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Tributação do Comércio Electrónico

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5.11. Tributação do Comércio Electrónico

A questão da tributação do comércio electrónico é um assunto largamente discutido e de resolução altamente complexa, devido às diferentes jurisdições que tem que comportar. Devido ao carácter transnacional da Internet, que governo é que tem a autoridade para taxar as transacções electrónicas ocorridas entre diferentes países? De uma forma genérica, os principais objectivos de uma política de tributação deste tipo passam por evitar que se dê uma dupla (múltipla) tributação e que se evite a não tributação. Só desta forma se consegue manter um ambiente concorrencial equilibrado e justo, entre o comércio electrónico e o comércio tradicional.

Um dos trabalhos mais importantes realizados a este respeito foi conseguido pela OCDExxi. Numa conferência em Ottawa, em 1998, foram estabelecidos princípios chave para a tributação do comércio electrónico. A partir daqui, a OCDE concluiu que os princípios de tributação que guiavam os governos para o comércio tradicional também os deveriam guiar para a forma electrónica.

O trabalho da OCDE concluiu que as presentes normas internacionais podem ser aplicadas ao comércio electrónico, existindo a necessidade de se fazerem algumas clarificações e especificações adicionais. Na área da tributação do consumo, o trabalho diz que a tributação deve ocorrer na jurisdição em que esse consumo acontece e que o fornecimento de produtos digitais não deve ser tratado da mesma forma que bens físicos. Na área da tributação administrativa, a informação reportando a requisitos e procedimentos de colecta tributária deve ser neutra e justa, para que os níveis exigidos possam ser comparáveis ao que acontece no comércio tradicional, apesar de diferentes meios poderem ser necessários para se atingir os mesmos fins.

Com base nestes princípios, a Comissão Europeia publicou um comunicado (COM(1998)374) em 1998, salientando três princípios:

• Não é necessária a criação de novas taxas para o comércio electrónico (CE), sendo que as taxas existentes e, especificamente, a taxa do IVA, devem ser adaptadas para que se possam aplicar ao CE.

• Para as taxas sobre o consumo, as entregas electrónicas não devem ser consideradas como bens. Em relação à taxa de IVA, estas devem ser tratadas como fornecimento de serviços.

• Apenas os fornecimentos destes serviços consumidos na Europa devem ser tributados na Europa, ou seja, a tributação deve ocorrer no local onde acontece o consumo.

Na União Europeia, o CE deve ser taxado de forma neutra em relação ao comércio tradicional. Para efeitos da taxa de IVA, a venda de bens on line é tratada da mesma forma que as vendas à distância, por exemplo, através de catálogos. O IVA será aplicado no local de consumo, sujeito a alguns ajustamentos. Existem canais bem estabelecidos para proceder à tributação dessas transacções. Bens adquiridos a países terceiros são tributados na importação. Bens exportados não são taxados à saída e vendas dentro da União são taxadas segundo um regime especial para vendas à distância, tanto no estado membro do vendedor como no do comprador. As vendas de

xxi http://www.oecd.org/oecd/pages/home/displaygeneral/0,3380,EN-document-101-nodirectorate-no-21-1564-22,FF.html

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produtos electrónicos são taxadas como serviços, tal como está referido nos três princípios. Apesar de existirem regras específicas para implementar estes princípios, tal ainda não foi completamente conseguido, sendo ainda comum a fuga tributáriaxxii.

SUMÁRIO

Neste quinto capítulo é feita uma análise dos principais tópicos sobre os quais se deve debruçar um maior desenvolvimento legislativo, no sentido de tornar os principais actos electrónicos mais seguros e enquadráveis numa protecção jurídica.

O primeiro ponto foca a propriedade industrial e intelectual, onde se aborda a legislação sobre as marcas, as patentes e os direitos de autor, com referências detalhadas à lei portuguesa. De seguida, trata-se a protecção da privacidade, nos princípios que a regem e nas entidades responsáveis pelo controlo e protecção dos dados pessoais. No terceiro ponto, são abordadas as situações consideradas crime através de meios informáticos, com referência às dificuldades de luta e à dualidade entre a protecção da privacidade dos cidadãos e os meios legais de luta contra o ciber crime. No ponto quarto é abordado, em pormenor, a questão do reconhecimento de documentos electrónicos. Sendo esta uma questão sensível, reveste-se de uma importância fulcral para permitir que os meios informáticos e, mais concretamente, a Internet possa facilitar o dia-a-dia dos cidadãos e colocar todo o seu potencial ao serviço da sociedade nas mais diversas áreas. No quinto ponto, é abordada a questão da protecção do consumidor em compras efectuadas através da Internet. No sexto ponto é abordada a legislação relacionada com pagamentos (transferência electrónica de fundos), a complexidade de que se reveste esta matéria e a necessidade de se evoluir no sentido de conferir segurança legal nesta questão. No sétimo ponto são analisados os diferentes meios de arbitragem no caso de litígio. Os pontos restantes abordam situações relacionados com o funcionamento da Internet, na relação com os governos e em questões de competitividade, os quais, sendo aspectos muito importantes, não estão directamente relacionadas com as ligações comerciais entre vendedores e compradores, sendo, por isso, acessórias.

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6.A

S

R

ELAÇÕES DE

C

ONFIANÇA

Num mundo em que os negócios são efectuados numa perspectiva de mercado, o conceito de confiança nas relações comerciais pode parecer um pouco incongruente. Existe uma tendência natural para basear as decisões em factores racionais com um risco calculado.

Por outro lado, com a emergência das transacções electrónicas, acentuou-se a importância do elemento confiança em todas as relações comerciais. Isto acontece, principalmente, devido ao atraso legislativo que se fez sentir em relação ao uso das tecnologias de informação, que quase que forçava estas relações a uma auto-regulação.

Se, anteriormente, um dos factores preponderantes de uma relação comercial era o contacto pessoal entre as partes, sendo que, no caso de conflito, existiria sempre uma entidade terceira para arbitrar a situação, com a relação à distância, o contacto pessoal não existe e, no caso de insatisfação de uma das partes, a principal tarefa, em muitos casos, será determinar quem é a outra parte e comprovar, perante terceiros, que a transacção foi efectuada, para depois se poder recorrer à arbitragem. Mas determinar quem são os terceiros e onde estes se encontram também pode ser complicado e demorado.

Daqui se sustenta a importância do contacto pessoal entre as partes para a criação de uma relação de confiança (Merrill Lynch, 1998). Sendo que isto é difícil num contexto nacional, mais difícil se torna, ainda, no contexto global que está inerente à Internet. Todas estas situações realçam, significativamente, a importância da confiança numa relação comercial e mais ainda no caso do CE. Ou seja, mais do que em garantias de segurança, as relações de CE baseiam-se na confiança mútua entre as partes (Keen, 1999).