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3. A TERRA DE MAKUNAIMA

4.2 Princípios de institucionalização

4.2.3 Registros do nascimento da Educação Especial no Território

memorandos e ofícios, registros de matrícula e diários de classe, além de Planos de Ação, que nos possibilitaram a construção de um quadro mais detalhado e objetivo do perfil dos alunos que inicialmente constituíram o corpo discente da Escola de Educação Especial, do corpo docente e indícios do cotidiano ali vivenciado.

Nem todos estes documentos dispunham de indicativos dos objetivos de sua produção, assinatura de autoria ou dados de identificação como local ou data, por exemplo, mas encontravam-se reunidos em pastas e caixas que permitiam considerar a validade de sua produção atrelada à equipe técnica atuante à época.

Um documento administrativo localizado aponta que, em uma reunião realizada às 15 horas do dia 19 de julho de 1979, da qual participaram a coordenadora em exercício da Educação Especial, Coema Pinto de Camargo; a psicóloga Maria Aparecida e a professora Zenir são identificados alguns problemas da Educação Especial bem como diretrizes e objetivos para o setor. Este documento, localizado solto em uma pasta em meio a outros tantos papéis não apresenta maiores indicativos do contexto em que foi produzido nem indicativo dos objetivos de sua realização.

Embora não possamos afirmar com segurança qual teria sido a finalidade da produção deste documento já que as professoras que o realizaram não mais se encontram acessíveis, supomos, pela data em que ocorreu, que possa estar relacionado ou à mudança de titularidade do governo, ocorrida em abril deste ano ou ser parte do processo de debates que objetivavam

a elaboração do Plano Territorial de Educação. Ramos (2007, p. 17) contextualiza esse momento:

Nos últimos meses da década de 70, já em plena abertura política rumo à democratização do país, iniciava-se uma efervescente fase de discussões dos rumos da educação em Roraima. [...]Uma equipe foi criada para coordenar internamente o processo de debates, objetivando a elaboração do Plano Territorial de Educação. Na ocasião a secretaria pôde contar com assessoramento técnico do Ministério da Educação, que em diferentes momentos se fez presente no Território, trazendo informações e leituras, subsidiando as reflexões e permitindo alguns avanços na aproximação de conceitos e entendimentos, de modo a melhor sistematizarmos uma leitura da nossa realidade.

Entendemos pelo teor do relato da reunião das professoras da Educação Especial que citamos no tópico anterior, produzido em 19 de julho de 1979 e demais relatórios do mesmo período aos quais tivemos acesso, que estes possam ser parte desse processo.

O relatório apresenta um mapa da situação vivenciada naquele momento, com o indicativo de caminhos, - alguns deles ainda em construção na atualidade – com o qual podemos compreender a adoção de algumas das medidas que vieram a se consolidar nos anos seguintes, destacadamente a construção de um prédio próprio para instalação da então Escola de Educação Especial – posteriormente Centro de Educação Especial, no terreno do então recém-criado Parque Anauá 64 e a criação de um Centro de Educação Especial em Caracaraí, o segundo município do Estado à época.

Considerando que este relato apresenta um perfil tão significativo da situação do trabalho na perspectiva dos atores da educação especial no período de sua implantação, a seguir o reproduziremos na íntegra.

64 O Parque Anauá foi uma das obras iniciais do Governo Ottomar, ocupando uma ampla área à época

considerada não tão próxima da região central e que a exemplo de outros parques existentes em metrópoles, agregavam áreas de lazer, cultura e educação. O Parque dispõe de um grande lago natural ao redor do qual posteriormente foram instalados o Horto Florestal, Museu Histórico, Escola de Música, Concha Acústica e praça para eventos de maior porte, além de um parque aquático com tobogãs e demais equipamentos de recreação infantil. À época, a instalação da Escola de Educação Especial naquele espaço, apresentava-se como incentivo à que a população viesse a conhecer e frequentar o Parque.

Quadro 01 - Relato de reunião da Escola de Educação Especial 19/07/1979

Relato de reunião - Educação Especial

PROBLEMAS 1. A implementação da Educação Especial é um programa exclusivo do governo. 2. Inexistência de oportunidades educacionais, principalmente junto aos grupos populacionais das zonas rurais.

3.Atendimento tardio aos excepcionais

4.Marginalização social do excepcional do convívio social.

