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Reconhecimento de Documentos Electrónicos

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5.4. Reconhecimento de Documentos Electrónicos

Um passo importante na regulamentação das actividades por via electrónica passa pelo reconhecimento oficial de documentos, como contratos e facturas ou simples comunicados, como mensagens de e-mail. Também as assinaturas electrónicas representam um bom avanço, sendo um garante semelhante à assinatura manuscrita.

Em muitos países, a lei exige que certos contratos estejam no formato de papel e sejam assinados pelas partes. Actualmente, o formato em papel já não garante nada e a assinatura escrita pode muito facilmente ser substituída por uma electrónica para firmar relações através da Internet, apresentando esta muito maior segurança contra a fraude.

Preocupações semelhantes levantam-se em relação à garantia de que mensagens de e-mail realmente chegaram ao destino. Este tipo de garantias são importantes na normalização das evidências. Poderão documentos electrónicos como mensagens de e-mail ou ficheiros com texto transmitidos através da Internet ser utilizados como prova em casos de processos jurídicos? Em situações de e-government como a entrega da declaração de rendimentos (IRS ou IRC), que garantias é que têm as partes em como foi entregue?

Estas questões têm que ser respondidas através de legislação que regule este tipo de práticas, permitindo o uso de documentos electrónicos para satisfazer requisitos legais como sejam “escrito” e “assinado”. Sem uma resolução, estas questões podem criar barreiras ao comércio electrónico, mantendo a incerteza que desencoraja o negócio entre os consumidores através da Internet.

5.4.1. Regras dos requisitos legais para o formato escrito de documentos

Em 1996, a United Nation Commission on International Trade Law (UNCITRAL) publicou o “Model Law on Electronic Commerce” (Coppel, OECD, 2000). Este modelo propõe vários princípios funcionais com aplicabilidade prática na generalidade dos países e nas relações entre diversos sistemas legislativos. A par com a análise descritiva deste modelo, serão abordadas as iniciativas já implementadas na legislação portuguesa, que regulamentam cada item abordado.

Reconhecimento legal de mensagens

A informação não deve ser negada para efeitos legais, validada ou descriminada por ser transmitida na forma electrónica (Artigo 5). Tal está também consagrado no DL nº290D/99 de 2 de Agosto, nos termos do artigo 6º, nº1 onde se lê “A comunicação de documentos electrónicos considerar-se-á efectuada se o documento for transmitido para o endereço electrónico definido pelas partes e nele for recebido”.

Escrita

Sempre que a lei exigir a forma escrita, este requisito é cumprido através da informação na forma electrónica, desde que acessível para ser utilizada em referência subsequente (Artigo 6). Tal está também consagrado no DL nº290D/99 de 2 de Agosto, nos termos do artigo 3º, onde se lê: “o

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documento electrónico poderá também satisfazer o requisito legal da forma escrita, se o seu conteúdo for susceptível de representação como declaração escrita”.

Assinatura

Nos casos em que a lei exige a assinatura de uma pessoa, este requisito é cumprido em relação a uma mensagem desde que o método seja utilizado para identificar a pessoa e servir como aprovação dessa pessoa da informação contida na mensagem e desde que o método seja fiável para a forma como a mensagem foi gerada ou comunicada, dadas as circunstâncias, incluindo qualquer acordo entre as partes (Artigo 7). A este respeito ver o DL nº290D/99 de 2 de Agosto.

“Tendo aposta assinatura digital certificada por entidade credenciada, o documento terá a força probatória do documento assinado (art. 376.º Código Civil). Ou seja, faz prova plena quanto às declarações atribuídas ao seu autor, sem prejuízo da arguição e prova da falsidade do documento.

Não tendo este tipo de assinatura digital, o seu valor probatório será apreciado nos termos gerias de direito (não sujeito a regime especial).

Aposta que seja uma assinatura digital certificada por uma entidade credenciada, o documento cujo conteúdo não seja susceptível de representação como declaração escrita terá a força probatória prevista no art. 368.º do Código Civil (fará prova plena dos factos e das coisas que representam, se a parte contra quem for apresentado não impugnar a sua exactidão) e no art. 167.º do Código de Processo Penal (vale como prova dos factos ou coisas reproduzidas se não for ilícito, nos termos da lei penal). Caso não seja aposta assinatura digital certificada por entidade credenciada, o valor probatório do documento será apreciado nos termos gerais de direito.”

Em: Abbate, 2001, pág. 94-95.

Original

Uma mensagem electrónica que cumpra certos critérios funcionais pode ser tratada como original, no sentido em que não está corrompida no seu conteúdo (Artigo 8). A este respeito foi aprovado o D.L. nº375/99 de 18 de Setembro, que reconhece e define o regime jurídico aplicável às facturas electrónicas. Nos termos deste decreto, “a factura poderá ser transmitida por meios electrónicos, equivalendo esse documento, para todos os efeitos legais, aos originais das facturas ou documentos equivalentes emitidos em suporte papel, com o requisito indispensável de lhe ser aposta uma assinatura digital que obedeça aos pressupostos anteriormente analisados (art. 1.º nº2)” (Abbate, 2001, pág. 104).

Arquivo de mensagens

Sempre que a lei exija que certos documentos sejam guardados em arquivo, o modelo referido especifica que esse requisito é cumprido através do arquivo em forma electrónica, sendo que certos critérios estejam salvaguardados (Artigo 10).

O modelo estabelece, no entanto, certas excepções para o uso de documentos electrónicos. Casos mais sensíveis, em que a assinatura presencial de documentos onde se estabelecem acordos entre as partes seja mantida. Exemplos como a transmissão de imóveis (terrenos, casas, etc.), divórcios, adopções e testamentos são casos em que a lei em muitos países exige uma maior evidência em que as partes realmente acordaram o fim pretendido. Normalmente, é exigida a assinatura presencial das partes e o reconhecimento notarial dessas assinaturas.

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5.4.2. Lei da evidência

O modelo apresentado pela UNCITRAL também estabelece regulamentos que respeitam às questões de evidência. Estabelece que, nos procedimentos legais, na aplicação das regras da evidência, nada deve ser aplicado para negar a admissibilidade de um documento electrónico na simples queixa de que apresenta essa forma e, por isso, não se encontra na sua versão original, ou seja, que a informação está corrompida em relação ao estabelecido inicialmente. Tal está estabelecido no artigo 9. Da mesma forma, está estabelecido no art. 6º nº3 do DL nº290D/99 de 2 de Agosto que “a comunicação do documento electrónico assinado, por meio de telecomunicações que assegure a efectiva recepção, equivale à remessa por via postal registada. Se a recepção for comprovada por mensagem de confirmação dirigida ao remetente pelo destinatário com assinatura digital e recebida pelo remetente, equivale à remessa por via postal registada com aviso de recepção”.

5.4.3. Lei dos contratos

O modelo apresentado pela UNCITRAL inclui também regulamentações para a realização de contratos. Segundo o artigo 11 do modelo, a proposta e aceitação de determinado contrato pode ser expressa através de mensagens electrónicas e um contrato não pode ser declarado ilegal por qualquer das partes na argumentação de que foi formado através de mensagens electrónicas. Nos artigos 12 e 13 estabelece-se o reconhecimento pelas partes da atribuição de mensagens e nos artigos 14 e 15 estão definidos os critérios de aceitação para a recepção da mensagem, confirmação da data e hora e local da recepção, bem como do envio da mensagem de confirmação. Tal também está consagrado na Directiva 2000/31/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 8 de Junho de 2000, no art. 9º, nº1 (a este respeito ver Abbate, 2001, pág. 129).