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A associação M desenvolve relações institucionais com diversas entidades do campo agrário representadas (Figura 4.1). A integração vertical processa-se em quatro níveis distintos: a base social constituída pelos criadores (agricultores), os quais podem ou não ser associados de M; o nível de organizações de 1ª ordem, onde estão representadas as ACA; o nível organizacional confederação e federação; por último, o nível estatal.

Criadores Confederação/ Federação Organizações de1ª Ordem Estado DGV INGA ESAB UTAD Confagri FPABO CAP Cooperativa M Associação M LG SNIRB FERA CNJ CGTF DRATM Outras entidades T&Q Clientes Criadores Confederação/ Federação Organizações de1ª Ordem Estado DGV INGA ESAB UTAD Confagri FPABO CAP Cooperativa M Associação M LG SNIRB FERA CNJ CGTF CGTF DRATM DRATM Outras entidades T&Q Clientes

Figura 4.1 – Relações inter-institucionais da associação M67

66 A preparação e decurso da reunião evidenciaram alguns bons princípios organizacionais e

comunicacionais. A reunião antecedeu o tradicional “Almoço de Natal”, que reúne dirigentes e funcionários de ambas as ACA. Por outro lado, embora não saibamos se o facto ocorreu de forma pensada, ou não, antes do início da reunião propriamente dita teve lugar um episódio muito interessante. Na segunda-feira seguinte era necessário enviar o boletim do mês de Dezembro para aos associados, faltava dobrar e colocar nos envelopes o que iria obrigar à ajuda de todo o pessoal para o cumprimento atempado da tarefa. Surgiu então a ideia de se aproveitar a espera pelo início da reunião para o fazer. De repente estávamos (também ajudámos) cerca de doze pessoas, entre funcionários e dirigentes todos a dobrar e encartar os boletins, numa demonstração de “flexibilidade” e de sentido de equipa, atributos que haveriam de ser frequentemente invocados durante a reunião a propósito de outros assuntos.

67 Legenda: DRATM – Direcção Regional de Agricultura de Trás-os-Montes; DGV-Direcção Geral de

Veterinária; INGA-Instituto Nacional de Garantia Agrícola; Confagri-Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal, CCRL; ESAB-Escola Superior Agrária de Bragança; UTAD-Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro; CAP-Confederação dos Agricultores de Portugal; FPABO-Federação Portuguesa de Associações de Bovinicultores; CNJ-Confederação Nacional dos Jovens Agricultores; FERA-Federação de Raças Autóctones; T&Q-Tradição & Qualidade; CGTF- Centro de Gestão da Terra Fria; SNIRB-Sistema Nacional de Identificação e Registo de Bovinos; LG-Livro Genealógico da Raça M.

A relação entre a associação M e os criadores, associados ou não, tem lugar através da componente de prestação de serviços técnicos e serviços administrativo/burocráticos, e da componente de representação dos interesses socioprofissionais. A primeira corporiza- se nos procedimentos técnicos e trâmites burocráticos do LG e SNIRB, assim como do sistema de subsídios e projectos; o apoio ao criador de natureza técnico-produtiva (maneio) também ocorre, mas de forma bem mais pontual. A representação dos interesses socioprofissionais decorre um pouco à margem dos criadores e expressa-se essencialmente no âmbito das relações interinstitucionais com organizações congéneres e organismos públicos.

Paralelamente a estas, de forma menos visível mas intensa, tem lugar a componente social nas suas duas vertentes: a animação social através de acções como encontros, reuniões, concursos, etc.; o “apoio social” com ênfase nos aspectos sociais e humanos dos criadores. Esta última vertente da relação técnico-criadores, fica a dever-se à entrada em jogo de condicionalismos como a idade avançada, baixa instrução, isolamento geográfico e humano, precariedade das condições de habitação e de trabalho, entre outras, que obrigam o técnico a mobilizar as suas competências de “assistente social” na sua intervenção técnica. É preciso saber ouvir, é preciso saber escolher as palavras certas, é preciso fazer um “reconhecimento” do estado de espírito e emocional do interlocutor (criador), é preciso lembrar e “processar” muito rapidamente a natureza e o resultado das interacções anteriores entre ambos (técnico e criador) ou qualquer situações ocorrida entre o criador e a ACA.

