• Nenhum resultado encontrado

A questão das vestes talares

No documento A «guerra religiosa» na I República (páginas 127-133)

A IGREJA CATÓLICA PERANTE A LEI DA SEPARAÇÃO

6. A questão das vestes talares

Uma das acusações mais frequentemente lançadas sobre os sacerdotes pro- cessados por transgressão aos ditames do decreto de 20 de Abril tinha a ver com o uso das vestes talares fora das cerimónias religiosas. É que a ânsia de secula- rização do espaço público, por parte da facção irreligiosa – da qual o legislador da Lei da Separação foi, pode dizer-se, a voz e o rosto – chegou ao vestuário. O desejo de remeter para o domínio privado tudo o que dissesse respeito à religião não se conformava com a “ostentação” de trajes específicos que eram, só por si, uma afirmação de presença. Tal pretensão não era nova. Já em 1791 a Assembleia Legislativa Francesa proibira o uso do traje eclesiástico fora da liturgia203. Mas tal interdição caíra no esquecimento e, em 1905, quando se discutia a lei de sepa- ração em França, apesar de uma proposta de emenda nesse sentido apresentada no Parlamento, nada foi decidido. O relator Aristide Briand precisou mesmo que a comissão que preparara a lei tinha deixado de lado essa questão «pour ne pas encourir le reproche d’intolerance et encore moins celui du ridicule»204. No México, onde a guerra anticlerical conheceu períodos de grande violência, uma

200

Diário da Câmara dos Deputados, sessão nº 83, 22/03/1912. O livro focado seria a Cartilha Nova para o

José Povinho ler á noite, ao serão, Lisboa, Edição do Grémio “o Futuro”, 1911.

201 Guy Créquie, referindo-se a A. Comte, Feuerbach e Nietzche, faz notar que os ateístas são sempre reli-

giosos, tendo por objectivo fundar uma nova religião. Veja-se Guy Créquie, Religions et Société – quelle

perspective pour l’humanité, Lyon, Aléas Editeur, 1995.

202 Fernando Catroga, O Republicanismo em Portugal…, cit., p. 367. 203 Manuel Delgado Ruiz, “Anticlericalismo, espacio y poder”, cit., p. 171. 204 Jacqueline Lalouette, La libre pensée en France 1848-1940, cit., p. 321.



lei de 1874 introduziu restrições ao uso de vestes eclesiásticas205. É de crer, porém, que, devido à instabilidade dos anos seguintes, que levaram a alguma recuperação por parte da Igreja Católica, a lei tivesse caído no esquecimento.

Em Portugal, à data da implantação da República, o uso das vestes talares, especialmente fora dos templos, não estava generalizado. Contudo, nas últimas décadas, alguns bispos, convictos de que esse traje estava mais de acordo com a dignidade das funções eclesiásticas, intentaram pôr termo ao desleixo que se verificava, enviando orientações aos eclesiásticos sobre o modo de vestir. Em 1875, o bispo de Coimbra publicou uma pastoral em que chamava a atenção para a necessidade de os sacerdotes se vestirem de acordo com o seu estado. Nos anos 80, o bispo de Beja legislou sobre o mesmo tema, procurando que o hábito talar fosse usado em público. Aceitava, contudo, que, em determinadas ocasiões – em viagem e nas freguesias rurais – se pudesse trajar à secular206.

Já no século XX, em 1906, o patriarca de Lisboa, D. José Sebastião Neto, entendeu dever introduzir algumas normas sobre o que pensava ser decência no vestuário. Assim, proibiu o clero da sua diocese de entrar numa igreja trajado de outra forma que não fosse com vestuário rigorosamente eclesiástico. Ajuizava que, mesmo fora do templo, convinha que vestisse desse modo. Contemporizava relati- vamente a circunstâncias especiais, como por exemplo, em jornada. Mas, mesmo nesta situação, o vestuário devia ser preto, com o casaco a cobrir os joelhos207.

