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1. INTRODUÇÃO

4.3 PELA DÉCADA DE 1970

4.3.4 Raposa Velha

Um outro grupo que viria a se destacar na cena soteropolitana foi o Raposa Velha. Os compositores Zeca Freitas (sax e piano) e Fred Dantas (trombone) tinham a intenção de trilhar os caminhos do free jazz, com uma pitada da vanguarda européia e de muito experimentalismo. Assim, chamaram Carlinhos Marques (baixo) e os irmãos Mou (guitarra) e Jorge Brasil (bateria) para a empreitada. Na época foi o grupo mais avant-

garde da cidade82. Esta banda deu uma mostra do seu trabalho no LP Raposa Velha,

gravado na WR e que saiu em 1981, com produção de Nicolau Rios. Gravaram uma fita

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Baixista, compositor, arranjador, integrou um dos principais grupos de MI de Salvador da década de 1980. Trataremos dele mais à frente.

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em 1985, naquele mesmo estúdio, com participação do baterista Guimo Migoya, do tecladista Luizinho Assis, do baixista Cezário Leone e do percussionista Vovô. Ambos os trabalhos foram reunidos num CD, em 2006.

Sobre a proposta sonora do Raposa Velha, Zeca Freitas revelou-me:

Quando Fred propôs trocar free jazz, é o free jazz que era o mais louco... Primeiro que o Fred era – ainda é – bastante louco, fazia coisas loucas, né? A loucura na música e o free jazz é um prato feito. Mas falava muito no Ornette Coleman, era uma referência que foi citada pelo Fred; mas a gente fazia muita música com certeza com influência da Escola. Teve uma época que eu e Fred – a proposta era essa – fazer música totalmente fora do padrão, era eu e ele compondo, e com certeza tem essa influência (FREITAS, depoimento, 2006).

Carlinhos Marques, veja mais abaixo, refere-se ao som do Raposa como um “instrumental moderno, fazendo jazz, fazendo experiências de música livre, música atonal, inclusive” (depoimento, 2006).

Frederico Meirelles Dantas [*1957?] é baiano, formado em Composição e Trombone pela Escola de Música da UFBA, onde fez também Mestrado em Etnomusicologia. É membro da Orquestra Sinfônica da UFBA. Fundou a Oficina de Frevos e Dobrados em 1982, e posteriormente, a Orquestra Fred Dantas. Atualmente, em parceria com o UNICEF, é responsável pelo projeto Filarmônica das Crianças, que vem desenvolvendo seu trabalho no Centro Histórico de Salvador. Fred Dantas é responsável ainda pela criação da Escola e Filarmônica Ambiental, em Camaçari, e pela Lira de Maracangalha83.

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Informações obtidas em

Luiz (1954) e Mou Brasil (1959) fazem parte de uma das famílias mais musicais de Salvador e são irmãos de Jorge e Marcelo, ambos bateristas. Seus sobrinhos e filhos levam adiante o mesmo tino musical.

Luiz Brasil84 estudou violão clássico, harmonia rítmica e percepção na

Universidade Católica de Salvador a partir de 1974. Entre 1970 e 1974 atuou no grupo Scorpius (futuro Chiclete com Banana). Neste mesmo ano ingressou no grupo Mar Revolto, no qual permaneceu até 1980. Participou dos wokshops oferecidos no Instituto Goethe, supracitados, com Vitor Assis Brasil e Volker Kriegel, cursando guitarra e improvisação (1976). De 1978 a 1980 acompanhou Zezé Motta. Mudou-se para São Paulo onde fundou o grupo instrumental Sexo dos Anjos e, paralelamente, realizou trabalhos com o grupo Bendengó (com Gereba), Trio Elétrico Triolim, Carlos Pita, grupo Ovos do Brasil, entre outros, e atuando em campanhas publicitárias. Já no Rio de Janeiro foi produtor e diretor musical de Moraes Moreira por muitos anos e trabalhou na Rede Globo (nos programas dos Trapalhões, Calouros de Ouro e Faustão). Integrou a Banda de Caetano Veloso a partir de 1992. Atuou em diversas cidades da Europa e dos EUA. Acompanhou grandes nomes da MPB como Cássia Eller, Zizi Possi, Leila Pinheiro, Maria Bethânia, Trio Elétrico Dodô e Osmar, A Cor do Som, Gilberto Gil, Batatinha, Ricco Duarte, Jussara Silveira, Simone Guimarães, Elba Ramalho, Renata Arruda, Fernanda Abreu, Sarajane, Gal Costa, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Adriana Calcanhoto, Gabriel, O Pensador, Elza Soares e até o tenor Luciano Pavaroti. Compôs trilhas para cinema (O Quatrilho, Tieta, Central do Brasil). Seu 1º disco solo é Brasilêru, lançado em 2005.

