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5.9 Categoria 7: Propostas de melhoria do fluxo de informação

5.9.4 Propostas para uso das informações

Este item agrupou as contribuições e sugestões dos alunos estagiários, professores orientadores e supervisores das instituições concedentes, que refletiram suas expectativas quanto ao uso das informações.

A apresentação das proposições segue a referência das classes de uso da informação definidas por Taylor (1968 apud CHOO, 2003). A análise das entrevistas indicou que as informações sugeridas para serem adicionadas no contexto do curso enquadram-se nas classes Compreensão do problema, Instrumental, Factual e Projetiva.

A classe compreensão do problema foi identificada na busca de aprofundamento em questões que não parecem ter espaço de discussão suficiente no curso.

Esse foi o caso do entendimento das diferentes perspectivas formativas dos pedagogos com os quais os alunos deparam-se nas instituições concedentes. A formação acadêmica no curso de Pedagogia em estudo pode não ser a mesma vivenciada pelos supervisores que acolhem os estagiários nas instituições concedentes. Dessa forma, os entrevistados P10, A1, A5, A6 e A8 entenderam que a diversidade de práticas, de acordo com os diferentes contextos, deveria ser mais bem explorada em sala de aula. O pluralismo que existe nas escolas, se discutido,

poderia reduzir a frustração dos estagiários ao enfrentarem situações distantes de suas expectativas, além de contribuir com o posicionamento e argumentação desses estagiários diante das vivências em campo. O entrevistado A8 falou sobre isso:

Às vezes o que eu acho que falta em questão de discussão, dentro de sala de aula, é a própria formação do professor, né? Do profissional dentro de sala de aula. Que às vezes, quando saímos daqui, e vamos pra um estágio não obrigatório, nós nos deparamos com professores de diversas formas e às vezes a gente não sabe lidar com a didática desses professores. Então, é... haver discussões em sala de aula que existem várias formações, deixar sempre bem claro isso. [...] Então a gente tem que sair daqui entendendo que a nossa formação não é a mesma deles. (A8)

A realização de eventos em conjunto com as instituições concedentes para obtenção de informações, proposta no item 5.9.2, podem se transformar em oportunidades de conhecer os profissionais que convivem com os estagiários no campo de estágio, buscando entender suas concepções para melhor lidar com as possíveis contradições. Aqui, novamente aparecem conceitos da gestão do conhecimento, criando o conhecimento ao dar contexto e significado à informação (DAVENPORT, 1998). Além disso, nota-se que as informações, nessa proposta, permitem a construção de conhecimento por meio do modo de socialização descrito por Nonaka e Takeuchi (1997).

A classe instrumental foi identificada nas propostas dos professores P1 e P2, dos supervisores S1 e S3 e dos estagiários A1, A2, A4, A6, A8, A10, A12 e A13. Destacou-se o relato do supervisor S1 que convive com o estagiário:

Algo que eles falam muito é qual é a função desse estagiário: Então a ideia é assim: o que que eu tenho que fazer na escola? [...] Esse eu acho que é o principal ponto que tem que ser discutido, assim: qual é a função desse estagiário [...] (S1).

Esses entrevistados apontaram a necessidade de usar as informações para discussão sobre o campo de atuação e as atribuições de um estagiário de pedagogia, seja com o objetivo do aluno escolher de forma mais assertiva o seu estágio, seja na tentativa de reduzir os desvios de função na prática, como descreveu o professor P2:

Eu penso que a gente deveria discutir mais qual é o campo de atuação do pedagogo. [...] porque se a gente leva essa discussão, a gente não vai ter mais casos de aluno que é porteiro em escola, aluno que é telefonista em escola, que é digitador em escola, que é secretário em escola. Porque nada disso faz parte do campo de atuação do pedagogo. (P2)

O uso das informações para saber o que e como realizar determinada tarefa, poderia tornar o aluno apto a identificar os limites da atuação em campo, a importância do estágio para a sua formação e os problemas recorrentes. Dessa forma, esse aluno, seguro das atividades pertinentes à sua atuação profissional, estaria menos vulnerável a possíveis abusos nas instituições concedentes.