Quanto às relações da associação com outras organizações congéneres (de 1ª ordem), para além da relação de extrema proximidade (umbilical) entre a associação M e a cooperativa M já descrita, a associação M tem uma parceria formalmente assumida (protocolo assinado em 2 Setembro de 200068) com um centro de gestão da empresa agrícola da região de Bragança. Trata-se de uma estratégia de articulação e especialização de actividades, de complementaridade funcional e territorial, para efeitos de: contabilidade e gestão, formação profissional, elaboração de projectos, sistema de subsídios e ainda apoio às explorações, entre outras. Todos os serviços prestados pelos técnicos de ambas as organizações são efectuados no âmbito das actividades das mesmas, havendo lugar à repartição das remunerações correspondentes entre o técnico envolvido e as organizações de que depende, conforme estabelecido no protocolo.

Existe ainda uma complementaridade de funções com a secção OPP de uma cooperativa de Miranda do Douro, responsável pela emissão (e controlo) da ficha de informação sanitária (mod. 242/DGV) que acompanha os passaportes de identificação dos bovinos emitidos pela associação (mod. 241/DGV).

A cooperativa, entidade gestora da DOP “Carne M”, tem relações técnicas com a empresa T&Q, que é a entidade responsável pela certificação.

A relação entre a associação com as federações/confederações e com o Estado é de natureza complexa e volátil. Complexa, porque existe com três confederações para fins diferentes; volátil, porque é estabelecida e suspensa, mais ou menos, ao sabor de acordos (sobretudo margens de comissões dos serviços prestados) de curto prazo, aparentemente

68 O protocolo estabelecido salvaguarda os interesses de outro centro de gestão (que também opera na

região), do qual são também associados alguns dos associados de M. A não consideração desta salvaguarda poderia levar a que um associado de M recorresse aos serviços do centro de gestão com a qual esta tem protocolo em vez de o fazer junto do centro de gestão do qual é associado. Esta salvaguarda está registada no protocolo, ao qual se juntou uma adenda emitida pelo centro de gestão em causa (o segundo), a manifestar o seu conhecimento da situação e concordância.

sem grande evidência de fidelidade. Por exemplo, dado que havia um posto de informação (PI) e posto de atendimento (PA) do SNIRB da CAP, literalmente, do outro lado da rua da associação M, e dado o interesse desta em funcionar como PI e PA, foi conseguido um acordo para esse fim com a CONFAGRI. A relação com as federações (FPABO e FERA) destina-se a “ampliar” o poder de reivindicação das junto das confederações e das entidades oficiais. A FERA tem como objectivo específico defender os interesses específicos dos produtores de raças autóctones, evitando a “diluição” destes interesses específicos no vasto conjunto de problemas da agricultura nacional.

A relação da associação com organismos estatais é também bastante complexa e diversa. Por causa do SNIRB e do LG são mantidas relações estreitas respectivamente com DGV com intermediação ou não do INGA e da DRATM. A natureza desta relação é, sobretudo, a de prestação de serviços ao estado pelos quais a associação é “remunerada”69. Com a DRATM, ESAB (IPB) e UTAD estão estabelecidos diferentes protocolos de colaboração em acções de investigação, experimentação, divulgação; merece destaque a relação de grande proximidade entre a associação e a ESAB, traduzida por inúmeros protocolos de colaboração e pela presença nas instalações da ESAB de uma delegação da associação, assim como um núcleo produtor de bovinos da raça M (a ESAB é associada da associação M).70 A associação tem ainda protocolos estabelecidos com outras entidades, como PNM e os Municípios do solar da raça, sobretudo para acções de divulgação e promoção.

Em síntese, por força das circunstâncias e por estratégia de integração, a associação M mantém uma complexa rede de relações inter-institucionais.

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