Não obstante as prescrições, muitos clérigos não usavam vestes próprias do seu estado. Neste ponto, como em outros da disciplina eclesiástica, uns seriam muito cumpridores e outros muito relaxados. Para os anticlericais, constituiria até um sinal que distinguiria um padre liberal de um padre reaccionário, o qual, no vocabulário do tempo, era apodado de jesuíta.

Nas aldeias, com ruas frequentemente não calcetadas, tornava-se difícil usar vestes talares, pelo que o artigo 176.º da Lei da Separação, que proibia aos ministros de qualquer religião, seminaristas “e, em geral, a todos os indivíduos que directa ou indirectamente intervenham ou se destinem a intervir no culto, o uso, fora dos templos e das cerimónias cultuais, de hábitos ou vestes talares”, não trans- tornaria consideravelmente os costumes de um grande número de padres. É o que se conclui de uma carta dirigida ao governador civil por um sacerdote do distrito de Bragança. Afirmava ele que, nas aldeias, o uso de vestes talares era quase impossível, devido à falta de limpeza das ruas, quase sempre cheias de lodo e outras imundícies. Por isso, só nas festas do fim do verão ou, quando iam para a igreja,

205 Gregorio L. de la Fuente Monge, ob. cit., p. 48.

206 Jacinto Salvador Guerreiro, “A diocese de Beja no final do século XIX: a intervenção de D. António Xavier

de Sousa Monteiro”, in Lusitania Sacra, 2ª série, tomo VIII/IX, Lisboa, CEHR, 1996/1997, p. 99. Em 1856 os clérigos de Braga tinham recebido instruções sobre esta matéria. Cf. Echos do Minho, Ano I, nº 4, 19/01/1911, p. 2, col. 3.



é que alguns padres trajavam de acordo com o regulamentado. O único distintivo usado pelos párocos das aldeias era o cabeção. Este padre, desejoso de cumprir a lei, queria saber se, nos hábitos talares, estava incluído o cabeção. Em sua opinião, não estava incluído208. Por assim pensar, entenderia que podia continuar a usar o cabeção sem cometer qualquer ilegalidade.

Conquanto muitos clérigos não usassem trajo diferente dos cidadãos normais, a proibição introduzida na lei era considerada ofensiva, por se entender que ata- cava a liberdade individual. O sentimento de revolta foi aumentando à medida que se ia tendo conhecimento que, em Lisboa, membros de ordens religiosas estrangeiras continuavam a usar os seus hábitos, por especial deferência da parte das autoridades portuguesas, interessadas em evitar atritos com os governos sob cuja protecção se encontravam esses congreganistas. Sensibilizado para este pro- blema, poucos dias antes de entrar em vigor o decreto de 20 de Abril, Eduardo de Abreu levantou a questão do Seminário dos Inglesinhos, cujos alunos continuavam a usar vestes talares. Quis saber se a lei se aplicava também a eles209. A controvérsia não se confinava a este caso. Desde há séculos, padres e freiras, ligados a igrejas privadas sustentadas por outros países – França, Inglaterra e Itália – viviam em Portugal, dando assistência religiosa aos compatriotas aqui residentes. A imprensa católica referia-se com alguma insistência às freiras irlandesas do Bom Socorro, que continuavam a usar o hábito.

Bernardino Machado, que substituía Afonso Costa – ausente devido a doença prolongada – à frente do Ministério da Justiça, sentiu algum desconforto ante a interpelação. Com a sua costumada cordialidade procurou dissimular o que havia de vexatório na lei e declarou que a proibição de vestes talares era uma “disposição protectora”, destinada a evitar que, em represália ao clericalismo, alguém fosse injuriado na rua210. Mas, provavelmente, o ministro não acreditava no argumento utilizado. É curiosa a troca de telegramas ocorrida por esses dias, entre Bernardino Machado e a legação de Portugal em Londres. O governante pediu, com carácter de urgência, no dia imediato à interpelação de Eduardo de Abreu, para ser informado se, em Inglaterra, era permitido o uso de hábitos talares na rua. A resposta foi pronta: sim, encontravam-se padres, frades e freiras, com suas vestes. Quanto a existir alguma lei a autorizar, o representante de Portugal em Londres procurou informar-se no Foreign Office. Aqui disseram-lhe que não se conhecia lei alguma que proibisse o uso de tais vestes211.

