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Programas de residência médica

No documento Psiquiatria Forense de Taborda (páginas 75-78)

A formação acadêmica em psiquiatria forense iniciou-se com programas de ensino voltados a alunos de cursos de especialização residentes em psiquiatria, tornando-se, atualmente, parte de todos os currículos da residência em psiquiatria.3 Tal iniciativa

qualificou a formação do psiquiatra geral, fornecendo instrumentos para identificação e avaliação de situações forenses em sua prática diária.

Depois disso, criou-se a residência com área de atuação em psiquiatria forense, realizada após o término da formação psiquiátrica geral. Essa é a forma mais rica de aprendizagem na área. Além de ocorrer ao longo de um ano, de maneira diária e intensiva, esses programas oferecem suporte teórico, prática forense de habilidades técnicas de avaliação, entrevista e ética com supervisão àqueles que já tiverem concluído os três anos de residência em psiquiatria clínica, o que configuraria o quarto ano de residência. Além disso, têm o mérito de apresentar as visões de diferentes profissionais, retratando o que de fato existe na prática forense, sobretudo em situações que envolvem um grau maior de subjetividade. No entanto, os programas de residência em psiquiatria forense ainda são incipientes no Brasil, e poucos são os Estados brasileiros que os oferecem.

A seguir, serão comentadas as disponibilidades atuais nessa modalidade de ensino.

RIO GRANDE DO SUL

No passado, o ensino de psiquiatria forense no Estado do Rio Grande do Sul variava conforme a instituição de ensino e o momento. Assim, muitos psiquiatras que ingressavam para atendimento em hospital psiquiátrico-forense, apesar de terem formação psiquiátrica abrangente, pouco sabiam sobre as práticas nessas instituições.4,5

Com o objetivo de preencher uma lacuna no aprendizado forense, foi criada, pelo saudoso professor José G. V. Taborda, na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), em 2006, a residência em psiquiatria com área de atuação em psiquiatria forense. O Instituto Psiquiátrico-Forense Maurício Cardoso (IPFMC) foi escolhido como campo de estágio da residência, por ser um local tradicional, pioneiro na formulação de propostas e medidas institucionais que beneficiaram seus pacientes – tais como a alta progressiva, na década de 1960 –, rico em práticas forenses e aberto às inovações científicas.6 O grupo de preceptores foi composto por: José G. V. Taborda

(chefe), Lisieux E. de Borba Telles, Rogério G. Cardoso, Vivian P. Day, Pedro Zoratto e Alcina J. Barros. Nesse local era realizado o treinamento em psiquiatria forense e penitenciária, a partir do atendimento aos inimputáveis em cumprimento de medida de segurança e imputáveis na condição de superveniência de doença mental. A formação incluía também prática pericial criminal por intermédio de avaliações de imputabilidade e avaliações de risco. O Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas e a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre funcionavam como campo de treinamento em consultoria psiquiátrica legal, onde eram avaliadas situações de abusos infantis e capacidades cíveis.

A partir da prática de psiquiatria forense durante o terceiro ano da residência, no ano de 2015, o programa de residência médica em psiquiatria – área de atuação em psiquiatria forense – do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)/UFRGS foi credenciado junto ao Ministério da Educação (MEC). O quarto ano da residência em psiquiatria forense conta com duas vagas e inclui uma formação teórico-prática bastante abrangente por meio de:

aulas teóricas, seminários, grupos de estudos e discussão de casos sobre os temas civil, penal, trabalhista, legislação, bioética e psicopatologia forense

pesquisas

sessões acadêmicas de supervisão e discussão de casos periciais, via internet, com diferentes professores da área de faculdades ibero-latino-americanas

treinamento em psiquiatria forense criminal e penitenciária desenvolvido junto ao IPFMC e ao Departamento Médico-Legal do Rio Grande do Sul – nesse módulo, são desenvolvidas as técnicas e habilidades necessárias à prática pericial de

avaliação de diferentes agressores em relação a: imputabilidade penal, dependência toxicológica, avaliação da indicação de troca de pena por medida de segurança e avaliações de cessação de periculosidade (avaliação se risco de violência); além disso, realiza-se treinamento em avaliação de vítimas de suposta violência sexual treinamento em urgências psiquiátricas de populações carcerárias

treinamento em aplicação das principais escalas forenses validadas para uso no Brasil

assistência a inimputáveis em cumprimento de medida de segurança

treinamento em psiquiatria forense civil desenvolvido junto às varas cíveis

consultoria psiquiátrico-forense sobre questões de violência geral e doméstica, capacidade para os atos da vida civil, éticas e legais inerentes à prática psiquiátrica junto aos hospitais-escola HCPA e Unidade Álvaro Alvim

consultoria bioética, cujo treinamento ocorre no HCPA

Os preceptores são os professores Lisieux E. de Borba Telles, Flávio Pechansky, José Roberto Goldim e Félix Henrique Paim Kessler.

O programa recebe residentes de psiquiatria visitantes provenientes de todo o País e da América Latina, os quais acompanham as mesmas atividades teóricas e práticas que os residentes de psiquiatria do terceiro e do quarto anos.

SÃO PAULO

Na Universidade de São Paulo (USP), existe uma vaga para R4 na área de atuação da psiquiatria forense. Sua base é o Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e o Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas, mas os residentes passam também pela Fundação Casa, pelo juizado especial federal, pelo Departamento de Perícias da Secretaria da Educação, pelo Ambulatório de Perícias do IPq e pelo grupo de reavaliação das internações involuntárias do IPq.

Assim, no Estado de São Paulo, a formação dos residentes de psiquiatria forense abrange os seguintes tópicos:

legislação e bioética

atuação prática em diferentes esferas realização de perícias supervisionadas

interconsulta bioética – internações involuntárias

Os Drs. Daniel Martins de Barros, Gustavo Bonini Castellana, Tatiane Fernandes, Lícia Milena Oliveira, Sérgio Rachmann e Leika Sumi supervisionam os residentes.

O modelo teórico-prático é composto pelos seguintes tópicos:

aulas teóricas nas áreas civil, penal, trabalhista e de psicopatologia forense perícias

seminários

Os residentes do terceiro ano em psiquiatria passam seis meses no serviço, estagiando no ambulatório de perícias do IPq, onde recebem conhecimentos fundamentais e entram em contato com a elaboração de laudos.

O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (NUFOR) do Instituto e Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP, é coordenado pelo dr. Sérgio Rigonatti.

Na cidade de São Paulo, existe também outro programa de psiquiatria forense, de seis meses de duração, destinado aos R3, que ocorre na Santa Casa de Misericórdia e é coordenado pela dra. Hilda Morana. As aulas teóricas desse curso são dadas no Instituto de Medicina Social e Criminologia (IMESC).

No documento Psiquiatria Forense de Taborda (páginas 75-78)