Mou Brasil85 iniciou sua carreira profissional aos 17 anos. Chegou a cursar alguns meses do curso preparatório da EMUS, mas precisou trabalhar, o que o fez

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Veja mais em http://www.myspace.com/brasileru, em http://www.luizbrasil.com.br/blog/page/4/ e em http://www.dicionariompb.com.br/luiz-brasil [último acesso em 03.02.2010].

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abandonar o curso. No movimento da MI dos anos 70/80, integrou os grupos Raposa Velha, Jazz Carmo Quinteto, Cozinha Baiana, Grupo Garagem. Tocou com Leo Gandelman, Heraldo do Monte, Marcio Montarroyos, Arthur Maia, Sizão Machado, Dominguinhos, Luiz Melodia, Nivaldo Ornelas, Nelson Ayres, Nicola Stilo, Jurim Moreira, Sidinho Moreira, Jorginho Gomes, Stefano Belmondo, Steve Thorton, Jacques Morelenbaum, Nelson Veras, Alain Jean Marie e muitos outros. Apresentou-se inúmeras vezes em duo com Jeff Gardner (Brasil e França). Tocou em tournée com Caetano Veloso. Acompanhou Gal Costa por quatro anos, com shows nos EUA, Europa e América do Sul. Foi diversas vezes ao Oriente, tocando com Sadao Watanabe, Ruichi Sakamoto e Virgínia Rodrigues. Ministrou inúmeros cursos e workshops, atuando em edições diversas do Mercado Cultural (Salvador).

Carlinhos Marques – aquele que encontrou o pianista Gessildo Caribé lá no estúdio JS – foi uma das raposas desta banda. Menino da Cidade Baixa, do bairro de Roma, prestava atenção nos encontros dos chorões mais velhos:

Eu tocava muito com músicos mais velhos do que eu, muito mais velhos do que eu; e aprendi a tocar tango, aprendi a tocar bolero, aprendi a tocar cha-cha-chá, aprendi a tocar salsa, baião, xote, não tenho preconceito com nenhuma música (MARQUES, depoimento, 2007).

Entre as suas influências estão também os Beatles e a Bossa Nova. Ele foi descoberto pelo maestro Carlos Lacerda. Este o apresentou ao empresário Jorge Santos, e assim começou a trabalhar na área de jingles comerciais.

Foi convidado por Zeca Freitas e Fred Dantas para integrar o grupo Raposa Velha. Não tendo, na época, experiência jazzística, descreve assim a sua participação:

Alguém que caiu de pára-quedas no meio de pessoas que por acaso tinham mais conhecimento, principalmente Zeca Freitas e Anunciação, que já tinham

experiência de vida internacional, inclusive uma formação, de música teórica, né, maior do que a minha (MARQUES, depoimento, 2007).

No entanto, modéstias à parte, ele havia acumulado uma vasta experiência tocando, no início da década de 1970, no grupo parafolclórico Brasil Tropical86, com o qual visitou a Europa, Estados Unidos e Ásia:

O maestro Carlos Lacerda, então, diretor do Teatro Castro Alves, e que me conhecia desde a JS, me indicou como substituto desse baixista pra fazer dois ensaios e tocar um espetáculo de duas horas, com marcação de dança o tempo inteiro. Teve muita confiança, porque era difícil. Era orquestra mesmo, e arranjos em cima da coreografia. E eu, a trancos e barrancos, aceitei o desafio, consegui fazer. Fiz a temporada de uma semana. No último dia, ao receber o cachê, o cara me convidou pra ir pra fora do país (Idem).

Após a experiência com o Raposa Velha e depois de muitos bailes tocados, passou a integrar a Banda Acordes Verdes, de Luís Caldas. A partir daí, tocou com um sem número de artistas da indústria do carnaval baiano.

Compôs o grupo de trabalho da gravadora WR (Wesley & Rangel) onde ficaria por 28 anos. Posteriormente fundaria o seu próprio estúdio, o Ellus87.