As condições de trabalho encontradas pelos estagiários nas instituições concedentes foram vistas, pelos entrevistados P6 e P8, como informações a serem introduzidas no curso, promovendo uma reflexão quanto ao cenário do estágio não obrigatório. Segundo o entrevistado P6,

Quando o aluno vai como estagiário, por exemplo, pra rede pública, ele começa a trazer, e a gente poderia aproveitar melhor isso para discutir, para conversar, para aprender, para refletir, as condições de trabalho, as condições dos materiais didático-pedagógicos, as metodologias, a democratização das relações entre professores e alunos... enfim, dos fazeres docentes com que o aluno se depara quando tá no estágio remunerado ou não. [...] Com o que é que os alunos se deparam quando vão pro estágio. (P6)

Percebeu-se, nessa fala, o uso das informações da classe factual, aquelas que descrevem uma determinada realidade. É importante frisar que, ao indicarem o uso dessas informações, os professores esperam que as discussões promovam reflexões para que os alunos contribuam para a mudança do cenário em que esse estágio não obrigatório vem acontecendo, e não sua manutenção.

A classe projetiva, que não foi identificada no fluxo de informações existente, aparece, como proposta, na fala do entrevistado P3

Eu acho que a gente poderia tirar muito mais proveito desses estágios de maneira formativa se a gente tivesse... isso que eu tô falando na minhas aulas, se a gente tivesse isso de maneira mais sistematizada, para todos os professores. Ou que a gente tivesse mais informação dos próprios alunos de como acontece o estágio, de que tipo de relações eles estabelecem ali, de que tipo de aprendizagens eles têm, para usar no conteúdo das disciplinas, num esforço de relação entre teoria e prática. (P3)

De acordo com o entrevistado P3, ao terem acesso às informações do como acontecem os estágios, o corpo docente do curso poderia pensar a respeito dessa experiência dos alunos e articulá-la com seu planejamento, com os conteúdos de suas disciplinas e a dinâmica de suas aulas. Isso parece bastante certo, pois todas as disciplinas de um projeto pedagógico existem para compor a formação do profissional, e o curso deve estar sempre embasado nessa perspectiva, como explicam Pereira e Pereira:

É importante que o estágio se concretize como um momento de aproximação da realidade estudada, num esforço de compreensão crítica... Esse exercício de reflexão vai supor uma inserção profunda nessa realidade, buscando identificar fatores determinantes e/ou intervenientes, e vai exigir a busca de respaldo teórico no conteúdo de todas as disciplinas do curso, articulando-as. (PEREIRA; PEREIRA, 2012, p.31)

Não foi detectado um relato que indicasse, diretamente, uma associação da sugestão à classe pessoal ou política, usada para criar relacionamentos e parcerias. No entanto, observou-se que, além de ações de iniciativas exclusivamente internas, houve várias propostas que incluem a participação das instituições concedentes para a efetivação do fluxo de informações do acompanhamento do estágio não obrigatório. Essas seriam oportunidades de estreitar as parcerias entre as instituições.

Com características e concepções próprias, a relação da universidade com a instituição concedente deve ser conduzida com precaução, de forma que produza benefícios tanto no campo acadêmico quanto no campo de estágio do aluno.

Defendida pela maioria dos entrevistados, a aproximação da universidade com a instituição concedente é controversa para dois alunos. Por um lado eles têm receio que o campo de estágio se restrinja com essa proximidade, mas por outro, concordam que seria um ganho para a formação do estagiário. O aluno A7 comentou seu receio:

Necessária, talvez, mas arriscada com certeza. Porque, como eu falei, o regulamento e tudo o mais, não é feito pensado no aluno. Então, correríamos um sério risco de ver essa aproximação da universidade com as unidades de estágio como um empecilho a mais, para essas situações que para alguns é geração de renda, que pra alguns é o sustento. (A7)

Essa preocupação dos estagiários vai em direção ao que expõe Menezes (2012, p.224), referindo-se à presença do estagiário em sala de aula, mas que pode ser analisada sob a ótica de outras atividades conjuntas:

A presença do estagiário na sala de aula representa uma invasão do espaço do professor. Junto com ele traz também o olhar da universidade, do professor orientador. Essa inserção/invasão requer cuidado, negociação e alteridade. (MENEZES, 2012, p.224)

Para as intervenções que envolvam universidade e instituições concedentes, é adequado a construção de parcerias e não cobranças que possam criar fraturas entre os envolvidos.

Assim, entende-se como necessária a articulação para consolidar uma relação de parceria, que sirva não só para os estágios não obrigatórios, mas oportunidade para estabelecer ambiente de cooperação para outros projetos de ensino, pesquisa e extensão.

5.10 Categoria 8: Documento formal para o acompanhamento do estágio não