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No outro subconjunto de operantes de primeira ordem, o controle principal advém de uma relação temática entre a condição antecedente e a resposta verbal; a resposta está sob controle de estímulos verbais ou não verbais com funções discriminativas (evocativas ou seletivas) ou de operações de estímulo com funções motivacionais. Assim, objetos, palavras, pessoas e condições fazem parte de um “tema” que controla com portam entos verbais. Ao contrário das relações formais, as relações temáticas não m ostram simi­ laridade de form a (e, portanto, correspondência ponto a ponto) entre o estímulo e a resposta.

N a relação Tato, por exemplo, as respostas verbais, que podem ser vocais (fala) ou m otoras (escrita ou gesto), são controladas por condições antecedentes nao verbais com função discriminativa, podendo ser objetos, eventos (externos ou internos) ou propriedades desses objetos e eventos. Dizer “chuva” diante do fenôm eno da natureza que se convencionou cham ar assim é um a relação Tato. Skinner evitou associar o Tato à noção de “referente”. Segundo ele, “referente” enfatiza o objeto (e não dá conta de relações que envolvem estímulos não verbais, que não são “objetos” típicos), já o term o “Tato” enfatiza a relação de controle, independente de o objeto ter ou não um “referente” convencional.

U m a parte considerável das páginas do livro clássico de Skinner (1957) é dedicada à descrição desse operante, devido à sua im portância e frequência no comportamento, um a vez que trata de relações entre o falante e o m undo não verbal: seu am biente externo e in tern o (emoções), com portam entos e todas as suas propriedades (cor, forma, temperatura etc.). Por sua estreita relação com os estímulos antecedentes (objetos, eventos ou propriedades desses objetos e eventos), as respostas verbais de Tato, inicial­ m ente, são im portantes mais para os ouvintes (p. ex., para que os pais saibam que a criança faz contato com o mundo: vê, sente etc.). Por isso, form am um a am pla porção do repertório verbal de um a pessoa. Tatos são sempre inicial-

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m ente condicionados de maneira arbitrária, em relações estím ulo-resposta convencionais ou não, m antidos por reforçam ento generalizado e educacional (p. ex., “apro­ vação”). Posteriorm ente, eles se m antêm no repertório adulto por reforçam ento generalizado automático.

Mando, por sua vez, envolve respostas vocais ou motoras

controladas p o r antecedentes não verbais com função motivacional, a partir de estados de privação ou estimu­ lação aversiva (as chamadas operações estabelecedoras). As

condições antecedentes estabelecem o valor reforçador da consequência a ser obtida (reforço positivo) ou eliminada reforço negativo) pela mediação do ouvinte do M ando. Dizer “água, por favor”, após um período de privação da mesma, e diante de um ouvinte (com alta probabilidade de trazer um copo de água), é um a resposta M ando.

A relação M ando foi em piricam ente dem onstrada no irtigo de Michael (1988), que descreve a manipulação de operações estabelecedoras controlando M andos especí­ ficos, oferecendo, por exemplo, a um a criança a tarefa de razer um a sopa instantânea tendo todos os itens presentes Ipó preparado, prato, água fervendo), exceto um a colher. Pvccentemente, u m artigo aplicado (Sundberg, Loeb, Haie, Eigenheer, 2002) m ostrou que é possível instalar

zo repertório de crianças autistas M andos do tipo “questão

rara busca de inform ação” (p. ex., O n d e ...? Q u e m ...? , Q u a l...?), um repertório, em geral, ausente no repertório verbal dessas crianças. O s autores ensinaram o M an d o 'O n d e ...?” criando um a operação estabelecedora para um icem que faltava para a execução com pleta de um a tarefa. Uma vez que o m ando foi adquirido, um a operação esta- relecedora foi criada para o controle de um outro M ando - “Q u e m ...?’ - , aum entando o valor reforçador da pessoa

cue mediaria a aquisição do item que faltava. Os dados dos autores mostram como M andos são previstos e controlados conforme Skinner descreveu e que os repertórios instalados nas crianças foram generalizados para itens e pessoas do ambiente natural, quando as crianças tinham necessidade de coisas ou de informações.

C ertam ente a aprendizagem do M ando facilita m uito a rducaçao de crianças, pois, ao contrário do Tato, o M ando beneficia o falante ao informar ao ouvinte sobre o que se passa com ele (falante). Skinner acrescenta que no operante M ando as consequências são especificadas, diretam ente ou não, pela resposta emitida: o que reforça um M ando é essa consequência característica; no exemplo, a água inge­ rida. Se fosse funcional evitar a provável punição por parte do ouvinte caso se pedisse água repetidamente, o falante, então, dissimularia a função de M ando com um M ando

Disfarçado. “Você pode me dar um copo de água?” e “Você

se incom odaria...?” são exemplos desses disfarces.

