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Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB

CAPÍTULO II – EDUCAÇÃO SUPERIOR E AVALIAÇÃO

2.2.1 Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB

O Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB, consiste em uma opção sistemática e coletiva de compreensão global de uma instituição e a atribuição de juízos de valor sobre o conjunto de suas atividades, estruturas, fins e relações, com o propósito de melhorar a instituição, tendo em conta suas características de identidade e sua missão.

Segundo Dias Sobrinho (2002a), procura ser um amplo processo avaliativo e, por conseguinte, interpretativo, analítico e educativo, isto é, transformador.

“Trata-se, portanto de atentar para os processos e contexto, não somente para os produtos, de compreender as relações e não apenas aspectos fragmentados e desarticulados de uma visão de conjunto”. (DIAS SOBRINHO, 2002a, p. 70). Tem como horizonte heurístico a globalidade, a visão integrada. Utiliza metodologias qualitativas ao lado de quantitativas. É uma construção coletiva, participativa e negociada, motivada sempre por uma ética social e uma intencionalidade vigorosamente educativa.

Para o PAIUB:

A avaliação de desempenho das universidades é uma forma de rever e aperfeiçoar o projeto acadêmico e sócio-político da instituição, promovendo a permanente melhoria da qualidade e pertinência das atividades desenvolvidas. A utilização eficiente, ética e relevante dos recursos humanos e materiais da universidade, traduzida em compromissos científicos e sociais, assegura a qualidade e a importância dos seus produtos e sua legitimação junto à sociedade. (COMISSÃO NACIONAL DE AVALIAÇÃO, 1993, p. 05).

Como objetivos específicos o programa prevê:

a) Impulsionar um processo criativo de autocrítica da instituição, como evidência da vontade política de auto-avaliar-se para garantir a qualidade da ação universitária, para prestar contas à sociedade da consonância dessa ação com as demandas científicas e sociais da atualidade;

b) Conhecer, numa atitude diagnóstica, como se realizam e se inter- relacionam na Universidade as tarefas acadêmicas em suas dimensões de ensino, pesquisa, extensão e administração;

c) (Re) estabelecer compromissos com a sociedade, explicitando as diretrizes de um projeto pedagógico e os fundamentos de um programa sistemático e participativo de avaliação, que permita o constante reordenamento, consolidação e/ou reformulação das ações da Universidade, mediante diferentes formas de divulgação dos resultados da avaliação e das ações dela decorrentes;

d) Repensar objetivos, modos de atuação e resultados na perspectiva de uma Universidade mais consentânea com o momento histórico em que se insere, capaz de responder às modificações estruturais da sociedade brasileira;

e) Estudar, propor e implementar mudanças das atividades de ensino, pesquisa e extensão e da gestão, contribuindo para a formulação de

projetos pedagógicos e institucionais socialmente legitimados e relevantes.

Para atingir esses objetivos, as instituições deveriam se pautar nos seguintes princípios: adesão voluntária, legitimidade, identidade, comparabilidade, não punição e não premiação, globalidade e continuidade.

O Programa possuía dotação financeira própria e as universidades, por livre adesão, se candidatavam aos editais propostos pelo MEC. Segundo Palharini (2001), os projetos, com duração média de dois anos deveriam prever três fases:

• Avaliação Interna ou Auto-avaliação realizada pela comunidade universitária;

• Avaliação Externa realizada por especialistas das áreas de conhecimento e/ou representantes da sociedade, e;

• Reavaliação com o objetivo de reunir e discutir os resultados das fases anteriores, estabelecendo ações para a melhoria da qualidade dos cursos e o aperfeiçoamento de seu projeto pedagógico.

De acordo com seus proponentes, a avaliação realizada com a implantação do PAIUB nas Instituições de Ensino Superior, significaria acompanhar metodicamente as ações a fim de verificar se as funções e prioridades determinadas coletivamente estavam sendo realizadas e atendidas; e, seria institucional à medida que, tanto de um modo geral quanto específico, procurava levar em consideração, na universidade, os diversos aspectos indissociáveis das suas múltiplas atividades-fim e das atividades meio, necessárias à sua realização. Considerava cada uma das dimensões – ensino, produção acadêmica, extensão e gestão – em suas interações, interfaces e interdisciplinaridades; e em conseqüência, buscava proceder a uma análise simultânea do conjunto de dimensões relevantes ou hierarquizava cronologicamente o tratamento de cada uma delas, a partir de prioridades definidas no âmbito das instituições e dos recursos disponíveis (COMISSÃO NACIONAL DE AVALIAÇÃO, 1993).

Autores são unânimes na defesa do PAIUB como modelo para avaliação das IES:

Para Santos Filho (1999), o ponto principal era a garantia da autonomia das universidades:

O modelo de avaliação institucional adotado ficou em grande medida sob a liderança das próprias universidades, recompondo-se o equilíbrio de poder entre estas e o governo. As universidades passaram então a aderir com mais segurança à política de avaliação institucional do governo, uma vez que viam no modelo adotado mais uma expressão das propostas das bases universitárias do que dos gabinetes da burocracia ministerial. (SANTOS FILHO, 1999, p. 16).

Dias Sobrinho (2002), o considera do ponto de vista ético e político,

Um modelo profundamente identificado com os princípios e valores da educação entendida como bem social e público, e por isso põe em foco o projeto educativo de cada instituição... se preocupa valorativamente com a compreensão e a construção dos sentidos. (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 71).

Belloni (2003) destaca como acertos do PAIUB:

A estratégia da formulação da proposta com participação das IES, a construção coletiva e no decorrer do processo, a previsão da não utilização dos resultados a curto prazo; a definição dos objetivos, a melhoria do sistema e não rankings ou punição, a não vinculação a funções de controle e acreditação de instituições e do sistema, a proposição dos princípios metodológicos básicos, a combinação de auto-avaliação e avaliação externa, de análises quantitativas e qualitativas e por fim a definição de uma estrutura metodológica comum a todas as IES, com flexibilidade para os ajustes e inovações próprias a cada uma delas. (BELLONI, 2003, p. 10).

Entretanto, ainda na opinião de Belloni (2003), o maior erro em relação ao Programa foi a entrega do processo à SESu/MEC e deste erro básico decorrem os outros que o enfraqueceram, como a falta de acompanhamento sistemático, a ausência de formação de competências para a sua implementação, o escasso comprometimento das reitorias; entre outros, pensamento este compartilhado por dirigentes universitários. O fato é que desde a publicação do primeiro Edital do MEC em1993, até 1996, quando da implementação do Exame Nacional de Cursos pelo Governo Federal, as instituições de ensino superior, em sua maioria, estavam empenhadas em construir um processo de avaliação autônomo e responsável, caracterizado especialmente pelo compromisso institucional.

Organizando-se para estabelecer bases de dados institucionais, abordando as diferentes dimensões da universidade; e ainda sem respostas definidas

aos inúmeros levantamentos realizados pelas comissões de avaliação, as universidades viram-se obrigadas a submeter-se aos novos mecanismos externos de avaliação, que vieram a ser incorporados ao Sistema Nacional, antes mesmo de ter sido consolidado internamente o processo que vinha sendo desenvolvido.