208

Arquivo Distrital de Bragança, Governo Civil, Correspondência Interna, cx. 0053.

209 Diário da Câmara dos Deputados, sessão nº 6, 26/06/1911. 210 Ibidem.

211 Arquivo Histórico-Diplomático, Secretaria Geral da Direcção Geral dos Negócios Políticos, Relações



A 29 de Junho, com essas informações, Bernardino Machado assegurou, perante os deputados, que a lei mantinha o statu quo ante para as igrejas católicas que se encontravam em Portugal sob a superintendência das legações212. Pouco

depois, enviou “instruções” aos administradores concelhios, insistindo que a dis- posição tão contestada servia para salvaguardar e proteger os ministros da religião. Lembrava que, em todas as funções de culto externo, quando fossem autorizadas, o uso seria, ipso facto, permitido. Contudo, uma outra parte do texto é bem menos cordial, deixando entrever as reservas do ministro contra os sacerdotes católicos:

“Esperemos que dentro em pouco, emancipados os ministros católicos das influências ultramontanas, que os têm tiranizado, e dando eles ao país as provas patrióticas do amor às liberdades públicas e às instituições republicanas, como cumpre a todos os bons portugueses, deixem os hábitos talares de ser considera- dos como uniformes de guerra, e possam novamente ser permitidos por lei, sem inconvenientes de ordem pública e de segurança individual”213.

As explicações fornecidas não convenciam muitos católicos. Pensavam ser humilhante que fosse proibido a um português aquilo que era autorizado a um inglês ou a um francês. Por estas ou outras razões, alguns eclesiásticos teimavam em continuar a vestir os trajes próprios do seu estado. Pouco depois da agres- são sofrida na Guarda pelo padre Henrique Duarte Dias, pároco da freguesia de S. Vicente, que ficou com os hábitos talares rasgados, o governador civil desse distrito oficiou ao bispo para que tomasse providências no sentido de evitar que os padres da diocese continuassem a usá-los. A resposta de D. Manuel Vieira de Matos foi altiva. Não aceitava dar aos seus subordinados uma ordem que reputava atentatória da mais elementar liberdade. Entendia que todo o cidadão era livre para trajar como entendesse, contanto que não ofendesse a moral214.

Na maior parte do país, no viver quotidiano, fora dos actos de culto, a proi- bição foi acatada, embora os padres, em grande número, continuassem a usar cabeção, porque entendiam que esta peça não fazia parte dos hábitos talares. Contudo, algumas autoridades civis não concordavam com este princípio. Assim,

212 Para justificar a posição tomada, Bernardino Machado acrescentou ainda que essas igrejas viviam em

Portugal sem se envolverem em lutas políticas, ao contrário das “congregações jesuíticas” que estavam fora da lei. Cf. Diário da Câmara dos Deputados, sessão nº 10, 29/06/1911.

213 Carlos de Oliveira, ob. cit., p. 145.

A alegação de que a proibição de vestes talares se destinava a proteger os membros do clero era aceite por pessoas que mostravam bastante isenção, não parecendo hostis ao clero. É o que se passa com Alberto Martins de Carvalho, A Lei da Separação das Egrejas do Estado e outros diplomas legais, Coimbra, Tip. Popular, 1917, p. 101.



o administrador de Santa Comba Dão revelou disposição de não consentir que os padres usassem tal distintivo215.