Observe que no M ando, assim como no Tato, não há qualquer similaridade de form a entre a resposta e o estí­ mulo antecedente (a operação estabelecedora) e, portanto, não se pode falar de correspondência ponto a ponto. O controle pode ser visto como temático: estar privado de água “serve de tema” para a emissão de operantes especí­ ficos.

Tam bém pertencente a esse conjunto de operantes em que o controle é temático está o operante Intraverbal, cuja relação de controle está entre cadeias de respostas verbais (vocais ou motoras) e estímulos verbais (vocais ou visuais) produzidos pelo com portam ento de outra pessoa ou do próprio falante (na cadeia produzida pelo falante, respostas que precedem têm função de estímulo para as que se seguem, como na fala continuada). Dizer “Tudo bem ” diante da pergunta “com o vai?” é um exemplo do operante Intra­ verbal, bem como escrever Q U A TR O ou dizer “quatro” diante da expressão dita (ou escrita) “dois mais dois”.

E m u m experim ento m u ito citado, Chase, Johnson e Sulzer-Azoroff (1985) dem onstraram os controles da relação intraverbal, sugerindo três categorias para o modo como o controle temático-conceitual opera a relação: Defi­

nição Ip. ex., aquilo que o leitor pensar falar sob controle da

pergunta “O que é psicologia?”), Exemplificação (o pensar sob controle de “D ê um exem píode um a teoria psicoló­ gica”) e IdentificacÄQ^de-Exanbla (o pensar sob controle de “D entre as seguintes alternativas - W atson, Descartes, Skinner - , responda qual é o autor m onista).

D o mesmo modo que no Tato, relações intraverbais são arbitrárias (convencionais ou não), inicialmente mantidas por reforço generalizado-educacional que se m antém como generalizado-automático. O m odo como a cadeia verbal foi condicionada possibilita outra divisão (Vargas, 1986): o Informal (“C om o vai? - “Tudo bem”, porq ue aprendido no cotidiano), o Formal (“D ois mais dois” — “Q u atro ” porque aprendido em ensino sistemático) e o Idiossincrá­

tico (um encadeam ento particulaF a ~um falante, como as

cadeias de termos mais falados por um professor ou das palavras mais frequentem ente associadas em u m a obra poética ou em um discurso político).

A inda nesse subco n junto de operantes sob controle tem ático está a relação verbal Audiência, u m tipo de operante verbal diferente dos demais por ser um grupo de respostas (vocais ou motoras) funcionalmente unificado. A relação de controle Audiência advém de propriedades do ouvinte, que adquiriram funções discriminativas evocativas dessegrupo específico de respostas (Fonai, Sério, 2007). Assim, ouvTntes selecionam tópicos ou temas (ou gestos) de conversas. Diferentes ouvintes controlam diferentes subgrupos de Audiências a partir das suas funções discri- minativas-seletivas, tanto do conteúdo quanto da maneira de apresentá-los aos ouvintes.

Todas essas relações, formais e temáticas, criam a base das tarefas de ensino especial ou regular (do nível funda­ mental ao superior), o que atesta a sua importância prática,

106 Temas Clássicos da Psicologia sob a Ótica da Análise do Comportamento

pois a instalação dos operantes verbais no repertório de estudantes é o objetivo básico de qualquer m étodo educa­ cional, não im porta a filosofia subjacente. U m a vez que a análise pragm ática de Skinner facilita o alcance desse objetivo, Johnson e Chase (1981) listaram os operantes que se quer alcançar em tarefas educacionais para que o estudante:

• Diga exatamente o que foi dito (Ecoico) • Diga o que foi escrito (Textual)

• Escreva o que foi escrito (Cópia) • Escreva o que foi dito (Ditado)

• D efina um term o lido ou dito (Intraverbal D efi­ nição)

• Identifique descrições lidas ou ditas (Intraverbal Identificação de Exemplo)

• D ê exemplos originais (Intraverbal Exemplificação) • Descreva eventos ambientais que acontecem (Tato) • Categorize, com um term o, u m grupo de eventos

ambientais que ocorrem (Tato)

• C o m b ine e recom bine todas essas tarefas citadas antes estendendo ou fundindo seus controles (ver adiante a seção sobre extensões e fusões verbais).

A segunda ordem de operantes: