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Relações do Brasil com os Estados Unidos

3 A “ILUSÃO AMERICANA” VERSUS “A REALIDADE

3.2 IMPRESÕES DOS ESTADOS UNIDOS (1896-1900)

3.2.11 Relações do Brasil com os Estados Unidos

É importante ter em mente ainda que Lima estava escrevendo logo após o resultado favorável obtido pelo Brasil na Questão das Missões (1895), que teve como árbitro o Presidente americano Groover Cleveland. Além disso, apenas a Inglaterra e a Alemanha vendiam mais do que o Brasil aos Estados Unidos naquele momento. Ele estava, portanto,

confiante na sinceridade da amizade dos Estados Unidos com o Brasil e na justiça do seu proceder internacional. Havia ainda a certeza de que não existia nada que dividisse os dois países e mesmo que seus interesses não fossem sempre os mesmos, pelo menos não eram opostos ou hostis. Jactava-se de que o Brasil era tido na conta de “gente de mais juízo” que os Hispano-Americanos, já que promovia revoluções em média decenais enquanto as deles eram anuais. Também contribuía para essa simpatia que o Brasil houvesse sempre apoiado a República anglo-saxônica, apesar da organização monárquica, “ao passo que no México, sob os protestos de estima, os Estados Unidos só encontravam justificada desconfiança, no Chile e na Argentina ciúme e mesmo má vontade alimentada por vários incidentes”. (LIMA, 1899, p. 435). Por tudo isso Lima via como muito pouco provável o surgimento de verdadeiros conflitos entre os dois países e tinha motivos para atestar a lealdade norte-americana e não temer a Grande Irmã do Norte.

Outro elemento que lhe dava confiança nas relações bilaterais é que sob o seu ponto de vista o Brasil não corria riscos de sofrer alguma intervenção. As anexações espreitam sempre os “países fracos, gastos e corrompidos” como era o caso da Polônia, da Turquia e da China, enquanto é a eterna condição das nações fortes fazerem-se conquistadoras. Mas, os países “ordeiros, laboriosos e progressivos” como o Brasil não tinham nada que temer. Ao mesmo tempo, o fantasma da desagregação só atingia os “organismos sociais decrépitos ou incapazes de prosperar sozinhos”, nunca os “organismos sadios e florescentes”. Por isso, expressar receios de absorção era o mesmo que dar testemunho da própria impotência. (LIMA, 1899, p. 453).

Mesmo a reserva inicial dos Estados Unidos em relação ao novo regime proclamado no Brasil, o que causou desapontamento entre muitos republicanos brasileiros, não chegava a constituir uma mácula nas relações com o Brasil. Lima afirma que a indiferença logo deu lugar à efusão, graças em grande parte aos inteligentes esforços de Salvador de Mendonça; ao sincero apoio prestado na Conferência pan-americana pela delegação brasileira; ao auxílio moral prestado aos intentos americanos na questão cubana e, a despeito da neutralidade declarada e oficial, a simpatia demonstrada durante o conflito. Defendia porém que essa simpatia não fosse meramente instintiva e estivesse baseada em compreensão, visando promover a estima mútua. Exatamente por isso pregava que deveriam ser bem acolhidos quaisquer esforços para tornar um povo bem conhecido do outro e Nos Estados Unidos é um bom exemplo deste esforço.

Apesar de toda a benevolência da sua análise das relações entre Brasil e Estados Unidos, ressaltava que mesmo com as disparidades entre os países em termos de força, riqueza e população, uma boa amizade não significava subalternação. Afinal, o Brasil tampouco era “quantité

négligeable”, era a primeira potência da América do Sul e um importante

aliado no continente, o que fazia sua simpatia conveniente aos Estados Unidos. Os esforços brasileiros por manter uma boa relação seriam recompensados, pois em um cenário internacional em que a luta por terras férteis e mercados era feroz, o isolamento significava a morte. (LIMA, 1899, p. 450).

Ao concluir Nos Estados Unidos, Oliveira Lima afirma que reconhecia a existência de não poucos problemas políticos e sociais no país, cujas soluções tampouco eram simples. Reconhece que também não sabe como os americanos realizariam estas tarefas, mas reafirma sua plena confiança na capacidade do povo americano em afrontar os desafios. Este povo dotado de qualidades excepcionais comparado a outras raças, ainda que comum a outras variedades da gente saxônica, tem os predicados necessários para a feliz solução de todos seus problemas, inclusive aqueles mais complexos derivados da expansão colonial, como a incorporação de elementos de raças não desejáveis ao seu sistema democrático. (LIMA, 1899, p. 511).

As qualidades que observava e admirava nos americanos e que lhes permitiriam superar quaisquer obstáculos que aparecessem eram em primeiro lugar a energia. “Não a energia turbulenta e inconstante dos conquistadores do México e do Peru, mas a energia fria e perseverante dos pioneers do Oeste americano”. Em seguida a jovialidade, “que faz parecer sempre supportavel a vida, arrostar os perigos com serenidade e as difficuldades com bravura”. Depois o senso prático, que talvez contribua em grande medida para a corrupção legislativa ou administrativa, mas que “representa uma condição indispensável para o êxito de qualquer tentativa de governo progressivo e, apezar de uma tendência fácil para vangloriarem-se dos effeitos adquiridos, impelle os Americanos a melhorarem quanto os cerca”. Mais o “sentimento de justiça, natural a uma raça mais afeita a pensar e a decidir por si que a deixar-se guiar por suggestões alheias”. Ainda o idealismo religioso, que tanto influi para uma moralidade mais sólida e “para uma concepção mais elevada da vida, e talvez explicando em boa parte o carinho pelo passado”. (LIMA, 1899, p. 511-512).

E por último, o verdadeiro espírito democrático, “que provoca o fervor pela liberdade” e afasta as hipóteses extremas de cesarismo; “incute a veneração das maiorias” e desfaz os atritos de classe; “fomenta

o bem estar de todos e orienta instinctivamente os espiritos para procurarem uma solução pacifica e equitativa das inevitáveis diferenças de condição e de fortuna”. Sobretudo, que será capaz de produzir a solução do grande problema das relações entre o capital e o trabalho, “que é o enigma do futuro e que, si em alguma parte tiver de ser resolvido, será nos Estados Unidos, paiz onde a igualdade se sente menos estranha”. (LIMA, 1899, p. 512-513).