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Banaco (1999) destaca que, em bora a área de estudos modelos experimentais possa ser pouco conhecida ou iço interessante aos terapeutas com portam entais, é ■essa área que inevitavelmente encontram os material rele­ g a te para entenderm os as respostas verbais dos clientes íirrc a de seus eventos privados e, consequentem ente - e

szz última instância - , estes próprios.

Estudos variados sob diferentes referenciais (p. ex., de ■use, 1997; Engelmann, 1978) têm apontado, inclusive, m problem a crucial para a investigação dos sentimentos r _ ; se refere ao m eio pelo qual tem os acesso a eles: o T -ito verbal. Ao assumirmos que a com unidade verbal i çual o indivíduo pertence exerce influências críticas na

z: rendizagem tanto da identificação dos eventos privados - : mo de suas descrições, nossa conduta como cientistas do ::m portam ento deve ser a de investigar as contingências i_e produzem os sentimentos e o falar sobre eles.

O terapeuta tem um papel im portante nesse sentido.

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d e quem coloca o cliente em contato com seus senti- nentos e com a expressão pública e privada dos mesmos, k o porque, quando um cliente procura terapia, o faz por ísrar experimentando determinados sentimentos. Porém, seq uentem en te, o cliente não sabe descrever acurada­

” ;nte (às vezes, nem para si mesmo) o que sente e por sente. O terapeuta precisa, portanto, m odelar reper- l i rios tanto de identificação como de descrição das variá- ■ds das quais tais sentim entos (e com portam entos corre­ dios) são função. O cliente tornar-se-á apto a modificar K u com portam ento ou am pliar seu repertório (Meyer, 1997/2001).

C atania, M atthew s e S him off (1990) acrescentam, linda, que a m odelagem do co m po rtam en to verbal é a técnica efetiva para a m udança de com portam ento Ki ampliação de repertório, porque é mais fácil m udar : lom portam ento de alguém m odelando aquilo que ele iiz do que m odelando aquilo que ele faz. Essa premissa ; oaseada no que já se conhece na Análise do C om porta­ mento acerca da distinção entre comportam ento modelado pelas contingências e com portam ento governado verbal­ —ente (ou com portam ento governado por regras). Para naiores detalhes sobre o tema, ver os Capítulos 2 e 7.

Silva e Banaco (2000) destacam os desafios e contro­ vérsias, dentro da própria análise do com portam ento, em relação à m aneira pela qual os eventos privados vêm sendo tratados. D e um lado, há autores que adm item a im por­ tância de se perguntar ou levar o cliente a falar, na sessão terapêutica, sobre os eventos privados (Banaco, 1999; Brandão, 2000; Delitti, Meyer, 1995) e, de outro, há ainda quem defenda que o destaque a aspectos relacionados com os eventos privados (dentre eles, os sentim entos), como estratégia para se conseguir informações sobre o cliente ou para o desenvolvimento de seu autoconhecim ento, não passa de u m equívoco (Guedes, 1993). Silva e Banaco (2000) sugerem que tais controvérsias ou desafios m eto­ dológicos são produtos da escassez de investigações na área. N este caso, seriam necessárias mais pesquisas, e a própria sessão terapêutica, como um contexto de intera­ ções complexas, poderia servir a este propósito, por propi­ ciar material de investigação sobre as variáveis de controle no estabelecimento e na m anutenção do repertório verbal de um cliente.

Silva e Banaco (2000) conduziram um estudo no qual investigaram , na sessão terapêutica, os efeitos do refor­ çam ento sobre relatos de eventos privados, e/ou relatos de relações entre eventos privados e variáveis externas e relatos de relações entre eventos am bientais e respostas públicas do cliente. A investigação contou com a parti­ cipação de um a m ulher de 38 anos, com curso superior, m ãe de dois filhos, em início do processo de terapia; e de um a psicóloga, terapeuta com portam ental, com mais de 3 anos de experiência na área, que recebeu instruções e treinam ento sobre o procedim ento experimental. Este procedim ento era dividido em quatro fases, com núm ero de sessões predefinido, e deveria ser adotado pela terapeuta durante o período da investigação (11 sessões de 50 m in. cada, registradas em áudio e vídeo pela própria terapeuta). Posteriormente, a interação entre a terapeuta e a cliente foi analisada por meio dos registros audiovisuais.