5. Carência quantitativa e qualitativa de pessoal técnico e docente preparado para o atendimento à clientela.

6. Inadequação e insuficiência de instalações físicas, acrescida da falta de apoio administrativo.

7. Carência de serviços de identificação e diagnóstico.

DIRETRIZES 1.Enfatizar a criação de classes anexas à Escola de 1º grau, cujas incidências de deficientes detectadas pelo diagnóstico, sejam em número significativo.

2.Consolidar a expansão do atendimento , compatível com as aptidões e capacidades individuais do campo profissional.

3.Adotar uma política de conscientização a respeito da necessidade da participação da comunidade na integração do excepcional.

OBJETIVOS GERAIS 1. Expansão e diversificação do atendimento, buscando melhorar a oferta com

atendimento a um maior número de tipos de excepcionalidade.

2. Promover e enfatizar a integração do excepcional ao sistema de ensino regular e ao ambiente social, incentivando a participação da comunidade.

3. Desenvolver programa de preparação de pessoal

OBJETIVOS

ESPECÍFICOS 1. Integrar o excepcional ao sistema regular de ensino, sempre que for possível, proporcionando-lhes condições de acompanhar o processo educativo. 2. Implantar serviços de diagnóstico que permitam a identificação, o mais cedo possível, dos alunos portadores de distúrbios do desenvolvimento psicomotor, principalmente na clientela pré-escolar.

3. Não há incidência.

4. Realizar programas de formação, atualização ou treinamento de pessoal técnico e docente, dando ênfase nas atividades de identificação, diagnóstico e formação profissional.

5. Propiciar um atendimento contínuo, compatível com as aptidões e capacidades individuais até a iniciação elementar no campo profissional.

6. Incentivar uma maior participação da comunidade e da família do excepcional minimizando desta forma os problemas de integração deste ambiente social.

Fonte: Documentos da Escola de Educação Especial

Chama atenção de imediato o considerar-se como “problema” o fato de a educação especial ser uma ação exclusiva da iniciativa governamental. É um discurso que surge em outros momentos de nossas entrevistas e em outros documentos, dando indícios do entendimento valorativo atribuído ao trabalho desenvolvido pelas instituições filantrópicas. Uma aparente naturalização do entendimento de não ser o poder público o responsável pela educação e demais atendimentos necessários ao desenvolvimento das pessoas com deficiência.

Em suas análises finais, as participantes da reunião que presumimos serem as autoras desse documento, salientam que apesar do esforço dos professores para melhorar a qualidade do ensino, este se encontra regular em função das “instalações físicas, precárias e inadequadas”, da falta de materiais para educação física e da mistura de “níveis e tipos de excepcionalidade em cada sala de aula”. Além disso, aponta-se para a falta de “técnicos como audiometrista, fonoaudiólogo, otorrino, neurologista, etc.” como fator que também compromete a qualidade do ensino.

Outro relatório, da Psicóloga Maria Aparecida Campos, do Programa de Saúde Escolar datado de 11 de junho de 1979, apresenta uma relação nominal de 49 alunos, a maior parte deles constando escores de testes de Quociente de Inteligência (QI) a partir dos quais os alunos são descritos como limítrofes, educáveis, treináveis e ‘sob tutela’ (sic). Como observação, registra ainda que 06 destes apresentam ‘perfil mongoloide’ (sic), 08 são deficientes auditivos e 01 é deficiente físico.

Chama atenção a presença, na tabela de alunos categorizados como limítrofes, de um aluno atualmente adulto, atuante na educação do município, que hoje sabemos ser deficiente auditivo, mas que, nestes relatórios não tem essa perda auditiva identificada, apenas o registro de uma deficiência mental, provavelmente pela própria dificuldade de acesso a equipamentos que possibilitassem um exame mais apurado e inexistência de profissionais especialistas na área.

Outra tabela apresentada traz uma descrição da distribuição dos alunos com dados de suas deficiências, faixa etária e séries. Analisando-o, pode-se observar um crescimento vertiginoso no quantitativo de alunos matriculados: em 1977, registram-se 30 crianças e adolescentes, todos matriculados em turmas de pré-escolar; em 1978, já são 46 os matriculados com a distribuição dos alunos em turmas de pré-escola, primeira e segunda séries; em 1979, são 83 alunos, 06 deles já fazendo parte das turmas de terceira série.

