]

No relato das professoras, os deslocamentos, que às vezes davam-se por períodos de cinco meses, nove meses ou de um ano inteiro, como registrados em alguns casos, implicavam na permanência em estados do centro-sul do país, em Belém ou Manaus, sem qualquer retorno para visita familiar durante todo o período de formação. As professoras se hospedavam em casas de parentes, amigos de família ou pensionatos para moças.

Os contatos com os familiares e amigos, que permaneciam em Roraima, davam-se, por vezes, apenas com a troca de cartas, cujo processo de trânsito poderia levar de dez a vinte dias. São mulheres, mães de família, em alguns casos já com três, quatro filhos em tenra idade, que se deslocam em busca de uma formação que lhes possibilitasse desenvolver suas atividades com maior qualidade. Como conta Clarice Diniz:

68

“Um dia ligaram para a diretora vir rápido aqui na Educação. Quando ela voltou na reunião, ela disse...olha vai ter que viajar dia 09 de outubro de 1982 – Clarice, Sônia e a Eliane. As três vão ter que viajar dia 09. Isso era dia 05 ou dia 06, para Belém, para fazer o curso. As três em Educação Especial. Eu disse: eu vou. Nós fomos em outubro, ficamos outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro é que eu vim. Cinco meses. Com filho pequeno. Maninha eu me meti numa fria sabe? O caçula tinha nove anos e a menina tinha dez. Bom... quando foi dia 15 de outubro eu queria voltar... Tudo por conta do Estado... Passagem, bolsa, tudo. E eu fiquei. Foi bom para mim, sabe. Em conhecimentos. No financeiro. Em tudo para mim foi maravilhoso. Mas no inicio foi muito difícil. Eu nunca me separei dos filhos, me separar assim, ‘vapt’, ‘vupt’ era um prejuízo. Ai meu Deus que loucura. E eu fiquei. Foi excelente o curso. Foram cinco meses, dez horas de aula por dia. A gente só tinha de folga o sábado e o domingo. Foi gente de Manaus, foi gente do Acre, foi gente do Sul. Foi gente de todo o canto lá...juntou para formar a turma. Foi excelente esse curso.”

Analisando certificados de participação em cursos, estágios e encontros de algumas das professoras que participam de nossa pesquisa, é possível ter um quadro mais concreto do movimento ‘frenético’ de formação em ações pontuais que se oferece neste período. Como exemplos deste processo, é curioso conhecer a trajetória de formação de duas de nossas entrevistadas.

No quadro que apresentaremos a seguir destacamos apenas as ações principais de que participou a professora Carlota:

Quadro 02 – Ações de Formação de que participa a professora Carlota Maria de Figueiredo Rodrigues

Curso Entidade

promotora Local Periodo Horária Carga Observação Aperfeiçoamento para Professores Especializados na Área de Educação de Deficientes Mentais Centro de Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação do Pará Belém/Pará 03 de junho a 02 de julho de 1977 180 h Coordenadora Ione Selma da Costa Amoêdo Atualização para professores de Classe Comum de Ensino SEC/RR e CENESP Boa Vista/RR 07 a 16 de outubro de 1978 64 h Profª Marli Almeida F. da Costa Atualização para professores de Classe Comum de Ensino SEC/RR e CENESP Boa Vista/RR 20 a 26 de fevereiro de 1980 80 h Profª Marli Almeida F. da Costa Implantação da Proposta Curricular e Supervisão na Área de Deficiência Mental SEC/RR e

CENESP Vista/RR Boa de abril 07 a 11 1980 40h Profª M. Coeli Nascimento Lourival Implantação da Proposta Curricular e Supervisão na Área de Deficiência Auditiva SEC/RR e CENESP Boa Vista/RR 09 a 13 de junho de 1980 40h Profª Joana Cerqueira dos Santos Ferreira Curso de Docentes de Educação Especial SEC/RR e UFSM/RS Boa Vista/RR 19 a 29 outubro de 1982 80 h -

Na trajetória da professora Carlota Maria de Figueiredo Rodrigues , encontramos uma ação referida em entrevista, realizada em Belém /Pará e uma maior concentração de sua participação em ações realizadas já em Boa Vista com financiamentos do CENESP. Desde o período inicial de sua carreira, estabeleceu um foco na deficiência mental e, posteriormente, esta atuação vai se direcionar para atuação nas oficinas pedagógicas com os adolescentes e adultos com maior comprometimento cognitivo, investindo seus esforços na qualificação profissional destas pessoas de forma a lhes oportunizar inserção na vida laboral.