Não era só a questão do cabeção que levantava dúvidas. O conceito de vestes talares variava de administrador para administrador. Em Guimarães foi detido um padre quando saía da igreja de S. Sebastião, onde acabara de pregar. Envergava um casaco que deixava a descoberto um pouco da parte inferior da batina216. As peças

de vestuário dos ministros da religião eram examinadas e medidas até ao centíme- tro. O padre de Vildemoinhos, no concelho de Viseu, queixando-se das restrições que alguém pretendia pôr à sua acção religiosa, afirmou que até se criticava o seu casaco um tanto comprido – naturalmente por se assemelhar a uma batina217. Em Agosto de 1913 o administrador de Braga mostrava-se particularmente esquisito com o vestuário dos sacerdotes, tendo enviado aos regedores do seu concelho recomendações para que usassem do maior rigor na fiscalização do cumprimento do artigo 176.º do decreto de 20 de Abril de 1911. Lembrava que a doutrina desse artigo era extensiva a uns casacões que apenas se distinguiam das batinas vulgares por serem abertos e terem botões. Em sua opinião, tais casacos deviam incluir-se dentro dos hábitos talares218. Também em Angra do Heroísmo os radicais se mos-

travam incomodados com os “jaquetões pesados e graves, monótonos e ridículos” usados pelos eclesiásticos219.

Curiosamente, o periódico O Livre Pensamento, geralmente tão radical em tudo o que dissesse respeito às determinações da Lei da Separação, revelava-se muito conciliador nesta matéria, talvez para fugir à acusação, sempre presente, de que os padres portugueses – a quem se proibia um vestuário autorizado aos estrangeiros – eram discriminados na sua própria terra. O redactor do periódico da Associação do Registo Civil considerava hábitos talares somente a estola, a casula, a capa de asperges, a alva, o cordel, que se destinavam às cerimónias do culto. A sotaina, o chapéu ou barrete, o cabeção, eram trajes eclesiásticos220.

215

Ibidem, Ano I, nº 32, 19/07/1911, p. 1, col. 4.

216

O padre foi libertado pouco depois, sendo alvo de uma manifestação popular de simpatia. Echos do Minho, Ano II, nº 152, 27/06/1912, p. 1, col. 3.

217

Correio da Beira, Ano I, nº 94, 22/02/1912, p. 1, col. 3.

218 O Dia, nº 570, 27/08/1913, p. 1, col. 4.

219 A Luta (Angra do Heroísmo), Ano I, nº 4, 25/08/1912, p. 1, col. 3. Toda esta confusão acerca de trajes

mostra que não era descabida a crítica irónica de Jaime Magalhães Lima à legislação que obrigava os clérigos a vestir à secular. O autor lembrava que em França, Bélgica, Alemanha…, se encontravam nas ruas sacerdotes com as suas vestes e ninguém se importava. Perguntava até onde podia descer um varino de modo a não ser talar. E as calças, seriam talares, ultratalares? Chamou a atenção dos alfaiates, chapeleiros, sapateiros… para que não houvesse abusos. Cf. Educação Nacional, Ano XVI, nº 60, 28/06/1911, p. 1, col. 1-2.

220 O Livre Pensamento, Ano I, nº 21, 30/06/1912, p. 2, nota de rodapé. Em 1914 a Associação representou

ao Parlamento, dando sugestões sobre a revisão da Lei da Separação que ia ser debatida. Sobre o art. 176.º, distinguia hábitos talares de simples trajos eclesiásticos “que razão alguma aconselha a interdizer”. Veja-se