A análise da faixa etária dos alunos neste período mostra uma predominância de crianças entre 07 a 10 anos: 32, mas o volume de alunos entre 11 e 14 anos é alto: 23 e o de adolescentes acima de 15 anos e adultos é bastante alto: 30 alunos, mostrando a forte defasagem idade-série e a demanda por atendimento educacional que, por anos ficou reprimida. Pela sua riqueza de informações, reproduzimos a seguir a tabela original:

Tabela 12 - Alunos com deficiência na Escola de Educação Especial 1977 a 1979

Classificação de

excepcionalidade Faixa de Idade * Excepcionais por ano e nível ou série

1977 1978 1979 4 - 6 anos 7 - 10 anos 11 -14 anos 15-18 anos + 18 anos Total pré- escolar 1ª série 2ª série pré- escolar 1ª série 2ª série pré- escolar 1ª série DA – Deficiente de Audiocomunicação - 11 4 2 6 23 8 - - 7 8 8 6 8 DM - educáveis - 2 10 8 - 20 13 - - 1 6 3 1 14 DM -Treináveis - 7 5 2 2 16 6 - - 3 13 - 5 9 DM Dependentes 6 6 1 1 2 16 - - - 20 - - 17 - DF – Deficientes físicos - 1 - - - 1 - - - 1 PDM – Portador de Deficiência Múltipla - 5 3 6 1 15 3 - - 4 - - 12 2 Total 6 32 23 19 11 91 30 - - 35 27 11 42 34

Totais por ano 30 73 92

Fonte: Reprodução da tabela original localizada entre documentos internos da Divisão de Educação Especial.

Neste final dos anos 1970, início dos anos 1980, com o fortalecimento das ações de Planejamento instaladas no governo territorial, várias produções da Secretaria do Planejamento (SEPLAN) traziam informações estatísticas, registros de informações analíticas e qualitativas e projetos de ação. Estes relatórios e planos de ação da SEPLAN encontravam- se disponíveis na biblioteca daquele órgão e, embora não apresentem perfil de linearidade, com anos em que os dados estão ausentes, nos oferecem alguns dados que consideramos importante considerar.

Acompanhando a evolução do atendimento em tabelas disponibilizadas em um boletim de Informações Estatísticas da SEPLAN (RORAIMA, 1981, p. 128), encontramos dados que, a princípio, apontariam para a estabilização do volume de alunos inclusive com um pequeno decréscimo dos anos de 1979 (92 alunos) para os anos de 1980 e 1981 (88 alunos). Entretanto, uma observação dos dados de 1981, uma escala de trabalho das professoras e editais de matrícula divulgados pela Secretaria de Educação e Cultura, dão indicativos do nascimento de outro tipo de serviços que se ia implantando: as Classes Especiais.

O primeiro edital de matrícula que nos foi possível localizar é do ano de 1980, o Edital é assinado pela então Secretária de Educação e Cultura do Território Federal de Cultura,

professora Maria Antonia de Melo Cabral, mas referenciado como documento da Divisão de Educação Especial da Coordenação de Educação Especial e Assistência ao Educando.

Este edital, que encontramos em versões muito semelhantes para os anos de 1982 e 1983, apresenta as normas de matrícula nas Classes de Educação Especial para o ano letivo de 1981 e destaca que serão atendidas as áreas da Deficiência Mental, Deficiência Física e Deficiência de Áudiocomunicação. Estabelece que as matrículas devam ser efetivadas na Escola de Educação Especial, bem como os períodos, horários e documentos necessários para matrículas novas e renovação de matrículas.

No documento Informações Estatísticas da SEPLAN, (RORAIMA, 1981, p. 128), com dados do ano de 1980, há o registro da existência de 31 alunos matriculados em Classes Especiais, dado compatível com um Demonstrativo da Escola de Educação Especial da Divisão de Educação Especial, apontando a existência de 04 salas de aula (duas no turno matutino e duas no turno vespertino), de atendimento a alunos com deficiência auditiva na Escola de 1º Grau Presidente Costa e Silva e uma turma de alunos com deficiência mental na Escola de 1º Grau O Pescador.

São turmas com 05 a 08 alunos, com perfil de deficiência definido, permitindo inferir a intenção de se estabelecer a segmentação das turmas, agregando, nas classes, alunos que apresentem as mesmas categorias de deficiência, como se pode observar nas tabelas a seguir: Tabela 13 - Alunos com deficiência na Escola de Educação Especial no ano de 1980:

Classificação de excepcionalidade

Faixa de Idade * Excepcionais por nível ou série 4 / 6 6 / 10 10/1 4 14/1 8 + 18 Tota l pré- escolar 1ª série 2ª série DA – Deficiente de Audiocomunicação - 9 2 3 6 20 5 4 5 DM – educáveis - 3 7 5 - 15 2 1 8 DM –Treináveis 3 11 7 4 - 25 13 12 - DM Dependentes 1 8 3 2 3 17 17 - - DF – Deficientes físicos 1 5 - 4 1 11 9 02 PDM – Portador de Deficiência Múltipla Total 5 36 19 18 10 88 46 19 13

