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5 Habitabilidade no Sítio Histórico da Boa Vista

5.1 Repensando a coleta de dados

A partir do pressuposto de que o diálogo entre a centralidade histórica e a centralidade urbana e entre as demandas individuais e coletivas determina a condição de habitabilidade do Sítio Histórico da Boa Vista, as entrevistas buscaram compreender quais as especificidades da dinâmica e das opções habitacionais daqueles que moram no centro da cidade, em especial no entorno desse Sítio. A partir dos dados obtidos no trabalho de campo, algumas especificidades se revelaram e levaram a algumas adaptações nos procedimentos de coleta de dados.

A opção por uma amostra não probabilista por cotas esteve pautada, a princípio, nos arquétipos, ou seja, nos diferentes perfis familiares, ou no “ciclo de vida” dos entrevistados relacionados na pesquisa de Silver (2010), 49 dentre os quais é possível citar:

 Casal com filhos;

 Casal de meia idade, com “ninho vazio” (com filhos que não moram na mesma

residência);

 Casal com duas rendas, sem filhos;  Solteiro com rendimentos limitados.

Os perfis de entrevistados encontrados no bairro da Boa Vista no âmbito deste trabalho, no entanto, extrapolaram esses arquétipos. Assim, além das entrevistas realizadas com representantes dos arquétipos relacionados por Silver, foram realizadas entrevistas com indivíduos detentores das seguintes características:

 Indivíduo separado, com filhos, mas que mora só;

 Indivíduo separado que mora com algum filho (família monoparental);  Solteiro que divide a residência com amigos ou familiares e

 Solteiro que mora só.

A circunstância familiar do entrevistado demonstrou ter forte relação com a escolha habitacional. Algumas circunstâncias do “ciclo de vida” demonstraram ser, essencialmente, transitórias, o que condiciona o horizonte temporal de permanência no imóvel à permanência para a realização de alguma atividade específica. Dentre os que estão em situação de

49 Os quatro arquétipos relacionados por Silver estavam pautados na estrutura familiar, “casal com

filhos”, ou com o “ninho vazio”, ou na associação entre a estrutura familiar e a estrutura de rendimentos, como “solteiro com rendimentos limitados”, ou “casais com duas rendas”.

transitoriedade habitacional, é possível enquadrar aqueles que, provenientes de outras localidades, “estão morando” na Boa Vista para estarem mais próximos dos locais frequentados rotineiramente, o que condiciona a escolha habitacional à praticidade para a realização de alguma tarefa e à agilidade no deslocamento.

Foi possível identificar, dentre os entrevistados, que algumas pessoas que permanecem na Boa Vista de segunda a sexta-feira, por motivo de trabalho ou estudo, retornando “para casa” no final de semana, consideram-se “residentes” de outras cidades. Para fins censitários, tais “moradores” são considerados residentes do município do domicílio de origem visto que o IBGE (2000, p. 9), para evitar a dupla tabulação de habitantes,

considerou como moradora a pessoa que tinha o domicílio como local de residência habitual e que, na data de referência, estava presente ou ausente por período que não tenha sido superior a 12 meses em relação àquela data, por um dos seguintes motivos:

 viagens a passeio, a serviço, a negócio, de estudos etc.;

 internação em estabelecimento de ensino ou hospedagem em outro domicílio, visando a facilitar a frequência à escola durante o ano letivo;  detenção sem sentença definitiva declarada;

 internação temporária em hospital ou estabelecimento similar; e  embarque a serviço (marítimo).

No entanto, pelo poder de atração que esta “capital” exerce sobre os que moram em outras cidades ou estados, considerou-se que seria importante investigar também quais as necessidades e as expectativas habitacionais daqueles que, mesmo considerados residentes de outras áreas, “moram”, de fato, na Boa Vista.

A pesquisa identificou ainda uma grande diversidade de ambiências e diferentes dinâmicas de usos no bairro da Boa Vista e no entorno do sítio histórico. Assim, buscou-se a diversidade quanto à condição da localização habitacional dos entrevistados, atentando para a “ambiência” da moradia atual, que tanto poderia refletir a valorização habitacional de determinado aspecto, quanto, ao contrário, levar à valorização habitacional de uma circunstância locacional distinta, a depender do grau de satisfação quanto à localização da atual residência.

Na Figura 78, está exposto um mapa que identifica, em pontos alaranjados, a localização da residência dos doze entrevistados em relação ao bairro (polígono com contorno cinza) e em relação ao Sítio Histórico da Boa Vista (polígono com preenchimento verde). Os pontos em azul revelam a localização dos entrevistados que moram no Sítio Histórico da Boa

Vista, que contribuíram para a caracterização da área de estudo constante no capítulo anterior, mas que não fazem parte do universo de análise ao qual se refere este capítulo.

Figura 77 – Mapa que indica a localização da residência dos entrevistados entre março e junho de 2011. Fonte do mapa base: Prefeitura do Recife. Atlas de Desenvolvimento Humano, 2005. Imagem tratada pela autora

Ressalte-se que a distância da residência dos entrevistados que moram fora do sítio para o Sítio Histórico varia de três a vinte minutos a pé. Tal fato, a princípio, poderia indicar a semelhança locacional de acesso a bens, equipamentos e serviços entre a área de residência do entrevistado e a área de estudo.

Dentre os entrevistados, havia pessoas com renda no intervalo de 3 a 6 salários- mínimos50 até pessoas com renda de mais de 15 salários-mínimos. Na pesquisa sobre demanda

habitacional realizada em 2003 (CECI) com habitantes das mais diversas áreas da cidade, a condição de renda e o nível de escolaridade foram considerados fatores determinantes da atitude em relação à moradia no centro da cidade ou em um imóvel histórico. No âmbito deste trabalho, reduzindo-se o universo de entrevistados a moradores do centro da cidade, a pesquisa revelou que, apesar de a condição de renda ser determinante para a opção

50 Salário mínimo de R$ 540,00 em valores atuais.

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