A Fase I foi a chamada Linha de Base, na qual nenhum a m anipulação experimental era realizada, visando identi­ ficar o repertório inicial da cliente e observar como ocorria a sua interação com a terapeuta. Essa fase consistiu de duas sessões. As seguintes consistiram de m anipulações experimentais específicas, durando três sessões cada uma. N a Fase II, foi program ado o reforçamento de relatos de eventos privados, ou seja, a terapeuta deveria apresentar reforço (p. ex., dando atenção ou fazendo u m elogio à descrição) sempre que a cliente descrevesse algum evento privado, m esm o que de m aneira pouco clara. Assim, a

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terapeuta estaria ensinando a cliente a ficar sob controle de seus eventos privados, ou seja, a observá-los. N a Fase III, a terapeuta deveria reforçar relatos da cliente sobre relações entre eventos privados e variáveis externas. Agora, a cliente não só teria aprendido a observar seus eventos privados, como também poderia relacioná-los com eventos ambientais. N a Fase IV, a terapeuta deveria reforçar relatos de relações entre eventos ambientais e respostas abertas. Deste m odo, a cliente estaria aprendendo a descrever as variáveis das quais seu com portam ento (e sentimento) era função.

O conjunto geral dos dados indicou, em primeiro lugar, que o com portam ento verbal é sensível ao reforçamento em um a situação clínica, já que as verbalizações da cliente foram se m odificando a cada m udança de fase do experi­ mento. Além disso, esse estudo mostrou ser possível ensinar a cliente a responder (relatar) ao seu próprio com porta­ m ento como sendo produto de relações ambientais. Como análise adicional, os autores propõem um a metodologia de análise da interação terapeuta-cliente no contexto clínico, com ênfase na modelagem do com portam ento verbal do cliente.

U m estudo bastante interessante, por ter produzido evidência em pírica indireta às proposições skinnerianas acerca da origem social do relato dos sentim entos, foi conduzido por Garcia-Serpa, Meyer e Del Prette (2003). O relato dos sentim entos é considerado im portante no desenvolvimento inicial de um a criança. Nesse estudo, as autoras investigavam se seria possível observar a influência da com unidade verbal sobre o repertório de relatar senti­ mentos em crianças entre 4 e 5 anos de idade. Investigaram ainda se havia diferenças na aprendizagem desses relatos em função do tipo de sentimento.

Participaram desse estudo 72 m eninos, sendo 43 deles com 4 anos de idade e 29 com 5 anos, alunos regular­ m ente matriculados em um a pré-escola municipal de um a cidade no interior do estado de São Paulo. A pesquisa consistiu em duas etapas. N a prim eira, as crianças assis­ tiam a um comercial de 8 m in. que continha situações envolvendo a expressão de sentim entos de um a perso­ nagem da mesma faixa etária dos participantes. N a etapa seguinte, era realizada um a entrevista com cada criança, na qual, prim eiro, perguntava-se à criança se, nas cenas do comercial, ocorreram situações em que a personagem se sentiu com m edo, contente, triste e com raiva. Sempre que a resposta da criança fosse afirmativa, era pergun­ tado a ela quando ou por que a personagem do filme se sentiu daquele m odo.

Os resultados da pesquisa indicaram que o sentim ents mais facilmente identificado pelas crianças foi o de “alegria’ (identificado por mais de 80% dos participantes). O gruro de m eninos com 5 anos de idade apresentou um desem penho ligeiramente m aior que o do grupo de 4 anos. N grupo de m eninos de 4 anos, o sentim ento de “mede" foi o segundo m elhor identificado (acima de 60% dos participantes) e com um desempenho ligeiramente melhcc do que o outro grupo. O sentim ento de “tristeza” foi i segundo m elhor identificado entre os m eninos de 5 anos. ao passo que menos de 50% dos meninos de 4 anos conse­ guiram identificar este sentimento. Por fim, o sentiment :> de “raiva” foi o mais difícil de reconhecer e descrever, p o menos de 20% dos m eninos de 5 anos e m enos de 509*1 dos m eninos de 4 anos conseguiram fazê-los. As autoras creditam tal resultado (aparente dificuldade das crianças na identificação do sentim ento de raiva) com o p rod u tr de práticas sociais nas quais se reprime a expressão de ti sentim ento, o que resultaria na dificuldade de reconheci lo tanto no(s) outro(s) como em si mesmo. A conclusa geral deste estudo foi de que há um efeito cumulativo d experiência tanto na identificação como na descrição c sentim entos, um a vez que o desem penho dos m enina mais velhos foi superior ao desempenho dos meninos m ã novos.