Totais por ano 88 88

Fonte: Informações estatísticas SEPLAN (RORAIMA, 1981, p.130)

No ano de 1981, outra tabela, com focos diferentes nos é apresentada. Nele, a natureza dos dados é ligeiramente divergente, o que não possibilitaria um acompanhamento comparativo de progressão dos trabalhos. Entretanto, esta tabela de 1981 traz uma

interessante associação em que destaca a questão de gênero relacionando-a com faixa etária e série. Chama a atenção a existência de um volume significativamente maior de pessoas do sexo feminino com deficiência, em especial, entre as crianças de 09 a 13 anos (em torno de 80% a mais de meninas); adolescentes de 14 a 18 anos quase o dobro dos rapazes e jovens acima de 18 anos o triplo do volume de jovens do sexo masculino.

Tabela 14 - Matrícula inicial por idade, sexo e nível de atendimento no ano de 1981

Nível ou série de atendimento

Idade

4 a 8 9 a 13 14 a 18 Acima de 18

Masc. Fem. Masc. Fem. Masc Fem. Masc. Fem.

pré – escolar 8 2 11 17 2 6 2 3

1ª série - - 3 12 3 4 1 2

2ªsérie - - 4 3 - - - -

3ªsérie - - - - - 1 - 4

Total 8 2 18 32 5 11 3 9

Fonte : Tabela SEPLAN- Secretaria de Educação e Cultura (RORAIMA, 1980, p.131)

* Existem 31 alunos atendidos em classes especiais funcionando em escolas do Ensino Regular de 1º Grau

Outro dado relevante deste período é apontado em um relatório de 19 de maio de 1981, de autoria da então Diretora da Escola de Educação Especial, professora Maria Inez Moreira Schuster: há registros do que no relatório é classificado como reintegração de alunos da Escola de Educação Especial ao ensino regular, encaminhados a turmas de primeira a terceira séries de escolas estaduais. Segundo este relatório, 05 alunos foram reintegrados em 1979, 01 em 1980 e 05 em 1981.

Não foi possível estabelecer se o uso da palavra reintegração tem referência ao retorno de alunos que já haviam sido parte do ensino regular em outro momento ou se se trata de uso inapropriado do vocábulo, descrevendo apenas um processo de integração em que o aluno é, pela primeira vez, inserido no ensino regular.

Os dados numéricos do atendimento educacional dos alunos dos anos de 1982 e 1983, constantes nos Relatórios e nos Planos de Ação do período apresentam certa estabilidade, provavelmente por já ter-se alcançado o limite máximo de ocupação permitido pela casa, registrando-se apenas o aumento no volume das Classes Especiais instaladas em escolas regulares da capital.

Nos relatos dos professores que atuavam na Escola de Educação Especial deste momento, dois fatores se contrapunham: de um lado, a total ocupação dos espaços disponíveis na casa, quando as atividades transcorriam de maneira regular; de outro, a paralisação total de

atividades quando os veículos destinados ao transporte dos alunos no trajeto residência-escola encontravam-se fora de operação. Na síntese da professora Maria Mirna:

“A casa do governo e todo mundo ali. Era ali perto da prefeitura velha. Na esquina perto da SEPLAN. Uma casa do governo, sem nenhuma adaptação. Quando eu entrei, era cheio o pátio. E era tudo misturado, auditivo, visual e a mental era mais. A maior [quantidade de alunos] era mental, isso

em 1981, quando eu entrei. Era a única instalação e que tinha sido feito o trabalho inicial da primeira equipe, na Boa Vista toda. Elas visitaram as residências procurando os alunos.”

Este processo que se inicia poucos anos antes como um trabalho ‘corpo a corpo’ de convencimento da importância de que as pessoas com deficiência participem da vida da comunidade, em pouco tempo, se torna um elemento concreto daquela coletividade. Uma sequência de memorandos e ofícios direcionados à Escola de Educação Especial entre os anos de 1979 e 1983 é emblemático da diversidade de relações que foram sendo estabelecidas com esta Escola pelos demais setores da Secretaria de Educação e Cultura (SEC) e por outras instâncias oficiais da comunidade.

