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A abordagem de Reuven Feuerstein e suas contribuições para a análise da mediação pedagógica

3.5 Recursos metodológicos de coleta de dados

Considerando o enfoque metodológico dentro do referencial da pesquisa qualitativa escolhido, os passos dos procedimentos do presente estudo foram divididos em duas etapas (que serão melhores explicados no capítulo II – Metodologia, item 2.6 – Procedimentos). A escolha dos recursos metodológicos de coleta de dados também respeitou os pressupostos de uma abordagem qualitativa. Neste sentido, foram escolhidos, para cada etapa da pesquisa, diferentes instrumentos para auxiliarem na aproximação e investigação do fenômeno em estudo,

Na primeira etapa de procedimentos, foi utilizado como recurso metodológico de coleta de dados um questionário que foi construído especificamente para este estudo. A justificativa para tal escolha fundamenta-se na compreensão de que num primeiro momento, o pesquisador deve aproximar-se do fenômeno, de forma a conhecer melhor o contexto de seu campo de pesquisa, favorecendo assim o surgimento dos vínculos iniciais entre investigador e sujeito participante.

Além disso, o questionário é um instrumento bastante utilizado em pesquisas na Psicologia, apresentando como característica, segundo Richardson (1999), a possibilidade de se estabelecer uma maior objetividade em relação ao foco investigado, demandando um tempo menor de disponibilização do participante e sendo acessível a um maior número de pessoas.

No presente estudo o questionário foi destinado exclusivamente aos tutores e visou investigar informações preliminares pertinentes ao processo de pesquisa. Essas informações preliminares foram importantes para estabelecer-se uma caracterização dos participantes e para levantar a discussão acerca de questões relacionadas à mediação pedagógica e outros aspectos do cotidiano educacional na educação a distância.

Neste sentido, o processo de elaboração das perguntas para o questionário foi uma preocupação constante para a pesquisadora, pois o objetivo era oportunizar aos tutores espaço para a reflexão sobre o tema da pesquisa, ou, como sugerem Bogdan e Biklen (1994), um instrumento onde os dados apresentassem elementos necessários para pensar de forma adequada e profunda sobre os aspectos do fenômeno que se pretende explorar.

O questionário foi então elaborado, com um vocabulário de fácil compreensão para o público da pesquisa e, apesar de ter um tema direcionador preocupou-se em deixar as perguntas abertas e amplas, permitindo que o participante ficasse à vontade para expressar suas ideias acerca dos temas propostos.

Para segunda etapa da pesquisa, já com vistas a uma aproximação mais estreita ao fenômeno e uma coleta de dados mais completa, foi escolhido a entrevistas como instrumento de investigação. As entrevistas, foram semi-dirigidas e áudio-registradas, seguindo o modelo de entrevistas reflexivas (Szymanski, 1998; Szymanski, 2004). A escolha por esse modelo de entrevista é justificado pela estrutura de interação que a mesma apresenta, tratando-se de uma forma de interagir com o participante onde se oportuniza a construção do pensamento, ou do assunto com o qual está se trabalhando. O objetivo com a utilização da entrevista é aprofundar a imersão no fenômeno, ouvindo a voz daquele que o circunscreve.

A entrevista, instrumento que tem sido empregado em pesquisas qualitativas em todas as áreas de conhecimento como uma solução para o estudo de significados subjetivos e complexos demais para serem abordados por outros recursos (Banister et al., 1994 como citado em Szymanski, 2004), foi escolhido neste trabalho como a principal fonte de coleta de dados. Entende-se que entrevista transcende a suposta neutralidade de um simples instrumento de coleta de dados para revelar-se em toda a

complexidade de um fenômeno, o que a torna uma estratégia extremamente importante e útil de investigação científica. (Szymanski, 2004)

A entrevista é reconhecida aqui como um momento de interação social, trazendo na fala critérios de representatividade e, dessa forma, apresentando dados tanto de natureza objetiva (fatos concretos, objetivos etc...), quanto de natureza subjetiva (atitudes, valores, crenças, etc...), (Minayo, 1996). Assim, concordando com Rey (1999), percebe-se o entrevistado na pesquisa não apenas como um colaborador que obtêm e disponibiliza informações de interesse do pesquisador, mas como um agente ativo, “interativo, motivado e intencional” na pesquisa. (p. 57).

Minayo (1996) lembra que cada indivíduo é um ator social, que experimenta e conhece o fato social de forma peculiar e é o conjunto das diferentes informações individuais, vivenciadas em comum por um grupo, que permite compor o quadro global das estruturas e das relações, buscando compreender os modelos culturais e a particularidade das determinações.

A reflexividade, como propõe Szymanski (1998; 2004) é o sentido de refletir sob a fala do entrevistado, no momento da entrevista, dialogando com ele numa relação dialética sua própria ideia. Essa capacidade reflexiva depende da concepção da possibilidade de construção de um saber dentro da situação de interação humana que é estabelecida na entrevista. Considerando as percepções do outro e de si, as expectativas, os sentimentos, preconceitos e interpretações presentes naquele momento é possível intervir e orientar o curso da entrevista a fim de discutir mais profundamente os aspectos com os quais se deseja trabalhar. Dessa forma, é possível oferecer ao participante entrevistado a possibilidade colocar-se naquilo que se está construindo: os conhecimentos acerca do fenômeno estudado.

A reflexividade ainda auxilia o processo de organização de ideias tanto do pesquisador, quanto e principalmente, do próprio entrevistado, possibilitando a percepção da participação de ambos no processo de construção dos dados. (Holstein e Gubrium, 1995, como citado em Szymanski, 2004). Ela auxilia ainda, na tentativa de construção de uma horizontalidade contornando algumas dificuldades próprias do encontro face a face, principalmente quando as culturas do entrevistado e do pesquisador são muito diferentes. (Szymanski, 2004)

Szymanski (2004) descreve cinco tipos de questões que devem ser utilizadas pelo entrevistador, ao longo das Entrevistas Reflexivas, para que ele possa orientar-se na condução do processo reflexivo de seu entrevistado, visando alcançar os objetivos específicos da pesquisa. São essas: A Questão Desencadeadora, que se refere ao tema que se está investigando e deve ser suficientemente ampla para permitir que o entrevistado inicie seu depoimento pelo ângulo que achar melhor; as Questões de Esclarecimento, que são feitas pelo entrevistador quando ele não entendeu a fala do entrevistado; as Questões de Síntese que são feitas de tempos em tempos para resumir as informações recebidas, solicitando a confirmação pelo entrevistado sobre sua abrangência; as Questões de Aprofundamento, que servem para o entrevistador expressar sua própria compreensão a respeito do que foi dito; e, finalmente, as Questões de Diferenças, que estimulam o entrevistado a apontar diferenças quer entre situações, perspectivas ou no tempo.

É importante esclarecer e ressaltar que, foi a partir da análise das respostas dos questionários e da aproximação preliminar com o fenômeno que a entrevista foi elaborada, pois a discussão proveniente da primeira etapa da pesquisa ofereceu orientação para um aprofundamento na temática estudada e direcionou a elaboração de um roteiro para o momento da entrevista.