Mas as autoridades insistiam no cumprimento do que lhes parecia que estava legislado. Aliás, mesmo sem distinguir vestes talares de vestes eclesiásticas, a lei, neste como em outros artigos, estava sujeita a interpretações variadas. A confusão nascia logo do entendimento que se podia ter de cerimónia cultual. O padre José António Marques da Cruz, pároco da freguesia de Penacova, em Agosto de 1911 foi levado a tribunal e condenado por ter infringido o art. 176º. O acusado, citando a circular de Bernardino Machado, alegou que, ao ir de sua casa para a igreja com fim exclusivo de praticar actos religiosos, podia usar vestes talares. Confiando na razão que lhe assistia, apelou para o Tribunal de Relação do Porto, que confirmou a sentença221. Também o padre José Francisco Corujos, de Vagos, em Novembro de 1911 foi, em vestes talares, para um funeral. No seu entender, ao dirigir-se para casa do falecido já estava a exercer funções religiosas. Mas o acusador e o Tribunal de Relação foram de opinião que o serviço cultual só se iniciava junto do cadáver222. Os próprios bispos não estavam livres de sofrer o rigor da lei, se insistissem no uso das vestes proibidas. Em Julho de 1911, o bispo de Portalegre, ao chegar a Viseu, onde tencionava assistir aos actos fúnebres em honra do bispo desta cidade – falecido recentemente – foi preso na estação ferroviária por se apresentar com hábitos talares. Aliás, a viagem fora um tanto atribulada, tendo havido protestos, por parte dos populares, nas estações onde teve de mudar de comboio. O incidente de maior gravidade ocorreu no Entroncamento. Uma mulher provocou o alvo- roço com o grito: “Olhem um jesuíta!”. Vários populares acercaram-se, dispostos a arrancar-lhe os hábitos e o chapéu. Em Viseu, o bispo foi conduzido a um hotel, onde ficou detido às ordens do governador civil, que se apressou a consultar o ministro da Justiça. O governante deu ordens para que, depois de repreendido, o bispo fosse solto, sob compromisso de não reincidir223. Mas, decididamente, o

bispo estava apegado ao trajo proibido e, assim, os problemas continuariam, visto que a autoridade civil andava vigilante. Em Agosto do mesmo ano, já na sua cidade, saiu do seminário com as vestes talares, dirigindo-se para a Sé, em carro fechado. Avisada, a autoridade postou-se à porta do templo, para o apanhar em flagrante, à saída. Prevenido, o bispo conseguiu escapar, retirando-se para o Paço – onde já não residia –, que comunicava com a Igreja224.

Não era somente o vestuário que distinguia os homens da igreja dos restantes cidadãos. Num tempo em que a moda masculina determinava o uso do bigode, ou mesmo da barba, os eclesiásticos apresentavam-se com o rosto desprovido

221

Revista dos Tribunais, Ano XXX, nº 714, 29/02/12, pp. 286-287.

222 Ibidem, nº 718, 30/04/1912, p. 350.

223 Echos do Minho, Ano I, nº 52, 9/07/1911, p. 3, col. 2. Segundo A Voz da Verdade, na estação do Entron-

camento dezoito matulões dirigiram-se à carruagem onde se encontrava o bispo, arrastaram-no para fora, cuspiram-lhe no rosto e esbofetearam-no. Cf. A Voz da Verdade, Ano XVIII, nº 29, 20/07/1911, p. 347.



desse adorno. Não passaria de uma disposição sem grande significado, pois os missionários usavam barba. O bispo do Porto, D. António Barroso, como ex- missionário, não alterara o seu visual. Não espanta que muitos padres, após a proclamação da República, se tenham apressado a deixar crescer o bigode ou a barba. Ser reconhecido como padre, nesse tempo, podia originar grandes contra- riedades. É compreensível que, em tal conjuntura, os clérigos desejassem passar despercebidos. Em Março de 1911, os jornais noticiaram que, por iniciativa de monsenhor Elviro dos Santos, pároco da freguesia de Santa Engrácia, em Lisboa, os padres se movimentavam no sentido de enviarem a Roma uma representação solicitando permissão para o uso facultativo da barba e da coroa225. O movimento reivindicativo chegou às zonas mais afastadas226. Mas a hierarquia eclesiástica não

concordava com tal pretensão. Em Agosto de 1911 o patriarca de Lisboa, em carta dirigida ao secretário da nunciatura, Monsenhor Masella, mostrou-se intransigente relativamente ao pedido do pároco de Carnide para que lhe fosse concedida a faculdade de usar barba crescida. Entendia que, num país tão esquecido das dispo- sições estabelecidas sobre disciplina, com a barba seria completa a confusão. Para D. António Mendes Belo, usar barba seria dar a perceber que se tinha vergonha “de fazer parte da sagrada milícia de Jesus Cristo”227.

No documento A «guerra religiosa» na I República (páginas 127-133)