Quadro 03 - Ações de formação em que participou a professora Célia Macedo Rodrigues

Curso Entidade promotora Local Periodo C/H Observação

Curso de Aperfeiçoamento na Educação de Deficientes Auditivos DERDIC- PUCSP CENESP/MEC PUC/SP 02 de agosto a 25 de setembro de 1976 180 h + 84h estagi o Diretor - José Geraldo S. Bueno

II Seminário Brasileiro sobre

Deficiência Auditiva FENEIDA Janeiro Rio de janeiro de 1980 27 a 31 de horas 32 Cortesia do Centro Auditivo

TELEX

Atualização para professores

de Classe Comum de Ensino SEC/RR e CENESP Vista/RR Boa fevereiro de 20 a 26 de 1980 80 h Profª Marli Almeida F. da Costa Implantação da Proposta Curricular e Supervisão na Área de Deficiência Auditiva

SEC/RR e CENESP Boa

Vista/RR 09 a 13 de junho de 1980 40h Cerqueira dos Profª Joana S. Ferreira

Certificação de Professor Especializado na área da

Deficiência Auditiva

INES e CENESP INES / RJ Janeiro a dezembro de

1981

900 h Coord. Maria Alcina Sothers

I Encontro Nacional de Pais de Deficientes Auditivos FENEIDA Rio de Janeiro /RJ 29 de março de 1981 - -

XIV Semana do Deficiente

Físico Medicina Física e Inst. Mun. de Reabilitação Oscar CLARK Prefeitura do Rio de Janeiro 09 a 17 de setembro de 1981 - Profs Drs. Luiz Cunha Melo e Leila Campos Moreira I Curso Intensivo de

Audiologia Otorrinolaringologia Instituto de do Rio de Janeiro Rio de janeiro outubro de 1981 19 a 23 de 14 h I Congresso Nacional de Integração da Pessoa Deficiente na Força de Trabalho FAPERJ Rio de Janeiro 25 a 30 de outubro de 1981

Curso de Braille e Técnicas

Afins de Medicina Física e Instituto Municipal Reabilitação Oscar CLARK Prefeitura do Rio de Janeiro 22 de setembro a 27 de novembro de 1981 A importância da Estimulação do ambiente sobre o desenvolvimento da criança surda MEC/ Conselho Cultural e de Cooperação Científica e Técnica da Emb. da França MEC

Brasília 05 a 16 de julho de 1982 Christiane Mottier

Curso de Docentes de

Educação Especial SEC/RR e UFSM/RS Vista/RR Boa outubro de 1982 19 a 29 de 80 h Fonte: Certificados do acervo pessoal da professora

Importante destacar que os espaços de referência para a formação dos professores para atuação com alunos com deficiências sensoriais, como o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e o Instituto Benjamim Constant (IBC), embora sejam considerados referências históricas de ação oficial governamental, tinham uma tradição de oferecer um volume inexpressivo de vagas diante da clientela potencial 69 .

Além disso, embora se observe a preocupação com sua profissionalização esse muitas vezes se desenvolve apenas no interior do próprio espaço educativo para outras pessoas com o mesmo perfil. Jannuzzi, (2004, p. 12 – 13) referindo-se ao trabalho desenvolvido no IBC, assim analisa:

O IBC dava a seus alunos a possibilidade de serem “repetidores”, e após o exercício de dois anos nessa função, o direito de trabalharem como professores da instituição[...]Havia até uma certa proteção do aluno considerado apto para a função, pois mesmo quando completo o número de “repetidores” o governo poderia manter o aluno com o respectivo vencimento. [...] O relatório de 22 de julho de 1872 afirmava que, dos 16 alunos educados no instituto, mais de 81% tornaram-se ali professores.

Tomados, no âmbito do CENESP como modelos de referência e qualidade de formação, INES e IBC tiveram suas práticas e princípios replicados nacionalmente, inclusive em Roraima, em que este movimento 'endógeno' de oferecer um padrão de desenvolvimento em que a pessoa com deficiência permanece dependentemente vinculada ao espaço especializado de formação mesmo quando adulto, se reproduz, em especial no tocante aos alunos cegos.

Hoje dos alunos atendidos nas Salas de Recursos para pessoas com deficiência visual, que giram em torno de uma dezena de alunos ao longo dos anos, 03 foram posteriormente contratadas – via concurso público - como professoras para outros alunos cegos, 02 ainda em exercício e uma já aposentada por outros problemas de saúde.

Em abril de 1980, um quadro disponível entre os documentos que nos foi possível acessar, apresenta o perfil do corpo docente da Educação Especial com descrições da função desempenhada por cada professora (aqui entendida como a modalidade de deficiência ou área de conhecimento na qual atua a professora), sua carga horária e formação.

Este quadro apresenta um perfil de docentes marcado pela atuação de profissionais que aceitam o desafio de exercer atividades para as quais não haviam sido previamente formadas,

69Na análise apresentada por Jannuzzi (2004, p.14), o serviço prestado por elas era precário, pois, em 1874,

mas a quem se oportunizará nos anos seguintes a participação em processos vários de capacitação e de habilitação profissional. Observa-se nele ainda, o interesse da maior parte do grupo em ir a busca de formação considerando-se sua participação em uma das raras oportunidades de formação após a conclusão do ensino médio: a participação nos cursos de Estudos Adicionais oferecidos em Boa Vista pela Universidade do Amazonas como cursos de suplência aos professores de 1º e 2º graus.