Percebe-se, nestes documentos, ao contrário da resistência inicial que se colocou quando da chegada das crianças às escolas regulares alguns anos antes, uma progressiva incorporação da presença da Escola, uma construção do sentido de pertencimento desta à rede de ensino do Território.

A escola é referida por alguns no endereçamento dos documentos como “Escola de Educação Especial”, por outros como “Escola Especial” e, por outros ainda, como “Escola dos Excepcionais”, mas é lembrada e chamada a ser parte de processos os mais diversos. Alguns exemplos da amplitude dessas relações que salientamos aqui:

 Oferta de vagas de cursos profissionalizantes por parte do Centro Social Urbano vinculado à SEC, para alunas da escola, em áreas de formação profissional como Manicure, por exemplo;

 Notificação de alterações e normas administrativas da SEC que, por seu teor devem ter sido repassadas a todas as demais escolas regulares;

 Convites para participação em reuniões de diretores, de supervisores, e de orientadores educacionais da Secretaria como um todo e de maneira integrada;

 Interlocução com a Escola de Formação de Professores, evidenciada no convite para discussão de Objetivos do Estágio Supervisionado realizado pelos alunos em formação, bem como chamada à participação no processo de discussão quanto a demandas para a melhoria da qualidade de formação dos futuros professores;

 Recepção de circulares com o objetivo de coletar dados para o estabelecimento prévio de normas de matrícula no período comum a todas as demais escolas;

 Recepção de Circulares de notificação e convite aos servidores da escola, alunos e familiares, quanto à ocorrência de festividades em geral, como por exemplo, comemorações do dia do funcionário público, de desfiles cívicos, tão em voga naquele momento, inclusive com o envio de congratulações pela Secretária de Educação em 1982, aos alunos e equipe da escola “pelo brilhante desempenho no desfile alegórico do dia 13 de setembro, aniversário de nosso Território”;

 Convites para participação de alunos e de professores da Escola em ações vinculadas à Coordenação de Educação Física, como: Jogos Escolares, passeios ciclísticos e demais atividades esportivas – tema que se destaca em todo o processo de desenvolvimento da área;  Convocações para participação no Encontro de Estudo do Plano de Educação e Cultura de Roraima;

 Inclusão nos processos de distribuição de material escolar e uniformes para os alunos carentes efetivados pelo Departamento de Assistência ao Educando

Destacamos ainda, como indicativo da presença forte e do crescimento da representatividade do trabalho em educação especial junto à comunidade, três curiosos documentos encontrados entre os elementos de rotina na documentação da escola: dois vindos da Câmara Municipal de Boa Vista, sendo um deles de dezembro de 1980, informando a doação de máquina de costura “por reconhecer ser uma das classes mais carentes, e por julgar venha a ser útil ao aprendizado dos alunos desta Escola”; e o outro ofício, de 12 de setembro de 1983 - uma Moção de Aplauso à Equipe de Trabalho salientando a “tão nobre dedicação a esta causa sublime que são as vossas mãos e corações estendidos aos Excepcionais de Roraima” rogando ainda que “Deus os auxilie nesta difícil missão”.

A perspectiva missionária, posicionando um trabalho técnico que deveria ser parte do cotidiano de ação dos órgãos públicos como benemerência abnegada, como “causa” a exigir a generosidade e dedicação de um grupo peculiar se manifesta intensamente nestes documentos emitidos por pessoas que respondem como representantes eleitos da comunidade. Associa-se ainda a deficiência à carência de recursos de subsistência, que justificaria a necessidade de fornecimento de equipamentos de profissionalização. Em que pese a pertinência de que se ofereça também a profissionalização, há aí um reforço ao desvio do foco educacional propriamente dito, que sinaliza a imagem que a coletividade cultivava deste trabalho.

O terceiro documento que nos pareceu curioso, tanto pelas datas de emissão quanto pelo teor da solicitação, é um ofício circular assinado pela presidente da Comissão de Moral

e Civismo 65 requisitando o envio de documentos a saber: Cronograma de Atividades de 1981; Plano de curso dos professores das disciplinas Educação Moral e Cívica (EMC) e Organização Social e Política Brasileira (OSPB); regimento do CCE (sigla que não é explicitada no documento) e Código de Honra (sic) e Curriculum Vitae dos professores de EMC e OSPB. São os rastros explicitados das ações de uma Ditadura Militar “incluindo” a todos em seus princípios de “formar, cultivar e disciplinar” (KAUFMANN e MARTINS, 2009, p. 246).

Outro momento que compõem o cotidiano da Escola de Educação Especial é a