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Repórter Brasil: o espaço do telejornal na grade de programação da T

No documento allanameirellesvieira (páginas 175-178)

5 AUTONOMIA E PARTICIPAÇÃO NO TELEJORNALISMO DA EBC

5.3 NARRATIVA E ENQUADRAMENTO: A PRODUÇÃO DE SENTIDO SOBRE

5.3.1 Repórter Brasil: o espaço do telejornal na grade de programação da T

De maneira geral, a grade de programação da TV Brasil inclui informação, com noticiários, programas de grandes reportagens, entrevistas e debates; conhecimento, com documentários, séries e telecursos; entretenimento, com dramaturgia e programação infantil; esporte, com a exibição da série C do campeonato brasileiro; além de programas culturais. Em

setembro de 2015, a emissora anunciou algumas mudanças na grade (TV BRASIL, 2015), ampliando o espaço do jornalismo e do esporte. Os telejornais locais – do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Brasília e do Maranhão – passaram a ter meia hora de duração; boletins de notícias começaram a ser transmitidos a partir das 17h; e uma revista eletrônica, intitulada “Fique Ligado”, foi lançada com a pretensão de mesclar jornalismo e variedades, com exibição ao vivo, de segunda a sexta, às 20h. Em relação ao esporte, segundo a matéria (2015), a partir de 2016, a TV Brasil transmitirá também as séries D e B do campeonato brasileiro, o Brasileirão Feminino e os jogos Paralímpicos Rio 2016. O horário de diversos programas também foi modificado com essa nova estruturação da emissora.

Dentro da faixa informativa, ganha destaque o programa de grandes reportagens, “Caminhos da Reportagem”, premiado todos os anos desde 2010. Há também programas de debates e entrevistas tradicionais na grade da TV Brasil, com apresentadores reconhecidos no campo jornalístico e acadêmico – como o “Observatório da Imprensa”, com Alberto Dines; o “Sem Censura”, com Leda Nagle; e o “Ver TV”, com o professor Laurindo Lalo Leal Filho. Além da programação produzida pela própria EBC, a TV Brasil também tem espaço para a produção independente, selecionada a partir de editais públicos, oferecendo documentários e séries, como o programa “Nova África”. Aliás, a presença da cultura africana na programação da emissora é destacada, inclusive, com o recebimento de premiações, como: o V Prêmio África Brasil, de 2010, pelo trabalho de divulgação e valorização da cultura africana pela emissora; o Prêmio Camélia da Liberdade, em 2013, pelo programa “Nova África” e, em 2015, pela exibição da novela angolana “Windeck”.

Além dos noticiários locais citados acima, a TV Brasil conta com dois telejornais nacionais, um exibido ao meio-dia e o outro às 21h20 – o Repórter Brasil (RB), em sua edição diurna e noturna. Por ser o principal programa de notícias diárias da emissora, o RB noite foi escolhido como objeto de análise. Em geral, o telejornal noturno de um canal assume um papel de destaque na grade de programação. Como Coutinho (2012) afirma, os telejornais ocuparam por um longo período o papel de “campeões de audiência”, fornecendo assim as “principais” informações do dia à grande parte da população. As aspas empregadas no termo “principais” se deve ao fato de que esta característica é relativa, sendo, portanto, determinada pela linha editorial do veículo e pelas escolhas subjetivas dos profissionais envolvidos nas decisões, além dos considerados “critérios de noticiabilidade”. Com a Internet e os canais por assinatura, a relação do público com os telejornais vêm se modificando e o próprio lugar de fonte confiável de informação do noticiário tem sido questionado. Ainda assim, o telejornal é tratado com prioridade dentro das redações e possui menos autonomia em relação ao

posicionamento editorial do veículo47, podendo assim fornecer mais indícios sobre ele. Além disso, o telejornalismo enfrenta, além das determinações mais amplas sobre o meio de comunicação como um todo, os constrangimentos da prática diária do jornalismo, já abordadas neste trabalho.

O RB noite vai ao ar depois dos principais telejornais da TV aberta48, às 21h20, coincidindo apenas com o Jornal da Cultura, da TV Cultura. Durante o período de análise estabelecido para esta pesquisa, o telejornal contava com uma hora de duração49, de segunda a sexta-feira, sendo apresentado pelos âncoras Guilherme Menezes e Katiuscia Neri, no estúdio de Brasília; e com 30 minutos de duração, aos sábados. Sua primeira exibição foi no dia 3 de dezembro de 2007 e até 2013, o noticiário era apresentado a partir de três diferentes estúdios: o de São Paulo, o do Rio Janeiro e o de Brasília50.

O telejornal apresenta um quadro espacial, denominado “Outro Olhar”, cuja proposta é ser um espaço de participação dos cidadãos, com exibição de vídeos produzidos e enviados pelos telespectadores. Entretanto, na prática, O RB acaba não cumprindo sua função, já que, segundo as entrevistas realizadas, não há uma estratégia da EBC para atrair a participação e, dessa forma, muitas vezes, em vez de o vídeo ser enviado pelo público, os jornalistas do RB fazem a busca pela Internet. Além disso, em uma eventual situação de ausência de espaço disponível no programa, esse seria o primeiro conteúdo a ser cortado.

Já o Jornal Nacional, da Rede Globo, incluído na análise do material audiovisual, tem um histórico de hegemonia no país, tendo sido exibido pela primeira vez no dia 1° de setembro de 1969 (COUTINHO, I., 2012, p.63). Sendo o primeiro programa a ser exibido em rede, na televisão brasileira, o telejornal se configurou como parâmetro para a produção jornalística, atuando profundamente no agendamento dos debates públicos no país. Nos últimos anos, devido às mudanças no hábito de consumo televisivo dos telespectadores, dado o desenvolvimento da Internet, o Jornal Nacional tem passado por modificações em termos de linguagens e formatos. Certamente, a apresentação da história desse telejornal demandaria uma dissertação completa. Nesse caso, cabe apenas ressaltar sua centralidade na televisão e na

47Um programa de entrevistas, por exemplo, conduzido por um nome reconhecido no campo jornalístico ou

midiático, pode oferecer mais “liberdade” para que o jornalista crie, inove e faça abordagens diferentes. No telejornal diário, até mesmo pelas limitações de tempo e estrutura, o conteúdo acaba sendo ainda mais determinado pelo posicionamento do veículo como um todo.

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O Jornal da Band é exibido às 19h20, o Jornal Nacional às 20h30 e o Jornal da Record às 20h40.

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Após a reestruturação da grade de programação da EBC, ocorrida em 2015, conforme solicitado pelo Conselho Curador, o Repórter Brasil passou a ter 40 minutos de duração.

50 A mudança da apresentação do telejornal – realizada a partir de três estúdios, passando para a transmissão a

partir de apenas um – foi realizada após as indicações e sugestões feitas pelo relatório de pesquisa do “Laboratório de Jornalismo e Narrativas Audiovisuais” (COUTINHO, 2011) – demonstrando, inclusive, uma abertura da Diretoria de Jornalismo em relação à participação da pesquisa acadêmica.

cultura brasileiras, a fim de se estabelecer o aspecto relacional na análise do Repórter Brasil. Na história recente, porém, é relevante destacar o questionamento da credibilidade do noticiário, presentes enfaticamente nos protestos contra a Rede Globo, promovidos nas manifestações de junho de 2013. Na ocasião, a criminalização das manifestações pelo telejornal foi colocada em debate.

No documento allanameirellesvieira (páginas 175-178)