Quadro 04 – Perfil do Corpo Docente da Educação Especial – abril de 1980

Nome da professora Função Carga

horária Escolaridade Grau/ Esp. na área

01 Ana Mirza de Castro

Rodrigues Profª de D. M. semana 40 h./ 2º Grau completo

02 Elizabeth Ferreira Gonçalves Profª de

D. M. semana 40 h./ 2º Grau e Estudos adicionais em Ciências e Matemática Sim

03 Eliane da Silva Gomes Profª de

D. F. semana 40 h. / 2º Grau completo Sim

04 Raimunda Nonata de S.

Corrêa Profª de D. F. semana 40 h. / 2º Grau completo Sim

05 Eneida Maria Pinto Costa Profª de D. F.

40 h./ semana

2º Grau completo

06 Clarice Soares Diniz Profª de

D. M. semana 40 h./ Cursando o 2º Grau 1º Grau completo

07 Maria Neusa de Lima

Pereira Profª de D. M. semana 40 h. / 2º Grau e Estudos Adicionais em Com. e Exp.

08 Francisca Lima Ferreira Profª de

D. A. semana 40 h. / 2º Grau e Estudos Adicionais em Com. e Exp

09 Terezinha de S. J. Dias Profª de

D. A. semana 40 h./ 2º Grau e Estudos Adicionais em Com. e Exp.

10 Clotilde Parima Rodrigues Profª de

D. M. semana 40 h./ 2º Grau e Estudos Adicionais em Com. e Exp.

11 Célia Macedo Rodrigues Profª de D. A.

40 h. / semana

2º Grau e Estudos Adicionais em Ciências e Mat.

Sim

12 Maria de Nazaré Pereira Profª de

Ed. Art. semana 40 h. / 2º Grau completo

13 Carlota Maria de Figueiredo

Rodrigues Profª de D. M. semana 40 h. / 2º Grau completo Sim

Fonte: Memorando da Coordenação de Educação Especial da DAE

Esta relação de professores coincide com documentos emitidos pela Auditoria do Sistema de Ensino da Secretaria de Educação e Cultura em um serviço denominado como Serviço de Autorização para o Exercício do Magistério indicando terem sido estes professores “autorizados a lecionar em Caráter Suplementar e a Título Precário” no ano de 1980. Nos anos seguintes, de 1981 a 1984, novos documentos de autorização para lecionar são emitidos, com alterações no corpo docente, mas sempre como autorizações temporárias.

Através deste Serviço da Auditoria, em 1981 são emitidas autorizações de exercício também para a Secretária da Escola e para as Supervisoras - neste caso as professoras Carlota

Maria de Figueiredo Rodrigues e Célia Macedo Rodrigues – autorizando-as a exercerem estas atividades por um período de três anos: 1981, 1982 e 1983.

Encontramos referências a este processo de “Registro do Professor Especializado” como parte do conjunto de providências solicitadas pelo Ministro da Educação e Cultura e que vai se consolidar no parecer 848/72 citado por Jannuzzi (2004, p. 140 – 141).

Dentre os certificados de participação em eventos das professoras encontramos um registro de atividade que também já emergira nas entrevistas, é a realização do I Seminário de Educação Especial em Roraima, realizado no período de 20 a 22 de setembro de 1983. No relato da professora Maria Mirna que àquele momento respondia pela Direção do Departamento de Educação Especial e Assistência ao Educando havia uma relativa tensão nas relações com os técnicos do CENESP, com sinalização de desvalorização das ações que aqui se desenvolviam por parte dessas técnicas, a quem a professora Mirna se refere, em alguns momentos como “papisas” da educação especial.

Como forma de trazer esta equipe a Roraima, para que conhecessem in loco o que aqui se fazia, projeta-se a realização deste Seminário. O objetivo era mostrar as ações realizadas e tentar eliminar a tensão que permeava os contatos, trazendo ainda à discussão os professores das Classes Especiais que estavam sendo implantadas nas escolas regulares. Conforme nos conta a professora Mirna, o embate já se inicia no processo de organização do Seminário:

“Com muita dificuldade, colocamos no Planejamento e elas aceitaram, porque elas tinham que aprovar. E eram as três do CENESP que aprovaram o planejamento. De mental era a dona Lourdes, não sei o sobrenome. Todas com cursos fora do Brasil, eram “papisas”. Tinha a Norma que era a coordenadora que era também do Visual, e a Alpe, que era da Auditiva. Aí vieram as três. Não tinha transporte, não tinha nada. O nosso carro era uma rural velha, aí fomos a apanhá-las no aeroporto. Hotel só tinha o Aipana, na época era o Hotel Boa Vista. Coloquei elas lá, era cedo que elas chegaram, perguntei se elas gostariam de dar uma volta mais tarde e elas disseram não. Sem abertura nenhuma, dizendo, “vim aqui para...” Isso ficou muito claro.”