U m conjunto de estudos que vem sendo conduzida por Tom anari et al., dos quais se destaca o realizado par Chippari, Tomanari, Flamasaki, Coelho e M urata (2004 tem destacado a relação entre a consequência obtida pdi uso de determ inado pronom e ou tem po verbal em um tarefa de construção de frases e o relato, realizado imediata­ mente após a tarefa, dos sentimentos dos participantes tanta em relação à tarefa como a seu próprio desempenho. Cs participantes desse estudo foram divididos em dois grupas Um grupo ganhava pontos sempre que usasse determinac: pronom e ou tem po verbal na construção das frases. Já os participantes do outro grupo iniciavam a tarefa já com cena quantidade de pontos que deveria ser m antida por eles. de m odo que, ao usarem o pronom e ou o tem po verba, correto, não perdiam pontos. Q uando questionados sobrr o que sentiram durante a tarefa, os participantes do grupa que ganhava pontos frequentemente avaliavam a tarefa m as positivamente do que os participantes que tinham que evita perder pontos. Esses dados são interessantes, pois não sá indicam que os sentimentos são produtos das contingên­ cias, como ainda sinalizam quais contingências podem s r responsáveis por sentimentos positivos e negativos. E ciar:' que estamos falando de um a situação específica, que neces

íicaria de maiores investigações, mas que certamente indica D5 caminhos para essas novas pesquisas.

H á m uito ainda a ser investigado sobre as co n tin ­ gências relacionadas com os sentim entos e seus relatos.

Neste capítulo, pretendeu-se introduzir o leitor à visão do analista do com portam ento a respeito dos sentim entos, além de descrever alguns avanços obtidos por pesquisas nessa área.

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M aria M artha Costa H übner ■ Elízeu Borlotí ■ Paola Almeida ■ Adriana Cunha Cruvínel

“Nenhum a consideração sobre comportamento hu­ mano estará completa se não incluir a atividade ver­ bal do homem. E a form a de comportamento mais elevada e valiosa; mais que nenhuma outra o distin­ gue dos animais inferiores; e nela estão entesouradas a herança cultural da filosofia, da ciência, da arte e da tecnologia, e, a partir dela, efetua-se a transmissão desse conhecimento acumulado de geração a geração. N a realidade fo i o comportamento verbal que tor­ nou esse conhecimento possível” (Keller, Schoenfeld, 1950, p. 393).

Q ualquer teoria que se proponha a explicar o com por­ tam ento hum ano terá a linguagem como o seu principal desafio e interesse, tan to pela im portância quanto pela com plexidade deste fenôm eno. A ciência proposta por B. F. Skinner, conhecida com o Análise do C o m p o rta­ m ento, aceitou esse desafio produzindo um a im portante obra, o livro Verbal Behavior (Skinner, 1957). A tual­ m ente, estudos enfocando m últiplos aspectos desse tema, por exemplo, gramática e sintaxe (Palmer, 1998), signifi­ cado e compreensão na escuta (Lowenkron, 2004), música (H übner, 2007), fonética (Yoo, B ennett, 2000), litera­ tura (Grant, 2005), pensam ento e cognição (Lana, 2002) e discurso (Borloti, Iglesias, Dalvi, Silva, 2008), podem ser encontrados no corpo de conhecim entos produzidos nessa ciência. Este capítulo tem o objetivo de apresentar a proposta behaviorista radical para o estudo da linguagem, tendo como referência a proposta skinneriana para tal e expor dados de investigações experim entais acerca do com portam ento verbal.

O texto divide-se de acordo com as duas direções dos avanços do conhecimento sobre relações verbais na Análise do Com portam ento. A primeira trata de definições concei­ tuais acerca dos chamados operantes verbais, incluindo as extensões e as fusões, e apresenta estudos que inves­ tigam procedim entos específicos para o desenvolvimento de alguns desses repertórios. A segunda refere-se a limites e possibilidades de controle do com portam ento verbal sobre o não verbal, atendo-se, especificamente, para aí implicações do estabelecimento de repertórios verbalmente controlados, ou o cham ado com portam ento governadc por regras.

PRESSU PO STO S DA PR O PO STA